segunda-feira, 23 de junho de 2014

Epic (Epic #1)


Autor: Conor Kostick
Tradutor: Odete Martins


Opinião: A primeira vez que li este livro ainda não tinha um blog. Não me lembro exactamente de quando foi, nem porque é que o decidi comprar, mas aposto que o título e aquele dragão na capa me chamaram a atenção.

Epic tem uma premissa curiosa. Nada de muito original, mas que é relativamente bem explorado. O protagonista é Erik, um adolescente do planeta New Earth, uma colónia nossa, depois de termos estragado o nosso planeta, embora isso nunca fique propriamente muito explícito.

O Epic é um jogo de computador, uma espécie de MMORPG super avançado no qual todo o sistema político e judicial assenta, neste planeta. A violência foi banida e é vista como o maior crime de todos, e tudo se resolve através de desafios no jogo.

Faz lembrar The Dueling Machine, do Ben Bova? Faz sim senhor. A ideia é mais ou menos a mesma: evitar conflitos físicos desnecessários, recorrendo à realidade virtual. E se no livro de Bova esta realidade virtual é usada exclusivamente com este propósito, Kostick faz do Epic uma ferramenta para tudo, desde ganhar dinheiro a resolver todo e qualquer tipo de conflito.

A ideia é boa. E interessante. Mas o livro tem uma série de problemas que fui incapaz de ultrapassar.

O protagonista, Erik, é dos protagonistas mais irritantes que já encontrei. É um adolescente completamente estouvado, sem qualquer noção das coisas e com sonhos megalómanos. Os seus amigos são igualmente iludidos, com a diferença de que alguns deles parecem ter um pingo de razão naquelas cabecinhas ocas.

Sim, sim, os adolescentes não são conhecidos pela sua sapiência, mas isto é um mal geral. A mão de Erik tem reacções completamente idiotas e desproporcionadas, que não fazem qualquer sentido. Como acontece com quase todas as personagens. As caracterizações são superficiais na melhor das hipóteses, e nunca uma personagem parece ser credível.

Durante alguns capítulos tive uma esperança ténue de que o autor fosse fazer algo de jeito com isto, introduzindo e explorando temas controversos, adicionando assim uma densidade à trama que lhe faltou por completo.

Falo da escolha de personagem de Erik, a certa altura, e da orientação sexual de Bjorn, um dos seus melhores amigos. No primeiro caso, sem qualquer razão aparente, Erik escolhe que a sua personagem no jogo seja do sexo feminino e chama-lhe Cindela. Isto vai contra o normal, uma vez que o jogo tem uma importância tão vital naquela sociedade.

O motivo para Erik ter feito esta escolha podia ter sido explorado, bem como as consequências, mas a única coisa que o autor fez foi causar estranheza de duas linhas nas outras personagens, e dar tudo de mão beijada a Cindela, pelo simples facto de ser bonita. Nada de reflectir sobre problemas de identidade de Erik, ou confusão quanto à sua sexualidade. Nada.

E depois há Bjorn, que muito perto do início tem um momento recheado de fortes indícios de que possa ser gay e ter uma paixão por Erik. Com o avançar da leitura, no entanto, isso parece ter sido completamente acidental da parte de Kostick, e nunca é realmente mencionado. Mais uma oportunidade perdida.

É que sem isto, não há propriamente mais nada que se aproveite. Epic reduz-se a um livro juvenil e inconsequente, sem grande significado e sem ser uma grande obra de entretenimento, já que as batalhas são curtas e fracas, e os pormenores que podiam ser interessantes são sempre - sempre - mencionados de forma secundária.

Claro que ainda por cima o final é mau. Terrível. Tudo acaba bem, obviamente, mas isso até desculpo, que é preciso uma certa coragem para matar toda a gente no final de um romance assumidamente juvenil. O problema é que há coisas que não são explicadas e que deviam ter relevância para o final, mas passam completamente ao lado, e todas as pontas soltas que poderiam levar a uma continuação minimamente interessante são mal amanhadas e resolvidas em meia dúzia de páginas, deixando-me perplexo quanto ao facto de este livro ser apenas o primeiro de uma trilogia.

De tal forma perplexo, na realidade, que faço questão de ler os outros dois volumes. Pode ser que a coisa melhore mas, acima de tudo, quero ver o que raio é que o autor desencantou para continuar isto!

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