sábado, 30 de novembro de 2013

Sugestões FF 2013

Ainda no rescaldo do Fórum Fantástico, e depois de até já ter sido apelidado de mentiroso com bastante veemência por um autor que admiro, venho fazer a minha parte de serviço público.

Ao longo do evento, como devem imaginar, foram várias as sugestões de livros, filmes, séries e jogos que foram aparecendo.

Como é óbvio, não consegui apanhar nem metade, mas como geek e eterno curioso que sou, lá estive de caderno na mão, a apontar o máximo possível.

Felizmente há as sugestões feitas durante a já tradicional sessão de... sugestões, com Artur Coelho, João Barreiros e João Campos, estão devidamente compiladas no blog deste último. Eu e o resto da comunidade agradecemos.

Mas houve mais, muito mais! Aviso já, no entanto, que é possível que me engane e deixe aqui outra coisa qualquer com o mesmo nome mas temática parecida. Avisem-me! E o mesmo é válido para o caso de terem alguma coisa a acrescentar, que se lembrem de ter ouvido e não apareça aqui.

Agora vamos lá. Além de vos dizer para passarem pelos deviantArt da Marta Patalão e do David Sequeira, que estiveram presentes no painel sobre ilustração fantástica, mostro-vos esta série, The Returned, com uma premissa original sobre pessoas que voltam dos mortos. Só não tenho é a certeza se foi falada no painel de ilustração, mas nas minhas notas está no mesmo sítio...

A partir daqui as minhas notas perdem toda e qualquer sequência lógica. As coisas dignas de serem apontadas começaram a ser disparadas a uma velocidade tal que é mais fácil perceber o Finnegans Wake do que as minhas notas.

Desde os filmes do Romero ao The Fly, de David Cronenberg, passando por Wes Craven, há filmes para todos os gostos. Bem, mais ou menos. Ainda houve tempo, provavelmente no painel do terror, para relembrar o Dracula e o Nosferatu originais, e falar de uma obra de spoken word semi obscura de David Soares, o Lisboa.

Em termos de autores, e isto sei que foi na sessão do Workshop de escrita, com o Luís Filipe Silva, o Rogério Ribeiro e o Ian McDonald, foram mencionados vários autores: Jack VanceRobert SilverbergUrsula K. Le Guin e Harlan Ellison. Ainda nesta sessão falou-se de Cloud Atlas, de David Mitchell, tanto o livro como o filme.

Por fim deixo-vos os livros mencionados na sessão de história da literatura fantástica portuguesa, com António de Macedo e Luís Filipe Silva. São todos antigos, e a maior parte bastente difíceis de encontrar. Mas ainda no outro dia vi O diabinho da mão furada a 5 euros, numa edição toda fancy...

  • Amadiz de Gala, Vasco Lobeira
  • Palmeirim de Inglaterra, Francisco de Morais
  • O diabinho da mão furada, António José da Silva
  • A noite no castelo, ... Castilho
  • Lisboa no ano 3000
  • Euro Novela, Miguel Vale de Almeida
  • A Ameaça Cósmica, Luís de Mesquita
  • Através do Espaço, Frederico Cruz
  • Viagem ao século XXX, Manuel S. Teixeira
  • Mensageiro do Espaço, Luís de Mesquita
  • Eles chegaram das estrelas, Fernando Melim
  • Não lhes faremos a vontade, Romeu de Melo

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A Fúria dos Reis (As Crónicas de Gelo e Fogo #3)

Título: A Fúria dos Reis
Autor: George R.R. Martin
Tradutor: Jorge Candeias


Opinião: Bem porreiro! O Tyrion é mais do que espectacular, e a história está a evoluir a um bom ritmo. Esta primeira parte é claramente preparatória, com os reis (sim, reiS) a movimentarem-se todos em direcção a um provável clímax gigantesco de batalhas sangrentas e com resultados e consequências muito provavelmente inesperados. O final deste volume já é bastante repentino!

O problema é que com o Martin a seguir tantas personagens, acontece o inevitável: personagens aborrecidas, como a Catelyn, têm mais tempo de antena do que outras mais interessantes, como Davos. Mas até senti a falta de mais alguns capítulos da Daenerys, uma personagem de que não gosto particularmente, mas cuja história parece estar a evoluir num caminho interessante... Só que com um capítulo a cada 200 páginas, é difícil de acompanhar.

E o worldbuilding é bom, muito bom. O mundo de Westeros vai-se desenrolado capítulo atrás de capítulo, bem construído, coerente, multifacetado e interessante. Também gosto de como o autor consegue ter várias frentes narrativas e manter o interesse em todas. A Patrulha a ir pelo Norte acima, as guerras palacianas em Porto Real, a serem triunfalmente ganhas e magistralmente contornadas pelo soberbo Tyrion, os reis, cada um no seu canto, a avançarem em direcção uns aos outros, e até caminhos mais subtis de conflitos de religiões, e a magia a sério a começar a aparecer, disfarçadamente. É uma excelente forma de a introduzir e mal posso esperar pelo próximo!

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

The Doll's House (Sandman #2)

Título: The Doll's House
Argumento: Neil Gaiman
Arte: Mike Dringenberg, Malcolm Jones III, Chris Bachalo, Michael Zulli, Steve Parkhouse

Sinopse: Rose Walker finds more than she bargained for in The Doll's House - long lost relatives, a serial killers convention and, ultimately, her true identity. The master of dreams attempts to unravel the mystery, unaware that the hand of another, far closer to home, is pulling the strings.

