segunda-feira, 30 de junho de 2014

X-Men #5


Argumento: Brian Michael Bendis
Arte: Stuart Immonen, Wade Von Grawbadger, Marte Gracia, Rain Beredo

Opinião: Depois de quatro números em crescendo, esta quinta parte de X-Men perde o fôlego. A capa promete muita porrada e uma história repleta de acção, mas desenganem-se.

Foi como se tudo tivesse parado, especialmente tendo em conta que isto pega na parte que ficou pendurada no número três, já que o quatro correu de forma mais ou menos paralela aos números anteriores.

Alguma conversa, alguma proto-política mutante, muitos discursos inflamados e emocionados e pouca porrada. Os X-Men originais estão, acima de tudo, confusos; os actuais estão divididos e muito chateados; a facção liderada pelo Ciclope do presente estão muito seguros de si e cheios de vontade de iniciar uma guerra; e há ainda uma facção liderada pela Mística, que tem um qualquer plano secreto mas que por enquanto faz o que um vilão faz de melhor: lançar o caos.

O grande ponto negativo, no entanto, é mesmo a uniformização das personagens. As mais marcantes, como Wolverine, têm rasgos de individualidade, mas o que acontece de uma forma geral é que soam todas ao mesmo.

Não sei se é do estilo de Bendis ou se os comics contidos nesta revista são mais fracos do que o habitual, mas todas as personagens parecem falar da mesma forma, com os mesmos tiques, o mesmo tipo de saídas, as mesmas reacções... E isso é mau, muito mau, pois enquanto leitor quero é identificar e distinguir as personagens, quero ser capaz de dizer "aquela personagem fez algo muito fixe!" ou "esta personagem não esteve muito bem", mas não sei bem quem disse o quê. No fundo, parece-me que foi o argumentista a falar, e não as personagens...

O tipo de humor é de facto engraçado, mas não faz sentido da forma como está a ser usado. A narrativa até tinha vindo a evoluir de forma positiva, tal como faz aqui, ainda que mais lentamente, mas as personagens perdem-se frequentemente em discursos e confrontos verbais que mais parecem conversas de loucos - alguém a falar consigo próprio.

Mesmo assim não é uma má leitura, e não me lembro de outro mês em que tudo tenha ficado tão em aberto... Houve algumas surpresas, algumas coisas não tão surpreendentes quanto isso, e um certo avanço no enredo, que corria o risco de estagnar mas que se limitou a abrir todos os caminhos possíveis e a deixar-me a pensar por onde vai seguir agora. Em Julho saberemos.

sábado, 28 de junho de 2014

Estantes Emprestadas [6]: E se se cumprem as Distopias?


A autora deste mês é a Rita Santa-Rita (completamente relacionada com o pintor, sim), que nunca foi minha colega mas que conheço desde o 9º ano. Já há uns tempos que não falava regularmente com ela, mas descobri este ano que a rapariga é fã acérrima de distopias... Enfim, acho que consigo aguentar com duas amigas loucas de artes!

O tema que lhe pedi não foi bem o que ela escreveu. Eu sugeri uma crónica sobre as distopias fora de prazo, ou seja, qual a diferença entre o 1984 antes e depois de 1984? A mensagem, ou a forma como ela é percebida, muda por já ter passado a data da "previsão"? Estão a ver a ideia. Mas a Rita tinha outras coisas na cabeça. Desvirtuou um pouco e escreveu o texto que vão ver a seguir.

Tanto o desvirtuamento como o texto são bons. Nunca quis que esta rubrica fosse propriamente rígida: acima de tudo, liberdade aos autores convidados. Sim, a Rita foi a que melhor abusou aproveitou dessa liberdade, mas não me parece estranho em alguém que consome tanta distopia. Por agora deixo-vos com a crónica dela, com excelentes ilustrações da própria.

Foi no meu primeiro ano de faculdade que comecei a minha grande paixão — ou obsessão, tanto faz... — pelos romances baseados em sociedades distópicas. O primeiro que li foi precisamente o célebre 1984 (1948) de George Orwell. Como disse, eu tinha acabado de entrar para a faculdade e agora andar de metro fazia parte do meu quotidiano, e era nessas alturas de deslocação que eu aproveitava para ler.

