quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Que as citações nos caiam em cima [14]

De certa forma, e por mais cliché que isto possa parecer, é bastante injusto eu publicar uma citação tirada do livro, uma vez que uma obra desta calibre não é citável de forma fragmentária, mas digna de apenas uma citação, a começar na primeira palavra da primeira página e a acabar na última palavra da última página. Escolhi esta parte por falar de literatura, e por apresentar uma visão aparentemente paradoxal da mesma, mas foi complicado de escolher. É verdade, gostei assim tanto do livro. Cá fica:

"Tendo aprendido o catalão para os traduzir, Alfonso meteu um monte de páginas nos bolsos, que andavam sempre cheios de recortes de jornal e manuais de artes estranhas, e uma noite perdeu-os em casa das rapariguinhas que iam para a cama por fome. Quando o sábio avô soube do caso, em vez de lhe fazer escândalo receado, desatou a rir e comentou que aquele era o destino natural da literatura. Por outro lado, não houve quem pudesse dissuadir de levar os três caixotes quando regressou à sua aldeia natal e desatou em impropérios cartagineses contra os revisores dos caminhos-de-ferro que tentavam mandá-los como carga, até que conseguiu ficar com eles na carruagem de passageiros. «O mundo estará fodido de vez», disse então, «no dia em que os homens viajarem em primeira classe e a literatura no vagão de carga.» Foi essa a última coisa que lhe ouviram dizer."

Gabriel García Márquez, "Cem Anos de Solidão"

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