quarta-feira, 3 de julho de 2013

Terrarium: Um romance em mosaicos

Título: Terrarium: Um romance em mosaicos
Autores: João Barreiros e Luís Filipe Silva

Sinopse: Cada um deles - João Barreiros e Luís Filipe Silva - já foi publicado sob responsabilidade da colecção Caminho Ficção Científica, em livros que se pode dizer marcantes. Sem favor. E pessoais, bem diversos. Agora, revelam-nos uma brilhante ousadia ao escreverem um vasto livro a dois: Terrarium: Um romance em mosaicos. Complexa, veemente, entusiástica, esta obra tem, além do mais, um fôlego e um ímpeto pouco frequentes. Os autores conseguem manter vozes próprias que ecoam nos capítulos sem se misturarem por completo. Terrarium é realmente um mosaico colorido que forma uma espécie de mural, ou, talvez melhor, azulejos que aparecem e desaparecem, que seduzem e enganam, que aumentam ou diminuem, num resultado móvel e caleidoscópico. Em constante movimento, portanto. Com tudo isto, não será exagerado acrescentar que este livro intrigará e, no mínimo, divertirá qualquer leitor. Até ao fim - até as alternativas finais.

Opinião: Este livro é um livro especial. João Barreiros é um autor que me fascina e surpreende a cada obra que leio, e embora não tenha lido praticamente mais nada de Luís Filipe Silva, conheço-o pessoalmente graças à Oficina de Escrita Fantástica da Trëma, e tenho por ele um grande respeito e admiração.

Se já namorava este livro só por ter sido escrito por João Barreiros, graças aos últimos meses o facto de também ser um livro de Luís Filipe Silva apenas serviu para me aguçar o apetite até dimensões descomunais, sem que nada do que até agora foi mencionado tenha o que quer que seja a ver com as opiniões que eventualmente vou dar mais à frente. Seriam as mesmas se me fossem autores completamente desconhecidos.

Andei com o título na mente durante meses, sempre a contar o tempo que faltava para fazer o último teste e o ir buscar à biblioteca. E assim foi: dia 20 fiz o meu último teste este ano, dando assim por terminado o 2º semestre do 2º ano, e no Sábado aproveitei a sessão da Oficina na Orlando Ribeiro para o ir requisitar.

Juro que já há algum tempo que não ficava tão excitado por ter um livro nas mãos. A ansiedade de o abrir e de o devorar era tanta, mas tanta, que nem vos passa pela cabeça.

Claro que aproveitei para mostrar o livro ao Luís e dizer-lhe que o ia ler. Ele riu-se e aconselhou-me, em traços largos (ele que diga horrores do meu conto na próxima sessão da Oficina se estiver a mentir), que devia ter juízo em vez de andar a ler estas coisas.

A única coisa que isto fez foi dar-me ainda mais vontade de ler o livro. Por nenhuma razão em especial, acho que nesse dia até a viagem de autocarro até casa me deu mais vontade de ler o livro. Eu queria era lê-lo.

Surpreendentemente não o li tão depressa quanto esperava. É um livro grande, é verdade, mas com as ânsias com que eu estava, e com o que fui gostando do livro, devia tê-lo devorado em 2 ou 3 dias, mas levei mais ou menos uma semana.

A explicação que encontro é a enorme complexidade do romance, que é de facto um romance em mosaicos, intrincado e contorcido sobre si próprio, com 5 novelas a constituírem o corpo principal da história, antecedidas por um prólogo fantástico e cativante, e seguidas de 3 alternativas finais que são, no seu conjunto, uma das formas mais curiosas e fantásticas de se acabar um livro e fechar um enredo.

Como já devem ter percebido, a história tem demasiados detalhes e é pura e simplesmente demasiado complexa para que qualquer resumo que eu vos dê lhe faça jus, mas fiquem com esta ideia: é uma luta entre várias raças alienígenas, com alguma da tecnologia tão avançada que chega a parecer magia. Um confronto entre humanos e as Potestades, com IXyitil sempre à espreita e vulpis, volpex, simulatrix, kreepos, inteligências artificiais e tantas outras raças e seres que seria tarefa inglória tentar nomeá-las.

O que interessa é que um milhar e qualquer coisa de raças foram semi-capturadas e empurradas para a Terra, selando todas essas espécies numa espécie de terrarium gigantesco. Depois há porrada, há sangue e tripas, há momentos carregadíssimos de acção, há show-off de tecnologia de ponta e um enredo extremamente complicado em que quase nada do que parece, é.

Nem vos posso revelar tanta coisa quanto isso sobre a história. Mas posso falar-vos da escrita, que é muito boa, de uma forma general. Não vou arriscar dizer que consegui ver quem é que escreveu que parte, pois não conheço suficientemente bem a escrita de nenhum dos autores, mas há claramente duas vozes a contar esta história: uma, mais brutal, rápida e directa, sem tempo nem paciência para floreados, e que desconfio ser a do João Barreiros, é a mais comum ao longo do livro; mas também se vê uma escrita mais calma, mais pausada, mais dada a ligeiras divagações, mais "bonita" em termos de estilo, e que se coaduna muito bem com a imagem que tenho da escrita do Luís Filipe Silva.

Caso ainda não tenham percebido, delirei com este livro. Foi daquelas obras para a qual eu tinha expectativas muito altas, e que não só correspondeu a tudo o que eu imaginava, como ainda ultrapassou isso tudo!

Objectivamente falando, não é o melhor livro que já li, e tem algumas falhas em termos de conjugação dos dois estilos, e de ritmo, e da forma como a informação é dada e apresentada, mas isso também faz parte das suas características.

É um livro complexo, ainda por cima com referências e homenagens (revistas Pulp? Comics?a várias outras obras de ficção científica que eu não apanhei na totalidade, de certeza, que quando tem hipótese de simplificar as coisas e deixar o leitor mais dentro de tudo o que se está a passar, faz um mortal encarpado à retaguarda e BAM!, vai-te lixar leitor, pões a mioleira a trabalhar e é se queres. Nesse aspecto é sublime.

E subjectivamente falando tenho apenas a dizer que caso alguém me pergunte qual é o meu livro favorito, finalmente sei o que responder.

Sem comentários: