sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Quanto ao plágio

Foi um recente problema que vários blogs bastante conhecidos tiveram que me chamou a atenção para este tema. Anda aí (pelo menos) um blog, cujo principal passatempo é roubar os textos de outros blogs.

Eu, como blogger e pessoa que gosta muito de escrever, imagino perfeitamente o frustrante, irritante e enervante que deve ser ver o nosso trabalho a ser usado por outrem, sem a devida creditação.

Bem sei que o ser plagiado é um risco que eu, e toda a gente, corre, quando torna público alguma coisa que cria, e que muitos dos blogs, incluindo este, não têm qualquer tipo de aviso claramente expresso a avisar os leitores que o material aqui publicado não é para ser usado por qualquer um, de qualquer maneira. Mas acho que falo por todos, ou praticamente todos os bloggers, quando digo que isso acontece porque confiamos nas pessoas e gostamos de acreditar que quem nos lê tem consciência de como plagiar é um acto desprezível, que pode até ser punido por lei, já que é, efectivamente, um crime!

E ai de quem me vier com a conversa do costume de "ah e tal, a fronteira entre plágio e inspiração é muito ténue, e é preciso ainda ter em conta as coincidências...". O tanas! Coincidência é dois autores publicarem livros ao mesmo tempo, ambos passados na mesma época história e baseados na mesma personagem; ou alguém estar neste preciso momento a escrever um texto contra o plágio para publicar no seu blog. Copiar textos na íntegra não é uma coincidência, é plágio! Nem é citar, citar implica, normalmente, aspas e, obrigatoriamente, creditação ao autor. Muito menos inspiração...

Acredito que o plágio tenha aparecido cerca de 10 segundos depois de alguém criar a primeira coisa passível de ser copiada, e também acredito que continuará a ser uma actividade com numerosos seguidores e tenho pena. Tenho pena que hoje em dia ainda existam pessoas capazes, sem qualquer tipo de remorso, de pura e simplesmente agarrar em algo que não é seu e anunciá-lo como seu. Enquanto blogger, enquanto apaixonado por livros e enquanto pessoa, tenho pena. Porque acredito que o plágio possa ser desmotivador para quem escreve ou para quem cria o que quer que seja, além de podermos correr o risco do nosso trabalho sair desvalorizado!

Imaginem a seguinte situação: alguém copia os textos deste blog na íntegra, para outro blog, e anuncia-os como seus, sem qualquer referência nem a mim, nem às outras duas autoras, nem ao blog. Agora imaginem que, por algum acaso, alguém se depara primeiro com esse plágio-clone, e só depois com este, o original. Corro o risco de essa pessoa pensar que este blog é que plagiou o outro, e assim perder um, ou mais, leitores...

É que ainda por cima, eu nem sequer percebo o porquê de plagiar. Se se plagia, é porque se sabe que o que se está a plagiar tem qualidade. Mas porque é que tem qualidade? Porque é único, diferente, porque mais ninguém escreve assim e mais ninguém expõe as suas ideias daquela maneira. Ora, o plágio, ao criar mais cópias da mesma coisa, em teoria, leva à diminuição da qualidade do original. Porque se em vez de haver 1 pessoa a escrever como eu, houverem 100, eu perco aquilo que me destaca na multidão.

Tudo isto para dizer o quão revoltante é o acto de plagiar. Peço a todos o que me lêem para que nunca, em qualquer circunstância, o façam; que não fomentem casos que conheçam, antes pelo contrário, que os denunciem. E peço a quem plagia, seja ocasionalmente, seja regularmente, tenha sido uma vez na vida, seja todos os dias, para que pensem bem naquilo que fizeram/fazem, que metam a mão bem dentro da consciência, e que ganhem juízo de uma vez por todas!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Fausto: Grandioso

Os Lusíadas, para mim, são estruturalmente grandiosos. 8816 versos, todos com a mesma acentuação e sempre com o mesmo esquema rimático para as 1102 estrofes não é para toda a gente.

Mas Fausto supera isso. Não falo da estrutura nem da grandiosidade rimática e afins, pois não tenho meios de a avaliar como deve ser, já que a obra está originalmente escrita em alemão. Ainda por cima sendo o alemão tão diferente do português, adivinho as mudanças e sacrifícios de estrutura e construção frásica que o tradutor teve que fazer para garantir a grandiosidade do texto.

