segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Que as citações nos caiam em cima [39]


"As nossas vidas estão riscadas nas palmas das mãos, como verdascadas de água na superfície da terra.

Então, batemos palmas para baralhar a vida, à espera que a vezada seguinte seja mais venturosa.

Viciámo-nos nesse jogo.

No entanto, as linhas das mãos são foscas como as faces dos fetos. Não se pode baralhar a vida. Só se pode vivê-la.

Adaptamo-nos desde a infância àquilo que nos foi talhado por forças imperceptíveis.

Obstar seria mergulhar onde babujam miseráveis cardumes. Seria húbris.

Loucura."

Palmas para o Esquilo
David Soares

sábado, 28 de setembro de 2013

E se gostássemos todos da mesma coisa?


É que nem consigo imaginar a situação. Quer dizer, até consigo, mas dói-me um pouco. Ainda por cima a primeira imagem que me vem à cabeça é a de uma biblioteca com milhares e milhares de cópias do mesmo livro.

Um único livro, que toda a gente acharia a obra-prima suprema e que acabaria com a necessidade de outros livros. Um único livro que toda a gente leria várias vezes, cada pessoa sempre completamente enamorada de cada palavra que lá estivesse escrita, por mais decorada que já estivesse.

Arrepia-me todo. Mas dá que pensar. Afinal, entre pessoas que lêem, e que criticam, e que têm blogs e companhia limitada, o gosto pessoal dá azo a lutas intermináveis. Imaginem um mundo em que essas batalhas não existissem.

"Este livro é claramente o melhor de sempre!" é uma daquelas expressões que gera invariavelmente respostas na onda de "És um idiota chapado.", "Não fazes a mínima ideia do que é literatura.", "Toma lá a minha lista dos 580 defeitos desse mesmo livro, mais o resumo da minha dissertação sobre como este outro livro é ziliões de vezes melhor que esse." e, claro, aquela que deve ser a minha favorita, "Epah, eu não acho, mas enfim, gostos não se discutem."

Agora imaginem que as respostas eram todas "É sim senhor.", "Tens toda a razão.", "Que análise brilhante, pessoa com um gosto absolutamente impecável!"

Brrr.

Logo para começar, acho que tornava a existência de blogs como este ligeiramente redundante. Ou então passaríamos a comentar as edições novas do dito livro. Eu sei lá!

Mas não consigo evitar em tentar pensar mais um pouco sobre o assunto, em tentar perceber melhor como é que seria essa situação. Muito provavelmente seria como falar com alguém sobre um livro que ambos idolatramos. Ou passaríamos 3 horas a despejar comentários inconsequentes, praticamente vazios de conteúdo, apenas vagamente perceptíveis a pessoas que não tivessem lido, ou então seria uma conversa de 5 segundos: "Esse livro é mesmo bom!", "Pois é!"

É por isso que raramente falei com alguém sobre o 1984. Acho que toda a gente que conheço e que o leu, o achou um livro excepcional. Não há grande coisa para falar. A sério, é horrível. Não o livro, esse é genial, mas a falta de conversa sobre ele.

Já se o assunto for um livro (ou sei lá, dois assim aleatórios de que me lembro do nada) mau, a conversa nunca mais acaba! E se for um livro que adorei e a outra pessoa odiou, ou vice-versa, vai lá vai... Mas acho que o melhor caso que me acontece é quando se gosta de um livro, mas não se fica tão excitado e emocionado com ele quanto a pessoa que o aconselhou.

Talvez até fosse melhor se todos gostássemos da mesma coisa, eu pelo menos tinha menos chatices, mas qual era a piada? Giro giro é ter longos debates filosóficos sobre as acções de uma personagem (mas nunca, nunca, sobre uma galinha), e mostrar a um amigo como a personagem que ele adora não é nada de especial.

A conclusão parece um bocado óbvia, e já dita por toda a gente, mas se todos gostássemos da mesma coisa... Bem, era uma seca de primeira.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Palmas para o Esquilo

Título: Palmas para o Esquilo
Argumentista: David Soares
Desenhador: Pedro Serpa
Legendagem: Mário Freitas

Opinião: Este é um livro muito estranho. Confesso que tive que o ler 2 ou 3 vezes seguidas. Já conhecia o trabalho conjunto de ambos os autores, em O Pequeno Deus Cego, e a primeira impressão foi a de que este Palmas para o Esquilo é um livro radicalmente diferente desse.

Há pontos em comum, pois como o David Soares disse no lançamento, as suas obras têm vindo a evoluir e a aproximar-se cada vez mais da alegoria. Desse ponto de vista é possível ver claramente as tendências alegóricas de ambos os livros, e a forma visceral como exploram os seus temas.

Mas se O Pequeno Deus Cego se passa numa China feudal, este passa-se nos dias de hoje, em Portugal (ainda que isso não seja especificado, e se possa considerar que ocorre num sítio qualquer). E se o primeiro já impressiona, não só pela escrita de David Soares mas também pelo traço de Pedro Serpa, este ainda causa uma impressão mais forte.

A sensação que tive foi a que tenho ao ver uma curta-metragem sem som a ser comentada pelo realizador. Acho que os desenhos de Pedro Serpa contam perfeitamente uma história por si só, assim como o texto de David Soares nos obriga a pensar, sem mais nada. A junção das duas dá um resultado curioso, em que as duas coisas são facilmente discerníveis, mas dificilmente separáveis.

Ou seja, embora ambas as coisas se aguentem sozinhas, e não precisem uma da outra para terem valor próprio e fazerem o seu trabalho de forma coerente, depois as ver juntas é muito complicado imaginar uma sem a outra.

A história passa-se num asilo, e as personagens loucas são um dos pontos fortes desta BD, de tão bem retratadas que estão. A principal, então, que quase não fala, é bastante expressiva nas suas acções e nas suas memórias. A loucura, ou imaginação, que o assola, tem uma evolução rápida ao longo das páginas, e vê-lo a cair no abismo da sua mente é indescritível.

