quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Nobel da Literatura 2012: Quem?

Haruki Murakami? Philip Roth? O improvável Bob Dylan? Nada disso!

Mo Yan.

De nome Guan Moye (Mo Yan é o pseudónimo), este escritor chinês é o 109ª laureado com o Prémio Nobel da Literatura, uma honra apenas concedida aos melhores escritores de sempre.

Se percorrem a lista dos laureados, deparam com nomes grandiosos desde Kipling a Vargas Losa, passando pelo nosso Saramago, por Garcia Márquez, Camus... Uma lista quase interminável de grandes vultos!

Mas por entre esses nomes podem ver uma segunda lista à qual o laureado de 2012 é a mais recente adição: ilustres desconhecidos.

E sim, eu sei que são ilustres desconhecidos para mim, ou para a maior parte das pessoas, e que nos meios em que se discute alta literatura e não sei quê, devem ser falados e lidos e comentados... Mas convenhamos. Uma boa parte da lista é constituída por autores de quem muita gente nunca tinha ouvido falar. Eu sei que isso não quer dizer nada, o facto de ser maioritariamente desconhecido não quer dizer que não mereça o Nobel, e não quero de qualquer maneira implicar que Mo Yan não é um vulto da literatura, até porque nunca li nada dele.

Mas um pouco de investigação revela que este autor é bastante activo em termos políticos, e luta activamente contra isto e contra aquilo. Mais uma vez, isto não quer dizer nada, só por si. Mas a Academia Sueca tem uma certa... tendência, para estas coisas. Os autores premiados são muitas vezes activistas ferrenhos de uma causa ideológica qualquer e tecem frequentes comentários sociais, normalmente através das suas obras.

E isto não tem nada de mal, eu sinceramente não me dei ao trabalho de pesquisar quais são os "requisitos" para ganhar este prémio, mas se ser um crítico social duro e ter uma causa ideológica bem assente são dois factores necessários, sem nunca descurar a qualidade da escrita e das obras enquanto literatura, porque é que Orwell nunca recebeu o prémio? Ou Huxley? Ou Zamiatine, Bradbury e tantos outros, que não só eram escritores BEM acima da média, como tinham obras com uma forte componente de crítica social... Bradbury em particular foi dos escritores mais geniais de sempre, e conseguiu sê-lo em praticamente todas as vertentes da literatura!

Enfim. Não quero com isto menosprezar o laureado deste ano. Mas também não lhe quero dar demasiado valor. Sinceramente, cada vez tenho menos confiança neste prémio, e pergunto-me sempre quão influenciadas por políticas e afins são as escolhas...

8 comentários:

Ana/Jorge/Rafa disse...

Fiquei boquiaberto quando soube o vencedor...Sem qualquer demérito para o seu trabalho, que não conheço, acredito que Murakami, por exemplo, tinha todas as condições para ganhar. Apesar de não ser um grande fã, respeito o seu trabalho.

Em relação aos critérios, acho que nem vale a pena começar a pensar nisso, a partir do momento em que nunca sequer se falou de Bradbury para o Nobel.

Credibilidade? Não me parece.

Anónimo disse...

Mas porque dar-se ao trabalho de escrever este texto sem se dar ao trabalho de ir ver os critérios??? O Nobel tem uma componente política. Não é encoberta, é assumida. Estás a criticar critérios por eles não serem como tu achas que eles são...
E depois há a subjetividade. Se eu e tu estivéssemos no júri, nunca o Bradbury ganharia. Porque eu não o considero merecedor em termos meramente literários.
Desconfia à vontade, o Nobel tem motivações políticas!
E Murakami para Nobel? Por favor, é muito fixe de ler, mas não é do nível de um Nobel.

Rui Bastos disse...

É isso Jorge, mas enfim, não sei...

Respondendo ao anónimo (à anónima?), eu disse que não fui ver os critérios, e mesmo que a componente política do Nobel esteja claramente assumida, continuarei a criticar, porque não aceito que o supra sumo dos prémios da Literatura seja dado por outros motivos que não a Literatura enquanto Literatura, e nada mais. E a subjectividade não é uma questão, o prémio tem que ser dado segundo preceitos objectivos, e goste-se ou não, Bradbury é um escritor de qualidade impecável.

Anónimo disse...

Desculpa, Rui, esqueci-me de assinar. É João.
Olha, eu acho bem que continues a criticar mas não posso deixar de perguntar: criticas uma coisa por ela ser diferente daquilo que tu querias que ela fosse? Não foste tu que criaste o Nobel, foi ele próprio. E não o criou para premiar a literatura enquanto literatura. Merece crítica por isso? Talvez. Mas qual é o sentido? Há outros prémios. O que parece é que só estás a criticar porque não conheces. Conhecias o Pamuk antes do Nobel? É o melhor Nobel desta década e, no entanto, naquele dia, eu não sabia quem ele era... Podia ter escrito um post como o teu... Talvez venhas a descobrir que este Mo Yan é um grande escritor, já pensaste que em vez de desconfiança talvez ainda venhas a ganhar algo por agora já o conheceres? Talvez seja uma sorte porque assim o vamos ter traduzido. Tal como aconteceu com o Pamuk.
Boas leituras e boa sorte para que os prémios passem a ser atribuídos de acordo com os teus desejos.

