sábado, 31 de dezembro de 2011

Ano novo, vida nova, o mesmo cliché de sempre

Eu quis, quase à força, vir escrever este último texto do ano, para cumprir com o cliché. Algures nos últimos dias de cada ano, um blogger de respeito tem que escrever um texto qualquer a despedir-se do ano que passou, a fazer um balanço, e a preparar o ano que vem!

Mas isso este ano é complicado. Não que o ano não tenha sido óptimo em leituras, foi até dos melhores de que tenho memória, mas a verdade é que o grande acontecimento deste ano, na minha vida, foi a entrada na faculdade que eu queria, no curso que queria, o que foi óptimo e não me podia ter deixado mais feliz. No entanto, o facto de agora estar em Engenharia Biomédica, no Instituto Superior Técnico, não me trouxe só vantagens.

Para começar, estudo que nem um desalmado, coisa que nunca tinha feito durante mais do que 2 semanas, e que agora já vai em 3 meses. Mas eu gosto de estudar, por mais estranho que isso possa parecer a algumas pessoas, portanto, não é por aí. O problema é que a vida universitária me tirou algumas coisas, como por exemplo, tempo de leitura. Longe da minha glória de 100 e muitos livros lidos, este ano fiquei-me pelos 64. Em minha defesa, podia afirmar que também li livros maiores, ou mais densos, ou ambas as coisas, mas não gosto desse tipo de desculpas. Se bem que não tenho que pedir desculpas a ninguém, não leio por obrigação, e como tal, o único problema de ter lido menos livros é exactamente esse, ter lido menos livros.

E apesar de tudo isto, é mais do que óbvio que não me posso queixar. Li livros tão bons, mas tão bons... Iniciei-me em Saramago, fiz a minha temporada épica, revisitei todos os livros do Harry Potter, li uma das obras-primas de Gabriel García Márquez... Enfim, no meio de algumas leituras bastante ranhosas, tive umas boas duas dúzias de leituras absolutamente divinais. Como tal, não me posso queixar.

Mas sendo o resmungão que sou, preciso de resmungar com alguma coisa. Não pode ser com as leituras, refilo sobre aquilo que está mais perto. A passagem de ano. Vejo por aí pessoas todas felizes, a festejarem a passagem de ano, mas sejamos realistas, estão a celebrar exactamente o quê? A entrada num ano ainda mais miserável que este? Eu sei que isto é um discurso um bocado amargo, e passível de ser interpretado como derrotista ou coisa que o valha, mas estou apenas a ser realista. E possivelmente amargo e sarcástico, mas isso já não tem cura. 

O que é que o próximo ano vai trazer de bom? Eu sei que temos que ter esperança, e não baixar os braços e isso tudo, mas por favor... Deixemos de ser tótós. A esperança do que quer que seja não passa de um penso rápido que pomos sobre a ferida. Não faz nada, mas deixa-nos pensar que estamos bons e prontos para outra. É claro que não baixo os braços, é claro que quero que tudo melhore e que corra bem, mas também não tenho ilusões...

Por outro lado, sou apenas um rapazinho revoltado consigo mesmo, que não sabe bem o que diz, não é? Enfim, vou falar de outras coisas. Por exemplo, da edição de luxo que recebi do último livro das Crónicas de Allaryia, Oblívio, de Filipe Faria. Coisa mais linda. Vai ficar guardadinho até Fevereiro, para ler os 7 seguidos! E tenho que dizer que já acabei A Mãe, do Gorki, e que algures nos próximos dias publico a opinião, quando se acabar a preguiça de a escrever.

Pronto, é tudo. Já escrevi demasiado. Vou voltar ao meu covil, amargo como sempre, ligeiramente maniento como sempre. Se ainda forem capazes de acreditar nisso, tenham um bom ano!

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Vollüspa (Parte 2 de 2)

Título: Vollüspa
Autor: Vários

Opinião: Perdoai-me, caros poucos leitores que ainda visitam o blog com frequência e com razão. Não tenho tido mesmo tempo nenhum. Nem devia ter tido tempo para vir aqui escrever esta segunda parte da opinião, mas enfim, já me estava a fartar de me preocupar com a universidade, e perdido por cem, perdido por mil... Já sabia que estes dias não ia conseguir estudar grande coisa, portanto...

Mas pronto, avancemos. A encerrar a secção de Terror, aparece um conto de José Manuel Morais, A Vida é Sonho, um conto que não me agradou muito. Começa com uma premissa interessante, ainda que não seja nada de super-original: sonhos e afins. Mas todo o conto parece que passa a correr, e de repente já estamos no fim, sem interesse nenhum...

Depois a abrir a última secção, de Fantasia, aparece A Máquina, de Álvaro de Sousa Holstein, que dispensa apresentações de maior e que apresenta aqui um conto que classifico como um dos mais interessantes desta antologia, sobre o poder das memórias. O autor homenageia alguns dos grandes vultos da literatura portuguesa, sem grande alarido, mas de forma sentida.

Já em A Queda, de Carla Ribeiro, não encontrei uma história que me prendesse por aí além. Em termos de escrita devo dizer que até gostei, apesar de ser fã de uma escrita mais directa e menos floreada. Mas a história não me convence minimamente... Soa a mais do mesmo, para dizer a verdade... Com todo o respeito pela autora, com quem já contactei em fóruns e afins, mas daquilo que lhe conheço (que não é muita coisa, confesso), penso que seria capaz de fazer bem melhor!

A seguir aparece Joel Puga, com O Último, do qual gostei. Bem escrito, bem estruturado, para um conto tão pequeno, e interessante, apesar de ser mais uma retrospectiva, ou umas memórias, o que preferirem... Passa muito bem a ideia de solidão e a de resignação forçada de quem sabe que não tem saída, mas que sabe uma coisa de certeza: vai sair a lutar. Muito bom.

De seguida temos A Sala, de Marcelina Gama Leandro, que não é mau de todo, mas que podia estar melhor escrito. As coisas parece que acontecessem muito rapidamente e os diálogos estão um bocado repetitivos e extremamente pouco naturais, se bem que eu sei perfeitamente a dificuldade que é escrever um diálogo decente...

Quase a acabar vem Uma Questão de Lugar, de Pedro Ventura, que no meio de tanto conto pequenino, parece apenas grande demais. E tem de facto alguma ronha. A história é moderadamente interessante, e a escrita é agradável, não haja dúvida, mas estendeu-se demais. Ainda por cima no meio de tantos contos tão mais pequenos, em contraste, ainda parece maior do que é. E depois no fim... Nada de especial. Mas pronto, não é o pior conto...