A verdade é que dos 4 livros que me propus a ler para esta Temporada Épica, Fausto era provavelmente aquele que me deixava mais curioso (seguido de imediato pela Divina Comédia). E acertei em cheio. Fausto, de Goethe, não só é grandioso como é sublime. Diálogos riquíssimos, um monólogo inicial que prende de imediato, uma história que parece tão banal (no sentido de já tanto se ter ouvido este tipo de história) mas que transforma este mito do homem que vende a alma ao diabo em algo de complexo, com geniais alegorias (já mencionei os diálogos, não já?).

Confesso, sou suspeito. Estou a adorar de tal forma esta leitura, que se torna complicado escrever o que quer que seja sem cair no facciosismo. Mas reservo-me esse direito. Nunca vos aconteceu gostarem tanto dum livro, que os únicos adjectivos que se lembram para o descrever são "grandioso" e "sublime"? Gostarem de tal forma que têm os detalhes vivamente gravados na mente, de forma dispersa, sem os conseguirem agarrar por lado nenhum?

É assim que estou com este livro. Fascina-me a ideia do cientista desiludido que faz um pacto com Mefistófeles (o que eu gosto deste nome para o Diabo), trocando a sua alma pela oportunidade de parar de envelhecer e de ter o Diabo como seu criado pessoal... E claro, fascinam-me todos os dilemas que daqui aparecem, os confrontos entre a ciência e o oculto, o Bem e o Mal, as regalias em vida e as desgraças depois da morte, o amor e o amor... Sim, o amor e o amor, que este luta sozinho contra si mesmo, batalhas por vezes bem mais ferozes que as de Fausto com os seus princípios.

Ou seja, estou a adorar e chegou a altura de parar de escrever, se não nunca mais paro.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

[Novidades] John Lennon nunca morreu - E outros contos fantásticos



Título: John Lennon nunca morreu - E outros contos fantásticos
Autora: Catarina Coelho
Editora: Chiado Editora
Sinopse: Este livro apresenta sete contos que conjugam fantasia, magia, sobrenatural e improvável. Entrando directamente na mente e nas emoções das personagens, cada história procura ser, ao mesmo tempo, visão imaginária e reflexo de sentimentos.


John Lennon nunca morreu - A história de um fã entusiástico dos Beatles, que não se conforma com a grande perda sofrida pela música com a morte de John Lennon e decide fazer alguma coisa quanto a isso.


Espelhos - Elizabeth odeia a hipocrisia que reina entre os convidados para o baile de Whitestone, a forma como escondem entre sorrisos e cortesias os seus maiores defeitos. Mas, um dia, será ela a organizadora desse baile e decidirá preparar para os seus convidados uma surpresa que eles nunca esquecerão…

Preço: 13 euros

[Novidades] Donzela Sagrada - O Segredo de Thunderland



Autora: Diana Tavares
Título: Donzela Sagrada - O Segredo de Thunderland


Sinopse: Chegou a hora…

Hana Warren, uma rapariga do nosso mundo, festeja o seu 14º aniversário com a sua família. Depois do aparecimento da Aurora Boreal no céu, Hana é transportada para outro mundo, um mundo onde a mitologia é a realidade.

Neste mundo, Hana descobre que é a Horae Justiceira, uma guerreira dos deuses, destinada a combater as criaturas das trevas e a proteger ambos os mundos.

Juntamente com Prue Geller, a Horae Discípula, Hana inicia uma viagem pelo misterioso reino de Thunderland, procurando uma forma de cumprir o seu destino e voltar para o seu mundo.

Mas Thunderland tem um segredo sombrio que pode destruir todos os mundos…e que mudará a vida de Hana para sempre.


Preço: 15 euros

Os interessados podem pedir um exemplar através do seguinte mail: horaediana@gmail.com

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Beowulf: Opinião

Título: Beowulf
Tradutor: Michael Alexander


Opinião: Eu não estava preparado para ler este livro em inglês. Embora tenha um inglês razoável, não é suficientemente bom para compreender na totalidade este épico. Especialmente se se tiver em conta que grande parte do "gozo" de ler este livro é pela musicalidade, que eu não consigo apanhar tão bem quanto isso.