Sara disse...

Não devemos cair na ingenuidade: é óbvio que a escolha do galardoado passa por critérios subjectivos. Pode até haver alguns parâmetros de análise, mas duvido que se consiga ser completamente objectivo quando se trata de analisar uma produção literária. Também é obvio que a escolhas são influencias pela política e geografia assim como também é obvio que é uma escolha feita pela elite....Acho que ninguém está á espera de votação tipo Correio da Manhã.

Quem estiver interessado lê quem não estiver não lê...Eu já li alguns laureados, mas não faço cavalo de batalha disso. Quanto a este autor não conheço, o que tb não me choca: quantos milhares de autores nunca foram publicados em Portugal? O mercado é pequeno e os gostos do público é o que se sabe...

Quanto a autores nunca premiados bem: Jorge Amado; Nabokov; Borges; somerset maugham; Kafka; Conrad; Fitzgerald e por aí vai...

cumps

Rui Bastos disse...

João, eu não estou a criticar simplesmente por não conhecer, e se foi essa a ideia que transmiti, peço desculpa. E ao longo do texto disse várias vezes que não estou a pôr em causa a qualidade de Mo Yan, e espero sinceramente que as minhas críticas sejam infundadas.

Mas a verdade é que continuo a dizer que merece ser criticado. Um prémio com tanta relevância e ao qual é dado tanto importância, acho que não devia ter motivações políticas ou (e aproveito para responder à Sara) geográficas. Confesso que não sei os critérios para a atribuição, nem sei muito sobre a história do prémio em si, é assunto a que me dedicarei para escrever outras crónicas, mas a minha opinião é que o Nobel acaba por perder alguma credibilidade por causa destas coisas...

Sei que pode ser uma opinião polémica, ou que talvez possa ser vista como a opinião de um jovem ingénuo, e prometo que vou fazer mais pesquisa e que escreverei mais sobre este assunto (e ficarei à espera dos vossos comentários), mas é isto que acho.

E como a Sara mostra, a lista de autores nunca premiados e que provavelmente muito o mereciam, é praticamente interminável...

Anónimo disse...

Rui, o Nobel quis que o prémio fosse atribuído a "the most outstanding work in an ideal direction". Isto é obviamente subjetivo e deixa uma enooorme margem de incerteza. Mas mostra que ele nunca quis que o prémio fosse apenas pelo mérito literário. Mas TAMBÉM por isso. Repara que isto é importante porque, por outro lado, poderíamos premiar uma obra como o Mein Keimpf desde que estivesse magistralmente bem escrito. Acho que o Nobel não queria isso... Tás a ver a ideia? E repara que o prestígio do prémio foi-se cimentando ao longo dos anos. Hoje tu olhas para ele como o supra sumo porque a verdade é que estes critérios foram funcionando bem. Claro que olhamo para a lista e não podemos deixar de sentir a falta de tantos grandes autores. Mas o Nobel é só uma vez por ano, só pode ser atribuído a escritores vivos, só isto já faz com que haja gente que possa andar anos e anos para o ganhar e... acabe por morrer sem isso acontecer. Tive imenso medo que acontecesse com o Saramago.
Também é óbvio que, ao longo dos anos, houve escolhas menos felizes. Mas, ainda assim, a lista de vencedores é incrível. E quando tu falas dos desconhecidos talvez estejas demasiado centrado na perspetiva que tens, a de português. Mas já viste o que um blogueiro chinês pode ter dito no dia em que Saramago ganhou?
Bom, gostei de trocar estas ideias contigo e apreciei muito a forma como respondeste.
Espero um texto teu quando leres algo do novo Nobel ;-)

Rui Bastos disse...

Compreendo perfeitamente o que queres dizer, e é como já disse, tenho que investigar mais para perceber bem este assunto e ser capaz de escrever uma opinião com pés e cabeça sobre este assunto, coisa que já me anda na cabeça há bastante tempo...

Vou aproveitar esse texto para "responder" a este teu último comentário como deve ser, e se não te importares, vou inclusivé citar algumas coisa que disseste.

E andarei também à procura de algo do Nobel deste ano em particular, assim como de vários outros. A verdade é que esta conversa me deixou com vontade de literalmente ler livros de TODOS os vencedores deste prémio. Enfim, veremos. Foi de facto uma troca de ideias interessante!