domingo, 30 de janeiro de 2011

Os Lusíadas: Primeiras considerações


Devo começar por dizer que a edição que estou a ler é mesmo ao meu gosto: grande, capa dura, cheia de dourados.

As ilustrações de Lima de Freitas, maravilhosamente bem inseridas, retratam vários momentos da história, ajudando a visualizar vários episódios, que já são, muitas vezes, bem visuais.

A juntar a isso, tenho ainda que referir os 3 textos iniciais: o prefácio de Hernâni Cidade, muito elucidativo e interessante, e que de certa forma serve de preparação para a leitura do texto; o Alvará Régio, da edição de 1572, ainda com grafia antiga, escrito/mandado escrever por D. Sebastião (se não estou em erro, e se era assim que as coisas se processavam), em que este permite a publicação d'Os Lusíadas durante os próximos 10 anos e onde louva a qualidade do texto e dos seus "dez cantos perfeitos"; e ainda o Parecer do Censor do Santo Ofício, da mesma edição, com a mesma grafia, escrito pelo Frei Bertholameu Ferreira, que achei delicioso, especialmente quando diz que não vê nada de escandaloso, mas que acha necessário avisar os leitores que o autor usa a "fição dos Deoses dos Gentios", mas apenas com fins poéticos, não sendo por isso inconveniente "esta fabula dos Deoses", "Ficando sempre salva a verdade de nossa sancta fe, que todos os Deoses dos Gentios sam Demonios.".

Pormenores à parte, já li os 2 primeiros cantos, e vou a meio do terceiro. A habilidade que o autor tinha a manipular a língua portuguesa é de mestre. Acho fascinante a ideia de tanta estrofe sempre com o mesmo esquema rimático, o mesmo número de sílabas métricas, e que consegue contar uma história.

É claro que se há algo que me fascina ainda mais, é a mitologia. Todos os deuses greco-romanos e todas as suas intervenções são, fora de brincadeiras, divinais. Mas isso sou eu, que tenho um fraquinho por mitologia.

Agora um assunto mais sério. A Alice, aqui do blog, farta-se de dizer que este livro é a obra mais nacionalista que alguma vez viu, e que não gosta dele por isso mesmo. Em jeito de resposta, tenho a dizer que, primeiro, até podia ser um manifesto fascista subliminar, pouco me interessa. Eu sei que sempre foi moda misturar intervenção política/religiosa com a literatura e a arte em geral, mas por vezes é bom distinguir as coisas. Tenha o livro o contexto político que tiver, é uma obra bem escrita, fascinante, que só poderia ter saído da mente de um génio como o era Camões.

Segundo, voltando a misturar as coisas, temos que analisar essa parte da obra dentro do seu contexto... Foi publicada em 1572, na ressaca dos descobrimentos, o povo português era realmente o maior povo do mundo! Sim, essa parte pode ser discutível, mas acho que compreendem a ideia. Portugal era um Império que estendia pelos 4 cantos do mundo, era um país rico que tinha acabado de descobrir metade do planeta. Acho que é normal que as obras dessa época enalteçam o povo português, a soberania Lusitana... Ela existia!

Mas pronto, vou acabar a conversa dizendo que estou a gostar, e muito.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Temporada Épica

Finalmente tenho hipótese de fazer uma temporada temática! Vou juntar o útil ao agradável e tudo...

Então é assim, eu a Português vou dar "Os Lusíadas", mas a minha professora disse logo que não precisávamos de os ler todos, líamos depois os excertos que viessem no livro da disciplina. É claro que eu não achei tanta piada a isso, e decidi que ia ler o livro na íntegra.

Depois comecei a pensar que era capaz de ser boa ideia fazer uma temporada temática a partir daí. Epopeias. Comecei de imediato a planear as leituras: começava pela "Ilíada", depois a "Odisseia", a "Eneida", a "Divina Comédia" e acabava com "Os Lusíadas", ficando assim melhor preparado para estudar este assunto.

Mas como é óbvio, nem tudo correu bem. A "Ilíada", a "Odisseia" e a "Eneida" que encontrei aqui em casa, eram adaptações em prosa, o que não me agradou. Se é para ler epopeias, é para as ler em verso! Depois ainda veio um outro problema: "o que é que é considerado uma epopeia?". Segundo a minha professora, só havia 4. As duas gregas, de Homero, a romana, de Virgílio, e a nossa, de Camões, as chamadas clássicas, que cumpriam à risca aquilo que Aristóteles definiu. Mais tarde, chegámos à conclusão que há mais epopeias, poemas épicos e coisas parecidas, tudo dentro do mesmo género.

Ora, como eu nisso não sou propriamente picuinhas, procurei o que tinha aí por casa, e cheguei à seguinte lista:

Os Lusíadas, de Luís de Camões, indubitavelmente uma epopeia; Beowulf, redigido ao longo dos anos, de forma anónima, é considerado como um poema épico; Fausto, de Goethe, que embora seja um teatro, é considerado como pertencendo ao estilo épico; A Divina Comédia, de Dante Alighieri, uma epopeia mais moderna.

Parece pouco, mas já é muito... Tirando o "Beowulf", que é pequenito, é com cada calhamaço... O que é óptimo, claro! Espero é ainda conseguir encontrar mais epopeias, em bibliotecas, ou na net, pelo menos as duas gregas e a romana...

Mas bem, cá fica, espero que sejam todas leituras interessante, e espero também ter tempo para vir cá publicar uns textos sobre a epopeia e afins. Preparados para uma temporada épica?

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Lua Mágica

Título: Lua Mágica - O Outro Mundo
Autor: Wolfgang e Heike Hohlbein
Tradutor: Ana Cota

Sinopse: Kim é um jovem pacato cujo principal passatempo é acompanhar as aventuras do comandante Arcana, lendo os livros da saga "Guerreiros do Espaço". Mas, quando os pais lhe contam que a sua pequena irmã caiu num misterioso coma, Kim mergulha na frustração de nada poder fazer para a ajudar. Porém, um enigmático visitante de outro mundo arrasta Kim para o domínio da Lua Mágica. Ele vai comandar uma nave espacial, cavalgar através de perigosas florestas e montanhas, combater monstros e criaturas fantásticas... com o propósito de resgatar a Lua Mágica das garras de um cruel e fatal destino e, com isso, libertar a sua irmã do sono eterno.