É claro que percebi a história, também não tenho o inglês tão mau quanto isso, mas não consegui propriamente os pequenos detalhes, quer das descrições quer dos diálogos, embora, verdade seja dita, o facto de já ter visto o filme (que está ligeiramente diferente...) me ajudou a perceber algumas coisas. Além de que a extensa introdução, escrita pelo tradutor, é muito informativa e permite saber muita coisa essencial antes de se começar a ler.

Tirando estes problemas, gostei de ler, foi agradável, exceptuando algumas partes em que a leitura se tornou particularmente difícil e extenuante devido a não estar habituado a algo desta envergadura em inglês.

Ou seja, não posso afirmar que seja um grande livro, embora tenha a certeza absoluta que é bom. Aconselho apenas que o leiam só se tiverem algum background a nível de inglês, pelo menos mais do que aquele que eu tenho.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Filmes - José e Pilar

Título: José e Pilar
Realizador: Miguel Gonçalves Mendes

Sinopse: A Viagem do Elefante, o livro em que Saramago narra as aventuras e desventuras de um paquiderme transportado desde a corte de D. João III à do austríaco Arquiduque Maximiliano, é o ponto de partida para José e Pilar, filme de Miguel Gonçalves Mendes que retrata a relação entre José Saramago e Pilar del Rio.

Mostra do dia-a-dia do casal em Lanzarote e Lisboa, na sua casa e em viagens de trabalho por todo o mundo, José e Pilar é um retrato surpreendente de um autor durante o seu processo de criação e da relação de um casal empenhado em mudar o mundo - ou, pelo menos, em torná-lo melhor.

José e Pilar revela um Saramago desconhecido, desfaz ideias feitas e prova que génio e simplicidade são compatíveis. José e Pilar é um olhar sobre a vida de um dos grandes criadores do século XX e a demonstração de que, como diz Saramago, "tudo pode ser contado doutra maneira".

Opinião: Vi este filme há uns dias, e tenho andado a matutar sobre o que escrever aqui no blog, sobre ele. Para começar, não se insere naquela categoria de filmes adaptados de livros, mas não estou preocupado com isso, está relacionado com livros, já que é um pequeno pseudo-documentário sobre o maior nome da escrita nacional: José Saramago, o nosso primeiro (e até agora único) prémio Nobel da Literatura.

Adorei. Tenho tanta coisa para dizer que nem sei como a dizer. No entanto, acho que podia resumir tudo nesta frase de Manuel Halpern (retirada daqui):

"Miguel Gonçalves Mendes mostra o José que havia em Saramago."

É que foi exactamente esta a sensação que eu tive ao sair do filme. O filme fez-me ficar a saber que o José Saramago existia, era uma pessoa a sério, que não era apenas Saramago, o autor polémico, genial, com uma escrita pouco ortodoxa, que foi para Espanha por não poder aturar quem por cá governava, e que quase que passava mais tempo a "protestar" contra a Igreja e contra as religiões em geral do que a escrever livros.

Fiquei a conhecer José Saramago, a pessoa. José Saramago, o homem ligeiramente arrogante, com um raciocínio aos 80 e tal anos de fazer inveja a muita gente com menos de 30, que amava a sua mulher, que tinha sentido de humor, que escrevia duas páginas por dia, e muito mais!

Eu que já gostava de Saramago, fiquei absolutamente fascinando. A minha vontade é a de comprar tudo o que encontrar dele para ler de rajada.

Mas nem só de Saramago se faz "José e Pilar". Não me posso esquecer de falar da mulher dele, Pilar del Rio, uma mulher extraordinária, autêntica assistente pessoal/chefe do escritor, que esteve ao lado dele enquanto ele escrevia os seus livros, enquanto esteve internado no hospital e sempre. Uma mulher de ferro, com uma determinação fora-de-série (ainda que demasiado feminista para o meu gosto), que o guiava, o ajudava e o amava.