Sempre tive a capacidade (ou o defeito) de me “envolver demasiado” nas histórias que leio ou nos filmes que vejo. Então, de vez em quando, desviava o olhar do que estava a ler e fixava-o nas pessoas à minha volta. Mal sabiam elas que eu nos imaginava, a todos, como residentes na Oceania sobre o regime do Grande Irmão. Então eu questionava-me, se de facto, estivéssemos todos nós a ser constantemente observados?
Ou pior, estaríamos nós em algum tipo de prisão que nos era imperceptível ver?
Começava a matutar nestas possibilidades, um bocado a dar para a teoria da conspiração.
Às várias pessoas a quem eu falei das possibilidades de nós estarmos cativos e vigiados tal e qual no livro, riram-se de mim e da minha paranóia ingénua. Devo admitir que o meu receio de me pronunciar em frente a um televisor — que ainda se mantém — é bastante ridículo e infantil, mas também tem sido bastante divertido para quem convive comigo. Ainda assim, não consigo deixar de pensar se as “previsões” que Orwell e outros fizeram não foram cumpridas ou estão a começar a ser cumpridas em segredo.
Há tanto que nós não nos apercebemos.
No livro de 1984, nunca sabemos ao certo quem ou o que é o Grande Irmão, se é de facto uma pessoa ou uma entidade composta por diversos indivíduos. Mas, chegamos ao momento crítico, que já nem isso interessa. Assusta-me o facto de haver a possibilidade de acharmos que estamos a agir livremente e estarmos inconscientemente a ser controlados.
O 1984 transmite um ambiente negro, sujo e que quase que sufoca, coisa que eu sempre achei que condizia com o metro, nunca percebi bem porquê. Já o Admirável Mundo Novo (1932) de Aldous Huxley, apesar de se tratar também de uma distopia, presenteia-nos um clima mais “arejado” e limpo. Foi quase como que um alívio. Mais uma vez, imaginei-me “dentro do livro”.
E ao fazê-lo descobri uma curiosidade engraçada. Para lá caminha esta nova e jovem geração. Bem, talvez não a nível genético. Ainda não chegámos ao extremo de sermos todos clones, nascidos de um tubo de ensaio e sem pai nem mãe. Contudo, consegui na mesma visualizar perfeitamente um conceito ou outro enunciados no livro nos miúdos de hoje.
A insistência de andarem “todos de igual”, eu já tenho dificuldade com caras e, para mais, com estes hábitos que eles arranjam para se confundirem, torna todo o processo de distinguir pessoas mais difícil. E nós achamos que é algo que passa com a idade, mas que na verdade parece manter-se para toda a vida. A demasiada dependência das novas tecnologias, a democratização de drogas e comprimidos, a preferência por práticas sexuais cada vez mais desprovidas de sentimentos e mais abrangentes e aleatórias, como se de facto o “ser-se fácil” fosse o padrão social correcto. Estaremos a gerar uma sociedade de sociopatas? Tudo indica que clássicos como Shakespeare serão postos de lado e perdidos. Vive-se sem objectivos e vive-se numa tentativa constante de encobrir o “sofrimento de viver” sem procurar realmente viver.
E nós conformamo-nos com isso.
Já em Nós (1921) de Evgueni Zamiatine, apesar de este romance ser mais antigo que os outros dois aqui mencionados, a ideia com que fiquei dele é que se insere num futuro ainda mais longínquo e distante que os restantes. E o facto do protagonista/narrador acreditar e defender os morais do seu espaço-tempo inquieta-nos ao procedermos com a leitura. Está-nos a ser descrito uma sociedade excessivamente organizada e matematicamente estruturada. Confessa-nos ele que nem lhe cabe na cabeça que os seus “antepassados” (nós, não eles no Nós... bem, vocês perceberam...) fossemos tão selváticos e aleatórios na nossa liberdade. Quando ele sabe que a perfeita harmonia e felicidade vêm exactamente da exclusão dessa “liberdade” que, segundo ele, era o que nos aprisionava na verdade.
Esta ideia mexe muito mais comigo do que as apresentadas nos romance de Orwell ou Huxley, pois é fácil — enquanto leitor — posicionarmo-nos como "outcasts" face a um regime totalitário no qual não acreditamos tal como o Winston Smith ou John, O Selvagem; mas mais difícil será imaginarmo-nos como sendo o D-503, que faz parte de todo este “esquema” e acredita nele piamente. Ou seja, mesmo que lhe fosse oferecido a hipótese de “escapar”, ele não estaria nem um pouco interessado.
Mas se há um conto, que segundo esta disposição de ideias, me afecta os sentidos completamente é o filme THX-1138 (1971) de George Lucas. Sejam bem vindos ao futuro, um futuro onde o Ser Humano é tratado como uma pequena parte de uma máquina maior. Este é mantido sobre controlo através de drogas calmantes e polícias robots que são construídos pelos próprios seres humanos para os manterem cativos.
O que parece doer na nossa pele ao ver este filme, é que todas estas regras e prisões impostas sobre o ser humano para o “libertar” da sua perversão, são impostas por ele próprio. A prisão em que THX vive é paradoxalmente fácil de se escapar, no entanto, muito raros são os que sequer pensam nisso.
Há prisões em que vivemos que não nos são impostas por mais ninguém, sem ser nós próprios.
Imaginemos um Mundo completamente livre. Os Anarquistas levaram a filosofia deles avante. Cada um por si, cada um faz o que lhe apetece. Instalar-se-ia o caos ou, mais tarde ou mais cedo, iríamos procurar uma qualquer entidade à qual nos pudéssemos render, para que nos diga o que fazer?
Pergunto-me se a verdadeira prisão para o ser humano não seria a total liberdade, por falta da capacidade deste de a saber gerir?
*
Volta Thomas Moore, estás perdoado!

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Disney Big #4


Argumento: Rodolfo Cimino, Abramo Barosso, Giampaolo Barosso, Guido Martina, Osvaldo Pavese, Jerry Siegel, Vincenzo Mollica, Carlo Panaro, Paola Mulazzi, Massimiliano Valentini, Rudy Salvagnini, Ennio Missaglia
Arte: Romano Scarpa, Giorgio Bordini, Luciano Capitanio, Luciano Gatto, Giuseppe Perego, Sergio Asteriti, Massimo De Vita, Giorgio Cavazzano, Carlo Limido, Alessandro Gottardo, Andrea Freccero, Silvio Camboni, Lino Gorlero, Alessandro Perina, Pier Lorenzo De Vita
Tradução: Ana Ferreira, Joana Berardo Frazão, Joana Fabião, Rafaela Mota Lemos

Opinião: Não faz mal a lombada deste livro ser vermelha, não faz mal a lombada deste livro ser vermelha, não faz mal a lombada deste livro ser vermelha, não faz mal não faz mal não faz mal, não não não nãaaaoooooooOOOooOOOOooo...

Malditos. Malditos sejam os responsáveis gráficos por esta colecção. Malvados. São as criaturas mais maléficas à face da Terra. A lombada do primeiro era vermelha. A do segundo era azul. A do terceiro era vermelha, o que foi estranho, quer dizer, não têm mais cores? Ficava mais porreiro, mas pronto, vermelho azul vermelho verde vermelho azul, ou vermelho azul vermelho azul vermelho e por aí fora, pronto, não parece ser o ideal, mas desde que faça sentido...

Mas não. Quando comprei esta a lombada era vermelha. O horror. A miséria. A calamidade. Duas lombadas seguidas com a mesma cor. Claro que ainda pode haver um padrão, mas vai ser um padrão idiota! Qual é o problema deles? QUAL?

Pronto, já passou. A sério. Vamos lá falar do conteúdo. Há algumas histórias boas, algumas menos boas, mas já não teve nenhuma que tenha considerado má, o que é uma vitória, se querem que vos diga. Há pelo menos um momento de brilhantismo e quatro histórias com um formato peculiar que me agradaram bastante.

O momento de brilhantismo surge no meio de uma série de histórias que, infelizmente, nem por serem centradas no Tio Patinhas e nas suas lutas contra quem lhe quer roubar o dinheiro e coisas parecidas se tornam agradáveis. São medianas. Talvez sejam demasiado antigas e os temas acabem por me escapar um bocado ao interesse, mas pronto.

No entanto nada como um momento de brilhantismo para salvar o dia. A certa altura, numa determinada história, o Tio Patinhas diz ao Donald algo como "retiro-te as palavras!" e saca dum pano com o qual limpa o balão de fala do Donald. Muito bom. Bueda meta. Como é óbvio, este momento destacou-se, para mim, mas não conseguiu salvar a história nem a primeira secção do livro.

