quarta-feira, 26 de setembro de 2012

A Manopla de Karasthan

Título: A Manopla de Karasthan
Autor: Filipe Faria

Sinopse: Na imensidão cósmica existe um mundo, Allaryia, de grandes heróis e vilões infames, de seres de uma beleza indescritível e criaturas maléficas de uma fealdade atroz, nações poderosas e impérios tirânicos. Depois de muitas eras que alternaram entre a paz e a discórdia, encontramos neste primeiro volume das Crónicas de Allaryia, um tempo de aparente tranquilidade, de uma calma inquietante, semelhante ao silêncio que antecede a tempestade. Algures, numa câmara escura, subterrânea, algo se move, tentando libertar-se de anos de cativeiro, algo monstruoso, inumano, sedento de sangue e dor. O povo de Allaryia perdeu o seu campeão – Aezrel Thoryn, provavelmente morto numa batalha contra o Flagelo, a força das trevas, em Asmodeon – e mais do que nunca precisa de protecção. Aewyre Thoryn, o filho mais novo do saudoso rei, pega em Ancalach, a espada do seu pai, decide descobrir o que realmente lhe aconteceu e parte a caminho de Asmodeon. O que o jovem guerreiro não podia prever era que a sua demanda pessoal se iria transformar, à medida que os encontros se vão sucedendo, na demanda de um grupo particularmente singular, que reunirá a mais estranha e inesperada mistura de seres - Allumno, um mago, Lhiannah, a bela princesa arinnir, Worick, um thuragar, Quenestil, um eahan, Babaki, um antroleo, Taislin, um burrik, Slayra, uma eahanna negra e o próprio Aewyre. O ritmo a que se sucedem as aventuras é absolutamente alucinante, a cada passo surgem perigos mais tenebrosos, seres aterradores que esperam, ocultos nas sombras, o melhor momento para atacar e roubar a tão desejada Ancalach… Mas os laços de amizade que unem o grupo estão cada vez mais fortes e, juntos, sentem-se capazes de enfrentar qualquer inimigo.

Opinião: A minha primeira leitura desta obra encontra-se comentada algures aqui no blog, mas desaconselho vivamente a sua leitura. Não é a pior das opiniões que escrevi sobre um livro desta saga, mas não diz nada de especial. E esta segunda leitura foi bastante diferente.

A começar por não ter conseguido despertar em mim o fascínio da primeira. Mais velho e mais lido, detectei falhas e semelhanças demasiado óbvias com outras obras a uma velocidade e frequência estonteante. Da inspiração no folclore alemão e em lendas mais antigas que a Sé de Braga, às raças de Allaryia, versões deturpadas, ligeiramente modificadas e re-nomeadas das raças de Tolkien e da grande fantasia em geral. Anões viram thuragar, hobbits viram burriks, elfos viram eahan, drows viram eahannoir...

Enfim, a coisa acaba por estar bem construída, e o autor possivelmente queria-se afastar ligeiramente das versões mais consensuais, isto ainda é o menos grave. O que de certa forma acaba por falar em grande são precisamente aqueles que para mim são os 3 grandes pilares de um bom livro: a história, os diálogos e a escrita.

Durante a maior parte do livro, senti que estava a ler um guião de um jogo de tabuleiro, daqueles com figurinhas pintadas à mão e sistemas de combate mais complexos que o sistema burocrático português. Os diálogos são na sua maioria profundamente idiotas e irrealistas, e a escrita oscila fortemente entre um tom casual e amigalhaço do leitor, com interpelações directas e comentários pessoais, e um tom mais elaborado e trabalhado, com palavras rebuscadas que simplesmente não encaixam.

Mas vamos pensar bem nisto. É o primeiro livro de Filipe Faria, escrito quando ele tinha 16 anos. Por esse prisma, é um óptimo livro. Apesar da pesada herança inspiracional, a imaginação é enorme e as personagens são excelentes, ainda que tenham os seus momentos de parvoíce. Algumas melhores que outras, como é óbvio, mas tenho que destacar Worick, o general thuragar ao serviço de Vaul-Syrith e protector pessoal de Lhiannah, a princesa syrithiana. A sua personalidade intempestiva está genial. Sempre a resmungar e a insultar tudo o que mexa, normalmente intercalando insultos deveras imaginativos com promessas de porrada, o thuragar ainda assim revela que tem bom fundo.

E Babaki! Algo desaproveitado, esta criatura que para mim é um wookie bem falante que se consegue transformar em super-sayin, é uma personagem mais do que interessante, com o seu conflito interior entre a sua personalidade calma e bondosa e o animal violento e sedento de sangue que lhe corrói o espírito.

Só que pronto, a história não está construída da melhor forma. As coisas acontecem um bocado por acaso, são quase todas relativamente precipitadas, e tudo se resolve num piscar de olhos, com uma decisão inflamada. E depois de batalhas exaustivamente descritas e locais exemplarmente inventariados, há certos momentos em que passam algumas semanas em duas linhas. Não é, de todo, a melhor forma de escrever uma história.

Mas o meu apreço pela saga supera estes defeitos todos e deixa-me imensamente ansioso para continuar a leitura... Não digo curioso porque sei a história, em traços gerais, mas dá para perceber a ideia. Venham Os Filhos do Flagelo!

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