Opinião: Este livro é daqueles que me põe triste. Por várias razões... É daqueles livros que tem tudo para ser um grande livro, mas que acaba como uma, perdoem-me, patética tentativa. Comprei-o deslumbrado com o  nome dos autores na capa: Wolfgang e Heike Hohlbein, ambos autores das sagas "Anders" e "Genesis" que apreciei muito e que conto reler (especialmente "Anders"). A capa deixou-me de pé atrás, tem um ar muito juvenil, mas digamos que preferi confiar nos autores (e no preço, quase nada).

Quando li a sinopse, fiquei outra vez de pé atrás. Um livro de fantasia, com monstros e armaduras e espadas e um aspecto medieval e cavalos, mas também com naves espaciais. Ui. Mais uma vez, fiei-me nos autores, que tinha em grande estima.

Depois de ler, posso afirmar, sem sombra de dúvidas, que me desiludi, à grande. Eu já devia saber, desde sempre que tenho na cabeça a noção que para misturar naves espaciais e afins com magia e afins, ou se é um génio como não há memória, ou então sai asneira. Este livro pareceu-me um daqueles livros que eu sonhava escrever quando tinha doze anos. Uma batalha do Bem contra o Mal, que tenha naves a explodir e umas boas espadeiradas, gigantes, dragões e tudo o que eu conseguisse imaginar. Aliás, um dos principais pecados deste livro está nesse "tudo". É que tem mesmo tudo, se bem que acontece sempre demasiado rápido, do género uma grande e temerosa batalha ocorre em cerca de 3 parágrafos.

Juro que nunca li um livro tão anti-climático. Parecia que os autores estavam a gozar comigo. "E agora que já não temos mais nenhuma hipótese de sobreviver?!? Ah, afinal temos.". A sério, chega a ser ridículo. Já para não falar de toda uma série de coisas absolutamente hilariantes, como um rapazolas qualquer, que gosta é de ler ficção científica, saber comandar uma nave espacial, vestir uma armadura, usar uma espada, andar a cavalo, ter conhecimentos profundos de política medieval, ser esperado sem ser esperado, derrotar VÁRIOS cavaleiros MUITO maiores e MUITO mais experientes que ele, com uma cotovelada na barriga (aquela que se costuma ter atrás da armadura), saltar de uma altura de 10 metros sem praticamente nenhum arranhão, escapar ao mais tenebroso inimigo do Bem e ainda percorrer sem lá quantos quilómetros, na maior, sempre muito cansado, mas sempre desenrascado.

Perdoem-me os spoilers, mas acreditem, não perdem grande coisa. Eu até me sinto mal ao dizer que li este livro... É tão inverosímil, tão adolescente, tão ridículo. São livros como este que transmitem aquela ideia de que a fantasia não é a literatura. Porque esta fantasia, realmente, não é literatura nem nada que se pareça.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Um Crime no Expresso do Oriente

Título: Um Crime no Expresso do Oriente
Autor: Agatha Christie
Tradutor: Alberto Gomes

Sinopse: Em pleno Inverno, Poirot encontra-se em Istambul, decidido a tomar o Expresso do Oriente. Depois de uma noite mal passada, a sua tranquilidade é perturbada quando uma tempestade de neve obriga o comboio a parar e aparecer o cadáver de um passageiro brutalmente apunhalado.

Opinião: Se tivesse que escolher um livro modelo do Poirot, seria este. Fiquei com a impressão que de todos os que já li (já foram uns poucos...) este é aquele mais típico, onde a personagem e os seus métodos de dedução têm o maior destaque, tão curiosas são as circunstâncias.

Vejamos: presos num comboio, no meio de um nevão, sem mais nenhum meio de investigação que não fossem as célulazinhas cinzentas. Poirot só pode observar a cena do crime, interrogar cuidadosamente cada passageiro, sem ter maneira de confirmar qualquer das histórias a 100%, e pensar. E faz isso mesmo. Através de um processo metódico e muito organizado, Poirot avança na investigação, dedução a dedução, até chegar à solução do crime, por mais inverosímil que esta pareça!

Poirot observou, interrogou e deduziu. Já para não falar que, como quase sempre, parece ter chegado à solução do crime muito antes de a revelar, o que só mostra o seu método de forma mais acentuada. O detective belga chegou à solução, mas só depois de provar todos os pontos da sua teoria é que a revela como sendo de facto a solução.

Foi uma leitura fascinante, embora eu já conhecesse a história e soubesse o final de antemão, bem como alguns pormenores. Foi também uma leitura rápida, para não variar, com os livros desta escritora, sempre tão bem delineados e viciantes, sem falhas. Fica definitivamente aconselhado, como não podia deixar de ser, bem como o filme que se baseia nesta obra, que espero rever um dia destes, para poder deixar a minha opinião por aqui.

sábado, 22 de janeiro de 2011

1984


Título: Mil Novecentos e Oitenta e Quatro
Autor: George Orwell

Sinopse: Curioso percurso, o desta alegoria inventada para criticar o Estalinismo e invocada ao longo de décadas pelos ideólogos democráticos, e que oferece agora uma descrição quase realista do vastíssimo sistema de fiscalização em que passaram a assentar as democracias capitalistas. A electrónica permite, pela primeira vez na história da humanidade, reunir nos mesmos instrumentos e nos mesmos gestos o trabalho e a fiscalização exercida sobre o trabalhador. Como se não bastasse, a electrónica permite, e também sem precedentes, que instrumentos destinados ao trabalho e à vigilância sejam igualmente usados nos ócios. É graças à unificação de todos os aspectos da vida numa tecnologia integrada que a democracia capitalista pode realizar na prática as suas virtualidades totalitárias. O Big Brother já não é uma figura de estilo – converteu-se numa vulgaridade quotidiana.


Opinião: Há muito que andava para ler esta obra de Orwell. Procurei-a durante meses, mas por qualquer razão, ou achava o preço do livro muito caro ou estava simplesmente esgotado. Foi então que vi a luz na casa dos meus avós pelo Natal: escondido numa estante poeirenta numa edição dos anos 70 lá estava o tão esperado livro.