Um filme espectacular, que dá vontade de rever. Gostem ou não gostem do homem, vão ver e depois falamos. Até lá:

"O caos é uma ordem por decifrar."
José Saramago

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Mar Morto


Título: Mar Morto
Autor: Jorge Amado

Sinopse: Escrito em 1936, quando Jorge Amado tinha apenas 24 anos, "Mar Morto" conta a história da beira do cais da Bahia, como diz o escritor, na frase que abre o livro. E a frase é uma verdadeira carta de intenções. Nenhuma outra obra sintetizou tão bem o mundo pulsante do cais de Salvador, com a rica mitologia em torno de Iemanjá. Personagens como o jovem mestre de saveiro Guma parece, prisioneiros de um destino traçado há muitas gerações: o dos homens que saem para o mar e que um dia serão levados por Iemanjá, deixando mulher e filhos a esperar, resignados.

Opinião: Já vem longa a minha paixão por Jorge Amado, desde que aos treze anos li Os Capitães da Areia, um romance que marcou - e continua a marcar, uma vez que ainda lhe dou uma vista de olhos de quando em vez - a minha juventude. Mar Morto, em cuja história consigo ver muitas das peripécias d'Os Capitães da Areia, só conseguiu acalentar a minha admiração por Jorge Amado.

A vida dos marítimos do cais da Bahia é o tema central da obra, numa viagem lírica e trágica através da luta diária destes trabalhadores pela sobrevivência.

Na minha opinião, Mar Morto, é na íntegra, um livro sobre a morte. Todas as personagens que compõem a história - do jovem Guma ao velho Francisco - estão em constante contacto com a morte, aprendendo em simultâneo a esperá-la e a respeitá-la.

É este o destino dos marítimos do da Bahia, esperar a morte, que os abraçará na pele de Yemanjá, a deusa dos mares, a mais bela mulher do mundo.

Esta é também a história de todos os pobres e oprimidos, das prostitutas aos operários, e às viúvas com oito filhos para alimentar.

Uma obra completa, repleta de uma beleza de levar às lágrimas. Mal posso esperar por ler mais deste génio da literatura que foi Jorge Amado.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Beowulf: Compreensão

Com mais umas largas páginas lidas, já posso debitar mais qualquer coisa sobre este pequeno grande e trabalho livro.

Já cheguei à conclusão que me está a dar mais trabalho a ler que Os Lusíadas, pois além de ter que ir ver as notas do tradutor, ainda tenho que, por vezes, ir procurar o significado de algumas palavras em inglês, ou ter de ler várias vezes a mesma frase para conseguir sequer perceber o que está lá escrito.

Depois, como já foi referido nos comentários, este longo poema épico não faz uso da rima, mas antes de "versos aliterativos", em que o mesmo som se repete várias vezes no mesmo verso, o que lhe dá uma musicalidade muito distinta.

Ah, e não sei se cheguei a dizer isto quanto a'Os Lusíadas, mas isto tem que ser ler. Tem mesmo que se ouvir, para que se possam apanhar os sons, que são uma parte fundamental da obra. Ler simplesmente para dentro não funciona com este tipo de livros, e em especial com este Beowulf, com os seus versos aliterativos.

Mas também, diga-se de passagem, mesmo que não se queira, o texto quase que pede para ser lido. Eu bem que começo a ler silenciosamente, mas o texto começa a entranhar-se completamente e tenho que fazer um grande, grande esforço para não começar a ler alto e bom som.

E isto porquê? Porque o texto é realmente grandioso, como um épico tem que ser. E este em particular quase que cheira a épico, tem aquele toque medieval, aquela sociedade brutal e sangrenta, muito guerreira, onde impera a honra acima de tudo... Ainda por cima passa-se algures na Escandinávia, lá para o Norte, o que ainda junta aquele elemento Viking que pronto, é um ingrediente perfeito para tudo o que sejam feitos épicos.

A nível da estrutura, já se começa a notar uma certa organização em termos de ideias, ou seja, da estrutura interna. Um monstro destrói o salão, o herói mata o monstro, vem outro monstro vingar o primeiro, e o herói depois mata-o... Além de ser literalmente "braço por braço, cabeça por cabeça".