Opinião: Muito bom. Não achei tão fantástico como o Preludes & Nocturnes, mas gostei bastante de qualquer forma.

Morpheus é uma personagem absolutamente fascinante, bastante poderosa e que transmite muito bem esse mesmo poder. Acho difícil não se ficar fascinado pela sua intensidade.

É agradável ter um pequeno sneak peak ao resto da família dos Endless, bem como a alguns episódios do passado de Morpheus, que desvendam mais pedaços do seu carácter.

O prólogo, da rainha Nada, é um bom começo, e faz depois uma boa ligação com o conteúdo do livro.

Os companheiros de casa de Rose (Hal, Barbie and Ken, Chantal e Zelda, e Gilbert) são todos bastante curiosos. Jed, o irmão de Rose, está envolto em mistério desde o início.

A fúria de Morpheus é assustadora. Os quatro sonhos perdidos (Brute e Glob, The Corinthian e Fiddler's Green) também são um aspecto curioso do livro.

As imagens fortes são já uma imagem de marca e sempre bastante marcantes e visualmente impressionantes. O breve interlúdio em que Morpheus visita o mesmo tipo, que se recusa a morrer, de 100 em 100 anos, diz mais sobre a personagem e a história do que aquilo que se poderia pensar.

A cereal convention é um nice touch, e uma das partes mais violentas e perturbadores do livro, até porque é um bocado inesperada.

O despertar do vórtex, com os sonhos estranhos dos companheiros de casa de Rose a juntarem-se e a misturarem-se é fascinante e poderoso!

A parte final é de certa forma mais etérea e terra a terra. Ver a raiva fria de Morpheus dirigida a Desire... Caraças. Aí está uma coisa à frente da qual não me quero meter de certeza.

Um bom livro, muito bom, até, mas falta-lhe qualquer coisa para chegar ao nível do primeiro.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Que as citações nos caiam em cima [43]


"- Sois um homem muito afectado pela música?
- Reconheço nela o reflexo da perfeição divina. - Luís Quinn ergueu os braços para que os seus servidores lhe removessem a sobrepeliz de renda. - É muito semelhante à matemática, nesse aspecto. Tal como um número, a música vale por si e não representa nenhuma realidade."

Brasil
Ian McDonald

sábado, 23 de novembro de 2013

Livros de quando era puto

Antes de começar a dizer o que quer que seja, preciso que tenham em consideração o facto de eu ter sido puto há pouco mais de meia dúzia de anos. Portanto não esperam livros do tempo em que não havia telemóveis, lamento desapontar-vos...

No fundo podem encarar esta situação como quem encara aquelas biografias "escritas" pelas "celebridades" de vinte e poucos anos. Descrença, uma risada e "oh, you amuse me, fool". Ainda mal tenho idade para me considerar adulto, e já estou a fazer uma coisa destas!

Eu cá concordo com vocês. Mas a verdade é que há uma série de livros que me parecem ter sido comprados quando ainda andava de fraldas (exagero do ano), e aos quais tenho sentido vontade de regressar.

Como podem comprovar pelas minhas temporadas de Harry Potter e das Crónicas de Allaryia. Os da autora britânica estão muito na moda, é certo, e são os preferidos de muita gente, mas eu nem me lembro bem de quando recebi o primeiro. Mas lembro-me de o ler em duas tardes, no infantário, o que significa que estava na primária!

Sabem há quanto tempo estive na primária? Entrei para o primeiro ano em 1999. No milénio passado! Ou seja, podemos contar pelo menos 10 anos desde que li Harry Potter e a Pedra Filosofal pela primeira vez. Mal sabia eu, na altura, que ia ser uma saga que me iria acompanhar durante tanto tempo, e que ainda me ia encantar quando já tivesse idade para ter juízo.

Acho que foi uma boa escolha de leitura. Provavelmente um dos primeiros "livros grandes" que li, e quase de certeza o primeiro livro de Fantástico em que agarrei. Introduziu-me logo em dois mundos diferentes. Três, se contarmos com Hogwarts e companhia. E a re-leitura mostrou-me uma saga não tão juvenil quanto isso, mais na recta final, e com uma qualidade excepcional.

Defeitos, também, é claro, e encontrei muitos mais da última vez que li os livros, mas consegui facilmente passar por cima deles. Alguns são bastante estranhos, e há mesmo defeitos a nível da história (sim, estou a falar do facto de o feiticeiro mais poderoso de sempre ter que confiar no feiticeiro mais inútil de sempre para derrotar o feiticeiro mais maléfico de sempre), mas são coisas que se superam. Ou que eu, pelo menos, superei, mas possivelmente por estar semi-hipnotizado a reconhecer palavras lidas há anos e anos.

Depois existem As Crónicas de Allaryia, de Filipe Faria. Uma monstruosa saga de high fantasy portuguesa escrita por Filipe Faria. O segundo livro, Os Filhos do Flagelo, foi-me oferecido, não sei quando, mas era novo. E deixei-o estacionado nas estantes quase dois anos antes de lhe pegar, e só depois de ter encontrado e lido o primeiro, A Manopla de Karasthan.

Pensam que estes livros são bons? A saga em geral é boa, e tem alguns livros que achei bastante bons, mas em sete, num total de quase 3000 páginas, há muito por onde falhar. Basta olhar para o primeiro livro. Se quando o li pela primeira vez fiquei absolutamente deliciado, a re-leitura disse-me que eu em puto era parvo. É um livro mau! Terrível! Pouco mais do que uma adaptação de um guião de Dungeons & Dragons!