Só há uma coisa neste livro que não me agradou por aí além, e que não sei se se justifica completamente. O vocabulário usado por David Soares. Eu bem sei que a sua escrita é tipicamente assim, e já estou mais do que habituado a ter um dicionário por perto quando o leio, mas acho que neste caso talvez tenha exagerado.

A sua escrita habitualmente complexa e trabalhada, chega a ser quase incompreensível nalgumas passagens, sem o auxílio de um dicionário a cada 2 palavras. Isso tem um propósito e faz parte do estilo do autor, mas a mim dificultou-me a leitura, e não me deixou envolver tão completamente como podia ter acontecido. É um caso em que acredito que uma escrita mais simples provavelmente tornaria o livro melhor.

Mas fiquei bastante agradado na mesma, especialmente com os desenhos de Pedro Serpa. Nota-se uma evolução, e as suas imagens fortes desenhadas de forma simples são claramente uma imagem de marca, com todo o seu traço a contrastar fortemente com a escrita de David Soares, e a criar um efeito bastante interessante.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Skyborn (Lost Tribe of the Sith #2)

Título: Skyborn
Autor: John Jackson Miller


Opinião: O segundo livro desta saga tem um grande defeito: faz uma mudança radical de ponto de vista, em relação ao primeiro, sem grandes explicações.

Se em Precipice acompanhamos os Sith que se despenham num planeta, aqui seguimos uma das nativas do dito planeta, sem que isso seja muito bem explicado.

Fiquei confuso quando não vi nenhuma menção aos Sith nem a nenhuma personagem que tenha aparecido antes. Só sensivelmente a meio do livro é que isso começa a aparecer e tudo ficou claro.

Felizmente essa falha é colmatada pela forma como o autor descreve as relações entre os Keshiri (nativos) e os Sith. Entre hostilidade, medo, temor religioso, desconfiança e sei lá mais o quê, o confronto entre ambas as raças acabou por ser o ponto mais interessante de todo o livro.

As personagens não me cativaram, ou pelo menos não houve nenhuma que me tenha ficado particularmente na memória como "woow, que personagem tão fixe!". No fim, Skyborn é um livro que não se destaca de qualquer forma, mas que conseguiu, pelo menos, deixar-me curioso para ver como tudo evolui a partir daqui.

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Miles Behind Us (The Walking Dead #2)

Título: Miles Behind Us
Argumentista: Robert Kirkman
Desenhador: Charlie Adlard

Opinião: Ao contrário do que acontece no primeiro volume, Miles Behind Us já apresenta bastantes diferenças relevantes relativamente à série de televisão.

Mas isso não é propriamente mau. A série é muito boa, e os comics são muito bons, e acho que mesmo enquanto adaptação, a série se aguenta muito bem, e os caminhos ligeiramente diferentes que uma coisa e outra estão a tomar são apenas uma forma inteligente de as gerir.

Uma das coisas que a saga tem como ponto forte é a velocidade a que as coisas acontecem. Não há momentos mortos, mal acaba de acontecer alguma desgraça, BAM!, toma outra desgraça, e depois BAM!, mais uma.

É um autêntico carrossel, com o foco muito bem dirigido para as personagens e as suas reacções, que são o ponto fulcral de toda a saga. Mundos apocalípticos dominados por zombies há muitos, mas personagens interessantes nem por isso, e este livro mostra que em The Walking Dead elas existem em doses massivas.

Isso não impede a ocasional pain in the ass, como a Lori. A mulher irritava-me na série e irrita-me nos comics. Não a suporto, é irritante, inconveniente, burra e completamente passada da cabeça.

Este segundo volume é então um bom livro, com boas personagens e um excelente ritmo. A história nem é o mais importante, mas até isso é deveras agradável. Um excelente trabalho.

sábado, 21 de setembro de 2013

Show, don't tell

Quando se fala de dicas para escrever, uma que acaba por aparecer 95% das vezes é a famosa show, don't tell. É uma dica que é dada como se fosse algo básico e essencial para qualquer pedaço de escrita.

Mas isso nem sempre é verdade. O show, don't tell não é mais do que um dos vários "truques" literários que se podem e devem usar, mas sempre com moderação.

É útil para, por exemplo, envolver mais o leitor na história, ao optar por criar imagens e esforçar-se por causar impressões mais fortes, ao invés de simplesmente debitar a informação do que está a acontecer.

Pode ser algo tão simples como escrever "o suor brilhava-lhe na pele, e até a brisa que o rodeava era quente e abafada" em vez de "estava calor", o que já faz toda a diferença. No primeiro caso dá-se a entender que estava calor recorrendo a sensações que permitem ao leitor identificar-se mais facilmente do que ao ler o segundo caso, uma simples descrição.

Isto é particularmente relevante quando o assunto são planos manhosos, misteriosos, complexos, ou alguma combinação dos 3. Terminar um conto com uma explicação detalhada de tudo o que se passou, de qual era o plano do vilão desde o início, e de todos os passos que o bom da fita teve que tomar para vencer... Bem, é aborrecido.

Pelo menos costuma ser. É um erro que eu próprio já cometi e que compreendo: começa-se a sentir a história a chegar ao fim, sem grande possibilidade de ser esticada, e ainda há coisas por explicar. Ficaram claras? As pistas dadas serão suficientes para que se perceba? E é nesse pânico que surgem os massivos tells de fim de história.

A razão para isto parecer funcionar e ser tão apelativo é bastante simples: embora o show seja mais envolvente e dê mais liberdade à escrita, o tell ocupa consideravelmente menos espaço. É por isso que 3 parágrafos a explicar tudo no fim da história são tão apelativos, é mais fácil fazer isso do que incorporar tudo ao longo do texto ou, pior ainda, acabar por, se calhar, escrever mais uma página.