Enfim, bastante entusiasmante, ainda que ligeiramente complicado de ler. A ver se ainda o acabo neste fim-de-semana.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Beowulf: Problemas

Sim, o filme é baseado num livro, e sim, esse livro é um poema épico. Foi estranho, quando me apercebi disso mesmo, não conseguia perceber como é que algo tão grandioso como o filme podia ter sido inspirado num poema. A resposta é: poema ÉPICO.

E já se notam as diferença entre poema épico e epopeia clássica. Pelo menos entre este poema épico e a única epopeia clássica que li. Logo para começar, organização, não tem nenhuma, que eu consiga ver. Depois, raramente há rima, como a havia em todos os versos d'Os Lusíadas, se bem que há uma maior profusão de rimas interiores (será que é assim que se chamam), em que a última palavra do verso rima com uma palavra a meio do verso seguinte.

Também não começa in media res, já com a história muito avançada, antes pelo contrário, começa pelo fundar de uma dinastia.

Quanto a esta última parte não tenho muito a dizer, são modos diferentes de começar, mas também são livros diferentes dentro do mesmo subgénero. Já quanto às minhas primeiras queixas, tenho três coisas a dizer acerca deste livro: estou a lê-lo em inglês; esse inglês é uma tradução do old english em que o original está escrito; esse original foi escrito ao longo dos anos, partindo de uma história transmitida de forma oral.

O eu estar a lê-lo em inglês levanta problemas óbvios. É que apesar de eu, modéstia à parte, ter um inglês bastante razoável, mesmo a nível de oralidade, é muito mais complicado para mim conseguir apanhar a musicalidade dos versos, uma vez que não estou mesmo nada habituado a ler coisas deste género em inglês. Depois, parte dessa musicalidade já se perdeu, com a tradução do old english para o inglês actual (bem como, muito provavelmente, as rimas e possivelmente a organização). Por fim, esta história tem uma tradição oral muito forte, o que significa que mesmo estando escrita, está escrita para ser lida e ouvida.

Estão a ver o problema. Uma história feita para ser lida ou ouvida, que já perdeu parte da musicalidade por ser uma tradução, e que está numa língua na qual eu não consigo captar muito bem a sua musicalidade. Pois.

Mas tirando isso, estou a gostar. Como pontos positivos, aponto as notas do tradutor, muito explicativas; e ainda as 40 longas e abençoadas páginas da introdução, escritas pelo tradutor, em que este fala da obra, de como foi traduzi-la, dos problemas que teve e dá "dicas" para melhor aproveitarmos a obra, seja fazer uma pequena contextualização história, seja clarificar alguns assuntos menos claros.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Memorial do Convento


Título: Memorial do Convento
Autor: José Saramago


Sinopse: Era uma vez um rei que fez a promessa de levantar um Convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse Convento. Era uma vez um Soldado Maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez.


Opinião: O início da minha leitura de uma das grandes obras portuguesas e de leitura obrigatória no 12º ano, deixou-me um pouco receosa de uma leitura maçuda perante aquele livro denso.

Tanto que as primeiras páginas deram-me mesmo algum sono, mas já Pessoa dizia que "primeiro estranha-se, depois entranha-se", frase bem aplicada ao meu caso e confesso que foi tal e qual o que me aconteceu. À medida que fui passando as páginas deste livro, a história conquistou-me e as personagens renderam-me aos seus encantos.

A história passa-se no séc. XVIII, estávamos perante um país ainda pouco desenvolvido, alimentado de superstições e da fé cristã, no tempo em que quem fosse estranho aos olhos dos "ditos normais" acabava no calor da fogueira.

Reinava D. João V, jovem rei, casado com a rainha D. Maria Ana Josefa de Áustria, e o desejo de ter um filho era alimentado pelo desgosto de não o conseguirem conceber.

Mas "a fé move montanhas" e é pela imensa vontade de dar um herdeiro ao país que D. João V promete que se se realizasse tão intrínseco desejo, faria levantar um grandioso convento em Mafra.

O desenrolar do romance é protagonizado por duas personagens, absolutamente fabulosas, ele um soldado, que perdeu a mão esquerda na guerra, ela uma jovem mulher, com o poder de ver o que não era visível.