E bem, como era de esperar, adorei o livro, é como se tivesse sido feito para ser lido por mim nesta altura da minha vida. Sublinho por baixo: sem dúvida uma das maiores obras do século XX.


Tendo-me identificado plenamente com a personagem de Winston, senti o mesmo quanto ao enredo. É incrível como esta obra escrita há sessenta anos ainda permaneça tão actual.

A escrita rápida e fluída de George Orwell acompanha os nossos pensamentos sobre a história a um ritmo alucinante, conseguindo estar sempre à frente das conclusões do leitor.


Sentimos a dor e o pânico de Winston no nosso próprio corpo, à medida que o personagem perde a consciência da sua própria consciência.

Para sempre, um dos meus livros preferidos, com a promessa de ler mais distopias.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Falar é fácil

Título: Falar é Fácil
Autor: Zé Diogo Quintela

Sinopse: Estão aqui representadas algumas das minhas opiniões sobre vários assuntos. Tenho outras opiniões diferentes sobre os mesmos assuntos, mas achei que não fazia muito sentido estar a contradizer-me no meu próprio livro.

Opinião: Este Falar é Fácil foi um livro que me ficou barato, pois comprei-o como parte de um pack promocional, juntamente com as Novas Crónicas da Boca do Inferno, do Ricardo Araújo Pereira. E digo já que não me importava de ter dado mais dinheiro por cada um dos livros. Para começar, porque todas as crónicas de cada um são absolutamente fabulosas. E depois pela edição.

A textura da capa é de sonho. Se dependesse de mim, todos os livros teriam esta textura ou então seriam de capa dura. E isto para não falar sobre as duas páginas iniciais e as duas páginas finais, todas vermelhas (verdes, no caso do livro do Ricardo Araújo Pereira), que criam um efeito bonito (ainda que, imagino, pouco amigo do ambiente, confesso). Ou seja, em termos de edição, é perfeito.

Quanto às crónicas e à escrita, ambas as coisas são ligeiramente diferentes daquilo que li nas Novas Crónicas da Boca do Inferno. Neste livro fala-se muito menos de política e mais de coisas completamente ao acaso. As opiniões sobre algumas coisas também são ligeiramente diferentes, uma vez que um é de Esquerda e do Benfica, enquanto que o outro é de Direita e do Sporting. Mas também não varia assim tanto, que ambos têm uma visão muito crítica da sociedade (não fossem eles humoristas) e gostam de usar palavras como "escaganifobética", "moscambilha" e outras que tais, embora, sem bem me lembro, é o Zé Diogo Quintela que as usa com mais frequência.

Ricardo Araújo Pereira tem um humor mordaz e irónico. É, no fundo, um gajo lixado. Já Zé Diogo Quintela é mais um gozão, seja com o que o rodeia, seja com ele próprio, "o choninhas", como se auto-denomina muitas vezes.

Resumindo, foi uma boa leitura, e uma óptima compra, que apesar de ser apenas um livro que junta as crónicas que ele já publicou noutros sítios, é óptimo para divertir e entreter, para rir um bocadinho.

domingo, 16 de janeiro de 2011

O Evangelho Segundo Jesus Cristo

Título: O Evangelho Segundo Jesus Cristo
Autor: José Saramago

Sinopse: "«É a obra mais polémica de José Saramago e aquela que, indirectamente, o levou a sair de Portugal e a refugiar-se na ilha espanhola de Lanzarote. Ficou para a história o desentendimento com o então subsecretário de estado da Cultura Sousa Lara, que considerou o livro ofensivo para a tradição católica portuguesa e o retirou da lista do Prémio Europeu de Literatura. Com um José destroçado por ter fugido e deixado as crianças de Belém nas mãos dos assassinos de Herodes; com uma Maria dobrada e descrita, logo no início do livro, em pleno acto de conhecer homem; com um Jesus temeroso, um Judas generoso, uma Madalena voluptuosa, um Deus vingativo e um Diabo simpático, não era de esperar outra reacção das almas mais sensíveis e mais devotas do catolicismo português. E verdadeiramente viperinas são as várias páginas onde o escritor português se entretém a descrever minuciosamente os nomes e a forma como morreram os mártires dos primeiros séculos do cristianismo. Assim se escreveram os heréticos Evangelhos segundo Saramago, para irritação de muitos e prazer de alguns. Como convém.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)"

Opinião: A minha curiosidade quanto aos livros do nosso único Nobel da Literatura já vem de há muito tempo. Primeiro, por ser polémico, tanto a nível de temáticas como de escrita. Depois, por ter alguns livros listados como ficção científica e alguns com premissas absolutamente bizarras, tal como eu gosto. Ainda mais, por ser português e ter um Nobel. Mas principalmente por aquilo que ouvia dizer.

De um lado diziam que os livros dele eram lixo, que nunca deviam ter sido publicados, de outro já aclamavam esses mesmos livros como obras-primas universais. Desde pequeno que oiço os dois lados disparar e esgrimir argumentos, insultos e vá-se lá saber mais o quê. Ora deitavam abaixo a sua escrita, pouco ortodoxa, ora criticavam o seu ataque à religião, por ser um ataque à religião, ou comparavam o facto de criticar tão duramente tudo o que metesse Deus e afins, com o facto de pouco se pronunciar sobre o comunismo, que apoiava. Mas logo muito rapidamente aparecia alguém a explicar o porquê de Saramago escrever assim e a elevá-lo ao panteão dos orgulhos nacionais.

Mas bem, sobre Saramago, o homem, não me pronuncio muito mais. Preciso só de dizer que é um dos poucos escritores que me deixa tão curioso e empolgado com a sua obra e com a sua pessoa. A machadada final foi dada com a minha chegada ao 12º ano. Então não é que um dos livros de leitura obrigatório é precisamente o Memorial do Convento, de Saramago? Ora, como eu já sabia que a escrita podia ser complicada de assimilar, dediquei-me a ler um outro livro dele antes do Memorial, para que quando chegasse a altura de o estudar, o fizesse sem problemas. Procurei cá por casa, e encontrei três livros dele, entre os quais este Evangelho, que por ser exactamente sobre o assunto que tornou Saramago mais polémico e por ter sido (pelo menos em parte), o livro que o levou a auto-exilar-se, me encheu de uma tremenda curiosidade e me fez pegar nele.