Mas algumas das personagens ficaram-me para sempre na memória (como esquecer Worick?!) e o vilão, Seltor, é dos melhores vilões que já vi na vida. E mesmo após alguns anos, com centenas e centenas de outros livros lidos pelo meio, ainda me ri com as peripécias e fiquei interessado no que se ia passar. Chamem-lhe nostalgia precoce ou cegueira selectiva, o que quiserem, mas que aconteceu, aconteceu. Li o primeiro a um ritmo lento, depois despachei o segundo, o terceiro e por aí fora, até um final GLORIO... Não, o final foi fraquito. Os últimos livros são bem porreiros, mas o final nem por isso.

Não interessa! É uma saga que acarinho e que defendo com unhas e dentes. Sou o primeiro a reconhecer-lhe os defeitos, mas acho que é preciso dar-lhe uma oportunidade. O autor mostra claramente algum potencial, e tenho boas perspectivas para os seus livros mais recentes O Perraultimato e O Andersenal. Só sei que o primeiro tinha ar de livro infantil, abri ao calhas e li umas linhas sobre alguém a puxar as tripas de outro alguém para fora.

De qualquer forma é uma saga que conta como pertencendo à minha infância. E se estão espantados por ainda só ter falado de sagas, a explicação é fácil: cá por casa sempre houve muitas colecções, que os meus pais faziam quase todas as que apareciam nos jornais e revistas e sei lá. Sempre foi uma coisa muito natural para mim, ter vários volumes. Tenho para mim que é por isso que encaro sagas e colecções com tão bons olhos.


Nunca me restringi foi a tipos de livros. Pronto, tudo bem, nunca confiei grande coisa na poesia. E li pouco teatro, mas não foi por querer, tenho muito interesse. Não me julguem! O que eu queria dizer é que não lia só prosa, também me metia nas BD's. Nomeadamente nos do costume: Tio Patinhas, Pato Donald, Mickey (embora sempre tenha sido mais fã dos patos), Pateta, Professor Pardal e por aí fora.


Isto inclui uma descoberta que fiz de forma quase acidental e que acabei por ler tanta vez que, coitado, está num estado desgraçado: A Saga do Tio Patinhas. Parte de uma colecção (que acho que tenho toda), este é dos melhores livros de banda desenhada que já li. E isso inclui leituras mais recentes, como Watchmen, V for Vendetta, Sandman... Eu nem sabia que a personagem do Tio Patinhas podia ser tão interessante, mas as histórias recolhidas neste livro dão-lhe um passado interessante e que justificam claramente o pato avarento mas de coração mole que todos conhecemos.

Muito, mas muito bom mesmo, e se já não o leio há uns bons tempos, tal acontecimento não há-de estar muito longe. Tal como no caso dos próximos livros que vou mencionar e que fazem parte do meu tesouro literário pessoal.

Falo de Dragonball. Toda a gente sabe o que é. Algumas pessoas talvez lhe chamem Son Goku, ou pensem que todas as personagens se chamam Dragonball ou, ainda, que isso é uma série de televisão. Mas os livros existem e são fantásticos. Vi no outro dia que fiz a colecção há uns doze anos, ou coisa que o valha. Tendo em conta que tenho vinte, isso é muito tempo.

E mal posso esperar para os reler! São absolutamente fantásticos! Super palermas, super dramáticos, com altos e baixos mas sempre hilariantes e emocionantes. E nada pode ser melhor do que lembrar-me de um Vegeta a chamar CACHALOOOTE ao Son Goku, na versão portuguesa, por razões que me escapam. A minha teoria até hoje é que era o mais parecido com Kakarot (o nome certo) que encontraram, mas a série estava recheada de momentos desses, autênticas pérolas de tradução.

Enfim, é uma saga inocente, brincalhona, muito bem feita e que no fim do dia conta uma história como deve ser, muito bem contada, algumas partes melhores que outra, mas sem nunca desapontar. Já para não falar das inúmeras personagens e momentos absolutamente memoráveis!

Regressando a livros-livros, mas sem deixar o meu tesouro pessoal, apresento-vos a colecção que mais me orgulho de ter, de um autor que me maravilhou e cujos livros esperei ansiosamente que me chegassem ao correio.


Júlio Verne. Edições de luxo. Cinquenta e um livros, com as ilustrações originais, capas fantásticas e edições fabulosas. Eu não me canso de elogiar estes livros. Babo-me um pouco sempre que olho para eles.

Sei que na altura, há uma catrefada de anos, li os primeiros dez seguidos, ou lá o que foi, e que nesse entretanto me fartei, ou eles começaram a chegar mais depressa do que eu os conseguia ler, nem sei, mas estive sem pegar neles durante alguns anos, até que decidi voltar a ler e li mais uns poucos, intercalados com outras coisas. E agora já há muito tempo que não o faço.

Vocês nem imaginam as ânsias com que ando de ler Júlio Verne. Não há muito tempo até li dois livros dele, mas lê-lo nesta colecção... Lembro-me tão bem de pousar sempre A Volta ao Mundo em Oitenta Dias como se fosse a coisa mais preciosa e frágil do mundo, e de me deitar na cama e mergulhar no As Vinte Mil Léguas Submarinas, de ir aos correios e ter um caixote para mim, com LIVROS lá dentro...

Isto qualquer dia vai ter que ser, é ordená-los todos por ordem cronológica e toca a ir agarrando num de vez em quando. Vai ser lindo, compreendem, lindo!

E por hoje é tudo. Há mais livros, mas nem me lembro assim de repente de muito mais coisas sem ir espreitar as minhas estantes, e isso dá trabalho. Fiquemos por aqui, e da próxima vez há mais.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Brasil

Título: Brasil
Autor: Ian McDonald
Tradutora: Leonor Bizarro Marques

Sinopse: São Paulo 2032

Uma cidade com um coração de néon.
Uma cidade com incontáveis milhões de habitantes.
Uma cidade com fortunas de cortar a respiração e uma pobreza mortificante.
Uma cidade protegida por anjos onde a vigilância é constante e cada movimento é observado, seja o declínio, seja o fluxo do dinheiro ou da vida.
Uma cidade em que um ladrão poderia sair da favela e ficar encurralado no mundo estonteante e letal da computação quântica ilegal.

Rio de Janeiro 2006

Uma cidade sustentada por reality shows.
Uma cidade de gente que vê e que é vista.
Uma cidade onde uma ambiciosa produtora de televisão poderia descobrir o seu próximo grande êxito, perdendo a vida e a alma.

Brasil 1732

Um país de uma beleza paradisíaca.
Um país de ouro e de morte.
Um país de loucura e de religião.
Um país onde um padre jesuíta enviado no encalço de um padre apóstata, encontrará a fé e a realidade levadas ao limite.

Opinião: A decisão de ler este livro foi completamente influenciada pelo facto de o autor vir ao Fórum Fantástico. Tinha-o aqui na estante desde a Feira do Livro deste ano, e aproveitei o balanço.

À partida parecia-me bastante interessante, e não podia ser mais terrivelmente adequado: um livro que envolve mecânica quântica no semestre em que tenho uma cadeira de mecânica quântica. Curioso.

Mas a verdade é que não me conseguiu captar muito a atenção. Dou-lhe, no entanto, o mérito de ser o primeiro livro que me lembro que passa uma sensação completamente caótica, de forma propositada, e que faz com que isso funcione a favor da história. É uma sensação estranha, mas boa, muito boa. Pergunto-me se os outros livros do autor têm o mesmo estilo.

Acho é que o facto de se acompanhar as 3 narrativas, sem se encontrar qualquer tipo de ligação entre elas durante muito tempo, fez com que não me sentisse propriamente cativado por nenhuma. É verdade que se vão notando alguns pontos de contacto, mas alguns nem sequer chegam a ser explicados.

Por aí, acho que o livro perdeu muito. E o sentimento de caos acaba por levar a uma confusão desnecessária, que não me agradou nadinha. Acabei o livro com uma sensação de "então e agora? o fim?". Na prática o livro teve 3 fins, um para cada linha narrativa, mas nenhum deles me soube a fim.

As personagens são interessantes, mas acabam por não ficar tão bem caracterizadas como poderia ter acontecido. Fia, Edson e as suas personalidades, Luís Quinn, Falcon, Zemba, Marcelina... Cada um com os seus dilemas e as suas vidas, mas nenhum que se destaque propriamente.

Em suma, um livro mediano.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Saga #1

Título: Saga #1
Argumento: Brian K. Vaughan
Arte: Fiona Staples

Sinopse: Saga is the sweeping tale of one young family fighting to find their place in the universe. When two soldiers from opposite sides of a never-ending galactic war fall in love, they risk everything to bring a fragile new life into a dagenrous old world. Fantasy and science fiction are wed like never before in the first volume of this sexy, subversive ongoing epic.

Opinião: Brilhante. Um mundo estranho, mas bem construído, repleto de personagens estranhas, mas bem construídas. Os desenhos são bons e há frequentes imagens bastante fortes que captam de imediato a atenção. O mesmo acontece com as personagens, cada uma mais freaky que a outra.

Desde os protagonistas, Alana e Marko, à sua adorável filha Hazel, passando pela realeza Robot, com cabeças de televisão, e pelos freelancers: The Will (mais o Lying Cat, que é uma ideia fenomenal) e The Stalk. Brutal e de certa forma sensual de uma ponta à outra, este primeiro volume promete bastante e não desilude, com a sua história viciante bem contada, inserida num mundo fantástico bem trabalhado e recheado de personagens interessantes.

A história de um casal que apenas quer viver descansado, intercalada pela história de uma grande batalha galáctica, em que parece não haver bons nem maus, apenas inimigos, é contada de uma forma bastante interessante e está pejada de pormenores fantásticos em todos os sentidos possíveis. Os fantasmas de Cleave, a realeza robótica-televisiva, os tipos com cornos e os tipos com asas, o outsourcing da guerra... O contraste e a batalha entre magia e tecnologia... Muito, muito bom!

Foi um daqueles livros que acabei de ler e me deu aquela fantástica sensação de deleite, curiosidade e ligeiro mindfuck. Comprei-o um bocado às cegas, mal tinha ouvido falar dele, mas não me arrependo minimamente. Para terem alguma noção, a primeira coisa que fiz assim que o acabei de ler, foi lê-lo outra vez. E acho que quando tiver o segundo volume nas mãos, antes de o ler, leio este outra vez. Só porque é fixe.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Fórum Fantástico 2013

Sabem o que é ter um fim de semana em grande? Eu sei, e de que maneira. Vénias ao Fórum Fantástico deste ano, vénias!

Peço desde já desculpa pelo tamanho deste post, vou tentar que não aborreça. E qualquer semelhança entre mim e uma miúda histérica é pura coincidência, eu não fiquei assim depois de ter MONTANHAS de livros assinados (já lá chego).