Há uma secção com histórias relacionadas com filmes que não me disseram nada, e uma focada na secretária do Patinhas, que ainda que sejam interessantes por se focarem numa personagem pouco habitual e permitirem um vislumbre deste Universo pelos olhos de outra pessoa para além dos patos e dos ratos, não são nada de especial. A secção final, com o Huguinho, o Zezinho e o Luisinho como protagonistas, foi a que achei mais fraca, pois reduziu os miúdos, de uma forma geral, a um bando de miúdos normal, e os desgraçados são muito mais do que isso.

A secção que falta foi a minha favorita e consiste em histórias com o Pateta a ligar ao Mickey a horas indecentes a lembrá-lo que é Quarta-Feira e, portanto, dia de ele contar uma história. Bem, os risos são garantidos, aqui sim. A forma como os pormenores são inverosímeis e tão patetas logo ao início é engraçada, mas as mudanças on the fly que ele vai fazendo graças às sugestões do Mickey são qualquer coisa de especial. Vale verdadeiramente a pena.

Tirando isso tenho que considerar este livro pouco acima de mediano. Não é mau. Não é bom. É um bocadinho melhor que mediano.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Defenders


Autor: Will McIntosh



Opinião: É fácil dizer que a linha entre o certo e o errado é ténue. Já não é tão fácil dizer que ela simplesmente não existe. Will McIntosh ainda consegue fazer algo melhor: usa este conto, Defenders, para o mostrar.

A partir de uma reciclagem interessante de uma premissa bastante usada - a da invasão alienígena - McIntosh cria uma raça de ciborgues gigantes, os Defenders, criados por nós para combater os invasores, Luyten, estranhamente parecidos com estrelas do mar gigantescas.

Mas o que fazer quando a guerra acaba? O que fazer a alguns milhões de robôs semi-orgânicos com inteligência artificial avançada depois de terem derrotado os inimigos? A resposta é ao mesmo tempo assustadora e divertida: dar-lhes a Austrália, privacidade e eterna gratidão.

Só quase trinta anos depois destes eventos é que um grupo de embaixadores humanos é convidado para visitar a sociedade que os Defenders construíram para si. O que encontram é uma Austrália de aspecto normal, mas gigante, Luyten escravizados e Defenders loucos.

O que aconteceu foi o que um dos Luytens diz a certa altura: a humanidade criou os Defenders demasiado depressa. Deixou-os incompletos. Incapazes de lidar com a sua própria senciência, os Defenders querem tomar conta do resto do planeta, para expandirem a sua civilização instável e acabarem por controlar os humanos da mesma forma que controlam os Luyten.

Esta opção é apresentada como uma proposta irrecusável, não uma que poderá acontecer, mas uma que irá acontecer.

Os Defenders estão muito bem caracterizados como poderosos, implacáveis e extraordinariamente loucos. Psicopatas autênticos. Há uma demonstração bastante clara desse aspecto logo no primeiro contacto entre embaixados e Defenders: quando uma surpresa preparada se revela desagradável, o Defender anfitrião rapidamente pede desculpa e assegura que o responsável por aquele ideia vai ser encontrado e morto. Assim, a seco, sem qualquer entoação nem demonstração de sentimentos em particular.

As atrocidades sucedem-se, vistas através dos olhos de Lila, a embaixadora da New Australia e testemunha directa da invasão Luyten e uma boa personagem, ideal para espelhar os diferentes pontos de vista em jogo nesta história.

A partir de certa altura a única opção que sobra aos humanos é uma aliança com os Luyten para exterminarem os Defenders. E é aqui que entra a moralidade da coisa: tendo em conta a história até aqui, seria de imaginar que os Luyten não sejam realmente os maus de fita, que talvez tenham sido obrigados a atacar por uma razão qualquer perfeitamente válida e que os verdadeiros vilões são os Defenders... Mas isso era demasiado fácil, não era?

Os Luyten são e serão sempre os vilões, invadiram a Terra por motivos egoístas e que dificilmente iremos compreender. Mas também são, em certa medida, os salvadores da Humanidade. Os Defenders, por outro lado, foram de facto os defensores que salvaram a espécie humana da destruição e subjugação. Não deixam, ainda assim, de ser os psicopatas com intenções de nos escravizarem.

Complicado. Muito complicado. E brilhantemente escrito por McIntosh, que consegue condensar estas dicotomias herói/vilão numa pequena mas intensa história, que é também um excelente conto de redenção, perdão e, acima de tudo, memória.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Epic (Epic #1)


Autor: Conor Kostick
Tradutor: Odete Martins


Opinião: A primeira vez que li este livro ainda não tinha um blog. Não me lembro exactamente de quando foi, nem porque é que o decidi comprar, mas aposto que o título e aquele dragão na capa me chamaram a atenção.

Epic tem uma premissa curiosa. Nada de muito original, mas que é relativamente bem explorado. O protagonista é Erik, um adolescente do planeta New Earth, uma colónia nossa, depois de termos estragado o nosso planeta, embora isso nunca fique propriamente muito explícito.

O Epic é um jogo de computador, uma espécie de MMORPG super avançado no qual todo o sistema político e judicial assenta, neste planeta. A violência foi banida e é vista como o maior crime de todos, e tudo se resolve através de desafios no jogo.

Faz lembrar The Dueling Machine, do Ben Bova? Faz sim senhor. A ideia é mais ou menos a mesma: evitar conflitos físicos desnecessários, recorrendo à realidade virtual. E se no livro de Bova esta realidade virtual é usada exclusivamente com este propósito, Kostick faz do Epic uma ferramenta para tudo, desde ganhar dinheiro a resolver todo e qualquer tipo de conflito.

A ideia é boa. E interessante. Mas o livro tem uma série de problemas que fui incapaz de ultrapassar.

O protagonista, Erik, é dos protagonistas mais irritantes que já encontrei. É um adolescente completamente estouvado, sem qualquer noção das coisas e com sonhos megalómanos. Os seus amigos são igualmente iludidos, com a diferença de que alguns deles parecem ter um pingo de razão naquelas cabecinhas ocas.

Sim, sim, os adolescentes não são conhecidos pela sua sapiência, mas isto é um mal geral. A mão de Erik tem reacções completamente idiotas e desproporcionadas, que não fazem qualquer sentido. Como acontece com quase todas as personagens. As caracterizações são superficiais na melhor das hipóteses, e nunca uma personagem parece ser credível.

Durante alguns capítulos tive uma esperança ténue de que o autor fosse fazer algo de jeito com isto, introduzindo e explorando temas controversos, adicionando assim uma densidade à trama que lhe faltou por completo.

Falo da escolha de personagem de Erik, a certa altura, e da orientação sexual de Bjorn, um dos seus melhores amigos. No primeiro caso, sem qualquer razão aparente, Erik escolhe que a sua personagem no jogo seja do sexo feminino e chama-lhe Cindela. Isto vai contra o normal, uma vez que o jogo tem uma importância tão vital naquela sociedade.

O motivo para Erik ter feito esta escolha podia ter sido explorado, bem como as consequências, mas a única coisa que o autor fez foi causar estranheza de duas linhas nas outras personagens, e dar tudo de mão beijada a Cindela, pelo simples facto de ser bonita. Nada de reflectir sobre problemas de identidade de Erik, ou confusão quanto à sua sexualidade. Nada.

E depois há Bjorn, que muito perto do início tem um momento recheado de fortes indícios de que possa ser gay e ter uma paixão por Erik. Com o avançar da leitura, no entanto, isso parece ter sido completamente acidental da parte de Kostick, e nunca é realmente mencionado. Mais uma oportunidade perdida.

É que sem isto, não há propriamente mais nada que se aproveite. Epic reduz-se a um livro juvenil e inconsequente, sem grande significado e sem ser uma grande obra de entretenimento, já que as batalhas são curtas e fracas, e os pormenores que podiam ser interessantes são sempre - sempre - mencionados de forma secundária.

Claro que ainda por cima o final é mau. Terrível. Tudo acaba bem, obviamente, mas isso até desculpo, que é preciso uma certa coragem para matar toda a gente no final de um romance assumidamente juvenil. O problema é que há coisas que não são explicadas e que deviam ter relevância para o final, mas passam completamente ao lado, e todas as pontas soltas que poderiam levar a uma continuação minimamente interessante são mal amanhadas e resolvidas em meia dúzia de páginas, deixando-me perplexo quanto ao facto de este livro ser apenas o primeiro de uma trilogia.

De tal forma perplexo, na realidade, que faço questão de ler os outros dois volumes. Pode ser que a coisa melhore mas, acima de tudo, quero ver o que raio é que o autor desencantou para continuar isto!

sábado, 21 de junho de 2014

Imitação, homenagem ou obsessão?



O termo fan fiction não é estranho para quem acompanha minimamente o mundo da literatura. Toda a gente sabe o que é, toda a gente já passou os olhos por alguma, muita gente até já escreveu alguma, e toda, mas toda a gente, tem uma opinião sobre ela.

Pessoalmente nunca me debrucei muito sobre o assunto. Sei que existe muita coisa, especialmente muita confusão, quantidades aberrantes de algum tipo de pornografia, e pouco mais. Já espreitei umas coisas, por curiosidade, e não fiquei fã, mas de certeza que há por aí fan fiction de qualidade.

Por acaso estou actualmente a escrever uma história que pode ser entendida como fan fiction, mas é exactamente por isso que estou a escrever esta crónica. É que estava a pensar na minha história e apercebi-me de que estava basicamente a escrever fan fiction.

Depois disso comecei a pensar na razão para o estar a fazer. O que raio é que me tinha levado a fazer algo que eu costumava olhar com algum desprezo? Aliás, embora me seja um bocado indiferente, ainda me custa ver a fan fiction com outra coisa que não um ligeiro desprezo. Parece-me... idiota. Mas como nunca pensei muito no assunto, não tinha grandes fundamentos para dizer o que quer que fosse.

Agora obrigo-me a pensar e chego a conclusões interessantes. Primeiro que tudo, não é uma forma de imitação. Acho que 90% da fan fiction se está a borrifar para o estilo dos autores. O que as pessoas tentam reproduzir, quando escrevem fan fiction é a história e as personagens. E não o fazem por simples vontade de imitar, não, porque quem escreve fan fiction não são as pessoas normais: são os fãs.

Um fã é uma pessoa muito especial. Pode ir de ocasional a obcecado, mas tem sempre presente a paixão pelo livro/filme/série, ou o que for. Como tal, o que acontece é que a fan fiction é escrita como homenagem, como forma de preencher o que falta, e como resultado de uma obsessão que pode ou não ser saudável.

Como fã de várias coisas, compreendo. Continuo a achar ligeiramente idiota, mas compreendo. E também compreendo ambas as posições tomadas por autores por esse mundo fora: desde a atitude despreocupada da J.K.Rowling e da Stephenie Meyer à hostilidade de George R.R. Martin e Anne Rice, entre outros, tudo é válido.

Rowling sente-se homenageada, Meyer não tem problemas com um dos maiores sucessos dos últimos tempos ter derivado de uma fan fiction ao seu trabalho, tudo bem. Martin e Rice são violentamente contra, com Martin a dizer inclusivamente que é uma má prática para escritores amadores. Compreensível.

Falando por mim, não sei qual seria a minha reacção se alguma vez escrevesse algo com tanto sucesso que alguém escrevesse fan fiction. Por um lado era sinal de que havia pessoas a gostar bastante do que escrevo, por outro não ia gostar de estarem a usar as minhas personagens e as minhas histórias.

É mais complicado do que parece, e não sei qual será a melhor opção para lidar com estas coisas. É claramente algo bom, a existência de fan fiction implica a existência de fãs, como todos os escritores querem. Mas o ponto de vista contrário também me parece bastante válido, se eu nem gosto que me mexam nas coisas, quanto mais nas minhas histórias e nas minhas personagens.

Portanto não sei. Descarto claramente a opção de ser imitação, e apoio fortemente a homenagem. Fico preocupado quando começa a entrar no campo da obsessão, mas até os autores têm opiniões divididas. Já para não falar quando mudam efectivamente de opinião, como é o caso de Orson Scott Card, que era activamente contra e passou a apoiar, por ser publicidade grátis aos livros dele.

O que dizem vocês?

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Os Vingadores #5

Argumento: Jonathan Hickman
Arte: Dustin Weaver e Justin Ponsor
Tradução: José H. de Freitas e Filipe Faria

Opinião: A vertente de ficção científica cósmica do Universo Marvel continua a predominar nesta BD. O que não é mau de todo, aliás, é até bastante interessante... a maior parte do tempo.

Acho que o argumento não está a conseguir aproveitar completamente o potencial da premissa, perdendo-se em sequências como a que abre este número, meia dúzia de páginas de uma personagem nova, num cenário novo, com uma data de nomes novos e sem que nada pareça ter relação com a história central.

Pior ainda tendo em conta que esta versão portuguesa da revista alberga duas continuidades diferentes, a dos Vingadores e a dos Novos Vingadores, ou Illuminati. Sim, são paralelas e bastante interdependentes, mas não deixam de ser, ao fim e ao cabo, duas histórias diferentes.

No meio disso tudo, uma sequência de abertura como a deste número cai mal. A sensação que tenho é a de estar a ver uma imagem e a diminuir o zoom com cada número. No primeiro estava com o máximo de zoom possível, no segundo diminuiu, no terceiro mudou de sítio, no quarto diminui o zoom e no quinto mudou novamente para o sítio original, mas ainda diminui o zoom.

A história cresce e cresce e cresce, camada atrás de camada, sem se firmar definitivamente numa linha de acção que o leitor possa seguir com calma e atenção. Em vez disso há personagens a ser introduzidas em todos os números, novos cenários, novas situações sem que as anteriores estejam resolvidas... E a história a avançar a passo de caracol.

Agora, descontando isso, e tendo em conta que sou um leitor bastante habituado a ficção científica e enredos relativamente complexos, estou a gostar do caminho que a história está (acho eu) a seguir. As forças cósmicas em combate são definitivamente mais poderosas do que que aquelas com que os Vingadores estão habituados a lidar. Afinal, não é todos os dias que vemos o Hulk a ser atirado para a estratosfera.

Este factor, só por si, muda completamente a dinâmica do grupo. Por mais que tentem, precisam de estar à defesa e depender uns dos outros mais do que em qualquer outra situação, trazendo assim ao de cima a razão de ser deste grupo: enfrentar ameaças demasiado poderosas para qualquer um deles sozinho.

E a verdade é que acabam por ter uma dinâmica que funciona muito bem. É preciso dar valor ao argumento (e à arte, também!) neste ponto. Ver o Hulk a ser atirado da estratosfera por uma tipa que lhe lança exactamente o mesmo sorriso ligeiramente maníaco que ele tem é qualquer coisa de especial.

No fim acabou por ser um número interessante, ainda que recheada daquelas pequenas falhas que já mencionei. Tenho alguma esperança que Hickman consiga ainda pegar na história como deve ser e guiá-la por caminhos cada vez mais interessantes, explorando bem as premissas que já tem lançadas, em vez de criar e apresentar novas em cada passo. Vamos ver se é isso que acontece!

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Aranmanoth


Autora: Ana María Matute
Tradutor: Luís Filipe Sarmento


Opinião: É sempre agradável pegar num livro e ter uma pequena surpresa. Só conhecia este Aranmanoth pela opinião da Alice, no início do blog, e só o comprei porque o encontrei mesmo muito barato. Não tinha nenhumas expectativas em especial, e talvez por isso mesmo tenha ficado impressionado, mas a verdade é que fiquei, e muito.

O elemento fantástico é muito leve, mas claramente presente. Já a beleza da escrita é impossível de falhar. Ana María Matute guia o leitor através de uma história de amor, de sonhos, ilusões e da dura realidade do que é ser humano.

O protagonista começa por ser Orso, que ao regressar a casa encontra uma fada que comete o erro de se enamorar dele. Perdem-se nos braços um do outro e alguns anos depois, já Orso é um homem feito, Senhor de Lines, cai-lhe um filho no colo: Aranmanoth, de dupla natureza, humana e mágica, uma criança peculiar e intensa.

A partir daqui o protagonismo é partilhado entre pai e filho, enquanto se conhecem um ao outro e aprendem a lidar com a dupla natureza de Aranmanoth. As dúvidas que a autora põe na cabeça e na boca de cada um deles soam bem reais, e não é difícil criar empatia com o pai atarantado e com o filho confuso.

Tudo muda, no entanto, com a chegada da noiva de Orso, imposta pelo Conde, a quem o Senhor de Lines presta vassalagem. Não mais do que uma rapariguita, rapidamente é apelidada de Windumanoth. Orso encarrega o filho de ser o guardião da pequena e parte nas demandas do Conde.

O livro foca-se agora em Aranmanoth e na sua relação com Windumanoth, uma relação que cresce saudavelmente como se de irmãos se tratassem, pelo menos enquanto crianças. É impossível não notar na nuvem negra que parece estar à espera do momento certo para se abater sobre eles, no entanto. Enquanto crescem, Windumanoth começa a ter saudades do Sul e Aranmanoth promete que a ajuda na sua busca. As consequências são inimagináveis e culminam num final inesperado, cruel e com uma forte carga simbólica representativa dos ideais e da história que Matute contou ao longo do livro.

Sem dúvida um livro que aconselho, Aranmanoth foi uma agradável surpresa, com uma escrita muito boa e uma tradução que não me pareceu má, apesar do aspecto algo... amador da edição. Não se vão arrepender.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Avengers vs X-Men


Argumento: Brian Michael Bendis, Matt Fraction, Jason Aaron, Ed Brubaker, Jonathan Hickman
Ilustração: John Romita Jr., Olivier Coipel, Adam Kubert




Opinião: Avengers vs X-Men foi um dos eventos mais publicitados de sempre, e por bons motivos. Não é todos os dias que um dos grandes nomes da BD norte-americana confronta os seus dois maiores universos, neste caso o dos Vingadores e o dos X-Men.

A premissa mais básica é excelente: os mutantes foram devastados por uma Scarlet Witch enlouquecida, no evento House of M, e têm agora uma oportunidade de fazer renascer a sua raça, mas a forma como o querem fazer não é propriamente bem vista, de tal forma que os Vingadores se erguem e se declaram activamente contra os X-Men.

O facto de usarem a força Fénix... Bem, isso soa mais a jogada desesperada para aproveitar a (ouvi dizer) excelente saga da Dark Phoenix e atraírem novos leitores, naquele que foi um evento que antecedeu um novo mais-ou-menos-reset.

Tirando isso, no entanto, esta saga tinha tudo para funcionar. A hipótese de por uma vez assistirmos a heróis contra heróis, depois de um evento que também teve algum sucesso, a Civil War. Era interessante e prometia! Mas no entanto...

Bem, para começar, o problema aqui é a força Fénix. Ela sente-se atraída à Terra, aparentemente direccionada a uma mutante nova, a única nascida depois da matança da Scarlet Witch, convenientemente chamada Hope. Porquê? Bem, por causa de... coisas. Nunca se percebe muito bem. O papel da força Fénix acaba por ser quase acessório, embora tenha uma importância central a toda a história, e é pena, porque é uma força cósmica que a Marvel teria todo o interesse em desenvolver como deve ser.