E bem... Demorei exactamente 15 dias a lê-lo, mais do que o habitual para um livro deste tamanho, por várias razões. Primeiro porque tive um começo de ano atribulado, com montes de coisas para pôr em dia, deixando-me assim pouco tempo para a leitura. Segundo, porque o livro aparentemente tem 352 páginas, mas só mesmo aparentemente, pois embora a escrita não seja densa, longe disso, a mancha gráfica é, ou seja, como Saramago só faz parágrafos muito de vez em quando e como os diálogos são todos seguidos, com as falas separadas por vírgulas, isto são parágrafos que parecem nunca mais terminar! Acredito seriamente que se este livro estivesse escrito de forma mais tradicional, teria nas calmas umas 600 e tal páginas, ou mais.

Desculpas à parte, não sei bem o que dizer. Adorei o livro como há muito tempo não adorava o livro. Aliás, acho que nunca gostei tanto de um livro, que nunca um livro me impressionou da forma que este o fez. O livro conta basicamente a história de Jesus Cristo, seguindo fielmente os acontecimentos descritos na bíblia, e que todos, melhor ou pior, conhecemos (eu próprio, que sou muito pouco dado a essas coisas, reconheci montes de momentos), embora, como não podia deixar de ser, tenham o seu toque anti-cristão, que era isso que Saramago era, anti-cristão e anti-religião de qualquer espécie, faceta que transparece muito neste livro (e ao que parece, em todos).

Já me estou a alongar demasiado. Mas tem que ser! É que a história é fabulosa e da escrita nem se fala... Irónica, sarcástica, crítica, divertida e que mesmo com o seu estilo de pontuação deveras original, se entranha bem e às tantas nem se dá por ela. Acaba por se tornar fluida, houve mesmo alturas em que virei páginas praticamente a correr. Para ajudar a festa, a história é interessante, tem vários pontos altos e alguns poucos pontos menos altos. As aparições de Deus a Jesus são algo de divinal (passe a piada subliminar), a parte que o Diabo tem na história é curiosa, e há diálogos absolutamente excepcionais, já para não falar do momento que oscila entre o forte e o ligeiramente cómico, em que Deus enumera uma lista dos mártires dos séculos vindouros, por ordem alfabética, e a forma como morreram.

Pode-se tornar um livro complicado para pessoas mais fortemente religiosas, mas especialmente essas deviam ler este livro, com calma e prestando atenção.

E agora chega, senão ninguém me lê esta opinião!

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ajudem-me!

O assunto que hoje me leva a escrever aqui no blog, é o seguinte: preciso da ajuda de quem nos lê. Mas comecemos pelo princípio.

Modéstia à parte, eu cá sou um rapaz muito organizado, e que gosta de ter as coisas muito organizadas. E aqui no blog temos tido o cuidado de manter listas (de autores e de livros), sempre acessíveis a quem nos visita. Pois bem, a certa altura da vida do "Que a Estante nos Caia em Cima", começámos a escrever umas crónicas e, mais recentemente, opiniões de filmes (embora estejamos muito no início, neste aspecto, obviamente).

A ideia que me assaltou o espírito foi a de termos também uma lista para os filmes e uma para as crónicas. Para os filmes talvez ainda não faça muito sentido (uma vez que ainda só temos um comentado...), mas para as crónicas já começa a fazer alguma falta, penso eu.

E para os filmes, é uma tarefa fácil. Uma lista em tudo igual às outras duas que já temos, tudo ordenado por ordem alfabética, com a indicação de quem escreveu a opinião e acrescentando ainda o livro em que é baseado, e o autor do livro. A dificuldade é com as crónicas. Primeiro pensei em fazer por ordem alfabética, mas cheguei à conclusão que isso não me agrada particularmente, pois a ordem alfabética é para encontrarmos algo que já sabemos o nome. Ou seja, eu conheço o livro X, quero encontrá-lo, ali na lista, e facilmente o faço, se tiver tudo arrumado por ordem alfabética.

Mas uma crónica é algo muito mais "pessoal" e que, à partida, só se conhece o nome depois de a ler. Ou seja, talvez uma ordem alfabética não seja muito indicada. É claro que com a rapidez que o meu cérebro tem em formular pensamentos que me dificultem a vida, logo idealizei uma lista ordenada por temas. Fazia muito mais sentido. Então lá fui eu, todo feliz, criar a nova página, quando me deparo com a totalidade das crónicas que já escrevemos. Não são muitas, se calhar nem 10% dos textos que temos publicados... O problema é mesmo organizá-los por temas.

Portanto, aqui estão elas, caso alguém as queira ler (publicidade dá sempre jeito, não dá?), e ainda um apelo, para que me ajudem a arranjar uma forma de organizar isto. Qualquer tipo de sugestão é bem-vinda, mesmo se for para dizerem que não vale a pena criar uma página para as crónicas. Podem sugerir alguma forma de organização nova, ou dar-me umas dicas sobre como as organizar por temas, qualquer coisa serve!

Podem usar os comentários, ou o e-mail do blog, ou o nosso twitter.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

A vida num sopro

Título: A Vida num Sopro
Autor: José Rodrigues dos Santos

Sinopse:  Portugal, anos 30. Salazar acabou de ascender ao poder e, com mão de ferro, vai impondo a ordem no país. Portugal muda de vida. As contas públicas são equilibradas, Beatriz Costa anima o Parque Mayer, a PVDE cala a oposição. Luís é um estudante idealista que se cruza no liceu de Bragança com os olhos cor de mel de Amélia. O amor entre os dois vai, porém, ser duramente posto à prova por três acontecimentos que os ultrapassam: a oposição da mãe da rapariga, um assassinato inesperado e a guerra civil de Espanha. Através da história de uma paixão que desafia os valores tradicionais do Portugal conservador, este fascinante romance transporta-nos ao fogo dos anos em que se forjou o Estado Novo. Com a "Vida num sopro", José Rodrigues dos Santos confirma a sua mestria e o lugar que já ocupa nas letras portuguesas.

