quarta-feira, 5 de junho de 2013

Hotel Memória

Título: Hotel Memória
Autor: João Tordo

Sinopse: Onde termina a culpa e começa a expiação? Em Nova Iorque um estudante apaixona-se por uma rapariga enigmática com quem vive uma intensa relação. Mas a morte desta, inesperada e violenta, enche o protagonista de culpa e remorso, lançando-o numa espiral descendente até o transformar num vagabundo, sem dinheiro e sem posses. Prisioneiro do Memory Hotel, um pardieiro na Baixa de Manhattan que parece destinado a albergar criaturas perdidas como ele próprio, é contratado por Samuel, um milionário excêntrico, para procurar um fadista português emigrado para os Estados Unidos quarenta anos antes.

Tendo Nova Iorque como pano de fundo, dos anos sessenta até ao presente, e criando a figura inesquecível de Daniel da Silva, o fadista que conquista Manhattan com o seu talento, Hotel Memória é, ao mesmo tempo, um romance de mistério e uma aventura nos meandros da condição humana - uma história simultaneamente intrigante e comovente, que lida com os fantasmas da memória, da culpa e da redenção.

Opinião: Comprei este livro ao desbarato poucos dias antes de saber que o próprio autor pedia para que ninguém o comprasse. Parece que a editora, a Quidnovi, deixou de lhe pagar direitos de autor, bem como a outros escritores. Tenho Tordo em boa consideração, e um amigo que se pudesse passava a vida a sussurrar-me "lê Toooordoooooo", portanto reforço aqui o seu apelo. Não sei a história toda, mas palhaçada por palhaçada, mais vale prevenir.

Mas já que o comprei, falemos dele. É o segundo livro que leio de João Tordo, e pouco me lembro da história em concreto de O Bom Inverno, mas lembro-me que gostei, em particular da escrita e do ambiente que o escritor conseguiu criar no livro. Felizmente ambas as coisas se repetiram desta vez. Acho que o autor escreve verdadeiramente bem, e a forma como cria e modela um ambiente negro, melancólico e depressivo, com um ligeiro sotaque visual de policial noir nesta história em concreto, é bastante boa.

E felizmente é um autor português da nova vaga de autores lusitanos, que eu meto sempre na mesma geração que Afonso Cruz, Gonçalo M. Tavares, José Luís Peixoto e outros autores recentes, que sabe contar uma história! Ao contrário de Gonçalo M. Tavares, que se está borrifando para a história, Tordo faz dela o ponto fulcral dos seus livros, pelo menos dos que li até agora, e embora tenha uma mensagem a passar, e tiradas mais filosóficas, conta uma história interessante, com um enredo minimamente credível, personagens sólidas e com meia dúzia de dimensões que são mais do que meros peões num jogo de simbolismos.

Dividido em 3 partes bem distintas, Hotel Memória conta a história de um estudante com pouco dinheiro que se apaixona e depois vê o seu mundo desmoronar à sua frente, acaba literalmente nas ruas da amargura e envolvido em coisas demasiado perigosas. A forma como o autor apresenta o desenrolar dos acontecimentos está muito bem pensada: a primeira parte serve quase de prelúdio gigante para situar o leitor na história e no ambiente, deixando-nos envolver e tirando-nos de repente o tapete debaixo dos pés; na segunda parte, com um ritmo mais lento mas infinitamente mais misterioso, aparece a história propriamente dita, aquela em que as coisas vão começar a ligar e a fazer sentido, e em que os fantasmas do passado se ligam às ameaças do futuro para confundir e intrigar o protagonista.

E é então que mais uma vez, perto do fim, o autor leva a história por um caminho inesperado e violento, aguçando o apetite para a terceira parte, um clímax espalhado ao longo de várias páginas que se vai lentamente formando a partir das memórias de outras personagens, explicando tudo o que se foi passando. E se dúvidas havia quanto à nacionalidade do autor, a importância que o fado tem na história é prova mais do que suficiente da sua condição lusitana.

Fiquem avisados que é um bom livro, de um autor que cada vez mais corresponde às expectativas que tenho sobre os seus livros ("lê Toooordoooooooo"), com uma escrita muito boa e que ainda por cima tem um ritmo bastante estável de escrita, com sensivelmente um livro publicado por ano e ainda por cima, dizem-me as minhas fontes, todos de qualidade. Muito bom!

2 comentários:

Ana/Jorge/Rafa disse...

É bom saber que os sussurros produzem resultados :P ainda bem que gostaste!

Jorge

Rui Bastos disse...

Gostei sim senhor, e ainda me hás-de emprestar os que tens praí... Tens é que continuar a sussurrar coisas como Tordo, e não como Bruno Martins Soares xD