Ora, isto também pode ser útil. Nem sempre o objectivo é fazer com que o leitor se identifique fortemente com a personagem, ou perder algum tempo a dar qualquer coisa a entender que podia ser dita em meia dúzia de palavras.

O equilíbrio é difícil, mas é isso que se quer. Não é erradicar o tell e declarar a supremacia imperialista do show, é aplicar o que for preciso na melhor altura.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

A Procura da Verdade Oculta: Textos filosóficos e esotéricos

Título: A Procura da Verdade Oculta: Textos filosóficos e esotéricos
Autor: Fernando Pessoa
Organizador: António Quadros

Opinião: Não sendo fã de pessoa, por vezes estranho a curiosidade que sinto em relação ao homem. A verdade é que por muitos nomes que lhe chame, o acho uma figura fascinante.

Desde que tive o desprazer de ser apresentado à sua poesia e fui obrigado a ficar a conhecê-lo melhor (e aos seus heterónimos), que sempre quis ler alguma da sua prosa.

A primeira vez que o fiz foi com O Banqueiro Anarquista. Acho que não gostei tanto como a Alice, mas até foi uma leitura agradável.

Este livro, no entanto, é um caso diferente. Organizado por António Quadros, A Procura da Verdade Oculta: Textos filosóficos e esotéricos é maçudo e com tendência a descair para o aborrecido.

Há passagens interessantes, e umas dezenas de páginas que deram verdadeiro prazer, mas não posso dizer que tenha gostado do livro. A culpa talvez tenha sido de ter lido isto "à bruta", ou seja, de seguida, quando me parece ser um livro quase de consulta ocasional. Ou melhor, mais académico do que de leitura normal, chamemos-lhe assim.

Os textos aqui recolhidos não foram escritos com o intuito de estarem reunidos num só livro, e embora a organização não seja má, e não existam grandes quebras temáticas, Pessoa claramente gostava demasiado destes assuntos para que a sua genialidade (que reconheço, apesar de tudo) vertesse incólume para o papel.

Há críticas a teorias e filosófos, argumentos fortes e alguns mais circulares, mas o autor demonstra ter uma enorme clareza de espírito. Isso não impede, no entanto, umas primeiras páginas confusas, pois de tanto que queria falar, acabou por não desenvolver tudo como o devia ter feito.

Eventualmente a coisa fica mais assertiva, e começo a notar algumas conclusões e raciocínios interessantes, mas continuo a achar tudo demasiado confuso para alguém que era capaz de escrever poemas tão falsamente simples.

É que nota-se que pensou muito em tudo isto, mais que não seja pelo seu estilo denso e pesado. O problema é que por causa disso mesmo acabou por ser perder demasiadas vezes em considerações dentro de considerações, e a perder o fio à meada.

E quando se põe a falar de fenómenos esotéricos, e das suas experiências sobrenaturais enquanto vidente? O homem era completamente maluco da cabeça. No bom e no mau sentido.

Já para não valor em algumas das pérolas que de vez em quando se lembrava de soltar assim de repente, como esta:

"A existência de Deus é, pois, idemonstrável, mas é um acto de fé racional, natural portanto - inevitável até - em qualquer homem no uso da sua plena razão.
E tanto assim é que o ateísmo anda sempre ligado a duas qualidades mentais negativas - a incapacidade de pensamento abstracto e a deficiência de imaginação racional. Por isso, nunca houve grande filósofo ou grande poeta que fosse ateu."

Nem sei bem o que dizer sobre isto. Talvez mostre esta citação da próxima vez que alguém me disser que tenho que ser mais tolerante e gostar de Pessoa.

Quanto ao livro, acho que tinha tudo para ser bastante interessante, mas acabou por ficar um bocado maçador, especialmente mais perto do final. Mas realço que mesmo assim encontrei ideias interessantes e uma escrita bastante aceitável.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Vintena

Isto sim, é um bolo!
E cá estou eu outra vez a ficar mais velho. Parecendo que não já é a quinta vez que o faço, desde que criei o blog. Digo-vos, pensar que comecei isto quando tinha 14 anos... Vai lá vai.

Mas então e o que é que há de novo e especial este ano? Sim, porque eu faço 20 anos, algo importantíssimo e de extrema relevância e... Como? Como não há nada? O quê?

É verdade. Mais uma vez este volta a ser um dia como todos os outros. Bem, as aulas já começaram há 2 dias (viva o terceiro ano da faculdade! fazer exercícios na primeira aula após os primeiros 20 minutos de palha!).

Tirando isso... Talvez possa acusar uns projectos de escrita, mas deixemos isso para outra altura. Até porque antes de me pôr a escrever muita coisa, tenho muitas opiniões ainda por escrever e publicar: já vai nos 13 livros. Ridículo.

Felizmente O Conde de Monte Cristo está a levar o seu tempo, para ser apreciado como deve ser, claro, não tem nada a ver com as quase 800 páginas de cada um dos dois volumes. Pode ser que quando tiver acabado isto já tenha menos de 10 opiniões atrasadas.

Pelo menos estou a gostar, para gáudio de um amigo particularmente chato e magrinho. A sério, foram 2 anos a gramá-lo e aos seus sussurros, gritos e o que quer que fosse: conde de monte cristo conde de monte cristo conde de monte cristo conde de monte cristo. O título já nem significa nada para mim, de tanto que já o ouvi. Mas foi uma boa sugestão e está a ser uma boa aposta, portanto não me vou queixar muito mais.

