quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

X-Men Origins: Nightcrawler



Argumento: Adam Freeman, Marc Bernardim
Arte: Cary Nord, James Harren, Chris Sotomayor

Opinião: Ao contrário de Jean Grey, o Nightcrawler sempre foi dos meus X-Men favoritos. Poucos são os mutantes como ele, com uma história realmente profunda e trágica por detrás, e uma personalidade encantadora.

Além de que é dono de um humor incrível, e consegue ser a personagem mais católica e "boazinha", apesar de ter o ar mais demoníaco de sempre. É um aparente paradoxo bastante interessante. E tudo isso ainda é realçado pelo facto de ser praticamente um anjo vingativo. Personagem mais completa que esta também é complicado...

E depois a arte é fantástica e assenta na perfeição na história, que é uma impecável história de origem, trágica e intensa, e que dá explicações para muitas das coisas que se conhecem da personagem.

A forma como lida com a aparência e os poderes de Kurt Wagner - nome "real" do Nightcrawler, que também tem uma explicação neste comic - é muito curiosa e está surpreendentemente bem feita. Seria fácil cair na parvoíce ou no demasiado óbvio, mas tanto o argumento como a arte resolve bem todos os problemas e ainda brinca com a situação.

Outra coisa que gostei de ver foi uma explicação para a fé acirrada de Kurt, uma das suas características mais marcantes ao longo dos anos e das várias histórias em que aparece. É incrível como lhe conseguiram dar um toque realista e verdadeiramente humano, fugindo ao cliché mutante, um bocado à semelhança do que o outro Origins fez com Jean Grey.

Definitivamente aconselhado, e um one-shot que irei reler várias vezes. É bom encontrar estes pequenos tesouros, que não são super chamativos nem nada que se pareça, mas que conseguem ser marcantes e muito bons, no meio de toda a sua simplicidade.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

X-Men Origins: Jean Grey


Argumento: Sean McKeever
Arte: Mike Mayhew

Opinião: Ao mesmo tempo que é uma das personagens mais interessantes do plantel mutante, Jean Grey sempre foi das que menos me chamou a atenção. Não sei bem porquê, mas sempre foi uma personagem demasiado inocente e fora do contexto para aquele grupo.

E isto é injusto, eu sei bem. A Jean é uma personagem bonita, inteligente e extremamente poderosa, além de ser uma mutante que passa despercebida fora da escola do Professor X, e que assim poderia ter uma boa vida. No fundo, é alguém deslocado dentro dos X-Men, que são um grupo de pessoas deslocadas da sociedade!

Ou seja, esta ainda é das personagens mais dramáticas do grupo. E mesmo assim nunca fui fã. Por isso foi com o pé atrás que li este one-shot sobre as suas origens, pé que tive rapidamente de trazer para a frente logo após as primeiras páginas.

A começar pela arte, que é bastante realista e tem expressões faciais particularmente boas - tirando a semelhança perturbadora, numa das páginas duplas, com uma colega minha de faculdade - o que é de louvar numa BD da Marvel, ou pelo menos das que tenho lido nos últimos tempos.

No entanto, talvez por ser demasiado realista, às vezes dá demasiado a ideia de ser estática, o que estraga um bocado o efeito. É complicado de explicar, mas as BD's costumam transmitir uma certa ideia de movimento, e aqui parece que não há, quase como se estivesse a olhar para quadros numa parede, um bocado como em Marvels, mas sem ter um efeito tão bom.

Depois a história é interessante! Gostei honestamente, e não estava nada à espera. Jean Grey revela-se uma personagem com alguma profundidade e uma dimensão humana que às vezes falta aos outros X-Men fora do habitual "sou um mutante e portanto renegado pela sociedade, mas sou mais humano que vocês".

Algumas das partes mais curiosas são as sequências dentro da mente dela, e ver como é que o Professor X interage com ela. Está perfeitamente de acordo com ambas as personagens e com aquilo que conheço da sua relação no futuro, o que indica um excelente trabalho de Sean McKeever ao escrever este argumento.

Para terminar, e para minha própria surpresa, aconselho a leitura deste comic, embora deva ser complicado de arranjar. Mas procurem que vale a pena!

domingo, 28 de dezembro de 2014

OLS: Agora digo eu! [3]


Um desafio que se arrastou mais do aquilo que eu estava à espera. Malditos sejam vocês todos (os seis) que participaram! E se alguém pensou que eu não ia cumprir, é favor ler a primeira parte da resposta, a segunda, a ronda bónus, e ficar para ler esta terceira e última!

Sem mais demoras, vamos às sugestões do Artur Coelho, que até respondeu ao desafio por conta própria, no seu blog. Deixem-me dizer que foi a lista que mais me fez googlar...

Primeiro, Hypnotherapy For Dummies, para o Dr. Caligari. Não tenho nada engraçado a dizer sobre isto. A única coisa que o Artur conseguiu foi fazer-me lembrar da existência deste filme, que tem um ar fantástico. Verei nas proximidades!

Depois, Sublime Dreams of Living Machines, para o T-800, que caso alguém não saiba, é o Exterminador de Exterminador Implacável, também conhecido como Arnold Schwarzenegger. O livro, esse, é uma descoberta fantástica, um livro sobre a história do autómato e, mais importante ainda, da ideia do autómato. Fantástico. E isto agora é injusto, mas imaginei o Schwarzenengger a tentar ler um livro desses, e ri-me. Só que pronto, isto não tem piada, porque o tipo é na realidade uma espécie de génio...

NASA Main Shuttle Crew Operations Manual para o Buck Rogers. Tenho a sensação que o tipo se ia rir e descartar isto, mas não conheço a personagem bem o suficiente. Esta sugestão leva pontos bónus por mencionar o tipo que aparece na capa da Amazing Stories que vem na capa do Terrarium!

Para fechar esta desafio, vamos aos contra-desafios anónimos de um anónimo muito anónimo, que decidiu ignorar o meu desafio e perguntar-me o que é que eu oferecia a este a àquele. Decidi aceitar, vá, em nome do espírito da época, que tão frequentemente me falta.

Portanto, o que é que eu oferecia ao Barreiros (que ele não tenha já)? Bem, não sei o que é que ele tem ou deixa de ter, e sei que tem mais livros do que é razoável acumular dentro de uma casa sem que esta comece a rebentar pelas costuras, mas vou arriscar. Tendo em conta que é a única pessoa que existe mesmo e que talvez até veja o meu blog de vez em quando, era porreiro se me respondesse. Ouviu? O que é que tem a dizer quanto a Contos de fadas politicamente correctos2001 nights (já é a segunda vez que aconselho este livro, em três dias, deviam mesmo dar uma olhadela), ou o Cidade-túmulo?

