terça-feira, 30 de outubro de 2012

O Fado da Sombra

Título: O Fado da Sombra
Autor: Filipe Faria

Sinopse: Os deuses estão mortos, e a sua queda deixa Allaryia à beira de uma espiral de desordem e destruição. As sementes dos planos d'O Flagelo germinam em segredo, e Aewyre Thoryn e os seus companheiros são os únicos que estão cientes da insidiosa ameaça, bem como os únicos em condições de a combater. Dá-se então início a uma desesperada corrida contra o tempo, enquanto servos renegados de Seltor conspiram para levarem a cabo a queda de Ul-Thoryn. Uma ameaça de tempos imemoriais acerca-se entretanto da Pérola do Sul, ameaçando cortar pela raiz a resistência contra O Flagelo. A norte, ventos gélidos prenunciam a guerra iminente e uivos nas serranias norrenas anunciam o despertar de um poder anciano, que tanto poderá ser a salvação dos reinos humanos, como a sua ruína derradeira. O ponto de viragem da Oitava Era, após o qual nada será como dantes em Allaryia, é o penúltimo capítulo da saga, que neste sexto volume levanta a parada num inesquecível épico de acção e aventura.

Opinião: Maior guerra que a que se ameaça abater sobre Allaryia, foi a que eu tive para ler este livro, e maior ainda será a que vou de certeza ter para ler as 600 páginas do próximo e último volume. A leitura não foi complicada, e não acredito que a próxima o seja, e este sexto livro é, até agora, o meu favorito, confirmando a qualidade ascendente da saga, o problema foi o de sempre: falta de tempo.

Parecendo que não, e com alguma pena minha, a minha vida não é só ler. E embora tenha tido um início de semestre deveras tranquilo, as coisas começam a apertar e ameaçam estrangular ligeiramente nos próximos tempos. Daí ter levado 2 semanas a ler este e levar provavelmente outras 2 (e tal) a ler o próximo.

Mas isso não importa. O que interessa realmente é que as coisas começam a encaixar umas nas outras! Após 5 livros de porrada, demandas, sangue e tripas, inimigos caídos que regressam, companheiros separados e um vilão de desígnios completamente inescrutáveis, começa-se a ver... algo. Ao início não se percebe absolutamente nada, tão intrincados e retorcidos estão os fios narrativos, mas vê-se claramente que a história está a tomar uma certa direcção. Lá mais para o fim começa-se a perceber, e eu nesta segunda leitura topei demasiado bem qual é a essa direcção, algo que me tinha escapado por completo na primeira... A capa do último livro ajuda a perceber, também, se estiverem curiosos!

É que finalmente as coisas começam a encaixar, a fazer sentido, todas a alinharem-se na antecipação daquilo que promete ser um final absolutamente estrondoso! Embora seja ligeiramente previsível. Pelo menos algumas partes. Não interessa! Eu sempre fui fã do Filipe Faria, mas cada vez gosto mais dele... Aquilo que começou por ser uma história quase infantil e aleatória é agora uma história sólida com desenvolvimentos marcantes e reviravoltas de suster a respiração. As personagens continuam a ser a melhor parte (SELTOR! SELTOR! SELTOR!), bem trabalhadas, algumas hilariantes, algumas assustadoras, todas a funcionarem bem umas com as outras, e com uma profundidade psicológica apreciável, em contraste com as mentes lineares que demonstravam no início, em particular no primeiro livro.

Com tanta coisa que já foi acontecendo ao longo destas (eu contei) 3086 páginas, as personagens amadureceram, amarguraram, endureceram e enlouqueceram. O que, do meu ponto de vista, apenas pode significar que se tornaram mais interessantes. Sejamos honestos, personagens felizes da vida, a cantarolar canções de amor de mãos dadas com as suas caras metades, enquanto saltitam alegremente por prados verdejantes raramente são interessantes. As melhores são as personagens loucas e amarguradas, as maléficas e cruéis, as ambíguas e imprevisíveis! E nesse campo, as Crónicas de Allaryia estão bem entregues. Entre Seltor, que é para mim a melhor personagem e o melhor aspecto desta saga, e Culpa, uma personagem absurdamente genial, ainda há espaço para uma quantidade enorme de personagens interessantes.

Já para não falar da escrita, mais madura e bem trabalhada, violentamente melhorada em relação aos primeiros livros, em especial ao primeiro. Filipe Faria já ameaçava ser um bom escritor, ainda que não tremendamente literário e a léguas de um David Soares ou de um Gonçalo M. Tavares, só para citar nomes mais recentes, escreve bem, é capaz de construir uma boa história e a de a desenvolver em condições, mesmo que a tenha começado com alicerces algo periclitantes. Nesse aspecto em particular, os meus sinceros parabéns ao autor.

Para terminar queria só dizer que este livro tem um tremendo defeito. Um defeito absolutamente horrível e doloroso, um defeito capaz de me magoar fisicamente, um defeito tão execrável e pestilento que nem tenho palavras para o descrever. É que após estes 6 livros relidos, e com a história fresquíssima na cabeça, este penúltimo volume deixou-me extremamente curioso para ler a conclusão. Quando digo extremamente não estou a exagerar. Se a curiosidade fosse uma ideologia política, eu era um fascista anarquista, neste momento. Espero que compreendam a dor que é começar a ler este livro em vésperas de ter 4 testes, 2 laboratórios, um projecto e um mini-teste em 10 dias.

Só sei que vai valer a pena.

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