quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Cem Anos de Solidão

Título: Cem Anos de Solidão
Autor: Gabriel García Márquez
Tradutora: Margarida Santiago

Sinopse: "Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo." Com estas palavras - tão célebres já como as palavras iniciais de Dom Quixote ou de À Procura do Tempo Perdido - começam estes Cem Anos de Solidão, obra-prima da literatura contemporânea, traduzida em todas as línguas do mundo, que consagrou definitivamente Gabriel García Márquez como um dos maiores escritores do nosso tempo.
A fabulosa aventura da família Buendía-Iguarán com os seus milagres, fantasias, obsessões, tragédias, incestos, adultérios, rebeldias, descobertas e condenações são a representação ao mesmo tempo do mito e da história, da tragédia e do amor do mundo inteiro.

Opinião: Uma obra-prima da literatura mundial. A minha opinião podia ficar por aqui, aquela primeira frase é tudo o que quem ainda não leu precisa de saber. Cem Anos de Solidão é um dos melhores livros que já li, e que me vai ficar na memória durante muito tempo.

E como acontece muitas vezes com os livros que mais gosto de ler, não sei por onde começar, se pela natureza mágica do livro, se pelo conteúdo que transcende gerações e gerações da família Buendía e se torna numa poderosa mensagem abertamente subliminar, ou se devo começar por falar de qualquer uma das outras coisas que tornam este livro e esta história numa obra-prima.

No fundo poder-se-ia dizer, de forma bastante superficial, que esta obra retrata a história de várias gerações da família Buendía, num bizarra sucessão de Arcadios, Aurelianos, Josés e Amarantas, assim como de combinações destes nomes, com cada membro da família a ter direito à sua particularidade especial. Mas também estas particularidades se repetiam, geração após geração, com pequenas modificações, como o carácter empreendedor e sonhador do primeiro José Arcadio, que transparece, de uma forma ou de outra, no resto dos Josés Arcadios e em alguns Aurelianos; ou na firmeza de Úrsula Iguarán, a matriarca deste grande clã, que ressurge em bisnetas e trinetas e tetranetas e sabe-se lá mais o quê.

Mas, como disse a minha amiga Beky, talvez o importante não seja saber quem é quem, ou sequer ter noção de que as personagens estão a mudar. O que interessa realmente é ver como a história se repete, num ciclo vicioso, em que filhos e netos cometem os mesmos erros de pais e avós, e em que percebemos que o José Arcadio de determinada situação já não é o José Arcadio das primeiras páginas, mas que é como se fosse, e nem sequer tem muito interesse ficarmos a perceber se são realmente duas personagens ou apenas duas manifestações distintas da mesma personagem...

É exactamente este o tipo de agradável confusão que García Márquez incute nas nossas mentes enquanto lemos esta história. Sabemos, mas não interessa. Até podíamos ficar a perceber todas as relações familiares entre todas as personagens, mas nesse caso não capturávamos a essência da história, a de que a história se repete, a de que aquilo que a quinta geração de Buendías faz, não é diferente daquilo que fez a segunda ou a terceira, ou que fará a sétima, assim como aquilo que nós fazemos hoje, não é diferente daquilo que os nossos pais e os nossos avós fizeram ontem.

Tudo isto pontuado com a excelente escrita de Márquez, com o seu estilo premonitório e brincalhão, e que me fez agarrar metaforicamente nos livros deste autor que tenho em casa, e subi-los na minha pilha mental de livros a ler. Ainda por cima tem um final estrondoso, imprevisível e absolutamente contrastante com o tom do resto da narrativa, que dá o toque final numa obra já de si, perfeita.

Para acabar, lembrei-me de uma citação que acho que resume na perfeição este livro. É de Lavoisier, o pai da química moderna, e é uma frase que teve que se entranhar profundamente na minha mente, devido à área que escolhi, as Ciências:

"Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."

1 comentário:

Tiago M. Franco disse...

Concordo plenamente, este livro é uma verdadeira obra-prima. Um dos melhores que já li. Existe passagens maravilhosas no livro, mas para mim a melhor é aquele que o General Buendia apercebe-se que está na guerra simplesmente a lutar pelo poder e não por qualquer ideal. Infelizmente, tal como nas guerras, nos países ditos democráticos, nas eleições também não se luto por princípios e ideais, mas sim simplesmente pelo poder