E pronto, é isto, 20 já cá cantam. Daqui a dois dias as críticas atrasadas continuam a sair como habitualmente. Daqui a um ano talvez vos fale dos meus cabelos brancos.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Que as citações nos caiam em cima [38]


"That is the curse of the human race. Sociability. What Christ should have said was 'Yea, verily, whenever two or three of you are gathered together, some other guy is going to get the living shit knocked out of him.' Shall I tell you what sociology teaches us about the human race? I'll give it to you in a nutshell. Show me a man or woman alone and I'll show you a saint. Give me two and they'll fall in love. Give me three and they'll invent the charming thing we call 'society.' Give me four and they'll build a pyramid. Give me five and they'll make one an outcast. Give me six and they'll reinvent prejudice. Give me seven and in seven years they'll reinvent warfare. Man may have been made in the image of God, but human society was made in the image of His opposite number, and is always trying to get back home."

The Stand
Stephen King

domingo, 15 de setembro de 2013

"Palmas para o Esquilo" de David Soares e Pedro Serpa

Deve ter sido a primeira vez que fui ao lançamento de um livro. Pergunto-me porque raio é que não comecei a fazê-lo antes.

A loja da Kingpin, de que já aqui falei, é um sítio quase acolhedor, assim cheio de pessoas que se conhecem umas às outras, todas ali para o lançamento do Palmas para o Esquilo, escrito por David Soares e desenhado por Pedro Serpa.

Esta colaboração, que vem dos tempos de O Pequeno Deus Cego, continua a dar frutos e, pelo que percebi, não será de estranhar mais colaborações no futuro.

Mas falemos deste livro, tão promissor que teve direito uma tiragem maior do que o habitual, mostrando claramente a aposta da Kingpin no livro, e não só pelo facto de agora ter distribuição nacional.

Palmas para o Esquilo fala de imaginação e fala de loucura. Pessoalmente, estou interessado. São dois temas sobre os quais gosto de ler (e de escrever), e que considero serem dos temas mais inesgotáveis à face do planeta.

E depois, durante a apresentação, ambos os autores me deixarem curioso. David Soares, para começar, falou de como este livro se relaciona com as suas obras anteriores, e ainda explicou um bocado a forma como trabalho: em ciclos, e que presentemente caminha para uma abordagem cada vez mais alegórica das questões.

E Pedro Serpa, com o seu desenho simples recheado de imagens fortes, um traço descomplicado que contrasta fortemente com o estilo negro e profundo de David Soares, falou das suas influências, e de como é trabalhar este tipo de histórias.

Durante isto tudo, a imagem do Mário Freitas de pernas esticadas, super descontraído e a fazer perguntas pertinentes, guiando a apresentação com jeitinho, nunca me vai sair da cabeça.

Na altura de assinar, ainda aconteceu algo interessante: o David Soares reconheceu o meu nome dumas mensagens que trocámos pelo Facebook, e dumas críticas que escrevi, na altura em que li um monte de BD's dele de rajada e fui assistir ao seu espectáculo de spoken word com o Charles Sangnoir. Bem, é um autor que admiro e que me reconheceu. Foi... fixe.

E tanto o David Soares como o Pedro Serpa se mostraram bastante simpáticos, com o primeiro a escrever dedicatórias nos livros, e o segundo a fazer pequenos desenhos. Foi assim, o lançamento deste livro, o primeiro que tenho assinado.

Sim, o Pedro Serpa incluiu a caveira de um esquilo.

sábado, 14 de setembro de 2013

Citar ou não citar, eis a questão

As citações são algo complicado de gerir. Às vezes apetece pôr umas aspas no começo no livro, outras no fim, e declarar as 300 páginas como a nossa citação favorita.

Como controlar isto? Sei lá! Só sei que encontro frequentemente 2 tipos de livros que me causam dificuldades, no que toca a citações: os que estão tão, mas tão bem escritos que nem sei o que hei-de citar; e os livros que adorei, com uma história fantástica, mas sem nada de jeito para citar.

Acontece-me algumas vezes, em ambos os casos, acabar por não citar nada e ficar cheio de pena. Com o primeiro tipo de livros porque queria mostrar o quão espectacular foi a minha leitura, mas não me consigo decidir sobre o que exibir. No segundo tipo porque não encontro nada suficientemente bom para mostrar como prova da qualidade do livro.

E depois há ainda as citações que só fazem sentido dentro do contexto do livro. Durante a leitura chegamos a um certo pedaço e "eh lá... muito bom...", mas quando citamos isso e o vemos assim, descarnado, perde o seu encanto.

Também já me aconteceu estar tão embrenhado na leitura que nem sequer me lembro de tirar citações. Vocês sabem, agarrar num livro, cair completamente dentro dele, voltar ao mundo real algumas horas depois, estar completamente maravilhado, mas sem uma única citação, pela simples razão de que estava ligeiramente hipnotizado.

Um dos autores com quem isso me acontece é Saramago. Lá vou conseguindo tirar uma citação aqui e ali, mas é complicado. Normalmente quando pego num livro dele, basta-me ler as primeiras frases para ficar completamente envolvido. Chega a ser acolhedor, de certa forma, voltar àquela escrita, àquela voz.

Como exemplo de uma escrita demasiado espectacular para isolar citações, tenho Mia Couto. Ainda só lhe li 2 livros, é verdade, mas o meu fascínio é imenso. Acho que é verdadeiramente um dos melhores escritores que já encontrei, e fascina-me num campo diferente do que me fascina Saramago. A escrita de Mia Couto é linda, não há outra forma de o expressar.

Já o Stephen King volta e meia também me causa problemas. Acontece-me quase sempre ficar fascinado com os seus livros, com as histórias que conta, as personagens que cria, o universo semi-partilhado em que as suas histórias habitam, mas raramente encontro algo verdadeiramente digno de ser citado. Basta verem que das 1325 páginas do The Stand, tirei apenas uma citação (Segunda-feira já descobrem qual).

Não sei se alguém por aí está com vontade de partilhar, mas gostava de saber mais opiniões sobre isto. Eu acho que as citações são uma autêntica arma, quando se trata de mostrar a beleza e a qualidade de um livro ou de um autor, mas também acho que é um bocado uma arma alienígena. Sabemos para que serve, mas só sabemos usar mais ou menos, e é de vez em quando. O que é que vocês acham?

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

The Stand

Título: The Stand
Autor: Stephen King

Sinopse: First come the days of the plague. Then come the dreams.
Dreams that warn of the coming of the dark man. The apostate of death, his worn-down boot heels tramping in the night roads. The warlord of the charnel house and Prince of Evil.
His time is at hand. His empire grows in the west and the Apocalypse looms.

Opinião: O início deste grande (literalmente, com as suas 1325 páginas) livro é típico de Stephen King, especialmente no que toca aos seus calhamaços: um primeiro capítulo pequenito que despoleta a acção, e centenas de páginas de uma história contada de forma lenta e detalhada.

Ok, tecnicamente falando ainda só lhe li mais um verdadeiro calhamaço, mas já li tantos livros seus e tanta coisa sobre ele, que sinto-me no direito de fazer esta generalização, não apressada, mas vá, medianamente fundamentada.

É uma fórmula que acho que funciona bem. Temos as primeiras páginas a abrir o apetite e a despertar-nos a curiosidade, e depois temos Stephen King a contar-nos uma história sentado na sua cadeira mais confortável: uma cadeira feita de detalhes pessoais de dezenas de personagens, e de uma história, ou histórias, de ritmo lento, mas invariavelmente cativantes.

Muita gente queixa-se desse aspecto dos seus livros. Que demora muito tempo a acontecer alguma coisa, e que ninguém quer saber tantos detalhes sobre tantas personagens, e que isso é completamente irrelevante para a história e bla bla bla.

Não penso dessa forma. Podiam ter razão de queixa se King fizesse isso tudo de forma aborrecida e o resultado fossem 500 páginas a encher chouriços, mas não... O que este escritor faz é envolver-nos completamente na história através desses detalhes, é tornar tudo mais realista e mais próximo.

Ao acompanharmos um número elevado de personagens de forma tão vívida, mesmo que não nos liguemos a nenhuma em particular (e acabamos por ligar, o homem faz isto mesmo bem), temos pelo menos uma visão mais abrangente do mundo partilhado por essas mesmas personagens. Não ficamos com uma visão unilateral dos acontecimentos, e isso é muito importante para nos envolver na história.

Mas isso é conversa para desenvolver noutra altura. Por agora vou tentar restringir-me ao livro em si. Os primeiros capítulos, como já disse, são interessantes. Diria até impressionantes. A estrutura usada é ter pessoas a morrer praticamente em todos os capítulos, com a doença a espalhar-se em pano de fundo de forma lenta, mas visível para nós, que estamos de fora; e depois aparece um capítulo a descrever como é que a infecção se propagou.

É uma abordagem interessante e bastante forte, que nos atira para a história com uma grande violência, ainda que o faça de forma lenta, e aparentemente dissimulada.

Por outras palavras, aquilo que de longe pode parecer palha pura e simples, acaba por estar bem encadeado na história e raramente aborrece. Mais que não seja porque volta e meia é a partir dessas informações "excessivas" que o autor lança pormenores com bastante relevância para a história e para as reacções das personagens.

Personagens essas que vai lá vai... Há com cada uma tão porreira que até dói. O dark man é de longe a mais intrigante: surge claramente como vilão, sem se perceber muito bem se aproveita a praga para fazer porcaria, ou se foi ele próprio o seu causador. Isso depois é clarificado, mas não durante o seu primeiro capítulo, que é tremendo.

E até tenho pena de falar tão pouco do trashcan man, um tipo completamente maluco, piromaníaco, que desde que aparece até ao fim do livro, só faz bodega. É o caos encarnado, de certeza. A sua mentalidade está bem construída, e os capítulos do seu ponto de vista foram de longe dos mais interessantes, graças à sua mente, digamos, peculiar.

De resto tenho que destacar ainda o Harold, uma personagem excepcional, um lobo rafeiro escondido entre os cordeirinhos; e ainda um par de personagens, que vale realmente a pena pela relação que estabelecem, Nick e Tom. Nick é um surdo-mudo e Tom uma criança no corpo de um homem a tender para o gigante. Sem outra forma de comunicarem que não seja por gestos, os momentos em que apareceram foram também dos pontos altos do livro.

Não posso é deixar de comparar este livro ao Cell, do mesmo autor. Enquanto que esse foi um apocalipse a mil à hora, este foi um apocalipse à velocidade de um caracol. E digo que gostei mais deste, em parte por causa de algo que já estou farto de dizer em várias opiniões sobre os livros de King: os seus livros são melhores quando são gigantes.

Para terminar falta-me dizer algumas palavras sobre o fim do The Stand. Não é que não tenha sido satisfatório, porque foi, a modos que atou todas as pontas soltas, foi convenientemente semi-épico, e relativamente feliz... Para toda a gente.

Mas faltou-lhe ali qualquer coisa. Talvez tenha sido a forma um bocado fácil como tudo termina, não sei bem. A verdade é que muito ainda se podia dizer sobre isto livro, e mais vale ficar por aqui. Foi um livro muito bom e que me deixou com vontade de pegar em mais coisas de King nas proximidades.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Lançamento: "Palmas para o Esquilo" de David Soares


Como sabem, sou fã de David Soares, e gostei de ler O Pequeno Deus Cego, em que contou com a colaboração de Pedro Serpa.

Pois bem, os dois voltam a juntar-se para Palmas para o Esquilo, um livro com uma capa e um título interessantes, e que promete falar sobre imaginação, loucura, e a relação entre ambas as coisas.

O lançamento é este Sábado, e tenciono estar presente. Deixo-vos com o texto de apresentação e uma página, para abrir o apetite.

"Palmas Para o Esquilo, o meu novo livro de banda desenhada, escrito por mim e desenhado porPedro Serpa, será lançado a 14 de Setembro (sábado), às 17H00, na loja da Kingpin Books, em Lisboa (Rua Quirino da Fonseca, 16-B).

Palmas Para o Esquilo (Kingpin Books, 2013) consiste numa observação sobre a distância que existe entre a imaginação e a loucura."


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Disney Big #1

Título: Disney Big #1
Argumentistas: Rodolfo Cimino, Bruno Sarda, Jerry Siegel, Carlo Gentina, Gian Giacomo Dalmasso, Manuela Marinato, Nino Russo, Bruno Concina, Giorgio Bordini, Fabio Michelini, Giampaolo Barosso
Desenhadores: Romano Scarpa, Luciano Milano, Nicola Tosolini, Giuseppe Perego, Francesco Guerrini, Giorgio Cavanazzo, Pier Lorenzo De Vita, Guido Scala, Maurizio Amendola, Paolo Ongaro, Maria Luisa Uggetti, Giorgio Bordini, Alessandro Barbucci, Massimo De Vita, Luciano Gatto
Tradutores: Ana Carvalho, Ana Ferreira, Igor Furão, Isabel Canhoto, Marta Amaral

Opinião: Para entrar a matar, acho que não existe uma única pessoa no planeta que não seja fã do Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey, Pateta e companhia ilimitada. A sério, não acredito. As suas histórias acompanharam-me quando era (mais) puto, assim como a praticamente toda a gente, e na pior das hipóteses conheço pessoas que lhes são indiferentes.

Mas não gostar? Ainda está para aparecer a pessoa!

Não é, portanto, de estranhar, que tenha visto com bons olhos o nascimento da Comix e produtos derivados. BD's deste pessoal todo, publicadas com regularidade e com edições de qualidade! Fantástico!

Infelizmente nem sequer tenho espaço cá por casa para 4 Comix + 1 Hiper por mês, 1 Big por trimestre e edições especiais aleatórias. O dinheiro também não é muito, mas aguentava-se, só que enfim, tanto livro e ia gastar metade do meu orçamento com isto... Não pode ser.

Felizmente, por outro lado, apareceu a Big! 512 páginas por 4.9 euros, a sair a cada três meses. Será uma colecção lenta, mas uma que farei.

O primeiro volume, como devem ter reparado, já cá canta. E o que é que posso dizer, adorei! Sabe bem ler estas histórias, embora sinta falta dos desenhos menos estilizados e menos cartoonish. A maior parte das histórias presentes no livro têm um aspecto muito redondinho e muito perfeitinho, demasiado redondinho e perfeitinho para o meu gosto.

Mas a quantidade absurda de personagens clássicas e bem conhecidas é avassaladora. Tio Patinhas, Pato Donald, os sobrinhos, o Mickey, a Minnie, o Pateta, o Batista, os Metralha, a Maga Patalójika, o Gastão, o Professor Pardal, e tantos, tantos outros! É bom voltar a vê-los numa edição recente.

Este livro tem ainda a vantagem de misturar histórias mais recentes (há uma de 2004, e mesmo assim acabei de me aperceber que isso já foi há quase 10 anos) com histórias mais antigas (1964), e é interessante comparar as histórias e os estilos dos desenhos, por exemplo.

Dividido em várias secções, que se focam num tipo específico de história, este primeiro volume de Disney Big encheu-me as medidas. As traduções pareceram-me razoáveis, e há um momento em que aparece o seguinte: "assim... assado... assim... cozido...". Não sei se conseguem imaginar o que eu me ri, mas garanto-vos, ia caindo ao chão!

E depois há os pormenores interessantes, como o facto do Batista e da famosíssima caixa-forte serem sempre diferentes, de cada vez que aparecem. É bastante curioso.

Não posso é terminar sem dizer algumas palavras sobre aquela que deve ser a minha personagem favorita: o Tio Patinhas. Dono das suíças mais imponentes de sempre, e também de alguns trocos que já vi descritos como estando na ordem dos ziliões, quadriliões, impossibiliões e por aí adiante, este pato mal-humorado e com um relutante coração tão dourado quanto as suas moedas, é pura e simplesmente genial.

Ao ler este livro apercebi-me foi que gosto mais de o ver quando está a lutar contra alguém ao seu nível, como o Patacôncio, ou quando arregaça as mangas e se lança ao trabalho de forma mais séria. É fantástico vê-lo em expedições, ou a debater-se com um dos seus colegas zilionário.

Ah, e já agora, odeio profundamente o Gastão. O facto dele levar sempre a melhor sobre o Donald só me chateia um bocadinho, mas a personagem em si, aquela sorte toda, aquela arrogância que não lhe dá trabalho nenhum a manter... Irrita-me profundamente!

Mas as histórias em que aparece são interessantes na mesma. Este é, em suma, um bom livro, e mal posso esperar que o segundo volume me venha parar às mãos.

sábado, 7 de setembro de 2013

Cuidado com a lombada, camafeu!

Ai que dor...
Falar de livros nem sempre é fácil. Já há uns anos que o faço, e não me parece que o faça com muito mais facilidade do que quando comecei. Claro que os textos evoluíram: acho que posso dizer, sem problemas de consciência nem súbitos aumentos de ego, que agora escrevo opiniões melhores.

Mas lá está, não considero que seja fácil. Apenas estou mais habituado e aprendi a fazê-lo melhor, tanto por aprender com pessoas que o fazem melhor que eu, como por bater com a cabeça nas paredes.

Sinto, no entanto, que há um aspecto da minha experiência enquanto leitor de que falo pouco. Quer dizer, volta e meia menciono alguma coisa, e sou particularmente insistente quando é muito bom ou muito mau, mas enfim.

Falo do objecto físico que é o livro. A edição, a qualidade do papel, a capa, o tamanho... Tudo isto são factores completamente desligados da qualidade do livro que o/a autor/a escreveu; mas são ainda assim factores que pesam na minha experiência de leitura.