O pior talvez seja este último, Vermelho, de Regina Catarino. O recontar de um episódio bíblico pelos olhos de um observador aleatório não me convenceu mesmo nada, apesar de achar que Fantasia é a palavra certa para descrever tal episódio. E a escrita nem é má de todo, mas perde-se no meio da história sensaborona.

E pronto, cá ficam todos os contos opinados (finalmente!). O balanço geral é positivo, apesar de alguns defeitos e de uma secção de Fantasia relativamente fraquinha, quando comparada com a de Ficção Científica, já para não falar da quase ausência do Terror... Mas não se fica a perder nada, penso eu, são no geral bons autores, com bons contos, que demonstram que existe um forte sector Fantástico em Portugal por descobrir, e é esse o papel mais importante desta "Vollüspa", o de dar a descobrir autores e o de fazer as pessoas descobrirem o Fantástico. Como tal, e uma vez que foi uma leitura agradável, que só pude ter graças ao trabalho do Roberto Mendes, que lutou por este projecto, e que parece ter acertado. Esperemos que dê frutos!

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Ah pois, o problema da leitura

E eu que tenho andado muitíssimo desaparecida por estas bandas. Este querido blog, que me faz sempre recordar o prazer que é o de folhear.

O que se passa é que estou num curso artístico a ler um calhamaço como Os Maias. E por calhamaço (que só por acaso é uma palavra que odeio tremendamente) não me subentendam: estou a gostar.

Mas como disse anteriormente, o meu curso requisita ocupação constante. Num tempo livre ter de escolher entre desenhar ou ler, acaba por se mostrar uma decisão complicada. Mais o estudo.

A minha edição dos Maias é das mais antigas, enorme, de capa dura vermelha. Em suma: impossível de transportar diariamente, logo, só arranjo um quartozinho de hora por dia para ler, e é quando o consigo arranjar.

Tento ler o máximo possível, e (graças a quem quiserem) já estou quase no fim.

Para aqueles que acham este blog suspenso nas mãos (de oiro) do Rui, desenganem-se, pois por detrás de um grande homem, estão sempre duas grandes mulheres. ;D

Enfim, bom Novembro extenuante e sem subsídio de Natal e claro, boas leituras para todos.

PS: Odeio o Carlos da Maia.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Vollüspa (Parte 1 de 2)

Título: Vollüspa
Autor: Vários

Opinião: Vamos lá começar a falar dos contos. Da capa não falo mais, apesar de ser, repito, uma das capas mais espectaculares que já vi. Mas bem, adiante.

A Vollüspa está divida em 3 partes, por géneros. Primeiro vem a Ficção Científica, o Terror e por fim a Fantasia.

A iniciar a primeira secção, aparece o conto de Afonso Cruz, O Pequeno Guia do Céu, de Tristan de Sapincourt, um pequeno conto delicioso, que me despertou o interesse para este autor. As constantes referências a personalidades famosas e a eventos importantes da história da Humanidade deixaram-me com água na boca, bem como a pequena narrativa, que termina numa crítica à visão excessivamente científica, e que apela, bem como todo o conto, à visão fantasiosa das nossas mentes.

De seguida vem Natal®, de Carlos Silva, uma história que satiriza um hipotético Natal futuro, provavelmente não tão distante da realidade como todos gostaríamos que estivesse. O Natal apresentado é artificial, de uma ponta à outra, como se fosse a coisa mais natural do mundo. E quando a coisa começa a correr mal... Bem, a solução até é fácil!

Depois, Eternidade, de João Ventura, que me agradou bastante. É a história de uma Presença, de certa forma eterna, tanto a história como a Presença, que guarda algo que pode mudar o futuro da Humanidade, e da forma como ela evita que isso venha a acontecer, de forma algo fria e desligada, de acordo com a presença da Presença narradora, passe a repetição. Lembro-me que ao acabar este conto, pensei que já tinha valido a pena ler isto. E mais não digo.

Agora vem A Queda de Roma, antes da Telenovela, de Luís Filipe Silva, mais uma sátira bastante óbvia, ainda que talvez seja, de certa forma, algo subtil. Eu sei que isto parece parvo, e possivelmente algo pretensioso, mas acreditem, depois do primeiro impacto há toda uma série de impactos mais subliminares, vá, que dão uma nova dimensão a este conto.

O quinto conto é Génesis - Apocalipse, de Roberto Mendes, o organizador deste volume, conto em que o autor, como o próprio o diz, homenageia dois grandes da ficção científica, Isaac Asimov e Robert Silverberg, nomeadamente o livro que os dois escreveram juntos, The Positronic Man. Aquilo que o Robert fez foi ir além daquilo que leu, na juventude, pensar e imaginar para além das fronteiras de um livro que só por si já merece todo o respeito, e criou esta pequena história em que evoca essas suas memórias (mais uma vez, como o próprio refere, na nota de editor), de forma interessante e bem escrita.

Já e entrar na secção de Terror, mais curta que as outras duas, o conto inicial não me agradou por aí além. É O Acorde das Almas, de Carina Portugal, e que apesar da boa escrita, não me conseguiu prender por aí além, talvez por não ser o tipo de terror que mais me agrada.

Depois aparece Enquanto Dormias, de Nuno Gonçalo Poças, que é exactamente um dos tipos de terror que mais aprecio: perturbador, algo bizarro e brutalmente directo. Uma história que gostei de ler, com muita loucura envolvida (ou não?), com uma linha narrativa algo obscura e difusa. Tal como eu gosto.

E pronto, fica por aqui a primeira parte, até agora a crítica geral é favorável, diga-se de passagem. Falta só ver quando é que arranjo tempo para escrever a segunda metade!

domingo, 13 de novembro de 2011

Vollüspa: um conceito, uma ideia, um projecto



Além de uma das capas mais espectaculares que já me passaram pelas mãos, Vollüspa tem ainda por trás um dos melhores "conceitos de existência".



Tudo começou como uma ideia, aliás, como uma excelente ideia, que podem ler aqui. A ideia foi de Roberto Mendes, o organizar e a mente por trás deste projecto.



O objectivo foi, como podem ler no link, criar uma revista de contos que juntasse autores portugueses consagrados no género do fantástico com autores menos conhecidos. Esta revista rapidamente evoluiu para uma verdadeira antologia, digna de passar à categoria de livro, e que conta com a participação de autores mais conhecidos, de Afonso Cruz a Carla Ribeiro, que dispensam quaisquer apresentações, e com autores desconhecidos, que mostram agora ao público os seus primeiros trabalhos, como Carlos Silva e Carina Portugal.