Para o George Martin é mais complicado. Li menos coisas e conheço pior o seu estilo de escrito, portanto não posso especular tão bem quanto ao seu estilo de leituras. E tirando o óbvio, que o Francisco Fernandes já fez, de lhe oferecer um livro de dietas e afins, não sei muito bem o que sugerir. A não ser que... Claro! Os livros do Joel! Para o Martin ver como é que se faz o que ele faz, à là tuga, de forma mais interessante e complexa!

Agora ao Harry Potter. A minha vontade é ir procurar guias de coisas para tótós, porque o rapaz não faz nada de jeito ao longo dos sete livros, mas acho que lhe oferecia Hogwarts: Uma História, com uma dedicatória a dizer "acho que se tivesses lido isto, tinhas sido útil", e depois gravava a reacção da Hermione.

Para terminar com estas sugestões, e de vez com o desafio: o que é que eu oferecia ao Doctor? Excelente pergunta. Podia dizer tanta coisa. Mas estranhamente, há um livro que me surge na mente, e que nem sequer li: O jogo do mundo, de Júlio Cortázar. Fiquei a conhecê-lo muito recentemente, no Fórum Fantástico, a propósito do seu centenário, e faz todo um sentido. É um livro que se pode ler pela ordem que nos apetecer, e para o qual o próprio autor sugere duas sequências de capítulos, incluindo uma, linear, do capítulo um ao cinquenta e seis, em que se ignoram os últimos noventa e nove capítulos. Ah! Era mesmo isto!

E pronto, dou por terminado o desafio e a minha contribuição para a Operação Livros no Sapatinho, da Imaginauta. Como retribuição, fico à espera de novidades quanto ao projecto!

sábado, 27 de dezembro de 2014

O que fazer?


De vez em quando sinto vontade de mudar o blog. De o tornar mais abrangente, ou mais colorido, ou menos colorido, ou sei lá. A verdade é que isto é tudo muito engraçado, mas dá trabalho. E eu preciso de retorno. Gostava mesmo de ter comentários, mais comentários e interacção entre bloggers.

Para a parte de eu já me estar a aborrecer com isto, no sentido de ser sempre a mesma coisa, livros e livros e livros e livros, mas também para ter mais comentários: mudar o formato do blog. Como alguém muito sábio me apontou no fim de semana passado, o formato actual é um bocado fechado, ou pouco dado a essas interacções.

Mas epah. Chateia.

E depois a única coisa em que queria estar a pensar, é em termos de conteúdo: filmes, séries, e possivelmente - repito, POSSIVELMENTE - o regresso do meu semi-humor do blog que acabou há uns anos. Poucas coisas me dariam mais gozo. O essencial é que iria fazer deste blog algo mais geral, sempre focado em livros, mas a abranger muitas outras coisas.

Portanto, o que dizem? Preciso mesmo é de soluções para mudar o formato e ter mais comentários e interacção. Com os bloggers já tenho algo planeado... Eles é que non sabem !

De qualquer forma, digam de vossa justiça...

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Cerco (Universo Marvel #13)


Argumento: Brian Michael Bendis, Fred Van Lente
Arte: Michael Lark, Stefano Gaudiano, Matt Hollingsworth, Lucio Parrillo, Mark Morales, Laura Martin, Steve Epting, Salvador Larroca, Esad Ribic, Mike Perkins, John Romita Jr., Mike Deodato, Giuseppe Camuncoli, Trevor Hairsine, Mike Choi, Sonia Oback, Dale Eaglesham, Travel Foreman, Kyle Hotz, Klaus Janson, Frank D'Armata, Rain Beredo, Dave McCraig, June Chung, Dan Brown
Tradução: Filipe Faria


Opinião: Desconexo. Épico, sem dúvida, mas desconexo. Nada faz uma boa história como uma cidade mitológica a flutuar por cima dum descampado americano, com os seus habitantes a serem postos em tribunal por estarem em propriedade privada. Um clássico.

A inversão de posições, vilões <-> heróis, é peculiar e tem ecos que ainda reverberam nos eventos de hoje em dia, em que acontece exactamente isso, mas de forma mais radical. O twist de que as coisas não são bem assim é que já é mais prevísvel, mas pronto.

E a arte... Tirando o capítulo esquizofrénico que funciona muito bem, com várias histórias de origem condensadas em meia dúzia de vinhetas com artistas sempre diferentes, achei os desenhos e as cores bastante banais. Não se destacam, vá.

Mas isso não é importante quando enredo avança tão devagar. Nem todas as personagens que acompanha são propriamente relevantes, e as que acompanha, insiste em fazê-lo várias vezes em momentos que não interessam para nada.

No fim, é uma leitura que dá para entreter, mas é muito fraquita...

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Feliz Natal e assim... E OLS: Ronda Bónus!


E bem, é Natal, hoje. Ontem também foi Natal e falei de detectives canibais, nada como pessoas a mastigar outras pessoas para levantar o espírito!

Hoje, cedo à pressão e desejo-vos um bom Natal, ou umas boas festas, que prefiro. Esta época dá-me comichões, exactamente por toda a gente ficar mais simpática e agradável e perdoarem coisas "porque é Natal" e afins... O facto de ser preciso um dia para que isso aconteça, aborrece-me. No fim, é uma desculpa para se trocarem prendas e juntar a família na reunião que tem de haver para parecer bem.

(De uma forma geral, vá, não me caiam em cima.)

Mesmo tu, que me lês agora, e achas que eu sou é parvo porque tu tens um Natal muita porreiro, que não é nada assim, pensa lá se não há sempre alguém que é assim? Sempre. Eu, pelo menos, sou coerente e não discrimino, sou desagradável em qualquer altura do ano! A probabilidade de dar uma resposta torta é igual em todos os 365 dias do ano.

Mas enfim. Boas festas, caríssimos leitores. Passemos ao resto!

Fiz uma promessa, depois comecei a responder, e recentemente continuei a responder. Ainda faltam duas pessoas (daqui a uns dias, sim?) mas por hoje decidi fazer algo diferente, para animar a coisa. Quem escolhe os livros sou eu, e quem os recebe(ria) são as pessoas que me responderam ao desafio!

Para o Anónimo que não percebeu as regras do jogo, dava-lhe o Todos os Nomes, do Saramago. Ou os dois parágrafos do Memorial do Convento com os nomes dos trabalhadores todos. Porque enfim

Para a Jules podia escolher muita coisa, mas fico por algo simples como uma antologia de fan fiction de Harry Potter, só para ver a reacção dela.

O Carlos Silva já é um cliente mais complicado... Talvez uma graphic novel dos Guardiões da Galáxia, para se inspirar e introduzir um Groot no universo do Comandante Serralves. E se precisar de alguém que escreva alguma história dessas, sei com quem falar... *aponta para si próprio, pisca o olho*

O Vítor Frazão levava um high five por juntar Verne e Odisseu na mesma linha, ainda com o Conde de Monte Cristo por perto, e depois dava-lhe a transcrição das conversas no grupo da Trëma, no Facebook. Acreditem que valia a pena ter uma coisa dessas.

Depois o Francisco Fernandes (asesereis, desculpa lá, vais ser para sempre atormentado com este nome) recebia o livro da Leopoldina escrito pelo Filipe Faria. Depois de As Crónicas de Allaryia, e de saber a minha opinião sobre o Perraultimato, acho que um livro sobre um pássaro amarelo gigante com mamas é o próximo passo lógico.

Por fim, o Artur Coelho, acho que lhe dava o 2001 Nights, uma manga que li há pouco tempo e que além dele ser capaz de gostar, ainda tinha a vantagem de eu depois ler a opinião dele sobre o livro, que são sempre engraçadas de ler. Não sei se ele conhece e já leu, mas pronto.

E são estas as minhas escolhas. Vou continuar embora nunca tenha parado o meu dia, vocês divirtam-se e façam o essencial nesta quadra festiva: enfardem que nem frades!

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Ao Gosto do Freguês (Tony Chu - Detective Canibal #1)


Argumento: John Layman
Arte: Rob Guillory
Tradução: José Hartvig de Freitas


Opinião: Divertidíssimo até ao tutano, este primeiro volume de Tony Chu é uma boa revelação. Comprado quase por impulso, durante o Fórum Fantástico, valeu completamente a pena!

Vejamos: detective canibal num mundo em que a gripe das aves teve um impacto ainda maior do que no nosso, e o departamento policial de controlo da comida se torna no mais agressivo e badass que existe. Vamos lá.

Os (apenas) nove euros para a edição fantástica que é, de capa dura e com qualidade, ajudaram bastante à compra, mas pareceu-me genuinamente engraçado. Os desenhos são meio cartoonescos, o que chama logo a atenção, e basta passar os olhos por meia dúzia de páginas para ver como está recheado de sillyness. O que é bom, bastante bom!

Há alguns problemas de tradução, como querer dizer o mais recente, de the latest one, e dizer o último. Até dói. Mas nada demasiado grave, pelo menos... A nível de enredo, só há duas coisas que, vá, me fizeram espécie: uma das personagens a mencionar a determinação do protagonista em encontrar o irmão, quando isso nunca acontece nem sequer é mencionado como possível história paralela. O tipo parece pura e simplesmente não se importar, durante a maior do tempo.

E depois há o planeta alien. Muito estranho. Nem sei o que dizer.

Mas tirando isso, sim senhor, um humor cinco estrelas, uma ideia original, esta da cibopatia, de ter impressões psíquicas de tudo o que se come - excepto, obviamente, de beterrabas - e um detective que aproveita essa capacidade para resolver crimes, tendo frequentemente que dar umas trincas em coisas mortas, invariavelmente em estados avançados de decomposição, com o ar mais nojento de sempre. Ah, e ocasionalmente são coisas humanas.

Nada como um vilão relativamente estereotipado para animar a festa, no entanto. Ou melhor, nem é bem um vilão, é mais um justiceiro de meia tigela com a mania que pode fazer o que muito bem lhe apetece em nome da sua própria versão do bem e do mal. Não deixa de ser interessante, até porque é uma personagem enorme, extremamente ágil e hábil com armas, sempre impecavelmente vestido e com uma forma de falar peculiar.

Em tudo contrastante com Chu, um desmazelado que só quer sossego e paz para as vítimas. É interessante ver a evolução da forma como esta personagem lida com as suas capacidades e com o potencial que elas têm para aquilo que faz, combater o crime.

No fim, o humor, muitas vezes puramente visual, é muito recompensador... Além de que se trata de um detective canibal. O que é que pode correr mal com isto?

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

OLS: Agora digo eu! [2]


Continuando a cumprir o prometido, está na altura da segunda dose de explicações. Para esta vez decidi avançar com a sugestão da minha namorada, a Júlia, e as do Francisco Fernandes, os dois comentadores mais assíduos aqui do sítio.

Para começar mesmo bem, vamos à sugestão, digamos, interessante, da Júlia: oferecer o 120 Dias de Sodoma, do Marquês de Sade, ao Principezinho. A culpa é minha, que faço estes desafios. E ofereço este tipo de livros à rapariga... Mas confesso que gosto da ideia.

De um ponto de vista simpático, bem, podia ser que uma das personagens mais irritantes de sempre, o simpático e adorável Principezinho, aprendesse alguma coisa. Mas de um ponto de vista mais agradável e próximo do meu, diria que era óptimo para o pôr a vomitar enquanto eu me ria e ria e ria e ria e ria. Não gosto da personagem, não gosto do livro, e as descrições que a Júlia me fazia do livro de Sade enquanto o lia eram demasiado até para mim, portanto parece-me perfeito!

(querias ver se me apanhavas, não era? toma lá morangos!)

Ora bem, vamos então às várias sugestões do Francisco, que lê muito, escreve umas coisas e vem aqui mandar eloquentes bitaites com alguma frequência.

A primeira é Introdução ao Direito, de Oliveira Ascensão, e os tomos de Direito Penal do Professor Figueiredo Dias, ao Eng. Sócrates. Algo para se entreter enquanto estiver a ver o Sol aos quadradinhos, imagino, se bem que para ele aquilo já deve ser uma espécia de cartão do bingo: "Olha, já quebrei esta. E esta. É por esta que estou aqui. Pensei nesta, mas adiei para o próximo ano. Ah, mas esta marchou! BINGO!".

Economia e Gestão para tótós, oferecido ao pessoal do governo e da administração pública, é demasiado fácil. E ia ser a coisa mais divertida de sempre. "Não podemos gastar mais do que temos? És engraçado, tu, chama lá o motorista para eu ir ao café."

Para o George R.R. Martin, ia um livro de dietas e de emagrecer de forma saudável, para ver se o desgraçado não morre antes de acabar a história. Ia ser a maior facada de sempre. Mas não imagino aquele homem a comer vegetaizinhos e saladinhas, enquanto chacina completamente o elenco dos seus livros...

Depois para o Ned Stark, personagem de George Martin, ia O Príncipe, de Maquiavel, A Arte da Guerra, de Sun Tzu, e Os Cinco Anéis, do samurai Myamoto Musashi. Mas que grande conjunto para o desgraçado honesto que devia ter tido umas aulas com o Tyrion. Podemos é ignorar os outros livros e concentrarmo-nos em Os Cinco Anéis, um livro escrito por um SAMURAI. Que fantástico. E parece - nunca tinha ouvido falar - que é do estilo do livro de Sun Tzu, só que pronto, escrito por um SAMURAI. Tenho que ver se encontro!

Para terminar, o Francisco diz que oferecia a si próprio uma cópia do guião do novo filme de Star Wars, e que se não fosse bom ia atrás do J.J.Abrams para lhe bater. O que é perfeitamente compreensível, eu também não espero nada menos do que um nível máximo de espectacularidade, deste filme!

E pronto, por hoje volta a ser tudo... Mas ainda há mais duas pessoas que precisam de resposta. Não percam o próximo episódio, porque nós... Também não!

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Os Vingadores #10


Argumento: Jonathan Hickman
Arte: Mike Deodato, Frank Martin, Leinil Francis Yu, Gerry Alanguilan, Sunny Gho, Jerome Opeña, Dustin Weaver, Justin Ponsor
Tradução: Filipe Faria

Opinião: E assim se conclui, por cá, esta saga épica que é Infinity, e o fracasso da revista em si. Com menos texto, mas não menos confuso por isso, este número acaba por ser agradável. A sério, lê-se ben, dá perfeitamente para entreter e tudo isso...

Só que acho mesmo que tem demasiada coisa. Hickman deu um passo maior do que a perna, e tem pura e simplesmente demasiadas coisas a acontecer ao mesmo tempo, demasiadas linhas narrativas a evoluírem, demasiadas personagens, enfim, tudo.

É um risco que se corre, quando se fala de histórias dos Vingadores, mas nestas histórias não foi nada bem gerida. Nenhuma personagem se destaca minimamente, nenhum arco narrativo soa interessante o suficiente... Enfim, o próprio argumento parece indeciso quanto à história que quer efectivamente contar!

A arte, para não variar, não é nada má, mas não é particularmente marcante. Eu sei que ando mal habituado, nesse campo, que as minhas últimas leituras de BD têm sido particularmente agradáveis, mas esperava mais, por muito comercial que este título seja.

Por agora, tenho que me resignar a ir à Wikipédia ver o que acontece a seguir, e virar-me para outras fontes de BD, que esta secou, apesar do muito potencial que ainda tinha...

domingo, 21 de dezembro de 2014

OLS: Agora digo eu! [1]



Como prometido, está na altura de explicar as vossas escolhas. Devo dizer que se excederam as minhas expectativas, e agora tenho uma quantidade enorme de justificações para inventar! Até consegui que houvesse uma reacção ao meu desafio noutro blog... Sucesso!

Mas avancemos. Para inaugurar a mini-rubrica, decidi começar pelos progenitores do Projecto Imaginauta, que é quem apoia e divulga esta iniciativa OLS.

Logo para começar, vamos às sugestões do Carlos Silva, jovem autor português de FC.

A Arte da Guerra, de Sun Tzu, para o Ghandi. Mais que não fosse para nos rirmos do ar dele ao receber um livro destes. Por outro, valia a pena pedir-lhe para ler e comentar com anotações nas margens. Não só ficava um livro valioso, como seria um livro de guerra e agressividade (seja em que meio for) anotado por um pacifista.

O Senhor dos Anéis, de J.R.R.Tolkien, para o Jerónimo de Sousa. Os livros têm alguma simbologia (que pode ser interpretada como) comunista, mas eu dizia-lhe que era uma narrativa sobre um povo de elite, que se pode dar ao luxo de andar a passear pelo mundo fora, sem grandes preocupações, e uma classe oprimida, retratada como feia e que é explorada por um industrialista que é apenas o fantoche do capitalista por excelência, que quer as jóias todas para ele.

Passemos agora às do Vítor Frazão, também ele um jovem autor português de FC, e que me deixou mais do que muitas sugestões.

O primeiro é O comunismo será solúvel em álcool?, de Antoine & Philippe Meyer, para o Nixon. Ora, eu não conheço nem o livro, nem o antigo presidente dos USA, portanto não posso opinar grande coisa. Talvez valha a pena vê-lo a tentar ler em português, mas... Ignorem.

Depois The Space Merchants, por Frederik Pohl e C.M. Kornbluth, para a Chicken Boo dos Animaniacs. Confesso que não conhecia a personagem, mas descobri que é um bicho engraçado. E aqui tenho que perguntar directamente: o livro fala sobre um tipo com um passado interessante a ser obrigado a tornar-se num trabalhador dos reles, mas que continua a usar as suas capacidades para fazer coisas. Pelo menos é o que me diz a sinopse, assim por alto. Depois de ver o vídeo, fico a pensar que não achas, Vítor, que a Chicken Boo é algo assim? Ela tinha uma missão, bateu com a cabeça, e agora continua com a missão, mas não a a cabeça...

Dois Anos de Férias, de Júlio Verne, um livro sobre um grupo de rapazes perdidos e abandonados numa ilha deserta no meio do nada, para Odisseu, que demorou anos e anos a regressar a casa. Duh. É para aprender a fazer uma jangada, para o caso d eficar em gente no barco...


O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas, para Mathias Sandorf, personagem que Verne criou para um livro que ele queria que fosse O Conde de Monte Cristo da sua colecção. Esta sugestão por acaso até seria útil, porque Sandorf pode andar no seu desejo de vingança à vontade, que eu ainda não vi uma uma fúria e uma paixão por vingança a arder tão intensamente como no livro de Dumas. Aquilo é, no melhor sentido possível do termo, lindo.

All Flesh is Grass, de Clifford D. Simak, para Dale Barbara, um actor que aparece em Under the Dome, adaptado da obra de Stephen King. Parecia uma coisa um bocado aleatória, mas fui ver a sinopse do livro e... Bem, o que interessa é que o King continue a atirar livros da qualidade da maior parte da sua sobra cá para fora, pormenores como existir algo mais antigo com praticamente a mesma história, não interessam para nada!

E pronto, aqui ficam as minhas curtas (mas eficazes, espero) explicações. Voltem sempre, que daqui a uns dias há mais!

sábado, 20 de dezembro de 2014

Mais fácil do que uma crónica [2]


Sacana de bicho mais bonito. É uma história complicada - é cego - mas os resultados são de facto lindíssimos. Quantas inspirações já terão surgido, só com esta história? Ui.

No entretanto, este foi um mês em cheio. Confesso que estou demasiado cansado para fazer alguma coisa de jeito, portanto este mês vamos ter que fazer algo mais soft: aqui têm os links, divirtam-se!


sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A Sombra sobre Lisboa [3/3]


Autores: Rogério Ribeiro, Safaa Dib, Luís Filipe Silva, João Henrique Pinto, David Soares, João Seixas, António de Macedo, Rhys Hughes, José Manuel Lopes, Fernando Ribeiro, Yves Robert, Vasco Curado, João Ventura, João Barreiros
Tradutor: João Henrique Pinto (para o conto do Rhys Hughes)


Opinião: Depois disto e disto, termino aqui a minha opinião sobre este livro. Os cinco contos de que ainda não falei são encabeçados por Mastodon, de Fernando Ribeiro, que conta com uma escrita fantástica. O tom é mais íntimo do que narrativo, o que acaba por funcionar muito bem para o tipo de história, que à semelhança da anterior, de José Manuel Lopes, tem todo o ambiente de Lovecraft sem ser propriamente de terror.

Acerta em cheio no imaginário, mas escreve um conto... bonito. Quase poético. Muito diferente daquilo que Lovecraft costumava escrever, mas bastante fiel ao seu estilo. Agradou-me bastante, tudo isto!

O conto seguinte é A ameaça rastejante, de Yves Robert. A minha opinião não está propriamente formada, porque é tudo muito meh. A escrita é mediana, a história é mediana - com alguns momentos a deixarem muito a desejar - e o fim também é mediano. Fica a faltar caracterização das personagens e enfim, mais qualquer coisa!

Em A Hora, Vasco Curado conta uma história interessante, mas que não fica na memória. A escrita é boa, talvez das melhores desta antologia, e a história é interessante, mas não propriamente marcante.

Já em Num túnel em Lisboa, João Ventura desenvolve uma narrativa peculiar e interessante, com um bom ritmo e descrições arrepiantes dos subterrâneos lisboetas. A interrupção das obras no metro da Baixa faz todo o sentido, quando vista por esta luz, e a forma como o conta é realmente boa. Ventura tem uma escrita distintiva, embora seja muito fluido em termos de estrutura, e isso nota-se aqui, adaptando-se quase na perfeição ao estilo de Lovecraft, sem nunca perder as características marcantes da sua escrita!

Por fim, e para terminar em grande, Por detrás da luz, de João Barreiros, sem dúvida o conto de que mais gostei nesta antologia, não só pela sua qualidade intrínseca, mas porque consegue juntar escrever um conto lovecraftiano de FC. É qualquer coisa!

Os detalhes que compõem o mundo de forma quase sup-reptícia são fantásticos como sempre, e antes de dar por ela já estou completamente imerso no universo do conto. A escrita mordaz e ríspida de Barreiros agrada-me bastante, e já há uns tempos que não lia nada dele, portanto isto soube-me bem.

Acho que talvez se tenha arrastado um pouco, mas consigo imaginar o autor a entusiasmar-se enquanto escreve, sempre com vontade de enfiar mais duas ou três ideias e conceitos numa narrativa já repleta de tudo e mais alguma coisa.

Há horror, há FC da dura, há amor, há traição, há um excelente desenvolvimento de personagens, há uma excelente trama, descrições fantásticas e um ritmo absolutamente frenético!

É uma boa forma de terminar. A antologia é um livro forte, com algumas falhas mais previsíveis do que outras, e que é, acima de tudo, coerente, o que só por si já é de louvar, e de que maneira! Confesso que foi uma leitura penosa, mas ninguém me mandou ler estas páginas todas sobre a mesma coisa. Torna-se repetitivo, e só o meu amor à camisola é que me manteve de livro aberto... Mas no fim foi uma muito boa leitura, e uma que aconselho, sem sombra de dúvida.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A Sombra Sobre Lisboa [2/3]


Autores: Rogério Ribeiro, Safaa Dib, Luís Filipe Silva, João Henrique Pinto, David Soares, João Seixas, António de Macedo, Rhys Hughes, José Manuel Lopes, Fernando Ribeiro, Yves Robert, Vasco Curado, João Ventura, João Barreiros
Tradutor: João Henrique Pinto (para o conto do Rhys Hughes)


Opinião: Continuando a opinião a este livro, está na altura de falar de O elefante e o cavalo, de David Soares. O conto é muito estranho, como seria de esperar, e tem uma escrita muito boa, bonita mesmo. Tem a felicidade de ser duma fase deste autor em que ele ainda não caía no exagero que lhe aponto nas suas obras mais recentes.

O começo é das coisas mais arrepiantes que li nos últimos tempos, assim como o aproveitamento e aportuguesamento dos mitos lovecraftianos, também é muito interessante. Tudo neste conto cativa, e os pormenores são fascinantes, como os Miri Nigri, criaturas horríveis que nascem desdentadas e que portanto usam cacos de vidro e pedaços de madeira e pregos cravados nas gengivas para fazer de dentes. Fascinante!

No entanto, e apesar de tudo isto, acho que a parte da conclusão deixa muito a desejar. É que é tudo muito interessante, mas também demasiado ambicioso. De tal forma que no fim a história cede sob o seu próprio peso, e preciso de todo um capítulo no fim altamente explicativo, para que tudo faça sentido. E não fica a fazer!

A seguir vem As sombras sobre Lisboa, de João Seixas, que é um autêntico festival de arcos narrativos. Ou melhor, de personagens. Mas é importante é notar que uma das personagens é nem mais nem menos que Eça de Queirós. Sim, esse Eça de Queirós. E que bem retratado que está!

Todo o conto é bastante agradável, especialmente a escrita, apesar de alguns momentos menos felizes - "o jardim para onde a coluna de granito era vomitada" - em que parece esforçar-se demasiado. No entanto, como já disse, Eça é uma excelente personagem, assim como Fradique, imponente e praticamente um herói de acção. E a história envolve zombies! Voodoo! Ctulhu e R'lyeh! Assassínios! Mistério! Traições! Tanta coisa!

A partir de certa altura, infelizmente, só consigo sentir-me assoberbado com tanta coisa. O conto tenta acompanhar tanta coisa que se torna demasiado disperso. Não deixa, no entanto, de ser uma boa leitura!

Depois vem António de Macedo. Vénias se faz favor. Muito bem. O título é A Dama do Espelho Negro e é um conto incrível, como sempre. A escrita não é a melhor que já lhe li, mas é boa, e ao início fiquei honestamente espantado, sempre que virei uma página, ao aperceber-me da capacidade do conto em manter-me interessado, apesar de ser tão dolorosamente expositivo.

Um espelho misterioso e uma intriga retorcida, é tudo o que o Macedo precisa. Mas nem este fantástico autor consegue escapar a um fim desapontante para este conto, demasiado confuso para o meu gosto. A mestria com que conta a história, no entanto, é qualquer coisa de especial.

Arroz de Abominação é uma pequena batota neste livro que incluo na minha temporada temática actual, Lusofonices, pois não foi escrito por um autor lusófono, mas sim por Rhys Hughes (de quem consegui um autógrafo, neste livro, graças ao Fórum Fantástico!). Mas façamos de conta, sim?

Deliciosamente irónico do princípio ao fim, todo o conto é muito bom, e termina da melhor forma possível. Acho espantoso que este conto tenha sido o mais profundamente português de toda a antologia! Eu estou com vontade de vos contar o que se passa, para além da caricatura de Lisboa com embaixadas secretas dentro de embaixadas secretas que ficam dentro de embaixadas secretos no interior de embaixadas secretas, que nem sei. Só lendo, mesmo!

Para terminar (por hoje) há As Confissões de Walter Reis, de José Manuel Lopes, do qual gostei, mas que sofre um bocado por ser uma memória, a história fica demasiado parada, por vezes. Mas este é um conto excepcional, pois consegue a impossível tarefa de escrever Lovecraft sem ser propriamente um conto de terror.

Toda a atmosfera e a história é muito atípica no meio desta antologia, pois isto é claramente Lovecraft, desde a estrutura aos temas abordados, mas não há terrores inomináveis nem desgraças inolvidáveis: há, isso sim, uma certa leveza e frescura que me deixou, como já disse, honestamente surpreendido. Vale muito a pena!

E pronto, como podem ver a minha opinião melhorou. Continuo a encontrar vários problemas, mas alguns são coisas pequenas, mais embirranço, em dois ou três casos, do que outra coisa qualquer. Por esta altura só tenho é de referir o excelente trabalho da Saída de Emergência em reunir esta antologia, que não é perfeita, mas me enche as medidas!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

A Sombra Sobre Lisboa [1/3]


Autores: Rogério Ribeiro, Safaa Dib, Luís Filipe Silva, João Henrique Pinto, David Soares, João Seixas, António de Macedo, Rhys Hughes, José Manuel Lopes, Fernando Ribeiro, Yves Robert, Vasco Curado, João Ventura, João Barreiros
Tradutor: João Henrique Pinto (para o conto do Rhys Hughes)


Opinião: Se já viram este livro, já sabem que tem um aspecto gigante e apetecível. O grupo de autores aqui reunido é excepcional, e o tema é fantástico: contos lovecraftianos em Lisboa. Andava eu apenas a recolher autógrafos neste bisonte, que nem é meu, durante o Fórum Fantástico, quando tanto o Rogério Ribeiro como o Luís Filipe Silva me impingiram a leitura dos contos deles.

Como raramente recuso um desafio, ainda por cima um que envolvia criticar os dois mentores da Oficina de Escrita, parti para a leitura! Ou melhor dizendo, parti para a leitura depois de muito admirar o livro, porque esta é uma edição da época áurea da Saída de Emergência, com ilustrações fantásticas, uma boa capa, uma excelente organização, enfim, de deixar água na boca.

Depois disso, sim, comecei a ler. E nada melhor para abrir o apetite do que O Primogénito, do Rogério Ribeiro. Vocês nem imaginam o quanto esfreguei as mãos enquanto ria de forma maníaca, quando vi que era este o primeiro conto. Finalmente, a vingança contra o bad cop da Oficina! Muahahahahahah!

Entretanto passou-me e comecei a ler, sossegado. Reparo então que o conto tem deuses, de vários panteões. Estás a ir bem Rogério, penso eu. A escrita é boa, e o começo deixou-me logo curioso. Poucas coisas conseguem ganhar a um concílio de deuses bem feito. No entanto este concílio acaba por não ter grande relevância para o desenvolvimento da história, o que é uma apena. Leva pontos de bónus pelo aparecimento de Nyarlathotep, perturbador e um verdadeiro momento de terror lovecraftiano.

O conto no geral acaba por sofrer de ser demasiado vago, característica que culmina no fim, do mais vago possível. E aqui o defeito é por causa de um meio-termo: o conto devia ter sido mais longo, para ter mais explicações para a quantidade enorme de elementos que apresenta, ou mais curto, para deixar o leitor completamente às escuras e com medo de apagar a luz. Não deixa de ser um bom conto, e se eu estava à espera de vingança, tive azar!

A seguir vem O Vale de Sombras, da Safaa Dib que, confesso, não sabia que escrevia. É uma história interessante, mas com um princípio discreto e que descamba rapidamente. A intriga não é muito consistente, e o conto obriga-nos a passar muito tempo com uma série de personagens que depois praticamente não têm relevância para a história.

Para piorar ainda vem um final risível, com revelações sobre uma das personagens que não fazem muito sentido e que são mal feitas. Salva-se a escrita, que é boa, especialmente nas descrições, apesar dos erros e das gralhas que fazem parecer que o texto nem foi revisto, um mal que também afecta alguns dos outros contos...

Depois vem Aquele que repousa na eternidade, do Luís Filipe Silva, e o meu riso maníaco decide regressar. Desapontado por não ter grande coisa por onde chatear o Rogério pelo seu conto, aparece-me um do outro mentor da Oficina de Escrita. Só que quer dizer... Isto não é um conto, é uma autêntica novela! Tem mais de oitenta páginas!

Mas não faz mal, eu já sei que gosto da escrita dele. Infelizmente, e embora aqui esteja bem, não está com aquela qualidade deslumbrante que encontrei no Terrarium, e o enredo desenrola-se muito, muito lentamente. Ainda na última sessão da Oficina, no fim de semana que passou, eu comentei como as histórias lovecraftianas têm que ser lentas e intensas e ligeiramente sufocantes logo desde o início, mas esta novela arrasta-se demasiado. E é uma pena, porque tem momentos brilhantes, como a revelação do nome das personagens - não digo mais que isso - e a utilização do Necronomicon, por exemplo.

As sequências oníricas são das mais interessantes, muito bem feitas, mesmo, e não posso deixar de mencionar a quantidade de sangue acima da média ao longo destas oitenta páginas. E eu é que sou o sanguinário! Mas depois uma das linhas narrativas, nomeadamente a que decorre no passado mais distante, demora demasiado a fazer sentido, ou melhor, a cumprir o seu propósito. Talvez tenha sido culpa da extensão exagerada da história, mas senti-o mais marcadamente com essa parte do que com as outras.

Outra coisa que podia estar melhor são as ligações entre as várias linhas narrativas, que são tudo menos óbvias. O estilo lovecraftiano já é denso o suficiente, a adição dessas ligações simbólicas (ou não) só pode acontecer de forma mais explícita do que aquilo que o Luís fez. No fim, o "conto" fica um pouco aquém, mas talvez as expectativas de quem leu o Terrarium sejam vagamente injustas, porque a verdade é que gostei bastante de acompanhar a história e fiquei fascinado com alguns dos momentos!

O conto seguinte é Um dia no cárcere, de João Henrique Pinto, curto e intenso, com um bom começo a uma ilustração no mínimo perturbadora. A descrição dos vários métodos de tortura faz impressão a qualquer pessoa, e há um bom aproveitamento de Hitler e dos nazis e das suas ilusões causadas por histórias dos Great Old Ones de Lovecraft.

No entanto o conto divaga um bocado e perde o interessante. Utiliza bem a cidade, é verdade, talvez a melhor utilização até este ponto, e a escrita não é má, mas a história acaba por ser demasiado... meh.

A ideia geral até aqui é a de uma antologia com potencial e uma qualidade acima da média, mas que se mantiver exactamente o mesmo registo, vai ficar muito aquém. No entanto, tenho confiança!

sábado, 13 de dezembro de 2014

Estantes Emprestadas [12] - Ciência/Literatura e outras dicotomias


Estou orgulhoso. Aliás, estou bastante orgulhoso. Não só consegui manter esta rubrica durante um ano inteiro, como consegui realmente convencer doze pessoas a participar. Incrível!
Mas avancemos para o texto deste mês, o último deste ano. A autora é a Sandra Martins Pinto, mais uma colega da Oficina de Escrita que se tornou numa boa amiga. Se ainda não perceberam, fica aqui mais uma prova de como este grupo foi das melhores coisas que me aconteceu nos últimos anos.
Bem, logo no primeiro parágrafo a Sandra descreve a crónica que lhe pedi, portanto não me vou alongar. Fiquem a saber que ela escreve bem, é advogada e está a tirar um curso de Informática (nem me vou atrever a dizer o nome certo do curso, tem computadores e envolve programar => Informática!). Por outro lado, a sua escrita cai frequentemente na Ficção Científica, não propriamente dura, mas agressiva, digamos. Ideias fortes, principalmente.
Deixo-vos agora com o texto da Sandra, que tem uma mensagem no final com a qual me identifico bastante. Espero que gostem tanto como eu. Da minha parte, obrigado Sandra!

Habituei-me a seguir religiosamente o Que a Estante nos Caia em Cima quase desde que conheci o Rui, na Oficina de Escrita da Trëma (agora metamorfoseada em Polícia Bom, Polícia Mau), pelo que fiquei muito contente com o convite para escrever esta crónica. Mas confesso que o tema me deixou um pouco preocupada, por não saber ao certo como o havia de abordar: pedia-me ele que falasse da minha “posição privilegiada enquanto estudante de letras e agora de ciências, relativamente à leitura/escrita, talvez com foco na FC, mas não só”.
Ora bem, e por partes: posição privilegiada? Talvez, mas confesso que não é bem essa a sensação do lado de cá. E nem sequer estou a falar da insanidade que representa a tentativa, depois de muitos anos de Direito, de medir novamente forças com a Matemática (que deixara lá para trás há quase quinze anos), ou de tentar espremer o meu cérebro nas máquinas de tortura da Ciência de Computadores. Refiro-me antes à sensação de indefinição que é não pertencer verdadeiramente a nenhum dos lados, pairar entre as letras e os números, saltar entre umas e outros assim como quem saltasse de um marido para um amante sem sequer saber, a cada momento, qual é o legítimo e qual é o emprestado...
Passei uns dias a pensar nisto, e concluí que o binómio Letras-Ciências (que não é tão bonito como o de Newton, mas anda lá perto) espelha outras dicotomias a que me foi habituando na minha vida, e que me foram definindo nesta coisa algo híbrida em que acabei por me tornar. Letras/Ciências. Forma/Conteúdo. Estilo/enredo. Mainstream/género. Feminino/Masculino. 
Binómio de Newton: a nossa noção de bonito
Quando era ainda muito pequena, a minha mãe apresentou-me aos textos, aos poemas, a dezenas de lengalengas que ainda hoje sei recitar de cor e que conseguiram que nunca ficasse pouco à vontade à frente de uma folha de papel e com uma caneta na mão. Aprendi a ler com os gibis da Turma da Mônica, alguns no português adocicado de Vera Cruz, e a partir de então sempre me senti confortável com as palavras; dominava as suas regras, sabia exactamente o que encaixava onde, o que jogava com o quê. Era a minha língua, era a minha praia. Ia pela rua fora e inventava histórias que ia dizendo alto, ou canções, ou recitava os versos – do António Aleixo, da Florbela Espanca - que tinha lido no dia anterior, no livro da estante que estava mais à mão. Ainda hoje essa sensação de facilidade me acompanha, e talvez por isso escolhi uma profissão em que tenho de escrever. Muito.
Mas  depois havia o outro mundo. A razão de ser das coisas, de o sol se erguer de manhã nas montanhas e se ir deitar ao mar. O porquê de o dia se seguir à noite. De haver estações. De o Cola Cao se dissolver no leite. De se ver o raio, e só depois se ouvir o trovão. Havia o meu pai debruçado sobre a mesa a desmontar as rodas dentadas e as resistências e tudo o mais que existia nas entranhas dos meus brinquedos, nos aquecedores e nos ferros eléctricos, comigo a espreitar-lhe por cima do ombro. Houve o primeiro computador, quando eu tinha aí uns doze anos.  Havia os jogos de lógica, os puzzles de Mastermind surripiados à Nova Gente (?!). A beleza fria, perene e elegante de uma prova dos nove, de uma regra de três simples.
Lindo!
Para mim, as letras sempre foram a inspiração, e os números a transpiração. Um 18 a matemática tomava-me dez vezes mais tempo e trabalho do que a mesma nota a Português, mas sempre insisti apesar disso. Talvez mesmo por causa disso. Sou filha de um engenheiro, e companheira de outro há mais de uma década; era inevitável que a forma de pensar deles me acabasse por contagiar.
Cada um é p’ró que nasce, mas às vezes podemos nascer várias vezes na mesma vida. E foi um pouco o que aconteceu quando me vi outra vez nos bancos da Faculdade, em frente a um computador a tentar o primeiro [primeiro meu, que não certamente dele] Hello World!;  por essa altura costumava comentar que quase conseguia ouvir as rodas dentadas a realinhar-se no andar de cima, e era mesmo assim. A forma mentis de um programador não é a mesma de um jurista, ainda que eu tenha constatado, muitas vezes, que também não andam assim tão distantes quanto se possa pensar. 
Foi equipada com esta mente - casada com as letras mas tentada a infidelidades com os números - que fui crescendo como leitora e como escritora, ou arremedo disso. E nos textos (lidos ou escritos) sempre encontrei uma outra dicotomia que, pelo menos na minha cabeça, sempre associei àquela: a que opõe a forma ao conteúdo, o estilo ao enredo.  E, por arrasto, ainda um outro binómio, o que contrapõe o mainstream – aquilo que se costuma designar, de forma algo elitista, por ficção literária – ao género, onde cabem a ficção científica, a fantasia ou o terror.
Apesar de ter a casa recheada das colecções da era dourada da Ficção Científica em Portugal (cortesia do meu pai), o primeiro livro de FC que me recordo de ter lido foi o The Gods Themselves, do Asimov (O Crepúsculo dos Deuses, na tradução em português do Brasil), já devia andar pelos 19 anos. Tinha ido para a praia sem nada para ler, e qualquer leitor sabe que isso fica pouco aquém da definição de inferno.

Antes disso tinha havido fantasia, claro. Desde logo, claro, havia os filmes. Haverá sempre o Neverending Story, por mais kitsch que pareça hoje (Falcor forever!). Além disso, num certo sentido, grande parte da literatura infantil é fantasia.  E havia as Aventuras Fantásticas da dupla Steve Jackson/Ian Livingstone, que me permitiam escolher a minha própria aventura na companhia diária de esqueletos, mandrágoras, basiliscos e feiticeiros de moralidade duvidosa. Em todo o caso, por essa altura, a minha bagagem mainstream era bem maior. Eu lia tudo o que apanhava, desde livros de educação católica aos clássicos.
No meio dessas leituras erráticas, surgiam algumas vezes livros de divulgação científica. Recordo uma tarde passada no Palácio de Cristal a tentar digerir a Breve História do Tempo, do Stephen Hawking, e a atitude desconfiada dos meus pais quando lhes pedi, como prenda de Natal, o Gödel, Escher e Bach do Hofstadter. Às vezes, era areia demais para a minha camioneta. Mas valia sempre a pena pelo gozo da viagem. E, claro – e julgo que com isto me aproximo finalmente do que penso ter sido a ideia original do Rui para este texto -, fui também mergulhando mais e mais na ficção especulativa em geral e na FC em particular. Ainda assim, se bem que já tenha lido hard science fiction e gostado (estou a lembrar-me, por exemplo, do Permutation City do Greg Egan), sempre preferi os autores que dedicavam mais tempo aos aspectos sociológicos e psicológicos dos futuros imaginados do que à ciência pura e dura. 
Curioso também é que, à medida que fui tomando contacto com a ficção especulativa – e nos últimos anos, 80% do que tenho lido (e escrito) enquadra-se nessa categoria  – fui-me deslocando progressivamente no tal eixo forma/conteúdo. Numa história de ficção científica (como literatura das ideias que alguém já lhe chamou, e que efectivamente é), ou mesmo numa história de fantasia, dificilmente a forma vale só por si. Claro, uma estrutura original pode ser uma mais-valia (estou a recordar-me do Flowers for Algernon, mas há outros exemplos mais recentes, e bem mais extremos), mas ainda está ao serviço da história, não se esgota nunca num exercício de estilo.

De qualquer forma, hoje tendo a pensar que essa questão fundamental para qualquer leitor e para qualquer escritor – O que é mais importante numa obra literária: a forma ou conteúdo? – merece uma resposta geral, independente do género.  Parece-me que uma tal resposta se aproximará muito da que vi dada pelo Salman Rushdie, quando o José Rodrigues dos Santos lhe colocou exactamente aquela pergunta a meio de uma entrevista. O escritor respondeu simplesmente, e estou a citar de cor: o que importa é o como (o how, no original inglês). Importa como se conta uma história: não apenas a história em si (que a ninguém encantará se truncada por uma estrutura obtusa ou por uma linguagem atroz), nem tão-pouco a roupagem que se lhe dê (que pode ser bela e original, mas não esconderá o vácuo de uma história desprovida de interesse). Importa a conjunção das duas coisas num storytelling competente. Isto é verdade para os clássicos, como é verdade para o fantástico. Como em quase tudo na vida, é na síntese que reside o encanto e a magia, nos raros momentos em que se consegue o milagre de um todo maior que a mera soma das partes. Com as letras e as ciências, afinal, sucede exactamente o mesmo. O homem do Renascimento sabia-o. Oxalá nós, civilizados e sofisticados, cidadãos do futuro, não o esqueçamos.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

X-Men #10


Argumento: Brian Michael Bendis, Brian Wood
Arte: David Lafuente, Jim Campbell, David López, Laura Martin, Chris Bachalo, Tim Townsend, Mark Irwin, Jaime Mendoza, Victor Olazaba, Al Vey, Marte Gracia
Tradução: Filipe Faria

Opinião: É com alguma pena que escrevo esta opinião. Porquê? Porque tornou-se oficial o fim destas revistas por cá. Foi uma experiência que correu mal!

Já muito foi dito sobre a situação, e a minha opinião é simples: má distribuição, péssima divulgação, um público-alvo muito específico e má gestão de conteúdo (virem séries diferentes intercaladas às vezes estragava um bocado), são estas as razões para o fim da publicação.

E é realmente uma pena, porque estava a começar a ficar interessante. A sério. Depois de muita conversa e um ritmo lento, o evento Batalha do Átomo, com reminiscências de Dias de um futuro esquecido, prometia. Incluía uma terceira versão de Hank McCoy e... o Deadpool!


É claro que abusaram um bocadinho da sorte, que a história já estava a ficar demasiado confusa, mas eu acho que até ia evoluir de forma positiva e conseguir ultrapassar o facto de se defrontarem quatro equipas mutantes, três das quais são apenas translações temporais umas das outras.

Havia aqui potencial, claramente, que vai ficar em aberto, porque se quiser continuar, tenho que ir em busca das versões inglesas (ou brasileiras). Uma pena.