sábado, 1 de fevereiro de 2014

Solidariedade


Aviso já que a única coisa que esta crónica tem a ver com livros é o facto de mencionar um escritor. Mas é um assunto em que fiquei a pensar. Caso ainda não tenham percebido o que é aconselho-vos a ler o título da crónica. Já está? Óptimo.

Confesso também que tenho uma opinião... complicada, relativamente à solidariedade. Logo para começar sou um adepto fervoroso do ensinar a pescar em vez de fornecer peixe, e do curar a doença em vez de tratar os doentes.

Esta última soou mal. Vocês compreendem. Não quero deixar ninguém morrer, mas acho os esforços são melhor aplicados a curar a doença do que a curar os doentes. Não sei bem como é que explico isto sem soar como uma pessoa horrível.

Deixem-me pôr as coisas nestes termos, que talvez seja mais fácil: existem muito provavelmente centenas de organizações de solidariedade cujo objectivo é recolher dinheiro para se construírem casas num qualquer país obscuro da África profunda. Eu acho que bastava haver meia dúzia com o objectivo de recolher dinheiro e voluntários para criar escolas e para ensinar os habitantes desse país obscuro a efectivamente viver melhor, seja através de práticas de higiene que previnam doenças ou de como cultivar melhor as batatas, para terem mais. Não percebo nada disso.

Isto está complicado. Não pensem que sou má pessoa, apenas não me estou a conseguir exprimir como deve ser. Fiquemo-nos pelo ensinar a pescar em vez de fornecer peixe, pode ser?

Com esta conversa, que está a correr mal para o meu lado, quero chegar a Patrick Rothfuss, autor de O Nome do Vento, do qual gostei muito, e O Medo do Homem Sábio, que ainda tenho de ler, mas estou à espera que saia o último livro da trilogia.

O homem tem um blog, engraçadíssimo e muito porreiro, onde fala frequentemente dos seus afazeres diários enquanto escritor e pai, e das peripécias com que se depara. Além disso, fala bastante da sua organização de solidariedade, a Worldbuilders, que faz um trabalho tremendo, em grande parte graças à divulgação do autor e ao carinho que os fãs têm por ele.

E pela sua mighty beard.
Pois bem, no outro dia um desses fãs perguntou-lhe exactamente o porquê de ele se esforçar tanto para a caridade, ou seja, porque raio é que estava sempre a falar disso e a divulgar tanto aquilo. A pergunta é feita da forma menos maliciosa possível, e com genuína curiosidade, e vale a pena ver a resposta do autor.

O desgraçado do homem acertou em cheio. Nunca tinha visto as coisas desta perspectiva, por um lado por falta de atenção ao assunto, por outro por pura arrogância e egoísmo de quem acha que curar os males do mundo é tarefa fácil, se as pessoas se dedicarem a isso. A verdade é que não é, e é importante passar essa mensagem. E o Rothfuss é tão bom nisto que me convenceu a pensar como ele.

Ainda duvido do trabalho da maior parte das organizações e acções de solidariedade, e prefiro curar a doença a curar os doentes,

(Já agora, acabei de me lembrar de uma boa forma de explicar isto: eu estou no curso de Engenharia Biomédica porque no fundo tenho ideais de Miss Universo, aquela história de ajudar as pessoas e não sei quê; podia ter ido para Medicina, mas acho que têm um trabalho inglório. Sem querer denegrir o trabalho dos médicos (só um bocadinho), são soldados nas trincheiras, a ganhar batalhas, um paciente de cada vez. E eu quero ser um estratega e ganhar guerras. Curar a doença em vez de curar doentes, estão a ver?)

mas percebo que a minha forma de pensar é demasiado radical e francamente idiota. Sei que estão convencidos da segunda parte, é sempre fácil achar isso das minhas ideias e opiniões, mas espero que estejam também convencidos da primeira. Ajudem.

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