Ao ler uma edição antiga, de páginas amareladas e com aspecto de ter sido aberto pela última vez quando ainda tínhamos um rei, tenho uma sensação bastante diferente do que se for ler exactamente o mesmo livro numa edição comercial, toda padronizada.

Da mesma forma se pode dizer que ter um livro na mão e virar-lhe as páginas é extraordinariamente diferente de ler num e-reader. É verdade. São duas experiências completamente diferente.

Até apetece chafurdar!
No caso da edição antiga, eu sei que tenho um maior carinho pelo livro. Pode até não ser tão bom como eu vou dizer que é, mas o facto de o ter lido naquela edição faz com que lhe perdoe alguns defeitos menores.

Não quer isto dizer que se me derem os livros do André Amaral copiados à mão para um pergaminho, eu os vou adorar. Vou continuar a ter pena de não ter uma lareira com falta de lenha por perto, garanto-vos. Já se tivesse lido o Fausto numa edição dessas, talvez nem tivesse dado tanta importância à ligeira confusão que permeia o livro. Numa edição dessas o tom épico estaria muito melhor enquadrado, e eu queria lá saber.

Já quase que consigo ouvir o crepitar dos archotes e as forquilhas a baterem umas nas outras. "És um vendido!" gritam. Calma. Não vai ser por ler uma edição de aspecto antigo, ou uma edição linda e espectacular como a de uma certa epopeia, já agora, que vou adorar o livro. Mas quer queiram quer não, e acho que acontece com toda a gente, estarei mais inclinado a gostar do livro.

É como vender comida com boa apresentação. Se um prato me chega à frente com bom aspecto e a cheirar bem, é quase meio caminho andado para estar rendido. Influencia-me, mas é claro que só depois de saborear é que posso de facto dizer de minha justiça.

E quanto aos e-books? Bem, o que muita gente apregoa, especialmente aqueles que criticam ferozmente tudo o que com e-books esteja relacionado, é que ler num e-reader nem sequer é ler como deve ser. Que se presta menos atenção, é mais fácil dispersar e ler o livro de forma mais superficial, e por aí adiante.

Pois bem, embora não concorde com o que o David Soares diz nesse link, nem com muita coisa que muita gente diz sobre e-books e e-readers, a verdade é que têm razão neste ponto: a experiência de leitura é radicalmente diferente. Agora que tenho lido com alguma regularidade no meu Kobo, digo sem problemas que tenho muita mais dificuldade em concentrar-me quando o faço do que quando tenho um livro nas mãos e lhe folheio as páginas.

No entanto não achei que as minhas leituras tenham sido mais superficiais. Tive momentos em que me dispersei mais e com mais facilidade, isso sim, mas li na mesma com a profundidade do costume.

Aquilo que eu respondo às críticas é que embora tenham alguma razão, e concorde que ler um e-book provavelmente nunca será a mesma coisa que ler um livro, acho que uma grande parte do problema é a falta de hábito. Posso dar um exemplo do que quero dizer, depois de anos e anos a ler praticamente só prosa, quando agarrei em peças de teatro tive que me habituar ao estilo. E mais recentemente o mesmo se passou com as BD's, ainda tive que ler algumas 2 e 3 vezes para aprender a não me focar só nos balõezinhos e a apreciar os pormenores dos desenhos.

Com os livros digitais passa-se o mesmo. Não estamos habituados a ler assim, e até nos habituarmos talvez não seja a melhor forma de agarrar num clássico de escrita difícil, mas não é preciso fugir.

Chego, por fim, à última coisa de que quero falar. Esta crónica acabou por fugir um bocado ao assunto inicial, mas enfim, entusiasmei-me. Aquilo de que eu vinha falar era do cuidado que se tem com os livros. Há quem praticamente só goste dum livro se ele já tiver passado por muitas mãos e tiver todo dobradinho, e há outras pessoas que só ficam felizes se só lerem livros novos.

Eu não sou nem tanto ao mar, nem tanto à terra, mas gosto que os meus livros estejam direitinhos. Vincar a lombada é pecado. Dobrar os cantos das páginas, sacrilégio. Escrever nos livros, heresia. Porquê? Não me perguntem. Gosto de os ter aprumadinhos. Se tiverem uma edição tão pipi que nem apeteça abrir, sou fã de ir em busca de outra, que os livros são para se abrirem, e mais do que uma vez, mas se estiverem tão lassos que os gatos os possam agarrar por uma ponta e levá-los por baixo da porta... Não obrigado.

Estejam à vontade para partilhar a vossa opinião sobre este assunto, de certeza que há por aí leitores de todas as raças: livros, só novos; antiguidades é que é fixe; vamos dobrar a lombada mais um bocadinho para isto ficar mesmo com aspecto; QUEM É QUE TOMOU NOTAS NO MEU LIVRO?!?!; de tudo um pouco. Eu cá distribuo calduços a quem me dá cabo das lombadas. Pelo menos.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Que as citações nos caiam em cima [37]


"Realidade ou desejo incerto, o amor é o elemento primitivo da actividade interior; é a causa, o fim e o resumo de todos os afectos humanos."


Eurico, o Presbítero
Alexandre Herculano

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Eurico, o Presbítero

Título: Eurico, o Presbítero
Autor: Alexandre Herculano


Opinião: A excelente escrita de Alexandre Herculano foi mesmo o que mais me agradou neste pequeno livro.

É que a história é apenas moderadamente interessante e está contada numa estrutura que me pareceu confusa, com cartas a alternarem com momentos de narração, sem se ligarem muito bem uns com os outros.

Depois há o problema do fervor religioso. Acho que um padre guerreiro é uma personagem extremamente interessante pela sua ambiguidade, e pelo seu conflito natural, mas o autor perdeu-se em aleluias e amens, e todas as personagens acabaram por ser diluídas.