Ora, depois de tudo concluído (este tudo inclui o interesse de uma pequena editora), o Roberto Mendes tratou de fazer chegar a versão final a alguns blogs, para que opinassem e divulgassem este seu projecto. O Que a Estante nos Caia em Cima, foi um dos blogs felizardos, e eu aceitei, obviamente interessado não só na possibilidade de ler contos de autores conhecidos, como na possibilidade de descobrir novos talentos, bem como na possibilidade de participar, ainda que de forma mínima, neste projecto, ao dar a minha opinião sobre os contos presentes nesta antologia, que não é nada mais nada menos do que uma "mostra" ou um meio de divulgação da literatura fantástica portuguesa.



Aliás, foi essa uma das principais razões para ter aceite divulgar a Vollüspa, ou não fosse eu alguém que adora este género de literatura e que acha muito bem que aquilo que se a nível nacional seja divulgado. Temos muitos bons autores, alguns incluídos neste projecto, que só têm é que ser divulgados. E lidos!



Portanto, cá fica este texto, em jeito de introdução. A opinião, ou melhor, as opiniões, vêm a seguir, em duas publicações separadas, para poder falar à vontade. Fica desde já o meu voto positivo!

domingo, 6 de novembro de 2011

Números Notáveis


Título: Números Notáveis
Autor: Lamberto García del Cid

Sinopse: Onde é que reside a importância de um número? Há números, como o zero, que são importantes para os matemáticos. Outros são relevantes para determinadas religiões, como o 3 e o 666. E também os há para os apaixonados da lotaria, como por exemplo o 22. Mas quer sejamos matemáticos, crentes ou apostadores, as três coisas ou nenhuma, o certo é que a importância e a influência dos números invadem toda a nossa vida.

Opinião: Se a curiosidade matasse eu tinha morrido logo a seguir a ter lido o título deste livro. O fascínio que os números têm exercido sobre a Humanidade sempre me fascinou, passe a redundância. Eu próprio sinto essa atracção, especialmente tendo em conta que passo a vida a lidar com números.

Há poucas coisas mais fascinantes do que descobrir que as primeiras 4 potências de 11 são capicuas, tal como ele próprio. Ou que é impossível desenhar uma linha de comprimento pi. Ou até descobrir que existem números imaginários, que são raízes de números negativos! Toda uma catrafada de coisas absolutamente fascinantes que vêm incluídas neste livro, que ainda traz muito mais coisas. Só lendo.

E da colecção, é dos que já li que tem uma melhor estrutura. Muitos factos sobre números, alguns apontamentos históricos, poucos desvios relativamente ao tema principal, nem aprofundamentos do mesmo de forma exaustiva (e incompreensível). Um livro em tudo perfeito, relativamente a esta colecção.

Ainda por cima tem a particularidade de ser daqueles cuja leitura não exige conhecimentos matemáticos por aí além. Qualquer pessoa o pode ler e sentir-se igualmente fascinada, sem perder nada de relevante. É por isso que o aconselho, se algum dia tiverem a hipótese de pegar nele. Lê-se rapidamente, como todos os livros desta magnífica colecção, está bem escrito, de uma forma directa e linear (o que dá jeito, quando se trata de matemática), e ainda tem um conteúdo absolutamente fascinante. O que é se pode querer mais?

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

O Segredo de Chimneys


Título: O Segredo de Chimneys

Autor: Agatha Christie
Tradutor: Isabel Alves

Sinopse: Anthony Cade, que trabalha como guia turístico na África do Sul, recebe de um bom amigo uma estranha missão que o faz regressar a Inglaterra. À chegada, é envolvido numa teia de assassinatos, chantagem e traição, relacionados com as lutas e políticas internas da Herzoslováquia, e numa romântica e misteriosa história de amor. Tudo isto complica a vida de Anthony... mas quem é, na realidade, Anthony Cade?

Opinião: Os livros desta autora já são, quase por definição, mais retorcidos que a mente do Pessoa, mas este leva tudo a um nível muito mais alto. Em média, acho que a cada meia dúzia de páginas a história mudava por completo, tal era a reviravolta que se dava. Como tal, além do habitual avanço que algumas personagens desta autora costumam levar em relação a nós, leitores, no que toca à resolução do mistério, neste livro em particular esse avanço é gigantesco. Às tantas já nem se sabe exactamente qual é o mistério a desvendar.

Tudo começa quando Jimmy McGrath pede ajuda a um amigo, Anthony Cade, para que ele leve uma encomenda a Inglaterra. Anthony aceita a missão e ao chegar a solo inglês, vê-se completamente rodeado por uma autêntica "teia de assassinatos, chantagem e traição", como diz a sinopse. Vários mortos, cartas incriminatórias e pessoas disfarçadas aos montes.

É óbvio que sendo a autora quem é, eu já estava sempre de pé atrás com os desenvolvimentos e afins que se sucediam. Desconfiava sempre de todas as descobertas e nunca me afeiçoava muito a ninguém. No entanto, e apesar do final ser um mistério dos grandes, confesso que houve pelo menos uma parte da qual desconfiei desde relativamente cedo, parte essa que não vou revelar, como é de esperar.

Só posso dizer mais que gostei muito do livro, um dos melhores que já li desta autora, e que foi útil, como sempre, para desanuviar e descansar as vistas. É algo que não consigo perceber muito bem, mas os livros de Agatha Christie lêem-se sempre num fôlego, aparentemente sem esforço praticamente nenhum! Uma grande, grande escritora, não haja dúvida...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O problema da leitura

Começo a ficar preocupado. Sou um bookaholic confesso, nunca tive problemas com isso, mas começo agora a sofrer os efeitos. Até este ano lia em média, em tempo de aulas, 1 ou 2 horas por dia. Nestas últimas férias, de relaxamento supremo, cheguei a ler 6 e 7. Agora? Se conseguir 20 minutos, dou-me por feliz. O que me deixa preocupado. A este ritmo, o mais provável é começar a ter tremores e suores frios, e a andar mais nervoso, cheio de tiques. E depois entro em choque, ou algo do género.

O ritmo da universidade é intenso, e ainda não é nada comparado com o que aí vem. É sempre a subir. O que vai fazer com que eu precise cada vez mais de ler, pois vou ter cada vez menos tempo. Já aproveito as viagens de metro, cerca de 20 minutos para cada lado, e cada tempinho morto, daqueles que não são curtos o suficiente para passarem tranquilamente, mas que não são longos o suficiente para sacar dos livros e estudar um pouco. Pareço um verdadeiro agarrado. Que é o que eu sou, só que com aquela que é provavelmente a droga mais saudável do mundo: a literatura.

No entanto, e não se assustem com o que vou dizer a seguir, a falta de tempo para ler tem as suas vantagens. Parece estranho, eu sei, mas vamos com calma que eu explico. Para começar, faz com que eu preze muito mais o tempo que passo a ler. Seja um policial da rainha dos policiais, seja um artigo científico, seja um texto sobre lógica matemática ou sobre encontrar deltas e epsilons, sejam as fofoquices estupidificantes duma revista cor de rosa, ou sejam as vá, "notícias", do Correio da Manha, absorvo cada palavra como se fosse a última. Às vezes chego a dar por mim a apreciar mais o acto de ler, o de ver palavras escritas à minha frente, do que o conteúdo em sim (o que não é difícil, nos últimos dois casos). Esta falta de tempo tornou os meus momentos de leitura completamente sacrossantos.