Opinião: Este foi o primeiro romance que li deste escritor, e tenho toda a certeza que não será de todo, o último. Esta é a história de dois jovens estudantes de liceu, que se apaixonam e de um país a sofrer o auge da ditadura. É a típica história de uma paixão eterna adolescente que é obrigada a terminar, por causa da imposição da mãe de Amélia, sobre os sentimentos da filha. Obrigada a casar com um homem que não ama, mas que preenche todos os requisitos de "genro" da mãe, Amélia vê-se forçada a deixar de ser menina e passar a ser uma mulher de família. Longe da vista, mas não do coração, passaram-se anos desde que Amélia desapareceu da vida de Luís, o protagonista toma um rumo diferente: forma-se em Medicina Veterinária, num ensino superior restrito e controlador, procurando em cada mulher que ia conhecendo o olhar de Amélia. Por ironia do destino, ou por uma simples coincidência, os destinos destes jovens, agora adultos, voltam-se a cruzar e reencontram-se naquilo que os deixou presos um ao outro, um grande amor inexorável ao tempo e às controvérsias das "conveniências" que os separaram. Mas mais uma vez a felicidade dos dois protagonistas vai ser condicionada por factores sociais, éticos e morais, de um país em que a Liberdade era ainda uma palavra desconhecida.

José Rodrigues dos Santos consegue através de um escrita simples e directa, contar uma deliciosa história de amor, inspirada na história dos seus avós, que nos apaixona desde o primeiro segundo. Consegue ainda inseri-la num bom enquadramento histórico-político, com uma descrição fabulosa e minuciosa de tudo aquilo que marcou Portugal no regime ditatorial de Oliveira de Salazar, com todos os argumentos históricos e factoriais. É sem dúvida, um livro que aconselho, principalmente a todos, que tal como eu, gostam de romances históricos. A vida num sopro, tal e qual como se lê este livro, num sopro.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Os Segredos do Número π - Porque é que a quadratura do círculo é impossível?

Título: Os Segredos do Número π
Autor: Joaquín Navarro
Tradutor: João Pedro Piroto Pereira Duarte

Sinopse: Três-catorze-quinze... esta familiar cantilena descreve a razão entre o comprimento de uma circunferência e o seu raio, também conhecida como número pi. Objecto de estudo desde os alvores da civilização, nenhum outro número despertou tanto interesse e controvérsia ao longo dos tempos.

Opinião: De todos os livros desta colecção que já li até agora, este é, muito provavelmente, o mais horrível em termos técnicos, não fosse ele sobre o π (pi), um número tão incompreendido quanto incompreensível. Tem casas decimais que nunca mais acabam (literalmente), que não seguem qualquer tipo de padrão (que tenha sido descoberto até agora), e alguns dos maiores vultos da matemática gostam de brincar com ele, só porque sim.

No entanto, é de louvar o esforço bem sucedido que o autor faz para não massacrar demasiado o leitor, pois embora tenha fórmulas que metem medo ao susto, tem igualmente muitas páginas dedicadas aos aspectos históricos e a curiosidades interessantíssimas (ou não!). Achei espantoso ver como este número mete o nariz em tudo. Ele é teoria dos números, ele é geometria, ele é probabilidades, ele é física, ele é poesia, ele é música, ele é cinema, ele é leis, ele é arte... Enfim, as aplicações do π devem ser quase tantas quanto as suas casas decimais.

A vantagem/desvantagem (depende do ponto de vista) disto, é que se podem condensar, num só livro, montes de temas. Por um lado é porreiro, o meu nível de cultura geral deve ter subido aos píncaros do Quem Quer Ser Milionário, mas por outro, lá está, acaba por se tornar difícil gerir tanta informação em tão pouco tempo.

Como é óbvio, gostei. O meu fascínio pela matemática continua a aumentar, e cada vez fico mais espantado com a quantidade de pessoas que despreza esta ciência, a mais pura delas todas. Se lhe derem uma oportunidade, e tiverem paciência, conseguem ver como pode ser bela e que raramente é um bicho de sete cabeças tão mau quanto o pintam!

sábado, 8 de janeiro de 2011

Poe - Uma Vida Abreviada

Título: Poe - Uma Vida Abreviada
Autor: Peter Ackroyd
Tradutor: Alberto Simões

Sinopse: Considerado um génio, o precursor da fantasia moderna, e acreditado com a invenção do drama psicológico, da ficção científica e das histórias policiais, Edgar Allan Poe teve uma vida tão dramática e trágica como os seus próprios contos. A vida de Poe foi dominada por mulheres à beira da morte: a sua mãe morreu de tuberculose quando ele tinha apenas dois anos, a mãe adoptiva quando ele tinha vinte, e a esposa, Virginia, morreu igualmente da mesma doença que a sua mãe. Tal como Ackroyd demonstra brilhantemente, foram estas mortes que, associadas à infância miserável de Poe, levaram à concepção de contos tão obscuros e estarrecedores como A Queda da Casa de Usher e Berenice, embora tenha sido com a publicação de O Corvo que o escritor alcançou finalmente o grau de reconhecimento por ele tão ambicionado. Contudo, o sucesso não foi suficiente para salvá-lo de si mesmo, tendo morrido com a idade de quarenta anos. Os seus últimos dias são tão misteriosos como grande parte dos seus escritos. Poe foi um escritor extraordinário, e em Peter Ackroyd, terá encontrado o seu biógrafo ideal.

Opinião: Antes de ler este livro, eu já sabia alguns pormenores da vida de Poe, como o mistério que envolveu os seus últimos dias, bem como as descrições que dele há e que o retratam como um homem amargurado e perseguido pela miséria. Além disso já li uma série de contos da sua autoria, que me permitiram confirmar essa ideia algo macabro que se tem da sua personalidade.

No entanto, depois de ter lido este livro, vejo como não fazia a mais pálida ideia de como é que a miséria o perseguia e que, tirando o lado mais sombria, eu não conhecia nada da sua personalidade. É que Edgar Allan Poe não era um pobre coitado, pelo menos não no sentido normal e comum da palavra. Poe foi um autêntico génio, considerado ainda em vida como um dos maiores escritores americanos do século, mas que, ainda assim, foi largamente desprezado a maior parte do tempo, tendo mesmo chegado a publicar uma série de livros (alguns deles tidos hoje em dia como autênticos clássicos e obras-primas da Humanidade), que ora foram duramente criticados, como foram elevados a um alto pedestal.

