sábado, 4 de setembro de 2010

O Mandarim

Depois do calhamaço que foram "Os Maias", agora foi altura de descobrir literatura mais leve deste autor lusitano. De todas as maneiras. O livro, que contém apenas um conto, é mais leve que um jornal, a história não é tão intrincada, e a escrita não é tão trabalhada.

Claro que nada disso é um defeito. Afinal, estamos a falar de um conto de nem 100 páginas, e não de um épico de 700 e qualquer coisa. Mas mesmo não sendo propriamente trabalhada, é detalhada, não fossem as descrições super-pormenorizadas uma das características deste autor.

A história, como já disse, não tem absolutamente nada a ver com "Os Maias". Bem, talvez tenha. É que pensando bem, uma das componentes d'"Os Maias", que chegava quase a ser uma personagem, era o Destino, que também tem o seu papel nesta história, ainda que de uma forma diferente.

A personagem principal é confrontada com uma escolha, ao ler uma passagem de um livro antigo. Algo como "se tocares a campainha, um mandarim idoso, no fim da sua vida, soltará o seu último suspiro, e tu herdarás todos os seus milhões". Uma escolha terrível, uma decisão que a personagem nem pensa em tomar logo, pois não acredita que possa ser verdade. Mas o surgimento de um homem misterioso põe-o na dúvida. Decide, então, tocar a campainha. Afinal, se for verdade, fica rico, se for mentira, nada acontecerá.

E a verdade é que fica rico. O mandarim morreu, e ele herdou toda a sua fortuna. Mas, em contrapartida, tem que enfrentar, todos os dias, o seu fantasma, a sua figura, que pesa sobre ele, uma personificação do seu remorso e da sua culpa.

Não chega, claramente, ao nível d'"Os Maias", mas anda lá perto. É o que se poderia esperar de um conto. Além de que prova que Eça de Queirós tanto conseguia escrever uma história longa e com um enredo complexo, como uma história curta, com um enredo simples. Fica provada a sua versatilidade, com este conto, que aconselho, especialmente a 3 tipos de pessoas: a quem tenha gostado d'"Os Maias"; a quem ainda não os tenha lido, e queira habituar-se à escrita do autor primeiro; e a quem não gostou muito, mas gostava de lhe dar uma segunda oportunidade.

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