Outra vantagem foi a de me pôr a pensar na leitura. Sim, estou assim tão mal, fico com tantas saudades de ler que me ponho a pensar e a imaginar o acto de ler. Crazy person? Só se ainda não tiverem percebido que ler se tornou um acto tão básico como comer, ou dormir. O que é que fazem quando estão cheiinhos de fome, mas não têm nada para comer? Não imaginam bifes suculentos a deslizar à vossa frente? Ou quando estão a morrer de sono, e não podem dormir, não começam a ver as vossas caminhas à frente, com o ar mais apetecível deste mundo? É o que já me acontece com a leitura.

Pois bem, avancemos. No que é que eu penso, exactamente? Bem, além da simples sensação de sentir um calhamaço nas mãos, dou por mim a pensar: "porque é que há cada vez mais gente a ler, mas cada vez menos gente a ler?". Antes que pensem que estou a dar numa de Pessoa e a ditar paradoxos ao ar só porque sim, sigam a minha linha de raciocínio. É um facto que há cada vez mais pessoas a ler, ou melhor, que pegam em livros e os lêem. O pormenor está aqui. Quando digo que pegam em livros e os lêem, não digo que peguem em livros a sério, ou que mesmo que peguem, que os leiam como deve ser. É a diferença entre o aumento da leitura e a banalização da leitura.

Do meu ponto de vista, acho que este fenómeno da banalização da leitura se intensificou até extremos insuportáveis, a partir da altura em que a saga de vampiros de Meyer teve o seu ponto alto de fama. São livros fáceis de digerir, com um aspecto grande e imponente, mas com pouco "sumo", que mesmo que sejam bem escritos (o que não acho que sejam, mas enfim), e que sirvam para entreter durante uns dias, não passam disso. São meros romances adolescentes extremamente comerciais. E desde essa altura é ver livros como esses a surgirem literalmente aos pontapés. Historietas de caracácá, com montes de páginas e montes de personagens lindas de morrer, cheias de amor para dar e mais sei lá o quê, mas com pouca história, essencialmente repetitivas e basicamente desinteressantes. São as novelas da TVI em formato de livro.

E isto irrita-me. Digam o que disserem, ninguém me convence que é melhor lerem alguma coisa, mesmo que sejam esses livritos (perdoem-me os fãs) ranhosos, do que não lerem nada. Acredito piamente que são altamente estupidificantes, tal como as telenovelas da TVI. E alguns são verdadeiros insultos a livros a sério. E sim, também sei que estou a ser mauzinho, até podem dizer que estou a ser injusto e isso tudo, para além de estar a escrever demasiado, mas não me consigo conter. Eu, um apaixonado pela leitura e pela literatura, que actualmente mal tempo tem para se coçar ou para escrever textos irritados mais longos que o usual, quanto mais para ler, ia ser simpático e ficar feliz por pessoas que não liam nada e agora devoram livrinhos todos feitos do mesmo molde, às dezenas, todas contentes por estarem finalmente imersas no mundo da "literatura"? Sim, estou a ser mauzinho, mas reservo-me esse direito.

Quer dizer, há rapaziada mais nova, até da minha idade ou mais velhas, que nem sequer sabem quem é o Júlio Verne. Ou o Edgar Allan Poe. Lovecraft. Mark Twain. Que nunca leram uma história do Sherlock Holmes, ou que acham que o Poirot é francês. Que adoram O Senhor dos Anéis, mas não fazem a mínima ideia de quem seja Tolkien. Que nunca pegaram em Oscar Wilde. Que dizem que Saramago era aquele chato armado em revolucionário que não sabia escrever QUE DIZEM QUE MEYER É A MELHOR ESCRITORA DO MUNDO. Que acabam de ler Os Maias e só sabem dizer "é engraçado, mas aborrecido, tem umas descrições muito grandes". Que odeiam Os Lusíadas sem sequer fazerem a mínima ideia de como é o livro, e daquilo que narra.

E depois não querem que eu me irrite. Irrito-me, aborreço-me e enervo-me. E muito. É preciso salvar a leitura deste autêntico abandalhamento, é preciso mostrar por a mais b que qualquer linha escrita por Oscar Wilde tem provavelmente mais amor e sentimento que os fast-books que andam a ler, e que os contos de Poe e de Lovecraft têm mais conteúdo que grande parte destas pseudo-sagas que aparecem em todos os cantos... Nós, leitores, temos que mostrar a toda a gente que precisam de começar a ler e não apenas a ler. Não podemos, ou melhor, ninguém pode ser assim tão simpático e tolerante. Enquanto leitores e enquanto pessoas, temos que ser realistas, e ver que isto está a descambar. Que Meyers e companhia não são literatura, e a não aceitar que alguém argumente que estamos errados. Uma coisa é ser tolerante para com as crenças e ideias dos outros, outra coisa é ser estúpido e ceder à lógica da batata e a argumentos furados.

Façam-me companhia, chateiem-se nem que seja um bocadinho com esta situação e perdoem-me o longo, longo discurso. Boas leituras meus amigos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

História Política do Diabo

Título: História Política do Diabo
Autor: Daniel Defoe
Tradutor: Maria João Medeiros

Sinopse: Originalmente publicado em 1726, e agora pela primeira vez traduzido para Portugal, a História Política do Diabo, de Daniel Defoe, é um texto que combina a visão bíblica e o senso comum, oferecendo uma panorâmica abrangente do papel do Diabo na sociedade ao longo dos tempos.
No seu estilo vigoroso e exótico, o feroz crítico de Milton e do seu Paraíso Perdido apresenta o Diabo como um Robinson Crusoe na sua ilha deserta, condenado ao destino de se ver rodeado de hipocrisia e cupidez por todos os lados humanos.
Satã - como anjo caído ou cavalheiro de levantada condição - revela-se-nos nas duas partes bastante diferentes que compõem o livro e que fascinam pela sua irreverência mordaz, cuidado histórico e... actualidade.

Opinião: Peço desculpa por não andar a escrever nada. Mas como já vim aqui dizer, acabei de entrar na Universidade, e o ritmo alucinante não me deixa muito tempo livre e, como tal, tenho que abdicar de algumas coisas, nomeadamente de tempo para vir aqui escrever. Por outro lado, isto é mais por serem as primeiras semanas, ainda me estou a habituar, e a organizar e tal... Tenho a certeza que quando a rotina se enraizar definitivamente, vou ter mais tempo para o blog.