O nome dele é Baltazar Mateus, apelidado de Sete Sóis, ela chama-se Blimunda, apelidada posteriormente de Sete-Luas. O amor que os une, prevalece em toda a obra, e a este casal inseparável junta-se um padre, cujo sonho, era voar.

Estas três personagens envolvem-se na construção de uma máquina que lhes permitisse subir aos céus, cujas peripécias de que são alvo e a construção do projecto, dão um toque caricato a toda a obra.

Anos passam, e a construção do convento é acompanhada pelo envelhecer dos protagonistas. A um dado momento do livro, Saramago, apresenta-nos um rol de personagens que trabalham na construção do convento, cada uma com a sua história breve, que se apresenta ao leitor como se de um diálogo se tratasse.

O romance termina com um fim subjectivo em relação ao casal protagonista, livre das interpretações que cada um faz.

Este foi o primeiro livro que li de José Saramago, e devo dizer que gostei muito. Saramago tem uma escrita que à primeira vista pode ser complexa, mas que não me assombrou por aí além. Uma escrita diferente da que estou acostumada, com falta de pontuação, ou uma pontuação diferente do habitual, mas nada que com alguma atenção à leitura não se resolva.


Numa linguagem irónica, crítica e frontal, o autor deixa-se de rodeios para descrever aquilo que normalmente com muitas palavras se escreve, ou se fala. A esta capacidade, junta-se uma outra, a de criar personagens fabulosas, místicas do real e do imaginário, que me deliciaram por completo...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Equador


Título: Equador
Autor: Miguel Sousa Tavares

Sinopse: Quando, em Dezembro de 1905, Luís Bernardo é chamado por El-Rei D. Carlos I a Vila Viçosa, não imaginava o que o futuro lhe reservaria. Não sabia que teria de trocar a sua vida despreocupada na sociedade cosmopolita de Lisboa por uma missão tão patriótica quanto arriscada na distante Ilha de São Tomé. Não esperava que o cargo de governador e a defesa da dignidade dos trabalhadores das roças o lançassem numa rede de conflitos de interesses com a metrópole e não contava que a descoberta do amor lhe viesse a mudar a vida. 



Opinião: Tal como já referi numa outra opinião, se é estilo literário que me conquista e desperta o "bichinho" do consumo literário e da devoração rápida dos livros, é o romance histórico.



A curiosidade pelo Equador, já andava há algum tempo a protestar para quando é que haveria de pegar no livro pousado na estante da sala e satisfazer a especulação à volta deste romance.


Para quem tinha acabado de ler os Maias, de Eça de Queirós, e de seguida resolve ler o Equador, de Miguel Sousa Tavares sentiu, no inicio, deste romance, uma espécie de continuação da trama, ou talvez, deveria dizer uma forte lembrança dos locais e espaços que também protagonizaram a obra de Eça. 

Isto porque no início da história, a localização espaço-temporal é idêntica à localização espaço-temporal dos Maias. Os mesmos sítios lisboetas onde se realizavam, por exemplo, os jantares entre os homens da classe alta portuguesa e onde existiam acesas discussões intelectuais sobre literatura, política e dinheiro partilhadas com os variados vícios maliciosos, são também retratadas na obra de Miguel Sousa Tavares.

O romance inicia-se então em Lisboa, passa-se num período complexo da história portuguesa, início do século XX e final da monarquia. Luís Bernardo Valença, é um jovem advogado, boémio e mulherengo, o seu charme irresistível e o seu palavreado romântico e auspicioso fazem com que tenha todas as mulheres a seus pés. 

Mas a vida de Luís Bernardo Valença mudara desde o momento em que das mãos do rei recebe o mandato para ser governador das ilhas de São Tomé com o objectivo de provar a Inglaterra que não existia trabalho escravo nas roças, onde se plantava grandes quantidades de cacau e de café .


Estas ilhas, situadas na costa africana e divididas pela linha fictícia do equador, são o palco do desenrolar de toda esta história. Junto a Luís Bernardo chegam a um dado momento do livro, duas personagens enriquecedoras, que dividem consigo as atenções do narrador.