Quer dizer, eu percebo que uma história destas, na altura em que se passa, e com o tipo de personagens que tem, só pode estar extremamente imbuída de fervor religioso. Mas passa-se o mesmo que se passou com a terceira parte da Divina Comédia: o que é de mais, enjoa.

No entanto, a personagem principal, o Eurico do título, ainda é o que está melhor caracterizado. A forma como as suas 2 facetas, o homem do clero e o guerreiro, se confrontam e complementam está bem feita, e foi do que mais em agradou.

Falta só acrescentar que volta e meia apareceram momentos agressivos e violentos que me surpreenderam e impressionaram: as várias batalhas, muito bem descritas, e a cena em que as monjas se safam de um ataque ao convento, e que foi, para mim, o momento alto do livro em termos descritivos e mestria literária.

Eurico, o Presbítero é assim um bom livro, que prima pela escrita, pela personagem principal e por ocasionais momentos bastante fortes e intensos.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Precipice (Lost Tribe of the Sith #1)

Título: Precipice
Autor: John Jackson Miller


Opinião: Ler livros dentro do universo de Star Wars é mais um passo para me embrenhar na floresta da geekiness, mas não há volta a dar: é uma coisa fixe. Encontrei parte desta colecção (6 de 8, se não estou em erro) completamente grátis, no site da Kobo, e nem tive que pensar duas vezes.

Pois bem, ainda acabei por ficar agradavelmente surpreendido com o livro. Não fazia a mínima ideia de como seria o tipo de história, nem o de escrita, nem nada. As capas eram badass, os títulos chamativos, e o nome da colecção deixou-me logo apanhado.

Suponho que estava à espera em algo mais na onda dos filmes, com porrada e intrigas a torto e a direito, os bons e os maus, em luta constante, e talvez uma autêntica force festival. Afinal, a force é extremamente apelativa, sendo algo entre poderes psíquicos e pura magia, e deve ser a componente mais fácil de explorar em todo o universo Star Wars.

Mas não. O começo é ligeiramente confuso, mas a história prossegue a um bom ritmo, embora o livro seja pequeno, e cria interesse, sem abusar dos clichés nem cair na tentação de seguir pelos caminhos mais fáceis.

Achei os Sith muito bem retratados, e foi bastante interessante ver as desconfianças e os jogos de poder que foram surgindo naturalmente, pela própria natureza dos Sith.

A escrita é simples e não tem nada de extraordinário, mas gostei de ver esta abordagem do autor, que superou as minhas expectativas.

domingo, 1 de setembro de 2013

Olá, bom dia!

Apresento-vos a forma mais parva que encontrei de exprimir que o tempo voa.
Vou saltar o início deste texto, e passar já para o cerne da questão: estou profundamente aborrecido. Dei por mim, nestas férias, pura e simplesmente assoberbado pela quantidade de coisas que tenho para fazer. Entre projectos em grupo, projectos pessoais, escritas e leituras afins, às tantas não sabia muito bem para onde me virar.

Ah, e já agora, estou de volta. E li umas poucas coisas, passarei o próximo mês muito provavelmente a publicar as opiniões dos livros, que ainda foram uns 8, mas ficam já a saber que li dezenas de contos, cujas opiniões se vão amontoar junto das outras de contos que tenho guardados, e que me vão ajudar em alturas mais ocupadas, nas quais vou ler menos.

Mas prometo falar de alguns por entre os livros, que encontrei alguns bastante interessantes e mal posso esperar para os partilhar.

Agora voltemos ao assunto principal: profundamente aborrecido. Além do que já mencionei assim, estou a notar que por mais organizado e motivado que eu seja, a maior parte dos meus planos pessoais é constantemente adiada, rejeitada, arquivada ou o raio que a parta.

Não, a sério, tenho coisas pensadas há anos, e que vou adiando e adiando e adiando... "É este Verão, vai ser, agarro nisto nas férias é sempre a andar!", mas claro que não, "Pronto, vou aproveitar este ano e procurar onde tenho estes textos e dar-lhes a volta e fazer isso!", mas obviamente que não.

Reparem bem que dei por mim, pela primeira vez desde que me lembre, a agarrar na minha lista de coisas a fazer e a pensar activamente "isto fica para depois" e "vou deixar isto para outra altura".

Juro que me doeu o coração. Mas é completamente impossível eu balançar meia dúzia de projectos a longo termo, com ideias de contos que quero desenvolver já imediatamente, e ideias de histórias maiores que quero começar a planear ontem.

Há um limite, e eu já atingi o meu há muito tempo, só que demorei um bom bocado a aperceber-me disso. E parece que gosto disto de falar destes meus "problemas" aqui no blog. Desvia-se um bocado do tema inicial da literatura e das opiniões, mas quer dizer, está tudo ligado.

Além do mais, se não o posso fazer no meu blog pessoal, onde raio é que o posso fazer?

Portanto, o plano é o seguinte: as publicações regulares estão mais do que garantidas para os próximos tempos; as mudanças que ando a prometer aqui no blog vão acontecer de forma gradual. Em vez de me dedicar uns dias a isso, vou pensando bem nisso e fazendo as coisas com tempo, aos poucos e poucos. Não se espantem se virem algo diferente, e não hesitem em queixarem-se, se acharem que é algo idiota. As coisas mais importantes eu mencionarei de alguma forma.

Quanto aos meus vários projectos... Bem, vou ter que me organizar, não é verdade? Mas há alguns que tenho a certeza que vão ter que avançar num futuro não muito distante, portanto mais cedo ou mais tarde vão ter novidades.

Até lá, sigam as opiniões, que valem a pena... Entre o incrível The Stand do Stephen King, os vários volumes de Walking Dead, o primeiro volume da Disney Big, e tantas outras coisas, não há por onde se aborrecerem!