Passando às leituras, a deste livro arrastou-se mais do que seria de esperar por causa de uma infeliz conjugação de situações: os motivos de que falei em cima e o facto de ser um livro do século XVIII e que, portanto, e apesar de a tradução estar excelente e ter tentado conciliar a escrita com os 3 séculos que entretanto já passaram, não deixa de ser típica daquela época, muito formal e trabalhada, espectacular, como é óbvio, mas que leva a um ritmo mais lento de leitura.

Ora, isto tudo fez ainda com que a minha atenção ao livro não fosse a que ele merecia, com muita pena minha, porque é um livro mordaz e crítico, escrito de forma bastante inteligente e argumentativa, que é uma das minhas formas de escrita favoritas. Ou seja, não posso dizer com grandes certezas que é um livro tremendamente espectacular ou que é um livro mediano, nem nada do género. Mas posso afirmar, sem grandes dificuldades, que é um bom livro, escrito por um grande escritor, o mesmo Daniel Defoe de Robinson Crusoe, com uma estrutura paralela à da Bíblia: uma primeira parte com a história do Diabo até ao nascimento de Jesus, e uma segunda parte com a história após o nascimento de Jesus. Digo ainda que a ironia e a crítica velada, ainda que disfarçada, espreitam a cada linha, o que permite ao autor falar de assuntos sérios de forma aparentemente algo leve.

É óbvio que sendo um livro escrito no século XVIII não podemos esperar outra coisa que não seja a crença em Deus como um dado adquirido, e a noção pré-concebida de que os cultos dos índios sul-americanos, por exemplo, são cultos de adoração ao Diabo. É normal que haja este tipo de preconceito religioso, e também em relação ao papel da mulher, sempre vista como inferior ao homem. Mas não é nada que não se ultrapasse, pois Defoe é o mais objectivo possível, dentro das suas limitações religiosas, como é normal.

É interessante, e não sei se me deva arriscar a aconselhar, mas acho que sim, que vale a pena ler, especialmente para os mais interessados em questões de teologia. E não se preocupem, que o autor não é excessivamente faccioso... Eu pelo menos gostava de voltar a pegar no livro, com mais atenção.

domingo, 9 de outubro de 2011

Sim, eu estou na UNIVERSIDADE !


Ainda não tinha vindo aqui dizer que sou a rapariga mais feliz do mundo, é assim que eu me sinto e ninguém me convence do contrário! A verdade é que passei quase toda a minha vida, ainda que curta, a desejar entrar na universidade. Lembro-me de ser bastante pequenina, andar para aí no meu quinto ano, e sonhar com o traje académico, de ficar com um brilho nos olhos sempre que sabia que alguém estava na universidade ou que um primo se tinha formado. Este desejo de um dia vir a ser universitária acompanhou-me desde cedo, sempre gostei muito da escola, dos livros, do cheiro a novo no início de um novo ano lectivo, de ir aos pulinhos comprar os materiais escolares e comprar o estojozinho da cor do dossier, e decidir quais as cores das canetas que iriam colorir os sumários no primeiro período, e no segundo e no terceiro...

Os três últimos anos do secundário foram uma corrida longa e intensa, com todas as dificuldades a que uma prova física tem direito e também com vitórias pelo meio. Depois veio aquele horrível e duradouro mês (e picos) de espera dos resultados do acesso ao ensino superior, mês esse que se transformou numa autêntica montanha-russa de emoções. Se num momento quase explodia de ansiedade e de medo, no outro sentia-me em plena paz comigo mesma de que fiz tudo o que esteve ao meu alcance e fosse qual fosse o resultado não estaria mais dependente de mim. O dia chegou, e naquele e-mail vinha a melhor notícia que poderia receber: eu, Marina Sequeira, entrei na faculdade, entrei naquilo que sonhava ser: Engenheira do Ambiente, depois de querer ter sido tanta coisa como médica, jornalista, advogada, pintora, hospedeira e até astronauta. Entrei no curso dos meus sonhos, o meu curso, na universidade que queria. A batalha está ganha e a vitória não me poderia saber melhor. Agora? Agora é viver o meu primeiro grande triunfo e acreditar que ser estudante universitária já não é um sonho é a (minha) realidade.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Fragmentos aleatórios de excitação


Vou-vos contar tudo muito rapidamente: Sábado dia 17 recebi o mail a dizer que fiquei colocado em Engenharia Biomédica no IST (primeira opção, yay!); Domingo dia 18 fiz anos e recebi, entre outras coisas, uma espectacular mala dos AC/DC, com a fronha arrogante de um jovem Angus Young espectacularmente estilizada na frente; e ontem, Terça dia 20, fui gastar o dinheiro que tinha no cartão oferta que recebi nos anos, e comprei o David Copperfield, de Charles Dickens, barato, depois de há uns dias atrás ter comentado com alguém que andava à procura dele; e com o dinheiro que sobrou, comprei ainda o The Stand, de Stephen King, um épico apocalíptico de 1300 e tal páginas. Resumindo: pode-se dizer que sou um gajo feliz.

Não podia estar mais orgulhoso de mim mesmo (gaba-te cesta) por ter entrado onde queria, no curso que queria, e ver recompensado o meu esforço dos últimos 12 anos, especialmente dos últimos 3, nomeadamente deste último. E não podia ter arranjado prendas melhores! Uma mala, que andava a precisar, extremamente linda e maravilhosa, e dois grandes calhamaços, como eu gosto, que incluem um dos maiores livros que o meu autor favorito de sempre já escreveu, para eu me babar a olhar para ele.

Isto tudo, quero pedir desculpa pela aparente desorganização que tem grassado no blog. Aquilo que se tem passado é que andamos todos a ler mais depressa do que escrevemos. A preguiça de escrever é muita, mas a vontade de ler não esmorece, o que leva a um desfasamento entre aquilo que anunciamos estar a ler, e as opiniões que vão saindo. No meu caso a coisa já está estabilizada: ando mesmo a ler A História Política do Diabo, de Daniel Defoe, que é bastante engraçada, já agora, apesar de ainda ir praticamente no início. O tom sério, de ensaio, com que o autor escreve é completamente contrabalançado pela crítica irónica e mordaz do assunto de que tão bem fala. Estou a gostar, mas não me vou adiantar muito, que depois tenho que escrever a opinião, e se digo já muita coisa depois não tenho nada para dizer, e fico com preguiça de escrever, e volto a entrar no círculo vicioso de ler mais depressa do que escrevo, e enfim, é uma desgraça...

