quarta-feira, 20 de agosto de 2014

The Two Towers [1/2] (The Lord of the Rings #2)


Autor: J.R.R.Tolkien


Opinião: Com a Irmandade desfeita e membros importantes em falta, esta primeira metade de The Two Towers assume uma importância insuspeita na trilogia. Já não há apresentações a fazer, nem um mundo para explorar a partir do zero. A prova disso mesmo é o começo no seguimento imediato do final do primeiro livro (12), mergulhando-nos directamente na acção.

Mas qual a importância, afinal, desta parte? É preciso esclarecer que teve uma grande vantagem, do meu ponto de vista: nem sinal de Frodo e Sam. Pois é. eu já me lembrava disto da primeira vez que li a trilogia, e como as únicas memórias que tinha da história correspondiam aos filmes, também não ia lá.

Durante esta metade acompanhamos apenas Merry e Pippin, levados por orcs e uruk-hais, e Aragorn, Legolas e Gimli, em busca dos três primeiros. Frodo e Sam "fugiram" sozinhos em direcção a Mordor, e ao resto da Irmandade já toda a gente sabe o que aconteceu.

Isto para mim foi bom, porque eu nunca tive, e provavelmente nunca vou ter, qualquer pingo de paciência para a relação e as interações entre Frodo e Sam. Os dois hobbits têm uma dinâmica curiosa de líder e seguidor, mas que borda várias no doentio. E também me chateia a tendência para ignorar Sam.

É que se Frodo está destinado a ser o herói trágico, chegando mesmo a ser visto como tal por todas as personagens com conhecimento real sobre o que se passa, Sam é apenas o criado leal até à exaustão, com um sentido de honra que o faz partilhar o fardo do seu amo, pelo menos em termos psicológicos (até agora).

Mas essa conversa fica para outra altura, que é preciso falar do que se passou ao longo destas páginas. Entre pedaços interessantes mais centrados nas criaturas maléficas de Sauron e Saruman, e a longa busca de Aragorn, Legolas e Gimli, não sei bem o que terá sido mais interessante. Os orcs e companhia são raças curiosas e tão intrisecamente malévolas, que por pouco protagonismo directo que Tolkien lhes dê, se destacam. Já os três estarolas multi-espécies são, acima de tudo, extremamente engraçados.

Aragorn, o humano, faz o papel de pai porreiro, capaz de interromper a gravidade do seu semblante para rir de forma honesta, enquanto Legolas e Gimli são os irmãos improváveis, pertencentes a raças que, basicamente, não se dão, mas que se estão a tornar muito rapidamente no melhor tipo de amigos possíveis.

Mas aproximadamente a meio (a vinte e cinco por cento do livro, portanto) Tolkien volta a introduzir coisas novas, levando-nos a visitar Rohan e a conhecer os seus famosos cavaleiros, por exemplo. Mas a melhor parte, e que até agora é o meu capítulo favorito de Tolkien, é quando Merry e Pippin fogem para Fangorn, a floresta amaldiçoada, ou coisa que o valha, e conhecem Treebeard, o Ent.

Os Ents são árvores ambulantes, seres antigos e com responsabilidades no que diz respeito às florestas de Middle-Earth. Qualquer pessoa que tenha visto os filmes se lembra das gloriosas imagens de árvores enormes e vagarosas a marcharem para a batalha e a estraçalharem tudo o que lhes apareceu à frente.

Aquilo que é fantástico, no entanto, é o capítulo dos dois hobbits em Fangorn, acompanhados por Treebeard, desde a altura em que o descobrem até à altura em que o fazem incitar os Ents a partirem para a porrada. Todo esse capítulo é delicioso: as descrições da floresta e dos Ents; a personalidade de Treebeard; a forma como os Ents falam e lidam com as coisas, enfim, tudo é digno de nota!

A parte final, como não podia deixar de ser, é fantástica. A batalha é menos grandiosa do que no filme, mas vá, é normal. O confronto de Gandalf (*gasp* SURPRISE!) com Saruman é intenso, e as suas consequências permitem um final (que não é mais do que um meio) forte e cativante.

O meu medo agora é que a segunda parte seja exclusivamente dedicada a Frodo e a Sam, e a coisa me aborreça, mesmo com o inevitável aparecimento de Gollum e uma certa aranha. Não sei até que ponto a narrativa não teria beneficiado de ir intercalando mais as coisas... Mas por outro lado, se o fizesse, este final intenso de que falei só estaria mesmo no final, e isso não ia ter piada nenhuma!

2 comentários:

Anónimo disse...

Quanto a Aragorn não há como negar que Tolkien ofereceu ao mundo um dos melhores heróis de sempre.
Inseguro, com medo da sua herança, o homem não guarda nenhuma esperança para si mas enche o coração dos homens que lidera com ela.
O homem é um líder tão forte que até os mortos o seguem; o que leva a que todos os seus homens o sigam no final até às portas de Mordor. (Se eu fosse um soldado de Gondor seguiam para Mordor? Tá bem tá…)

Quanto à interacção Gimli/Legolas ainda hoje acho que devem ser fruto de um episódio na vida bélica de Tolkien que o levou a pensar em como duas pessoas tão diferentes se podem tornar irmãos de armas.

Frodo e Sam simbolizam também os laços de camaradas de guerra. Quando um não consegue, o outro carrega-o por mais pesado que seja o fardo daquele. O que importa é a missão...

Quanto a Merry e Pippin, acho que são as personagens mais engraçadas de toda a saga.

Já quanto a Sauron... como é possível alguém ter criado um vilão sem cara e este exercer tanto poder sobre o mundo.
É uma mancha de maldade que do Leste da Terra Média varre o resto do mundo apenas por ser fogo tão quente que nem se pode tocar nele. Acho magistral como Tolkien conseguiu fazer isso sem lhe conceder uma luta épica no fim ou outro cliché vilanesco qualquer da literatura... magistral. Parece-se com o fim do Hitler, ninguém sabe como foi...
É quase como se fosse uma aura, uma força dominadora e só isso (O lado negro da Força que existe mas que ninguém vê...)

Rui Bastos disse...

De Aragorn só tenho pena que os seus grandes momentos só cheguem no terceiro livro!

Com Gimli e Legolas concordo contigo, mas quanto a Frodo e Sam... Epah, consigo ver o teu ponto de vista, mas a relação que vejo é mais uma de devoção cega do que outra coisa.

Merry e Pippin são sem dúvida o comic relief da coisa, e nem poderiam ter sido outras personagens a dar de caras com os Ents (e a importância que isso teve!!)

A questão de Sauron é fácil: o Lovecraft sempre disse que temos medo é do desconhecido. Se Sauron tivesse uma cara e fizesse aparições, perdia a sua força. É como dizes, é tão irreal e inacreditavelmente poderoso, que a única coisa que se pode fazer é ter medo!

Nunca tinha pensado nisso, de ele não ter uma luta épica no fim nem nada parecido, mas realmente...