E mesmo com tudo isto, nunca deixou de viver de dinheiro emprestado (ou caridosamente reunido para o ajudar, e à sua família). Ou seja, Poe não teve uma vida fácil. A sua mãe morreu cedo e ele foi adoptado, ainda muito novo. Ainda novo, morreu-lhe a mãe adoptiva. O rol de mulheres que morreram tuberculosas/demasiado cedo na vida deste escritor é demasiado grande. Até a sua mulher (e prima), acabou por morrer dessa forma. A única mulher que se aguentou, e que inclusive lhe sobreviveu, foi a sua sogra, uma mulher forte e determinada, que foi muitas vezes "o homem" da casa para aquela família.

Para ajudar tudo isto, Poe tinha uma queda hereditária e fatal para a bebida. Não era dependente da bebida, pois conseguia passar grandes períodos de tempo sem tocar em álcool. Mas quando o fazia, não conseguia parar, acabando quase sempre por desmaiar nalgum sítio, ou por ser levado ao colo para casa, pelos amigos e, em certas ocasiões, por completos desconhecidos!

E como não podia deixar de ser, Poe tinha mais azar que uma sardinha que encontre pescadores portugueses. Nada lhe corria bem. Não ganhou dinheiro quase nenhum com as obras que publicou em vida; o seu temperamento era excêntrico, no mínimo, ora afável, ora execrável, tornando-o pouco dado a socializações; todas as pessoas de quem gostava acabavam por morrer demasiado novas; e foi uma alma muito à frente do seu tempo.

Todos estes aspectos são muito bem retratados no livro, especialmente uma coisa que o autor focou várias vezes: o facto de que a vida de Poe escorria fortemente para as temáticas da sua escrita e para a forma como escrevia. Esta parte deixou-me com uma vontade imensa de reler as histórias de Poe que tenho por aí e de comprar um livro, maravilhoso, enorme, com tudo aquilo que ele escreveu, em inglês...

Raramente concordo com a sinopse de um livro, depois de o ler, mas Poe encontrou realmente o seu biógrafo ideal, em Peter Ackroyd. Objectivo quando tal era preciso, subjectivo quando tal era autorizado, informativo e, acima de tudo, viciante.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O Livro da Consciência

Título: O Livro da Consciência
Autor: António Damásio
Tradutor: Luís Oliveira Santos


Sinopse: Como é que o cérebro constrói uma mente? E como é que o cérebro torna essa mente consciente? Qual a estrutura necessária ao cérebro humano e qual a forma como tem de funcionar para que surjam mentes conscientes?
Há mais de trinta anos que o neurocientista António Damásio estuda a mente e o cérebro humanos e é autor de vasta obra publicada em livros e artigos científicos. No entanto, formulou o presente livro como um recomeço, quando a reflexão sobre descobertas importantes da investigação, recentes e antigas, alterou profundamente o seu ponto de vista em duas questões particulares: a origem e a natureza dos sentimentos, e os mecanismos por detrás do eu. 
O Livro da Consciência constitui assim uma tentativa de debater as noções actuais nestes domínios. Uma obra magistral que nos deixa entrever aquilo que ainda não sabemos sobre o cérebro e a consciência, mas gostaríamos muito de saber.


Opinião: Tenho que começar por ser muito honesto: não percebi a maior parte daquilo que vem explicado no livro. Digamos que fiquei com uma ideia geral do assunto, e que aprendi montes de palavras novas.

A ideia com que fiquei foi a de que o cérebro é algo realmente muito complexo, com um funcionamento que escapa por completo ao comum dos mortais.

Mas, no entanto, graças à escrita de Damásio, que tem o ocasional dom de simplificar o demasiado complicado, consegui apanhar alguns dos detalhes e perceber, de forma superficial, o tema principal do livro, a consciência.

Na perspectiva de Damásio, que estuda o tema há uns anos largos e que conta com o apoio de uma equipa de investigação dedicada, a consciência não é uma criação recente na história da evolução, nem é nada de transcendente, apesar de ainda não se ter muito conhecimento sobre ela.

O autor defende que ao contrário do que normalmente se pensa, a consciência não é necessariamente o produto das partes mais complexas e "humanas" do cérebro, mas sim do modesto tronco cerebral, presente em muitas outras espécies, normalmente tidas como mais primitiva, sem que essas espécies desenvolvem uma consciência como nós desenvolvemos, o que permite concluir que o tronco cerebral, apesar de essencial, não trabalha sozinho.

Aspectos técnicos à parte, é um livro interessante, no geral, em grande medida graças à escrita, que não é muito complicada (apenas o parece, por causa da imensidão de termos técnicos), e que usa comparações e analogias que explicam muita coisa, bem como exemplos vindos de todo o lado, da pintura à literatura. Conta ainda com o ocasional piscar de olho ao humor.

Mas, não aconselho, de todo (!), a qualquer pessoa...

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Filmes - As Crónicas de Nárnia: A Viagem do Caminheiro da Alvorada


Título: As Crónicas de Nárnia: A Viagem do Caminheiro da Alvorada
Realizador: Micheal Apted
Inspirado na obra de: C. S. Lewis

Sinopse: Edmund, Lucy e o seu primo Eustace são puxador para dentro de um pintura mágica que os leva de volta a Nárnia de encontro a uma grande aventura. Assim que chegam voltam a encontrar-se com o rei Caspian, a bordo do poderoso navio real "O Caminheiro da Alvorada", onde rapidamente descobrem que o seu regresso se deu numa altura perigosa. Uma neblina maléfica ameaça tomar a terra mágica e é agora sua missão proteger Nárnia da ameaça a qualquer custo. Com a ajuda de Caspian, Reepicheep, e o resto da corajosa tripulação, Lucy, Edmund e Eustace içam vela em direcção às ilhas de Este, combatendo comerciantes e escravos, tempestades violentas, serpentes marítimas e outros novos perigos a cada esquina. Apesar destes obstáculos perniciosos , mantêm a rota na esperança de vencer a terrível neblina antes que Nárnia se perca para sempre.