Já agora, também já tenho as próximas leituras planeadas: O Segredo de Chimneys, de Agatha Christie; Número Notáveis, de Lamberto García del Cid; A Mãe, de Maximo Gorki; Os Passos Perdidos, de Alejo Carpentier; O Homem do Castelo Alto, de Phillip K. Dick; O Demónio Branco, de Lev Tolstoi; e depois logo se vê. Penso já ter tudo planeado pelo menos até ao final de Outubro (espero). Se entrar nalgum frenesim de leitura, o que é pouco provável, isto só dura até à segunda semana de Outubro... Mas com a entrada na Universidade, e essas coisas todas, o mais provável até é a leitura arrastar-se um pouco mais. Logo se vê.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

The Lovely Bones

Título: The Lovely Bones
Autor: Alice Sebold

Sinopse: "My name was Salmon, like the fish; first name, Susie. I was fourteen qhen I was murdered on December 6, 1973. My murderer was a man from our neighborhood. My mother liked his border flowers, and my father talked to him once about fertilizer."
This is Susie Salmon, speaking to us from heaven. It looks a lot like her school playground, with the good kind of swing sets. There are counsellors to help newcomers to adjust, and friends to room with. Everything seh wants appears as soon as she thinks of it - except the thing she wants most: to be back with the people she loved on Earth.
From heaven, Susie watches. She sees her happy suburban family implode after her death, as each member tries to come to terms with the terrible loss. Over the years, her friends and siblings grow up, fall in love, do all the things she never had the chance to do herself. But life is not quite finished with Susie yet.
The Lovely Bones is a luminous and astonishing novel about life and death, forgiveness and vengeance, memory and forgetting. It is, above all, a novel which finds light in the darkest of place, and shows how even when that light seems to be utterly extinguished, it is still there, waiting to be rekindled.

Opinião: Depois de ter lido Lucky, da mesma autora, fiquei com uma tremenda curiosidade para ler mais qualquer coisa da sua autoria, especialmente este The Lovely Bones, que já foi transformado em filme, cujo trailer me deixou bastante intrigado. Mas como o tenho em inglês, confesso que o ia deixando ficar para trás, em prol de livros em português, porque sabia que caso não gostasse ia deixar que a sua leitura se arrastasse por intermináveis semanas.

Felizmente, adorei. Logo desde as primeiras páginas. Como é dito algures, o facto de a história ser narrada por Susie Salmon, uma rapariga violada e brutalmente assassinada, a partir do céu, foi um golpe de génio, que permitiu à história ter um tom vagamente inocente, mas também de uma frieza e tranquilidade inesperada, uma característica que já tinha aparecido em Lucky, quando a autora descreve a sua própria violação e aquilo que sentiu na altura, e depois.

Só que neste caso, e uma vez que a história é ficcionada, as liberdades são maiores. Susie tem uma visão geral de tudo o que acontece a praticamente toda a gente que conheceu em vida, bem como ao resto das pessoas, se quiser, o faz com que o drama que envolve a sua morte seja visto de forma mais abrangente. É comovente, claro, muito comovente, mas aquilo que mais se destaca, que chega mesmo a chocar, é a frieza com que Susie narra a história, aspecto que eu já referi... Ela descreve a sua violação, a sua morte, fala do seu corpo, da desgraça que se abateu sobre a sua família, de tudo, com uma aparente tranquilidade que arrepia.

Mas a história não é propriamente um drama, apesar de todas as desgraças e horrores. É a autêntica crónica de uma família que se desagrega lentamente, desde o momento da morte de Susie. Não que ela fosse a cola que unia os pedaços e que só esperavam por um toquezinho para se separarem... Ela era uma criança normal, inteligente e curiosa (a curiosidade matou o salmão, já agora, nunca vi um provérbio tão bem aplicado a alguma coisa), mas a sua morte teve um grande impacto na sua família, como seria de esperar. Fez com que cada membro da família, e alguns amigos, ganhassem uma viva consciência de si próprios e daqueles que os rodeavam.

Ah, e o céu de Susie é muito interessante. É pessoal e pode ser privado, e a partir dele tem acesso ao mundo dos vivos, que observa atentamente, dia após dia. Torna-se um conceito curioso e que ganha uma certa relevância para o desenvolvimento da história, bem como para a sua estrutura, que me agradou imenso, digo já, como tudo no livro.

Ainda por cima fiquei apaixonado pelo formato físico do livro. É pequeno, é maleável, cabe de facto no bolso, as páginas não caíram mal o abri, é agradável à vista e tem a letra perceptível. Porque é que não se fazem livros assim em Portugal? Talvez seja melhor deixar isso para outra altura, o que interessa agora é que se viram o filme e acharam interessante, agarrem no livro, e se ainda não viram o filme, façam como eu e agarrem no livro na mesma... E depois esperem por uma tarde de preguiça para ver o filme!

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Harry Potter e a Ordem da Fénix



Título: Harry Potter e a Ordem da Fénix
Autor: J.K.Rowling
Tradutor: Isabel Fraga, Manuela Madureira, Isabel Nunes e Alice Rocha

Sinopse: Este tem sido um Verão ainda mais insuportável que o costume, para Harry Potter. Sozinho com os Dursleys, não consegue perceber por que razão Ron e Hermione lhe enviam respostas tão vagas às suas cartas. Isolado do mundo mágico a que pertence, Harry segue atentamente os noticiários, convencido de que até os Muggles se aperceberão de alguma coisa, se Lord Voldemort voltar a atacar... E é então que os acontecimentos se precipitam. Parece impossível, mas, no bairro mais muggle do mundo muggle, Harry é emboscado por Dementors! Para salvar a sua vida e a do primo Dudley, Harry não tem outra hipótese senão usar magia - mesmo sabendo que isso significará a sua expulsão mais que certa de Hogwarts. Enquanto o Ministério da Magia continua a não acreditar que o terrível Senhor das Trevas está de volta, Voldemort e os seus fiéis Devoradores da Morte já começaram a preparar o seu regresso ao poder. Porém, há uma nova esperança: uma antiga Ordem secreta, da qual os pais de Harry fizeram parte, voltou a organizar-se - e Dumbledore está atento.

Opinião: Acordamos para neste quinto volume para um Harry preocupado e mais adulto, logo desde as primeiras linhas.

Negado a informações e mantido à margem do mundo mágico, Harry serve-se de todos os meios ao seu alcance para detectar algum movimento de Voldemort.

Descobrimos por fim a Ordem da Fénix, que nos vem de certo mode reconfortar e trazer esperança de luta.

Partimos então pela quinta vez para Hogwarts, onde interessantes acontecimentos esperam os três amigos. Acontecimentos esses, que se podem reduzir a um nome: Dolores Umbridge.

Oh sim, esta odiável personagem proporcionou-me um dos livros mais queridos da saga. Com ela veio a ditadura e a censura, e com estas, a resistência.

