sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

The Almost Moon

Título: The Almost Moon
Autora: Alice Sebold


Opinião: Alice Sebold escreve bem. Não escreve extraordinariamente bem, mas escreve bem. Os seus livros são têm temas (horrivelmente) pesados e dolorosos, mas a sua escrita é leve e despreocupada. Mas confesso que desta vez fiquei um pouco perturbado.

Acreditem que depois de Lucky, um livro de memórias com descrições detalhadas de quando a própria autora foi violada, e de The Lovely Bones, em que um tipo viola, mata e desmembra a protagonista, que depois narra a história do seu céu pessoal, eu pensava que já nada me podia surpreender nesta autora.

É que quer dizer, olhem para as capas dos livros. São fofinhas e femininas e maricas. A autora tem um ar simpático e maternal. Pronto, tudo bem, escreveu um livro sobre a sua violação e consequências, precisava de tirar isso do sistema. Depois escreveu um sobre dramas familiares, com violação, morte e desmembramento. Vá, influências da sua experiência pessoal que resultaram num belo livro de ficção que toca em temas profundos e muito negros, sem se exceder. Já chega, não é? A partir daqui a autora dedicou-se a escrever dramas familiares em que a coisa mais horrível que acontece é alguém partir uma perna e ninguém ter canetas cor de rosa para lhe desenhar lacinhos e coraçõezinhos no gesso... certo?

Não. Apresento-vos a primeira frase deste livro:

"When all is said and done, killing my mother came easily."

Surpresa!

Com esta frase, eu sabia que estava errado. 11 palavras que me provaram que a autora ainda tem muito que contar. A melhor parte? Essa frase é a mais  do livro inteiro.

Sem querer entrar em demasiados detalhes, a protagonista, Helen Knightly, tem uma mãe idosa, demente e agorafóbica, e um percurso de vida muito lixado. Muito, muito lixado. Helen mata a mãe e entra numa espiral de depressão, insanidade fria, apatia, comiseração, desespero e tristeza, que parece nunca mais ter fim.

A forma como Sebold descreve essa espiral, infelizmente, não é a melhor. As 300 páginas do livro contam pouco mais de 24 horas da vida de Helen, desde que mata a mãe, e passam a maior parte do tempo perdidas em memórias e considerações inconsequentes normalmente despoletadas por acontecimentos completamente irrelevantes e banais.

O retrato dos problemas mentais? Praticamente perfeito. A caracterização das personagens? As relevantes, bastante boa, para o resto, mediano. A história? Interessante. A estrutura? Horrível. Imaginem o que é ter 2 páginas de história, e depois 5 de memórias. Durante todo o livro.

A tipa olha pela janela, vê a casa de um vizinho, e tem uma recordação de qualquer coisa completamente irrelevante que aconteceu há uma catrefada de anos. Sim, as relações entre as personagens, especialmente a complicadíssima relação entre Helen e a mãe, estão muito bem feitas, mas os constantes fluxos de recordações tornam o avanço quase insuportável. A partir de certa altura as memórias começam a ser mais coerentes e a fazerem, de certo modo, avançar a história, mas continua a ser um avanço doloroso.

Não, não quero voltar a ler uma descrição da louca da tua mãe, quando vou na página 200 e ainda só se passaram meia dúzia de horas desde que a mataste. Eu sei que ela era louca, e sei que tinham uma relação complicada, podemos simplesmente avançar?

No fundo, não desgostei. A crueza da situação é fantástica, e volto a frisar a clareza com que as perturbações mentais são descritas, assim como as suas consequências e efeitos nas pessoas que rodeiam alguém doente. Mas a estrutura narrativa não me convenceu minimamente.

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