Consegui ir os 3 dias, mas não a tudo, infelizmente. Foi mesmo uma pena, porque tive que falhar algumas coisas bastante interessantes, e às quais queria ir. Mas vamos lá. Escusado será dizer que o incansável Rogério Ribeiro estava em todos os painéis e em todas as sessões, a moderar, a discursar e a ser invariavelmente extraordinário, um homem que parece que não se cansa e que demonstra um amor à camisola tão grande que me sinto envergonhado das minhas tentativas de fazer coisas.

Sexta-feira, 15/11/2013

Isto começa logo mal, porque não consegui ir à sessão de apresentação dos Prémios Adamastor do Fantástico, que prometem premiar o Fantástico em Portugal, em várias das suas vertentes, com carácter bianual, e da iniciativa Livros da Utopia, com o objectivo de incentivar a leitura nos mais novos, a escrita, despertar a curiosidade científica, dar a conhecer o Fantástico e mais uma série de coisas que podem ver no site do projecto. Ambas as iniciativas me parecem bastante promissoras e irei segui-las atentamente, sem dúvida!

Das sessões a que fui, achei todas muito boas, em particular as Conversas de Horror, com David Soares, António Monteiro, Pedro Santasmarinas e José Pedro Lopes. O escritor, o académico e os realizadores, reunidos numa conversa semi-informal, marcada pelo tom algo agressivo do David Soares, que não esteve nos seus melhores momentos de argumentação, mas que teve também momentos bastante interessantes, como quando falou da diferença entre horror (nojo, repulsa) e o terror (no sentido de ficar assustado), num diálogo bastante interessante com António Monteiro.

David Soares, António Monteiro, Pedro Santasmarinas,
José Pedro Lopes e Rogério Ribeiro
Os dois realizadores falaram um pouco das suas curtas de horror exibidas minutos antes, e com as quais concorreram ao projecto ABC's of Death 2. M is for Macho e M is for Mail não são espectaculares, mas têm a vantagem de me terem surpreendido: nunca tinha visto um zombie a fazer uma placagem, nem um espírito vingativo a começar a matança por trincar a genitália da vítima.

A conversa evoluiu bastante bem, com alguma participação do público presente, e permitiu ouvir opiniões como "Portugal tem demasiado Sol" para ter uma tradição de terror e horror, ou que simplesmente não temos muito essa tradição.

Mas antes disto fui a 2 outras sessões: a primeira foi a sessão de videojogos, interessante, com o João Campos e o Ricardo Correia, este último vestido à Tenth Doctor, com sonic screwdiver e tudo (filho da mãe!). Ambos falaram sobre os jogos que andam aí a sair e a surpreender, como a aventura point-and-click de Walking Dead, ou o hilariante Don't Starve e um jogo inesperado em que somos um agente da fronteira e temos que decidir quem passa e quem fica. Ah, e pelos vistos o visual retro está a voltar em força!

João Campos e Ricardo Correia
De seguida uma bastante engraçada sobre ilustração fantástica, com a Marta Patalão e o David Sequeira, a primeira nervosa como tudo, o segundo bastante relaxado e engraçado, ambos a mostrarem uma arte muito boa e projectos interessantes, especialmente a Marta Patalão, com o seu futuro webcomic de steampunk.

David Sequeira, Marta Patalão e Rogério Ribeiro
Ainda neste dia aproveitei para experimentar a secção de jogos, que tinha um tipo da 1up Gaming Lounge extraordinariamente simpático e com uma barba badass.

Sábado, 16/11/2013

Este dia sim. Valeu a pena que foi uma coisa parva. Começou cedinho com uma sessão de Workshop de Escrita da Trëma, com Ian McDonald, autor de Brasil, River of Gods e outros tantos. Luís Filipe Silva e Rogério Ribeiro estavam nos flancos, mais a ouvir o autor do que outra coisa, sempre a lançar algumas perguntas, mas o desgraçado do homem só precisava de um ligeiro arranque e nunca mais se calava. E dizia coisas interessantes!

Foi uma sessão bem dirigida, com os dois homens da casa a darem bastante espaço ao autor de Brasil para discorrer à vontade sobre escrita, e só foi pena que a audiência diminuída, que contava basicamente com os membros da Oficina de Escrita. Quem não foi é que fica a perder, que não ouviu pérolas como "writing is like a disease", e como é importante fazer perguntas e começar bem novinho. Ou que existem duas fases, antes de se começar a escrever: primeiro pensa-se "eu consigo fazer isto" e depois começa-se a pensar "eu consigo fazer isto melhor" e é aí que começa o descalabro.

Ian McDonald
Gostei também da visão bastante saudável do autor sobre plágio/roubar ideias/pedir coisas emprestadas: "we steal stuff all the time", "Oscar Wilde said: talent borrows, genius steals", "we borrow ideas and respond to the same things". Esta última citação deixou-me a pensar em como tudo fazia sentido. É claro que há vagas de livros sobre a mesma coisa, ao mesmo tempo, os autores estão apenas a responder aos mesmos estímulos que os inspiram a fazer coisas parecidas, seja porque motivo for. Não é necessariamente plágio, enfim, essas coisas.

Mas a pouca gente que lá andava permitiu um almoço em conjunto bastante engraçado, com conversa mais pessoal com o autor e convívio entre os membros da Oficina e companhia, o que é sempre agradável. O Ian McDonald demonstrou-se sempre muito simpático e fez-me decidir a procurar mais livros dele, sacana do homem mais o seu humor contagiante!

De seguida foi o lançamento do segundo número da Lusitânia, que já só apanhei no fim, mas o pessoal responsável pelo menos pareceu-me bastante porreiro e aberto a críticas, o que é muito bom.