Opinião: Inaugurando esta nossa crónica sobre filmes inspirados em livros, devo começar por dizer que nenhum filme inspirado numa obra literária (salvo raríssimas excepções) acaba por coorresponder às expectativas do leitor. Saímos por vezes da sala de cinema com um gosto amargo na boca, como se acabássemos de ter assistido à versão plástica da narrativa que nos transmitira tanto. Outras vezes acontece o contrário, e a muito custo lá acabamos por admitir que de facto o filme nos agradou mais.


Eu pessoalmente adoro quando sinto que estou a ver imagens tiradas da minha própria imaginação projectadas no grande ecrã. As Crónicas de Nárnia, desde o primeiro filme são disso exemplo. Para além da produção e efeitos especiais serem de louvar, a mensagem criativa manteve-se desde a cena em que Lucy abre pela primeira vez o guarda-fatos. Depois da decepção que foi O Príncipe Caspian (que contava com cenas extremamente longas e arrisco mesmo, aborrecidas), A Viagem do Caminheiro da Alvorada retoma a magia de O Leão, A Bruxa e o Guarda-fatos, de novo com cenas mais ritmadas e arejadas.


Em nada perdeu a Walden Media com a perda da parceria da Walt Disney para este terceiro filme, muito pelo contrário, a saga ganhou sem dúvida mais qualidade a nível visual e de enredo.


Por tanto, se gostaram de ler a saga, vão ver este filme, se não gostaram de ler a saga, vão ver este filme, se odeiam os clichés da Disney vão ver este filme.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A Quarta Dimensão - Será o nosso universo a sombra de um outro?

Título: A Quarta Dimensão
Autor: Raúl Ibáñez
Tradutor: João Pedro Piroto Pereira Duarte

Sinopse: A possibilidade de existirem outras dimensões que escapam aos nossos sentidos fascinou os cientistas de todas as épocas. Embora possa parecer impossível transcender as três dimensões que configuram a nossa experiência do mundo, a matemática demonstrou o contrário e abriu-nos os olhos para um universo de aparições fantasmagóricas e objectos impossíveis.

Opinião: A pergunta no subtítulo talvez seja o primeiro indício de que os assuntos tratados neste livro são capazes de confundir qualquer um. Mas eu, modéstia à parte, estava bem preparado, não fosse o primeiro capítulo completamente dedicado a um livro que eu já li: Flatland, de Edwin A. Abbott. Além disso, volta e meia falava-se nesse livro para ilustrar e explicar algumas noções e conceitos mais abstractos.

Todo o livro levanta várias questões. Afinal, já toda a gente ouviu falar da quarta dimensão e mesmo de outras, mas o que é exactamente esta quarta dimensão? O livro explica que quando se fala na quarta dimensão, se pode estar a falar de várias coisas, como o tempo, já que muitos cientistas defendem que vivemos num mundo a quatro dimensões, três espaciais e uma temporal; mas também se pode estar a falar de uma quarta dimensão no sentido geométrico, uma dimensão abstracta, superior à nossa, e matematicamente manipulável.

Mas é óbvio que esta quarta dimensão, seja ela temporal ou geométrica, é muito difícil de visualizar, ou melhor, é praticamente impossível, a não ser em termos abstractos e, mesmo assim, apenas parcialmente...

Para se perceber melhor esta dificuldade, é só imaginar duas rectas perpendiculares, ou seja, a fazerem um ângulo de 90 graus entre si, e ainda uma terceira recta perpendicular às duas primeiras ao mesmo tempo. Se tiverem uma boa visualização espacial, estão agora a imaginar o princípio daquilo que normalmente vemos como o esboço de um cubo, três linhas perpendiculares entre si, unidas num ponto (um dos vértices). A dificuldade começa agora: para "entrarem" na quarta dimensão, imaginem uma quarta recta perpendicular a essas 3 ao mesmo tempo. É impossível de visualizar.

Por fim tenho que mencionar a curiosa sucessão: o ponto, de dimensão zero; a recta, de dimensão um; o quadrado, de dimensão dois; o cubo, de dimensão três; e o hipercubo, de dimensão quatro!

É mais um livro curioso, interessante, e que acredito ser capaz de despertar o interesse de qualquer um pela matemática, seja leigo, especialista, ou com apenas algumas noções.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Olá!

No principio de um novo ano, uma das primeiras coisas que faço sempre é ordenar todos os objectivos que quero cumprir, como numa espécie de lista de tarefas em que coloco tudo o que quero (mesmo) fazer nestes 365 dias.

Este ano um dos meus objectivos passava por criar um blogue de livros.

Sempre gostei imenso de ler, e gosto imenso de partilhar as minhas opiniões sobre livros com quem, tal como eu, é apaixonado pela leitura.Por isso porque não ter também um blogue onde o pudesse fazer?

Confesso que a ideia de ter um blogue só destinado aos livros, não é recente. Já há algum tempo que tem vindo a arrastar-se, e nada como um novo ano que promete mudanças para deixar de ser ideia e passar ao concreto.

Comentei com o Rui este meu novo projecto, e no dia a seguir recebo um convite,desta equipa fantástica para fazer parte do "Que a estante nos cai em cima".

Aceitei sem qualquer hesitação, com um enorme sorriso na cara!

É de facto um excelente começo de ano integrar o cerne deste blogue e partilhar com todos os leitores: visões do mundo, da sociedade, sentimentos, interpretação de palavras, frases e ocasiões, através daquilo que nos une: os Livros.

Ao Rui e à Arisu o meu muito obrigado, por me adoptarem para o vosso projecto, se bem me conhecem sabem o quanto feliz estou.

A todos os que acompanham o "Que a estante nos cai em cima" sou a Mirini*, e espero que gostem tanto como eu vou gostar, de partilhar com cada um dos leitores aquilo que a leitura tanto nos oferece.

*Talvez devo acrescentar que "falo pelos cotovelos" e escrevo da mesma maneira, que o diga a professora de Português!

Desejo um excelente ano 2011, recheado de conquistas, felicidade e novos começos.