Todo este clima repressivo que se sente ao longo de "A Ordem da Fénix", me fez em tudo lembrar as ditaduras militares que se viveram ao longo da história, assunto que me interessa particularmente.

Então, tal como em todos os regimes ditatoriais, há sempre alguém que se opõe e se revolta.

Nesta história, a resistência toma o nome de E.D. : Exército de Dumbledore.

Com Harry na vanguarda (e evidentemente Hermione, pois por detrás de um grande homem está sempre uma grande mulher), alguns alunos decidem alistar-se, preparando-se assim para a guerra eminente, uma vez que este conhecimento lhes é negado para servir unicamente os interesses do ministério.

De entre estes militantes, curiosas personagens aparecem pela primeira vez, de entre elas Luna Lovegood, uma das minhas personagens preferidas, por me identificar tanto com ela.

Harry vive também o seu primeiro romance com Cho Chang, e revelando-se bastante imaturo nessa matéria.

Enfim, lá para o fim do ano, (Voldemort, ainda que queira ardentemente matar o Harry, parece preocupar-se bastante com a sua educação), assistimos a uma renovada batalha sangrenta entre alguns membros do E.D e da Ordem da Fénix contra Voldemort e os seus Devoradores da Morte, que resulta num dos fins mais trágicos de toda a saga: a morte de Sirius Black, tão amado desde o terceiro volume. É então, no meio de todo este sofrimento, que Harry é finalmente informado por intermédio de Dumbledore do verdadeiro conteúdo da tão cobiçada profecia: "Nenhum pode viver enquanto o outro sobreviver". Uma informação crucial para o desfecho da história.

Começa então um tudo ou nada que só poderá ter termo com a morte de Harry ou de Voldemort.

Na minha opinião, um dos melhores livros da saga. Afinal, a partir daqui é sempre a melhorar.

Curiosidade: Na imagem de cima, a Ginny é a única rapariga de calças.

4nj05

Título: 4nj05
Autor: Carlos Silva

Sinopse: Num universo, não muito diferente do actual, nada nem ninguém pode passar pelo crivo informático. Com os conhecimentos certos pode-se saber o que se quiser sobre quem se quiser.

Felizmente existem aqueles acima da rede. Dão-se pelo nome de Anjos e a sua função é serem mensageiros dos segredos dos outros.
Mas nem estes estão completamente a salvo quando a mensagem a transmitir é um documento que pode mudar o mundo.


Opinião: Para a leitura desta noveleta, como o próprio autor lhe chama, fui contactado directamente pelo próprio, Carlos Silva, uma vez que que o texto não se encontra editado nem publicado por nenhuma editora. Pediu-me para ler e para opinar, pedido a que acedi de boa vontade.

E tenho coisas boas e coisas más a dizer. A apresentação está óptima, eu cá compraria um livro com este aspecto e esta capa. O título é curioso. E a história é interessante, após as primeiras páginas fiquei com curiosidade para saber o que ia acontecer.

No entanto, há também vários defeitos. Não vou contar com os erros e as trapalhadas gramaticais (afinal, é um livro não editado...), mas a história acaba por ser mal desenvolvida, com bastantes partes algo confusas e com as personagens a precisarem, no geral, de um melhor desenvolvimento. A sensação com que fiquei foi a de que faltavam capítulos atrás e capítulos à frente, como se estas 66 páginas tivessem sido retiradas ao calhas do meio do livro original.

Resumindo, é uma ideia interessante, mas que não chega para dizer que é um bom livro. Na minha opinião pessoal, a história devia ser revista, deviam ser adicionadas coisas, mais explicações, mais desenvolvimento e um melhor aproveitamento dos momentos de acção, que são sempre de curta duração e fraquinhos. Esperava mais, depois das primeiras páginas, mas é uma história que tem um certo potencial, se o autor a desenvolver melhor.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Precious

Título: Precious
Autor: Sapphire

Sinopse: Esta é a história de Claireece Precious Jones, uma jovem de 16 anos, igual às outras raparigas da sua idade em muitas coisas... mas muito singular noutras: Claireece é obesa, analfabeta, foi vítima dos abusos sexuais do seu pai, do qual teve uma filha, e é maltratada psicologicamente pela sua mãe. Quando Precious, após outra violação, fica novamente grávida, é expulsa da escola e começa uma nova educação num centro especial para casos extremos... e a sua vida mudará para sempre.

Opinião: Um poderoso e arrepiante livro. Globalmente é muito estranho e intenso. O facto de ser escrito através da perspectiva da personagem principal, a própria Precious, leva a que a história esteja pejada de erros, uma vez que ela começa a história como analfabeta, e na altura em que a começa a escrever, enfim, escreve mal. Mas a coisa vai melhorando, com o passar do tempo, apesar de nunca chegar a ser nada literariamente espectacular... Mas o objectivo é esse, é uma forma de apresentar a realidade ainda mais crua, permitindo-nos contactar directamente com aquela realidade específica.

É um choque duro, confesso, a leitura deste livro. Um mundo completamente diferente daquele a que estou habituado, um mundo em que Precious é violada pelo pai e pela mãe, além de ser rigorosamente controlada por esta última, que lhe diz tudo o que deve fazer. Com uma filha do seu próprio pai, e outro a caminho, analfabeta, sem dinheiro e sem qualquer tipo de apoio seja a que nível for, Precious vê-se presa num verdadeiro pesadelo demasiado cruel e infeliz para ser sonhado.

Confrontada com uma vida verdadeiramente miserável, Precious tem uma pequena esperança quando ingressa numa escola especial para pessoas como ela, onde vai fazer amigas, verdadeiras amigas, que a vão ajudar a ultrapassar as dificuldades e a viver como merece, feliz.

Neste livro pequeno, a autora consegue criar um relato emocionante e perturbadoramente realista do que é a vida na América, numa situação de extrema pobreza. Definitivamente aconselhado!

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A Criatividade em Matemática

Título: A Criatividade em Matemática
Autor: Miquel Albertí

Sinopse: Este livro foi escrito com base na convicção de que a matemática é uma actividade democrática, isto é, que qualquer pessoa é capaz de criar matemática. Partindo de exemplos históricos e actuais, e também de preciosas lições aprendidas com culturas não ocidentais, o leitor será levado a descobrir que matemáticas há muitas, e que o segredo da criação é "viver matematicamente" um pouco todos os dias.

Opinião: Encontrei o meu favorito desta colecção. É o primeiro (se bem me lembro) que vai além da objectividade necessária à matemática, e que faz uso de uma visão mais pessoal do seu autor, na qual se reconhece uma verdadeira paixão pela matemática e por tudo aquilo que a inclua.