O painel seguinte é que é daqueles que vale a pena ver e rever. Luís Filipe Silva e António de Macedo juntam-se para falarem da história da FC portuguesa (sim, ela existe!), e do Fantástico lusitano em geral. Macedo começa por falar de um proto-fantástico, pela altura dos séculos XII e XIII, a que chamou maravilhoso medieval. A partir daí foi vir por aí acima, até o Luís Filipe Silva falar de livros de FC, bem portuguesa, e que ninguém sabe que existem, basicamente.
António de Macedo e Luís Filipe Silva
O conhecimento destes 2 autores/académicos/eruditos/entusiastas é divinal, e é um autêntico espectáculo ficar a ouvi-los a falar do assunto, ainda que o Rogério Ribeiro lhes vá dando na cabeça por estarem a demorar demasiado tempo. Mas hey, valeu a pena!


A próxima sessão foi a apresentação de Brasil, com Ian McDonald, ainda mais alegre, mais uma vez na ribalta. A sessão incluiu um plane of doom, dobrado pelo autor para obrigar as pessoas a fazer perguntas, o que foi genial!

Luís Filipe Silva, Ian McDonald e Rogério Ribeiro
Depois, winepunk, um projecto curioso, que começa com uma antologia (de uma série planeada de 3) que escreve uma história alternativa sobre uma Monarquia do Norte, em que o Vinho do Porto é usado como combustível, e que traz aos holofotes o estilo gótico do Porto. E como não podia deixar de passar, o João Barreiros participa e provou ser o enfant terrible do Fantástico em Portugal, pois pelos vistos andou a enviar mails aos outros autores, à revelia das editoras (Jo Lima e AMP Rodriguez, que tinham a participação especial do Rogério Ribeiro), para lhes moldar os contos!

Jo Lima, AMP Rodriguez e Rogério Ribeiro
Para terminar o dia em pleno, autógrafos dos participantes na antologia, e de Ian McDonald, que se mostrou muito simpático e divertido, o que quer dizer que se riu da minha piada sobre o livro dele.

Saldo no final deste dia, além de todas as experiências? Cá fica:

 



Domingo, 17/11/2013

A primeira sessão do dia, já depois de almoço, foi a Contos Além Fronteiras, com João Ventura, João Rogaciano, João Ramalho Santos e Inês Montenegro, a partilharem as suas experiências a publicarem foram de Portugal.

Surpreendentemente, é mais fácil do que parece. O terceiro João tem contos publicados na Nature, que a revista inclusivamente pagou! A única coisa que fez foi escrever, enviar para lá, ser rejeitado uma data de vezes e ter 3 contos publicados. Eram bons, foram publicados, ponto final, o ele ser português ou não, não influenciou.

E no Brasil normalmente não abrasileiram as coisas! Sempre pensei que sim, confesso, mas pelos vistos limitam-se muitas vezes a trocar algumas palavras, como cave por porão, por não saberem o que é a primeira, de todo. Ou isso ou incluem notas de rodapé.

João Ventura, João Ramalho Santos, Inês Montenegro,
João Rogaciano e Rogério Ribeiro
Foi uma conversa interessante onde se chegou à conclusão de que lá fora há muito trabalho de editing, com os editores e responsáveis a malharem nos contos que são enviados, dizendo que não gostam ou que não aceitam por este motivo e por aquele, o que permite aos autores melhorarem o texto e tentarem enviar outra vez, uma prática que só agora começa a aparecer por cá, e de forma muito escassa, aparentemente.

Depois a fantástica e já icónica sessão de sugestões, com o João Barreiros, o João Campos e o Artur Coelho, em que se falaram de jogos, livros, filmes, tudo dentro do Fantástico, normalmente mais para a FC. Esta sessão é praticamente dominada por Barreiros, que mesmo assim consegue não eclipsar os outros dois intervenientes, dando-lhes espaços, mas o seu estilo assertivo, ácido e honestamente hilariante é mais do que marcante. O homem parece uma criancinha algo macabra, felicíssimo a mostrar os livros e a falar deste e daquele e a discorrer sobre quanto sangue e entranhas os livros têm. E conhece tudo, é ridículo.
Artur Coelho, João Barreiros, GLaDOS e João Campos
No início houve ainda espaço para fazer uma homenagem a alguns dos muitos autores de FC que faleceram ao longo deste último ano, e que parece que alguém anda a fazer alguma razia bastante específica.

O último painel a que fui foi também o mais agressivo. Contou com a presença de Vasco Rosa e Diana Lima, responsáveis pelo projecto Sangue Frio, Nuno Bernardo, do Collider e David Rebordão do recente RPG.

Foi pena a forma como os dois últimos praticamente caíram em cima dos dois primeiros, dois jovens esperançosos e sonhadores, que apenas querem ir para a frente com o seu projecto e fazer algo que os satisfaça e de que possam ter orgulho. O debate ficou interessante, é verdade, mas muito difícil de moderar, com algumas trocas de galhardetes desnecessárias, e atitudes completamente dispensáveis. Só tinha pena do Rogério Ribeiro, que já não sabia bem o que havia de fazer!

E para acabar mesmo o dia em beleza, ainda consegui mais umas coisinhas:





Bem, no geral foi um Fórum Fantástico muito, muito bom, a organização está mais do que de parabéns, especialmente o Rogério Ribeiro que, como já devem ter reparado, é quem anda lá para trás e para a frente, a moderar sessões, a pôr as pessoas na linha, não me canso de dizer isto, e já o tinha achado em anos anteriores, mas o homem faz ali um trabalho excepcional e já tive ocasião, mesmo antes de me vir embora, de lhe dizer o quanto gostei do evento este ano.