Mas quer dizer, se ignorarmos o enredo ligeiramente aleatório e nos focamos nas cenas de pancadaria... Ok, e se ignorarmos o facto de lutarem à vez, tipo videojogo, e de não atirarem logo um Magneto para torcer o Wolverine todo, e coisas assim, óbvias, é muito porreiro de ver! E não há cá mariquices diplomáticas: "viemos fazer isto", "nós não deixamos", "Vingadores, porrada neles". Assim é que é bom!

A arte varia um pouco, entre o bom e o medíocre, mas uma coisa tenho de conceder, é que todas as cenas que envolvam a Fénix ou algum tipo de fogo estão simplesmente impecáveis, o que é uma grande mais valia. E depois há intrigas e conversas de bastidores e, como não podia deixar de ser, o Capitão América a ser um grandessíssimo atrasado mental.

Diga-se o que se disser, esta história nunca teria existido se o Capitão América e o Ciclope tivessem falado como dois adultos e tivessem tentado resolver tudo a bem para os dois lados. Mas não. Tem que ser à força, e não há hipótese de conciliação: ou fazes como eu quero, ou partimos para a violência.

Felizmente existe o Wolverine. Para além de dar sempre jeito ter um desses à mão de semear, quando se fala de violência, é uma personagem e pêras. Tem aqueles instintos animalescos mas nunca deixa de ouvir a voz da razão. Tem motivos reais, problemas reais e dúvidas humanas. É o mais animalesco dos X-Men, mas também o mais próximo de nós.

Pelo meio tudo se tornou muito mais interessante, quando a Fénix foi despedaçada e se dividiu por cinco mutantes (embora porquê aqueles cinco exactamente...). Foi surpreendente e mudou um pouco as regras do jogo. Começou-se foi a notar uma certa repetição na pancadaria, e sim, eu sei que só é possível inovar nas formas de dar porrada até um certo ponto, mas especialmente num evento tão focado nisso mesmo, e com tantos heróis por onde pegarem, podiam ter feito umas lutas bem mais interessantes.

A partir da metade as coisas avançam a um bom ritmo, há um bom desenvolvimento das personagens (go Namor!), a Fénix começa a ter intrigas contra si própria, os seus poderes só parecem aumentar e tudo parece condenado. Os Vingadores são verdadeiros ratos encurralados, e há um volume maioritariamente do ponto de vista do Homem-Aranha que é muito interessante, está uma personagem impecável, bem desenvolvida e bem trabalhada, tem um percurso bastante satisfatório, é muito engraçado e pronto, salva o dia!

Era escusado era a quantidade de, como eu carinhosamente lhes chamo, tretas místicas. Quais é que são as regras da magia neste universo? Entre o Doctor Strange, a Magik, a Scarlet Witch, o Iron Fist e companhia, a terra mística onde todos se escondem, o dragão (essa parte foi fixe) e tudo o mais, o que raio se passa aqui? Gostava de perceber, mas a verdade é que esta fase final está porreira, bem mais do que o começo.

Mesmo a chegar ao fim, a história fica muito intensa, e os argumentistas tomam umas decisões muito corajosas e que acho que funcionam muito bem, tudo a caminhar para um fim bastante satisfatório.

A opinião geral, no entanto, não é assim tão boa. Eu gostava muito de avaliar isto pela sua fase final, mas aquele começo lento e algo atabalhoado, já para não falar dos problemas de enredo e as personagens unidimensionais, impedem-me de ter gostado assim tanto. Foi uma boa leitura, é verdade, mas esperava mais, muito mais.

sábado, 14 de junho de 2014

Balanço Feira do Livro 2014


Oficialmente a Feira do Livro só acaba amanhã, mas para mim já rendeu o que tinha a render. Fiz umas visitas bastante proveitosas, comprei, dei e recebi livros, sempre a preços estapafurdiamente baratos - só um dos livros que comprei para mim ultrapassou os 5.5€, o que, convenhamos, é ridículo.

Por entre calor (especialmente na última visita), montanhas de gente, farturas, algodão doce e gelados, as hostilidades foram iniciadas com o Forças do Mercado, de Richard Morgan, uma pechincha na banda da Saída da Emergência, sobre um mundo em que as disputas se resolvem com choques frontais de carros e que me foi aconselhado por nem mais nem menos do que o autor João Barreiros, durante o último Fórum Fantástico.

Depois encontrei dois volumes da colecção azul da Caminho, O futuro à janela do Luís Filipe Silva (que já fica a saber que lhe vou cravar um autógrafo) e Universal, limitada da Isabel Cristina Pires. Tenho boas expectativas para estes dois, especialmente para o do Luís Filipe Silva, que já lhe conheço a escrita, mas por agora vão ficar arrumados numa pilha especial cheia de autores tugas, para uma temporada temática de autores portugueses a decorrer... eventualmente.

Para minha surpresa ainda encontrei um livro que já nem me lembrava que queria: Grimpow - A última das bruxas. Comprei o primeiro volume desta saga espanhola, da autoria de Rafael Ábalos, quando era puto, e lembro-me que gostei... Tinha mistérios para o leitor resolver e tudo. É juvenil, sem dúvida, mas tem uma premissa interessante e um Ouroboros nas lombadas, portanto já cá canta.

Outra surpresa foi encontrar este Mitos e lendas da terra do dragão, de Wang Suoying e Ana Cristina Alves, um livro quase quadrado, fininho mas com boas ilustrações e repleto de mitos chineses. Quem conhecer o meu apreço por mitologia não vai ter dificuldade nenhuma em perceber esta compra.

A primeira prenda que recebi foi o massivo The decline and fall of the Roman Empire, de Edward Gibbon, um volume gigantesco e que ainda assim só contém 28 capítulos seleccionados dos 71 que compõem esta obra exaustiva, escrita no século XVIII. Gosto de história, gosto do Império Romano e gosto de livros dantescos. Dá nisto.

Um pouco como o segundo volume de Grimpow, Túneis - Mais perto da verdade, de Roderick Gordon e Brian Williams, é a continuação de uma saga que iniciei quando era mais nova, mas desta vez andei especificamente à procura dele. Tenho a perfeita noção de que esta saga é realmente boa, de tal forma que ainda me lembro de bastantes detalhes, embora já tenham passado anos e anos desde que peguei nela. Fica assim marcada para uma releitura breve!

Sobre A Mitologia dos Mouros, de Alexandre Parafita, também não tenho de dizer nada, pois não?

Aquele livro super fininho e super amarelo que está a seguir foi um prémio na roda da sorte da Presença, depois de lá comprar a saga Terramar, da Ursula K. LeGuin, para oferecer. É para aprender inglês com o Gerónimo Stilton... Traz um CD e tudo! *suspiro* Tenho que arranjar alguém a quem oferecer aquilo.

O Cantar do Cid foi uma prenda para mim próprio que simplesmente tinha de acontecer. É a epopeia espanhola mais antiga que se conhece! E só me custou 5€!! E pronto, foi a minha última compra. Ainda recebi três Argonautas (can't go wrong with those): As Linguagens de Pao, de Jack Vance; Bugs, de John Sladek e Mundo Adormecido de Gordon R. Dickson. Com estes últimos cartuchos fico com a bonita soma de 42 Argonautas, o que me deixa bastante satisfeito.

Pelo meio ainda tive tempo para duas coisas importantes e que correram muito bem. Uma foi arranjar uma prenda para o meu afilhado, aquele livro grande que está ao lado da pilha e que não é bem um livro. Quando se abre desdobra-se um castelo, cheio de pormenores, muito bem feito e ideal para brincadeiras. Havia um com um esqueleto, mas não tinha tantos pormenores, e infelizmente não havia nada com dragões nem dinossauros, mas fiquei bastante satisfeito.

A outra foi ir ter com o Filipe Faria, autor das Crónicas de Allaryia e da saga Felizes Viveram Uma Vez, e tradutor de uma data de BD's da Marvel e da DC, ter o meu O Fado da Sombra autografado:


Assim como um marcador (para o ano levo o meu d'O Fado da Sombra!!!):


E ainda deu para trocar dois dedos de conversa:


O Filipe Faria foi sempre muito simpático e acessível. Chegou inclusivamente a pedir que lhe enviasse o link da minha temporada temática com a saga dele, que já leu e comentou! É sempre fantástico ter um autor a ler as minhas críticas e os meus devaneios... No fundo a reconhecer o meu trabalho, as minhas muitas horas gastas a ler e a escrever sobre o que leio. Faço-o por gosto, é certo, mas vocês compreendem. Por isso um muito obrigado ao autor, com a promessa de que para o ano estou lá de certeza!

Como podem ver foi uma Feira e tanto. Digam o que disserem, é das minhas alturas favoritas, e continua a ser o evento para quem gosta de livros. Agora é só mentalizar-me que acabaram-se as compras durante uns tempos, e tenho é que ler!

sexta-feira, 13 de junho de 2014

CIA (Agências Secretas #2)


Autor: José Manuel-Diogo

Opinião: Sempre gostei de história. Normalmente sou mais fã de acontecimentos até ao Renascimento, mas também consigo arranjar interesse para algumas coisas mais recentes.

Uma dessas coisas, e que nunca falha, é a estupidez humana. Intemporal, enorme e surpreendentemente imutável, há sempre alguém, seja no que for, que consegue provar que a raça humana está completamente condenada.

Se alguma vez lerem este livro vão perceber o porquê desta introdução: mais do que a história de uma das agências de serviços secretos mais conhecidas de sempre, este livro conta uma história de erros sucessivos, idiotices, desorganização e uma completa deriva por parte de um pedaço do Estado Americano.

É pena, porque até começou bem. Ainda não se chamava CIA e tinha potencial: a descrição feita pelo autor é a de um grupo que "basicamente, explodia coisas". É impossível falhar, com essa linha de acção. Alguém a chatear? BOOM!

Mas depois o ímpeto esmoreceu... Trocaram-se as explosões por burocracia e todos ficámos a perder. A CIA rapidamente se tornou ora num fantoche do poder na Casa Branca, ora em algo demasiado irrelevante para que o poder na Casa Branca se interessasse, ora numa agência secreta super bem financiada que parecia só saber fazer porcaria.

Desastres diplomáticos, mortes, desentendimentos internacionais, brutais falhanços, you name it, CIA did it. Espanta-me que ainda exista, depois de ler este livro. Se uma coisas destas vier a público em Portugal, vamos ter uma semana ou duas de multidões com forquilhas, já para não falar que teríamos direito a linchamentos em praça pública.

De qualquer forma este livro é uma boa leitura. Acho que o autor fez um excelente trabalho, conseguiu ser conciso, contou-nos a parte que interessa, e mostrou-nos uma faceta da CIA que eu, pelo menos desconhecia: a ignorância.

É que durante 80% da sua história, esta agência não fazia a mínima ideia do que andava a fazer... Mandavam bitaites, faziam as operações que lhes eram pedidos, às vezes, e pronto.

Enfim, ridículo. Gostei da perspectiva que José-Manuel Diogo nos deu. O próximo volume é sobre o MI6, a agência britânica mais conhecida, à qual pertence o James Bond!

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Simpsons #2

Autor: Matt Groening

Opinião: Tenho opiniões contraditórias sobre esta revista. Se por um lado tem uma história muito boa, Os Cromos da Bola, que até parece um episódio da série, chapadinho, por outro tem historietas inconsequentes e idiotas como As Aventuras Radicais de Busman e Krusty: Agente do C.I.R.C.O.

Nada de muito grave, que qualquer das histórias é divertida de se ler, e a maior parte tem boas piadas, típicas destas personagens amarelas, mas eu esperava que houvesse mais inteligência na coisa.

Já para não falar da simplicidade das histórias. Não sei se o objectivo era isto ser para crianças, mas se era, disfarça bem. Histórias simples, de morais bem espremidas no fim.

Onde é que estão os visual gags geniais? Vão fazendo as suas aparições, mas estão maioritariamente desaparecidas. E é pena.

Algo que eu gostava de ver nestes comics, e embora nem a série o costume fazer muito, era ter uma história maior, sequencial, mais estruturada e que tivesse que ser acompanhada ao longo dos meses. É algo que penso que funcionaria muito bem!

Destaque para a capa, que ficou bem porreira, embora seja relativamente simples! De resto, esta revista foi uma leitura rápida e que não deixou nenhuma marca em especial, em parte graças à leveza com que as histórias são contadas. Acho que fiz bem em decidir não a comprar (emprestaram-me) e assim continuarei. Só vale mesmo a pena para coleccionadores e verdadeiros aficcionados pelas personagens!