David Jameson e a sua esposa, Ann, chegam a São Tomé logo após Luís Bernardo, para David ocupar o cargo de cônsul britânico.

Cria-se um complexo novelo de sentimentos e relações, à volta destas três personagens, amizade, lealdade e paixão combinam com traição, vigança, ódio.

A história acaba com um final na minha óptica inesperado, sendo Luís Bernardo uma personagem tão forte, termina da maneira mais débil que poderia terminar, de facto: 


"Vence só quem nunca consegue, só é forte quem desanima. O melhor é abdicar"
in Livro do Desassossego


Tal como as personagens que caíram nos braços de Luís bernardo, eu caí nos braços desta personagem apaixonadamente bem construída e na escrita critica e frontal de Miguel Sousa Tavares. É na minha opinião um excelente livro, extremamente bem construído desde o início ao fim, com um óptimo enquadramento histórico-social e pormenorizada de tudo o que era Portugal e as suas colónias

Um livro a repetir.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Os Lusíadas


Título: Os Lusíadas
Autor: Luís de Camões


Opinião: Não vou ser pretensioso ao ponto de facto de dizer que fiz uma leitura muito profunda e cuidada, e que percebi cada um dos 8816 versos. Passou-me muita coisa ao lado, especialmente no que toca a História de Portugal, que pronto, não está propriamente em dia... Mas consegui acompanhar a história e mantive-me deliciadamente a par com a mitologia.

Antes do conteúdo, deixem-me falar primeiro da forma. 10 cantos, 1102 oitavas (num total de 8816 versos), todas com o mesmo esquema rimático (ABABABCC), o começo in media res (a meio da história, literalmente), o tom "grandíloquo e sublime", como vem escrito nos livros... Enfim, uma perfeita epopeia clássica, que ainda por cima eleva este género a um novo patamar, ao relatar não a história de um herói, mas um de povo, o povo Lusitano.

Goste-se ou não do livro, das suas características (justificadamente) nacionalistas, ou do autor, uma coisa se tem que admitir, Os Lusíadas é uma obra-prima. Tanto a nível nacional como a nível mundial! É mesmo preciso, para além de uma infinita paciência (e de saber nadar, no caso de Camões), ser um génio da literatura.

Já falei muito acerca deste livro nos outros dois posts, por isso já não tenho grande coisa para dizer. Talvez deva referir os malabarismos linguísticos a que Camões se dava, coisa que já não me agradou por aí além. É precisamente isso uma das coisas que mais critico na poesia, o retorcer da linguagem para servir a rima e a musicalidade e a métrica. Trocar a ordem das palavras é uma coisa, agora alterar palavras só para dar jeito, ou obrigar a acentuação a trocar de sílaba por causa da métrica... Enfim.

Quanto à mitologia, da qual esta obra está carregadíssima, essa parte já me agradou mais. Foi mesmo o que mais gostei, todo o imaginário dos antigos deuses greco-romanos, as várias histórias mencionadas, tudo mais do que fantástico, um prazer que já tenho desde muito novo.

Ah, é verdade, aposto que anda por aí alguém a perguntar-se porque é que ainda não falei dos vários episódios deste texto, como o Concílio dos Deuses, a Morte de Inês de Castro, o Velho do Restelo, o Adamastor, a Ilha dos Amores, etc. A verdade é que fiquei bastante desapontado. O Concílio dos Deuses (os dois, que há um no início e depois há um dos deuses marinhos, lá mais para o meio) e o Adamastor ainda se safam, gostei de ler, mas os outros ficaram aquém. A Morte de Inês de Castro soube a pouco, o Velho do Restelo não me  pareceu nada de especial, e a Ilha dos Amores parecia mais uma fantasia do próprio Camões, se bem que ainda foi um dos que ficou mais razoáveis.

E estando-me já a alongar demasiado, digo que gostei, muito, e que ficará na lista dos livros a reler, sem sombra de dúvida.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Ian Curtis: Antologia Poética


Título: Ian Curtis: Antologia Poética
Autor: Ian Curtis


Sinopse: Ian Curtis merece um lugar à parte no panteão da música pop; um lugar solitário e de acesso reservado. Escuro, denso e sufocante - um lugar à medida das suas canções, que este livro nos dá a conhecer através de uma edição bilingue de poemas e letras inéditas. Inclui ainda a discografia, fotografias e lista de espectáculos.