Esse pequeno pormenor faz toda a diferença. O autor, ao usar um tom mais pessoal, e até um capítulo inteirinho baseado nas suas experiências pessoais, contadas de formas muito mais subjectivas que o resto do livro! É claro que quando se trata de matemática pura e dura, de contas de demonstrações, a objectividade e a racionalidade fria estão lá, mas até nos raciocínios e nas analogias usadas o autor conseguiu usar um tom mais pessoal e vívido.

O tema é o papel que a criatividade tem na matemática. À primeira vista, talvez muita gente diga que não tem nenhum, afinal, a matemática é algo tão exacto, objectivo, preciso e racional, que não deve haver espaço a algo aparentemente tão caótico e fora do contexto como a criatividade. Enganam-se. Quando é preciso resolver um problema, a criatividade é absolutamente fundamental. Usando o exemplo que o autor usa, se a criatividade e o discernimento humano não fossem precisos, e a criação matemática fosse meramente fruto de uma aplicação racional e objectiva de um conjunto de regras, qualquer problema seria resolvido por um computador, bastava inserir as regras, as condições, e ele resolvia.

Mas não funciona assim. A beleza da matemática, aparentemente incompreensível para a maior parte da população, está exactamente na descoberta, ou melhor, na criação de soluções para os mais variados problemas, desde escolher o caminho mais rápido, a estratégia mais eficiente, e até mesmo desenhar padrões geométricos sem demorar 45 minutos a fazer traçados auxiliares e medições.

No tal capítulo super pessoal, o autor fala das várias matemáticas, ou seja, de como culturas diferentes chegam a soluções diferentes para o mesmo problema, e de como a necessidade é um grande motor dos avanços matemáticos nos seus mais variados ramos. Mais especificamente, fala de artesãos na Indonésia que produzem intrincados e complexos padrões geométricos sem fazerem qualquer tipo de medições, quase a olho e com métodos intuitivos, uma estratégia que contraria o mais usual na nossa cultura de medições rigorosas e planeamento cuidadoso.

É de facto um livro espectacular, sem dúvida nenhuma o meu favorito de toda a colecção, até agora. Especialmente por causa do excelente trabalho do autor, que transmite a paixão que é a matemática, ao falar dela de tal forma que demonstração na perfeição como para além de ser a ciência mais exacta e pura de todas, é também uma das mais belas artes.

O Banqueiro Anarquista

Título: O Banqueiro Anarquista
Autor: Fernando Pessoa

Opinião: Só tive duas razões para ler este livro: a minha curiosidade natural e a pequenez do livro. Não sou fã dos escritos de Pessoa, embora tenha lido maioritariamente poesia. Portanto, a minha vontade de ler um livro escrito pelo poeta não era lá muita. No entanto sou demasiado curioso, e aproveitei o reduzido tamanho deste livro para experimentar.

A estrutura é simples, um imenso diálogo, que me fez lembrar os diálogos de Platão e dos gregos afins, em que duas personagens discutem uma ideia (ou várias), neste caso a anarquia.

Só que, uma vez que foi Pessoa a escrevê-lo, isto não podia ficar por aqui. Tinha que haver um qualquer tipo de paradoxo. Então não é que o homem que não só afirma ser anarquista, como afirma ser mais anarquista que os outros proclamados anarquistas, é um banqueiro, que enriquece à custa dos outros? É um bocado contraditório que alguém que se diz seguidor de uma doutrina que deseja abolir todas as convenções sociais, e criar uma sociedade verdadeiramente livre, seja afinal alguém que faz uso dessas mesmas convenções sociais para enriquecer, indo contra os ideais anarquistas que defende.

Mas a verdade é que Pessoa consegue, através do banqueiro, fazer uso de uma argumentação surpreendentemente lógica, culminando com uma espécie de "se não os consegues vencer, junta-te a eles" muito peculiar, em que o banqueiro diz que a única maneira de se ser verdadeiramente livre é estando livre das convenções e imposições sociais, e como destruí-las é impossível, tem que estar acima delas, ou seja, neste caso, tem que ter tanto dinheiro que deixa de ser escravo do sistema capitalista, sem ter necessidade de se preocupar com o dinheiro.

Surpreendente e único, tresanda a Pessoa e ao seu uso de uma linguagem extremamente acessível para transmitir ideias complexas e possivelmente rebuscadas, bem como à estrutura ideológica paradoxal e retorcida, tão frequentemente presente nos seus poemas, e que são praticamente a única coisa que realmente me agrada, na sua lírica. Neste pequeno livrinho encontram-se estas e outras características muito pessoanas, que fazem dele um pequeno livrinho invulgar e invulgarmente agradável.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Contos de Fadas Politicamente Correctos

Título: Contos de Fadas Politicamente Correctos
Autor: James Finn Garner
Tradutor: Francisco Agarez

Opinião: Um divertido conjunto de histórias infantis modernizadas, para se tornarem "politicamente correctas", o que significa que passam a incluir temas como o feminismo, a igualdade social (entre espécies e tudo), a defesa do ambiente, a luta contra a ganância, enfim, toda uma série de conceitos muito actuais e badalados.

Isto significa que as histórias, a certa altura, se encontram tão diferentes da versão original que ficam quase irreconhecíveis, com os vilões e as vilãs a serem as boas da fita, as damas indefesas a tornarem-se bastante auto-suficientes e normalmente a salvarem-se sozinha, sem esperarem por ajuda, bem como a introdução de vários termos que se afiguram como que deslocados, no nosso imaginário, como biorregião, criatura sereica, e uma insistência em usar a palavra pessoa, para não haver descriminação de géneros.

É claro que a mensagem a passar é muito mais profunda do que aparenta ser. A ideia não é de facto modernizar os contos e torná-los politicamente mais correctos, esta noção não passa de um simples meio para atingir outro fim, o de ridicularizar a sociedade, que parece regredir em termos sociais, ao invés de progredir, com os fanáticos seja do que for a defenderem as suas causas para lá delas próprias, vendo descriminação em tudo o que mexe e mau comportamento social em coisas banais e feitas de forma inocente.

Por exemplo, é mais notícia o facto de uma mulher ser escolhida para ministra, independentemente das suas capacidades, do que o facto de um homem altamente qualificado e promissor ser escolhido para o mesmo cargo. Até houve uma proposta (que não sei se chegou a ser aprovada) de criar quotas no Parlamento para definir o número de mulheres que têm que lá estar. Uma ideia absolutamente ridícula, pois ignora-se por completo as capacidades dessas ditas mulheres em relação à de outros homens, possivelmente mais qualificados, mas que são preteridos em lugar das mulheres, por causa das quotas.

Como este há muitos exemplos, e praticamente todos eles são ridicularizados e satirizados neste pequeno livro, num estilo bastante engraçado e crítico, como não o podia deixar de ser um livro humorista.