Até breve,
Mirini :)

Lucky

Título: Lucky
Autora: Alice Sebold

Sinopse: Nestas memórias, Alice Sebold revela como é que a sua vida foi transformada, quando era uma caloira de 18 anos, ao ser brutalmente violada e espancada. Sebold conta-nos acerca do seu caminho para a recuperação, e como conseguiu arranjar forma de assegurar que o seu atacante era preso e sentenciado.

Opinião: Este é um livro diferente dos livros que costumo ler, pois não é uma história ficcionada, mas sim um relato autobiográfico daquilo que a autora viveu na pele: uma violação. Mas desengane-se, quem pense que é apenas mais uma historieta lamechas, cheia de auto-comiseração, escrita por uma mulher a fazer-se de vítima. Nada disso.

A autora consegue fugir do estereótipo de coitadinha, mesmo enquanto conta as partes mais horríveis da sua própria história, como o momento da sua violação e tudo o que a isso se seguiu. Apoiada nas suas memórias e numa boa investigação dos papéis oficiais, Alice Sebold consegue, fazendo um uso escrupuloso de uma fria objectividade, contar o que lhe aconteceu e as respectivas consequências, sem grandes floreados nem liberdades literárias com o intuito de embelezar a história.

Ou seja, Sebold faz aquilo que normalmente é o mais difícil de fazer em livros deste género: distanciar-se da sua própria história, para a poder contar como deve ser, sem se deixar cair em lugares-comuns lamechas, nem em prantos descabidos. A autora recorda o que viveu e passa-o para o papel, sem artifícios nem falsidades nem exageros (pelo que me pareceu, pelo menos).

E consegue isto através de um relato que ganha pontos pela sua simplicidade, mas que consegue transmitir a intensidade daquilo que conta usando essa mesma simplicidade, por vezes crua, por vezes perturbante. É uma história difícil de ler e, suponho, ainda mais difícil de escrever, especialmente nestes termos. O facto de a autora o ter conseguido, deixa-me com curiosidade para ler os seus romances, que já ali tenho à espera, também em inglês, The Lovely Bones (cuja versão traduzida a Arisu já comentou) e The Almost Moon.

Lucky é um livro bem escrito, com uma dura história bem contada, que não se deixa cair em facilitismos lamechas (é sempre bom repetir esta parte da minha opinião, porque é realmente o aspecto mais marcante... conseguir contar uma história destas desta forma, sem se deixar seduzir por exageros melodramáticos que claramente não precisa... é obra!) e que conta o que precisa de contar, mesmo o mais difícil, sem exagerar.

Resumindo, é um bom livro, que só não aconselho a gente mais sensível.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Novo ano, nova autora, algumas mudanças


E bem, cá nos encontramos, neste novo ano. Se me permitem, vou passar directamente ao assunto: o Que a Estante nos Caia em Cima começa o ano com algumas mudanças e novidades. Mas vamos por partes.

Primeiro, eu e a Arisu decidimos fazer como vemos fazer em vários outros blogs, e as nossas opiniões vão passar a incluir o título do livro, o seu autor e o seu tradutor, bem como a sua sinopse (caso esta não tenha demasiadas revelações do enredo). Sempre gostámos da simplicidade do nosso blog, mas achámos que acrescentar estas informações não ia alterar essa nossa atitude e que, antes pelo contrário, ia contribuir para um melhor aproveitamento da parte de quem nos lê.

Segundo, decidimos criar uma nova rubrica, igualmente "imitada" de outros blogs, que é o de comentarmos filmes baseados em livros. Verdade seja dita, é algo que sempre nos chamou a atenção, e que achámos interessante, pois além de gostarmos de ler também gostamos de ver filmes, e se há coisa que nos dá prazer, é ver um filme bem feito que tenha sido baseado num livro. É ainda uma óptima forma de trazer alguma diversidade ao blog.

Terceiro, temos uma ideia que sendo inspirada em outros blogs, vai ter o seu toque pessoal. Falo dos meses temáticos que se andam por aí fazer. Desde a primeira vez que ouvi falar disso que achei algo absolutamente fenomenal, exceptuando o facto de serem meses, o que limita o tempo de leitura e faz correr o risco de se deixarem livros por ler. Como tal, surgiu a ideia de fazermos temporadas temáticas aqui no blog. Em vez de escolhermos 4 ou 5 livros subordinados ao mesmo tema, para serem lidos num mês, escolhemos esses mesmo 4 ou 5 livros, mas para serem lidos, ponto final. E como não podia deixar de ser, temos algumas surpresas guardadas, no que toca a este ponto, que irão ser reveladas mais tarde...

Quarto, e último ponto das novidades, é com orgulho que anuncio que o Que a Estante nos Caia em Cima conta oficialmente com um novo membro na sua equipa de autores! É verdade, além de mim próprio e da Arisu, contamos agora com a Mirini, co-autora do Conversas entre almofadas e autora do Conexões, para opinar aqui no blog acerca das suas leituras e ainda, aposto eu, com a ocasional crónica.

Quanto a mim, pessoalmente, devo dizer que tenho 5 opiniões para publicar, todas relativas a livros ainda lidos o ano passado, e que pretendo, com o decorrer deste ano, acabar a minha pseudo-mega-crónica sobre os géneros literários, que se está a tornar um pequeno grande falhanço, do meu ponto de vista. Não está a tomar a direcção que eu queria, e duvido conseguir cumprir com os objectivos a que me propus... Ainda tenho que pensar sobre o assunto, mas entretanto esclareço a situação.

E pronto, com tudo dito, espero que tenham gostado das novidades, e que nos continuem a acompanhar como o têm feito até agora. A vocês, leitores, vos agradecemos. Aquilo que começou como um projectozito de adolescentes entusiasmados transformou-se num blog com uma média de 100 visitas diárias. É óbvio que isto é pouco, face a outros blogs mais mediáticos, mas acho que não estamos nada mal, aqui no nosso cantinho, com uma evolução gradual e que nos tem agradado, ultrapassando constantemente os nossos objectivos.

Assim sim, fica tudo dito. Até à próxima opinião, sintam-se à vontade para comentar a dizerem o que acham destas novidades e mudanças.