Opinião: Há uns dias ao vasculhar na estante do meu pai, deparei-me com algo que jamais esperava encontrar: o nome de Ian Curtis num livro. Como fã declarada de Joy Division, quase que tive um colapso quando encontrei esta antologia poética traduzida para português. Nela constavam todos os poemas de Ian Curtis - que posteriormente viraram as letras da banda - e no final (para meu enorme deleite) um excerto d'A República de Platão correspondente à Alegoria da Caverna.

Não muito há a dizer deste livro de poesia, aparte do facto de me ter sido extremamente estranho ler as músicas já familiares na língua de Camões.

Para completar esta crítica vou adiantar algumas informações acerca de Ian Curtis: vocalista da lendária banda Joy Division, Ian fez poemas durante maior parte da sua vida, até à data da sua morte em 1980, quando se suicidou no estendal da roupa com apenas 23 anos.

Para mais informações recomendo o filme Control sobre Curtis, vencedor de vários prémios em 2007.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Os Lusíadas: Mais detalhes

Acabado o quarto canto, está na altura de falar mais um bocadinho sobre esta grande obra. Para o fazer, vou aproveitar alguns dos assuntos referidos nos comentários ao post anterior.

A começar pela linguagem e pela escrita em si. Como seria de esperar, sendo esta uma obra escrita há cerca de 450 anos, e embora o português não seja assim tão incompreensível e diferente do actual quanto isso, é normal que apareçam algumas dificuldades.

Para ajudar, Camões, como qualquer escritor e poeta, toma algumas (muitas) liberdades ortográficas e sintácticas de forma a beneficiar o texto, mais especificamente, neste caso, a rima.

E isto sem mencionar as figuras de estilo especialistas em trocar as voltas aos leitores. A perífrase, por exemplo, que origina "a superfície plana e coberta de alcatifa que os nossos pés pisam", em vez de "chão alcatifado", ou seja, utilizar expressões maiores para designar expressões mais pequenas. Ou a anástrofe o hipérbato e o anacoluto, 3 figuras de estilo que no fundo fazem a mesma coisa, mas com um grau crescente de seriedade. Digamos que a anástrofe é a "alteração simples da ordem das palavras", que não afecta o sentido da frase; o hipérbato é a "alteração radical da ordem das palavras", separando expressões e orações, e que pode dificultar o entendimento da frase; e que o anacoluto... bem, ao anacoluto também se costuma chamar "frase quebrada", é uma "alteração brusca", em termos de escrita dá uma ideia de espontaneidade, de mudança do rumo de pensamentos.

Todos os escritores clássicos eram fãs acérrimos destas figuras de estilo, de um tipo de construção mais clássica, mais trabalhada do que aquela a que estamos habituados hoje em dia. Camões não era excepção, e usava e abusava destas figuras de estilo (e de montes de outras!) com uma capacidade invejável.

E a mitologia... Oh!, a mitologia! É só deuses e ninfas e heróis e monstros e mais deuses, todos eles greco-romanos e das redondezas... É uma delícia!

Só que, como é óbvio, tudo isto pode dificultar um pouco a leitura. Eu, por sorte, sempre gostei de mitologia, o que significa que nesse campo não estou muito mal. Mesmo que não associe de imediato os nomes, já os ouvi e/ou li quase todos e tenho alguns conhecimentos (graças à minha curiosidade insaciável) desse assunto. Também por sorte, a minha edição espectacular tem, no fim, umas espectaculares notas que me ajudam com algumas passagens, seja a clarificar a escrita, seja a relembrar pedaços da história de Portugal (e do mundo em geral), seja a explicar quem é quem no mundo dos deuses Antigos. No entanto, mesmo com toda essa ajuda, tenho que reler algumas partes 2 e 3 vezes, mas nada que me apoquente demasiado a leitura, que continua muito agradável.

(Para terminar, um pormenor absolutamente irrelevante: esta edição é de Setembro, mês em que nasci, de 1984, ano que dá o título a um dos meus livros favoritos.)