Depois há uma coisa que é boa e é má: toda a gente conhece toda praticamente toda a gente, neste meio. Se por um lado isso é mau, porque pode dificultar a entrada de alguém de fora para o "grupinho", por outro lado faz com que as sessões sejam normalmente muito boas sem grande dificuldade, porque a sensação que se tem é a de estarmos todos na sala de estar do Rogério, que está felicíssimo por estar rodeado de amigos e de cromos como ele, e que apenas quer conversar sobre alguns dos assuntos de que mais gosta: o fantástico nas suas várias vertentes, a escrita, a leitura, etc... Por esse lado, é muito bom, e acho que vale muito a pena.

E agora espero que percebam uma coisa. Eu tive livros assinados pelo Luís Filipe Silva, pelo João Barreiros, pelo António de Macedo, pelo João Ventura e pelo Ian McDonald. Entre estes nomes estão alguns dos autores que mais aprecio, portanto compreendem a minha felicidade. Ainda consegui conversar com alguns deles, e são sempre muito simpáticos, o que é extraordinário. E eu ali, a parecer uma adolescente hormonal aos saltos, a pedir autógrafos de um lado para o outro. É que antes de ser espectador, escritor muito amador, ou participante na Oficina de Escrita, sou um fã da maior parte destas pessoas todas, e é uma grande honra e felicidade ter a oportunidade de falar com eles, expressar pessoalmente a minha admiração e ter livros assinados.

Uma experiência sem dúvida a repetir, e que espero que continue com esta qualidade acima da média. A afluência é que esteve de tal maneira que acho que mais ano menos ano a Orlando Ribeiro deixa de ser suficiente!

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Colheita de Assassinos

Título: Colheita de Assassinos
Autor: Scott Phillips
Tradutora: Margarida Viegas

Opinião: O livro começa logo mal: o título não tem absolutamente nada a ver com nada. O original The Ice Harvest, embora não seja perfeito, é infinitamente mais adequado.

Já o livro em sim, pronto, é mediano. Mas tem o bónus de ter um final espectacular! Quase poético. Garantidamente surpreendente.

Colheita de Assassinos é um livro que se lê muito rápido, com as suas 200 e tal páginas a deslizar que é uma maravilha. A escrita fluida e típica dos thrillers ajuda bastante, é verdade, mas acho que a própria história se desenrola a um ritmo bastante acelerado, motivando a leitura.

Tem personagens bem construídas, embora pareça que só existam pessoas implacáveis e corruptas, o que, pensando bem nisso, talvez não seja assim tão falso quanto isso, mas pronto.

Entre strippers, advogados corruptos, empresários corruptos, bebedolas, universitários excitados, e algumas outras personagens, a intriga em torno de um esquema de droga que deu muito dinheiro passa quase ao lado. Não é propriamente interessante.

Já a forma como a história está contada é interessante, mas acho que se perde demasiado com o background, sem acrescentar nada de relevante ao enredo, passando-se assim algum tempo sem que aconteça nada de especial, o que quebra um pouco o ritmo.

Mesmo assim a leitura não deixa de ser rápida e ligeiramente viciante. Os capítulos bastante curtos ajudam. Os momentos engraçados são apenas mais um bónus. Num mundo cruel, com personagens corruptas e traiçoeiras a movimentarem-se num meio cruel, tudo sempre muito agressivo e implacável, garanto-vos que há espaço mais do que suficiente para umas belas dumas situações engraçadíssimas.

Portanto, sem ser um livro propriamente marcante, e sem ficar com uma vontade extrema de ir a correr arranjar mais obras do autor, esta foi uma boa leitura.

sábado, 16 de novembro de 2013

Imor(t)al

Ando há uns tempos a matutar no assunto da imortalidade. Parece-me que em tudo o que já li e vi, é algo sempre associado a desgraças, maldições e pessoas desagradáveis.

A minha pergunta é porquê?

Numa pesquisa rápida, descobri que a página da Wikipédia sobre a imortalidade na ficção é deveras interessante, mas não me disse praticamente nada de novo.

Ponto número um: 95% das pessoas (ou criaturas) imortais são completos idiotas. Desagradáveis. No Hitchiker's Guide to the Galaxy, do Douglas Adams, há um tipo imortal que decide insultar todas as criaturas no Universo, só para passar o tempo, por exemplo.

E já nem vale a pena falar de vampiros e outras criaturas sobrenaturais imortais, pois não? Todos uns paspalhos.

Ponto número dois: volta e meia, a imortalidade é associada a alguma espécie de maldição, ou parecido. Nos filmes da saga Highlander (precisava de uma desculpa para pôr ali o Sean Connery naqueles preparos) os imortais têm que andar à porrada até só sobrar um. E são vários os exemplos de ficção em que a imortalidade é atirada às pessoas como uma maldição, do estilo "fizeste asneira, então agora toma lá, vais viver para sempre, ver toda a gente a morrer, o mundo a mudar e tu sempre com esse peso de viveres e viveres e viveres!".

Ponto número três: mesmo quando a imortalidade não é uma maldição, é normalmente encarada como uma maldição. Aquela noção de ver todas as pessoas à volta a morrer, da eterna solidão, do eterno aborrecimento...  De uma forma ou de outra, acho que praticamente todas as obras de ficção em que a imortalidade é trazida à baila, esta perspectiva é tida em conta.

Mas porquê? Afinal, passamos toda a nossa vida a evitar a morte, porquê encarar a evasiva definitiva como algo mau?

