sexta-feira, 8 de agosto de 2014

The Fellowship of the Ring [1/2] (The Lord of the Rings #1)



Autor: J.R.R.Tolkien

Sinopse

Opinião: A primeira vez que li Tolkien, fiquei fascinado. Era novo e facilmente impressionável, com pouca bagagem literária relativamente à que tenho agora, o que levou a dois efeitos curiosos: o primeiro foi uma adoração quase irracional pela obra deste autor; o segundo foi não ter noção da verdadeira qualidade da obra deste autor.

Recentemente já li o The Hobbit e o The Silmarillion, ambos em inglês, duas obras tremendamente diferentes: a primeira, juvenil, mais simples e linear, ficou aquém das minhas expectativas; a segunda, mais violenta e complexa, revelou-se uma montanha demasiado alto para mim.

Pois bem, depois de ter lido aproximadamente um sexto de The Lord of the Rings, a trilogia de fantasia épica mais conhecida de todos os tempos, não tenho problemas em afirmar que é aqui que Tolkien atinge a perfeição narrativa.

O Silmarillion é, sem dúvida, uma obra muito mais complexa e, de certa forma, completa, mas essa mesma complexidade não joga a seu favor: o glossário de nomes tem cerca de cinquenta páginas, na minha edição de aproximadamente quatrocentas e cinquenta. É muita coisa.

Neste livro não há esse problema. Também há alguns nomes disparados ocasionalmente, mas ou são de pouca relevância, ou são explicados e contextualizados rapidamente, ou são pura e simplesmente tão usados que não há problema.

Mas falar de Tolkien e restringir-me à sua capacidade de inventar nomes é a mesma coisa que falar de Saramago e comentar apenas a sua tendência para enumerar coisas de forma aparentemente interminável: é um pormenor interessante mas que não tem grande relevância.

Portanto, o que dizer de Tolkien até agora? Mais concretamente, o que dizer da primeira parte de The Fellowship of the Ring? Para começar é muito complicado estar a ler isto e conseguir desligar-me dos filmes. Mas a prosa é tão rica e o mundo tão complexo, que o efeito não é negativo, antes pelo contrário.

A capacidade deste escritor em criar mundos detalhados é tão imensa que o meu único comentário tem que ser o meu olhar perdido e a minha boca aberta. Profunda admiração. Não é possível sentir outra coisa por Tolkien depois de se ler isto. As suas descrições do Shire, de Bree, dos edifícios, das personagens, dos costumes, dos bons e dos maus, das lendas e dos factos, é tudo fantástico!

Conheço poucos escritores capazes de darem realmente vida às suas palavras, e Tolkien parece que o faz sem esforço. Este estilo de história, a este ritmo, seria perfeito para um autor menor se perder em palha, mas Tolkien diz tudo o que tem a dizer e nunca aborrece.

Os hobbits são boas personagens, especialmente Frodo e Sam, que Merry e Pippin são um bocado indistintos e Bilbo pouco aparece. Gandalf também aparece pouco, mas não ficar cativado pelo feiticeiro cinzento é pura parvoíce. Nas poucas palavras escritas sobre ele, o que transparece é um velhote pacífico dono de um imenso poder e com alguma tendência para se chatear e no segundo seguinte desatar a rir.

Gollum, ainda que apenas mencionado, em grande parte em referências aos acontecimentos do The Hobbit, é muito interessante. Aragorn aparece mesmo no fim, mas a sua figura misteriosa é o suficiente para captar a imaginação. Os vários elfos e personagens menores que vão aparecendo, por pouca relevância que tenham para o enredo, são sempre boas personagens secundárias, tão “reais” como as principais. Mas há uma personagem secundária que se destaca, e de que maneira: Tom Bombadill.

Pelo que já vi em vários sítios, esta personagem é um autêntico mistério, que Tolkien nunca explica muito bem. Tudo nele é estranho, desde a sua constante felicidade aos estranhos poderes que parece ter sobre tudo o que rodeia, e incluindo a sua imunidade aos poderes do Anel.

Há uma personagem que, quando Frodo lhe pergunta quem é Tom Bombadill, lhe respode apenas: “Ele é.” O próprio Tom descreve-se a si próprio de forma enigmática e extremamente interessante. Eu juro que não sei qual era o objectivo de Tolkien com esta personagem, mas a minha teoria é que é apenas algo para gozar com os leitores. “Querem algo para pensar? Tomem lá.”

Independentemente disso, o interesse não se perde em Bombadill. Os Black Riders que perseguem Frodo e companhia são arrepiantes e assustadores, e embora a maior parte da narrativa seja usada para descrever os quatro hobbits em viagem, nunca se torna desinteressante. Se precisam de alguma prova da mestria de Tolkien, é isso mesmo.

Mal posso esperar agora por ler a segunda metade, que deve começar com os hobbits e Aragorn em Rivendell, onde estão perto de chegar no fim desta parte. Já sei que é lá que é de facto formado a Irmandade do Anel, um dos momentos decisivos da trilogia, e quero absorver todos os detalhes, todos!

Por agora, fiquem com esta ideia: Tolkien é excelente, e esta trilogia é muito provavelmente a sua obra-prima.

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