A minha teoria é que a resposta provavelmente se prende com o facto de a morte ser algo natural, inerente à nossa condição enquanto seres humanos. Vocês sabem o resto do palavreado filosófico e metafísico. O que interessa é que tendo isso em conta, a imortalidade surge como algo que não é natural. Logo, combate-se, ou melhor, desconfia-se e não se aprova.

É por isso que as criaturas sobrenaturais são todas imortais: a imortalidade é característica dos seres maléficos. E é por isso que alguém imortal raramente acaba bem. Seja confinado e condenado a uma eternidade a enlouquecer lentamente, seja a morrer às mãos do feiticeiro mais inútil de sempre, só porque se acabaram os Horcruxes, seja pelo que for, imortalidade leva a desgraça.

Parece-me um assunto bastante curioso, e imagino que já exista muita coisa escrita sobre isto. Tenho que investigar, mas no entretanto, o que é que acham?

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Liga da Justiça: Terra Dois (Super-Heróis DC Comics #1)

Título: Liga da Justiça: Terra Dois

Argumento: Grant Morrison
Desenho: Frank Quitely e Ed McGuinness
Cores: Laura DePuy, Wildstorm FX e Dave McCaig
Arte-final: Dexter Vines
Tradutor: Pedro Miranda

Sinopse: Eles são os mais poderosos super-vilões que o mundo já conheceu: Ultra-Homem, Coruja, Super-Mulher, Johnny Quick e Anel de Poder - o Sindicato do Crime da Amérika! Nunca ninguém conseguiu ameaçar o reino de corrupção global que controlam... até à chegada duma equipa de super-heróis que parecem ser o reflexo distorcido da sua imagem, vindos dum universo paralelo perverso - a Terra 2! Serão eles capazes de derrotar esta "Liga da Justiça", e assim evitar que o Mal perfeito e estável do seu mundo caia, vítima da tirania da Liberdade, da Lei e do Bem?

Opinião: Antes de começar de facto a minha opinião sobre este livro, queria só dizer que acho que a noção de "introdução" ainda escapa a muita gente. Neste livro há uma. De José Hartvig de Freitas. Uma introdução que eu comecei a ler, contentíssimo, até que cheguei a um parágrafo bastante especial: naquelas linhas, foi-me contada TODA a história do que eu ia ler a seguir.

Hum... O que raio se passou? Que pessoa é que escreve uma introdução em que dedica um parágrafo a contar TODO o enredo? Que editor, ou seja lá o que for, é que deixa passar isso para um livro que vai publicar? É que nem sei! Nem sei!

Mas passemos a coisas interessantes. Logo uma das primeiras cenas é uma nave espacial a despenhar-se, de onde sai um Luthor com uma armadura de aspecto perigoso, e que diz uma das primeiras linhas de diálogo mais badass de sempre: "Tu és humana. Eu sou Luthor. Agora... Onde é que posso encontrar o pessoal dos super poderes?"

Fantástico, absolutamente fantástico.

A história do livro tem um Luthor bonzinho, de um mundo alternativo, a visitar o nosso, para pedir ajuda à Liga da Justiça para derrotar o Sindicato do Crime, uma Liga da Justiça maléfica.

É uma história com potencial que teve uma grande importância na altura, por causa da história dos universos paralelos, que permite aos argumentistas resolverem problemas narrativos, fazerem reboots e companhia limitada, sem qualquer tipo de problemas. Como costuma dizer um amigo meu "a DC, quando tem alguma história que corre mal, ou quando alguém morre, ou assim, BAM, universo paralelo, problem solved".

Bem, é um bocado isso. Ou parece, a mim que não acompanho os comics.

Mas confesso que fiquei desapontado com esta história. Não sei se é por não me conseguir situar numa mentalidade em que isto é completamente inovador, mas o argumento pareceu-me demasiado simples. Quase infantil.

Talvez tenha essa ideia em parte por causa de alguns pormenores que não têm nada a ver com a história, mas com a mitologia da DC em geral.

Por exemplo, foi a primeira vez que li uma BD com um Lanterna Verde em acção, e embora tenha momentos bons, como usar macacos voadores, à là Oz (a bruxa era verde e tudo!), acho sempre que aquele anel é completamente idiota. Quer dizer, o super poder. Podem criar o que lhes apetecer, com a força de vontade. Um bocadinho overpowered, não? É como o Super-Homem, que é praticamente um deus entre mortais.

E depois, claro, têm que ter algum tipo de fraqueza ridícula. O Super-Homem tem os pedaços do seu planeta natal, e o Lanterna Verde tem... amarelo. A sério. A fraqueza dele é o amarelo. Não consegue fazer nada a coisas amarelas, e pode ser derrotado se alguém lhe despejar um balde de tinta amarela em cima, porque ele fica sem poderes. Nem sei o que dizer.

Isto foi tudo relativamente à primeira história, mas a segunda também é interessante. Tem até um enredo mais interessante, ainda que seja bastante confusa e comece, literalmente, a meio da acção, sem que se explique nada, o que talvez seja por causa de falta de contexto de alguns números atrás, ou algo do género.

Nem vou comentar é a forma aleatória como tudo acontece. No fim não se percebe grande coisa, mas talvez seja culpa da tal falta de contexto. Mas hey, há uma equipa diferente, uma Liga da Justiça africana, pelo que percebi, bastante original e interessante. Gostava de saber mais.

No fim, o livro fica a saber a pouco. Nenhuma das histórias é realmente extraordinária, e fica a faltar aquela satisfação de se ter lido uma boa história de super heróis, o que é pena, tendo em conta o potencial que havia para aqui.