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Vingadores Cósmicos (Guardiões da Galáxia #1)


Argumento: Brian Michael Bendis
Arte: Steven McNiven, John Dell, Justin Ponsor, Sara Pichelli, Mark Morales, Yves Bigerel, Mike Oeming, Rain Beredo, Ming Doyle, Javier Rodrigues, Michael Del Mundo
Tradutor: Paulo Moreira


Opinião: Divertido até ao tutano. Digo mais, prefiro esta equipa aos Vingadores! Acho é que tirava o Iron Man desta mistura, embora seja sempre agradável encontrá-lo. Parece-me que só aparece para chamar as pessoas, porque é uma cara que conhecem e de quem gostam.

Ignorando isso, o que temos? Um bando de inadaptados, vindos de sítios muitos diferentes, com motivações muito diferentes, unidos numa demanda comum e, no fundo, bem intencionada.

O que mais me espantou foi a caracterização de cada uma das personagens. Consegue-se sentir a personalidade distinta e marcante de cada um, desde a atitude despreocupada, mas nobre, de Peter Quill, o Senhor das Estrelas, até à fúria mal contida de Drax, o Destruidor. O silêncio implacável de Gamora, filha adoptiva de Thanos (também conhecido como o tipo de queixo roxo que aparece no fim do filme dos Vingadores), e uma das melhores assassinas do universo, é simplesmente palpável. Por fim, o duo de Rocket Raccoon, o guaxinim maníaco, e Groot, a árvore ambulante de vocabulário limitado, é fantástico.

As personagens complementam-se e cada uma delas é digna de ser acompanhada. Os Guardiões da Galáxia são um super-grupo bastante mais suis generis que os Vingadores, e isso acaba por funcionar muito a favor deles. Não se levam demasiado a sério e são basicamente foras da lei.

Além de que, convenhamos, um guaxinim psicopata, uma árvore (mais ou menos falante), um berserker, uma assassina e um bandido profissional? O que é que pode correr mal?

Gostei bastante de ver a ligação deste grupo com a BD dos Inumanos que li há uns tempos: o pai de Peter é nem mais nem menos que Jason, o príncipe de Spartax, expulso do seu planeta durante os acontecimentos de Inumanos. Agora é rei e só causa desgraças.

A melhor parte deste livro, no entanto, foi a quinta e última, com capítulos centrados em cada uma das personagens do grupo, não necessariamente ligadas a uma história maior, mas mais focadas em apresentar as personagens, os seus dilemas e a revelar um pouco das suas origens e dos seus carácteres.

No fim foi uma leitura bastante divertida, com uma história bastante consistente, um aglomerado interessante de vilões cósmicos, cenas de acção e pancadaria impecáveis, e interacções brilhantes dos membros do grupo uns com os outros e, bem, com tudo. A acompanhar!

sábado, 7 de junho de 2014

84ª Feira do Livro (2014)


E aí está ela, senhoras e senhores! O grande evento empobrecedor das massas leitoras! O antro de implacáveis negociantes sem misericórdia para com quem gosta de ler!

A Feira do Livro de Lisboa. Já lá passei e ainda lá vou mais alguma vezes. Já comprei umas coisas, incluindo um O futuro à janela do Luís Filipe Silva, ao preço da chuva, um livro bem bonito mitos, Mitos e Lendas da Terra do Dragão, e um massivo The Decline and Fall of the Roman Empire, com 28 capítulos em 71 do magnum opus de Edward Gibbon.

E como é óbvio tenho outras tantas coisas debaixo de olho. Fiquem a saber que vale a pena visitar os alfarrabistas. E que há rumores de que na banca da Saída de Emergência se pode aproveitar a promoção de pague 2 leve 3 comprando um "normal" e um da banca dos 8 e 5 euros.

A praça LeYa é que é um mimo, aquilo está bem recheado de livros interessantes e bem baratos, embora continue a esconder os clássicos de FC portuguesa e não dar destaque a volumes com a obra toda de Jorge Luís Borges ou de Italo Calvino. Tenho a certeza que devidamente publicitados vendiam que nem churros (que são muito bons, este ano).

As sessões de autógrafos também andam fortíssimos, e eu vou tentar apanhar Mia Couto (e talvez pedir-lhe para ser meu tio, ou assim), Filipe Faria (e fazer-lhe uma vénia por ter criado o Seltor) e Gonçalo M. Tavares (para lhe dar com os livros dele na cabeça). Ok, estou a brincar quanto ao último, embora gostasse realmente de ter oportunidade para conversar com o escritor. E com os outros também, mas enquanto que com Mia Couto ia ser um festival de "VOCÊ MERECE O NOBEL, EU VOU LIGAR À ACADEMIA SUECA!", e com o Filipe Faria ia ser mais "Epah, quando é que escreves mais sobre o Seltor? Talvez uma trilogia. Ou só isso para o resto da tua vida. Mas sim, faz isso.", com Gonçalo M. Tavares ia aproveitar para discutir a sério os livros dele, porque independentemente de ter gostado ou não do que li, e de ainda ter esperanças para o Uma Viagem à Índia, acho o homem fascinante.

Enfim, façam como eu e passeiem muito por lá, que aquilo vale a pena!

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Em Busca do Futuro


Autor: A.E. Van Vogt
Tradutor: Eurico da Fonseca


Opinião: Quando um livro me custa vinte e cinco cêntimos, das duas uma: ou é a maior pechincha da minha vida ou o livro não é nada de extraordinário. A minha opinião sobre este recai mais na segunda hipótese, mas concedo que a culpa provavelmente não é do autor.

Passo a explicar. Esta edição é da colecção Argonauta, que actualmente se compram a um euro na Feira do Livro. Três a cinco, os mais antigos. E embora seja uma colecção bastante importante para o panorama FC português, a verdade é que há críticas constantes à qualidade das edições e, acima de tudo, das traduções.

E são essas críticas que vou ter que apontar a este livro. Já não está em perfeitas condições, portanto imaginem o que é ler um livro que a qualquer altura se pode desfazer nas vossas mãos. Depois tem uma tradução que me parece ser mediana, e uma edição descuidada - ou até desleixada.

Pronomes que não batem certo, nomes que mudam ligeiramente e coisas traduzidas demasiado à letra, por exemplo, são a causa de uma grande confusão durante a leitura. Ainda por cima o enredo é altamente complexo, com viagens no tempo e probabilidades à mistura. Tudo isto reunido... Estão a ver o problema.

Em termos da história deparei-me com uma situação curiosa. Fui encontrando vários problemas que, depois de pensados um pouco, se revelam como provenientes de uma e uma só causa. Pois é. Na prática, todos os defeitos que encontrei a nível de enredo e de caracterização das personagens se deve à falta de explicação/clarificação sobre as viagens no tempo.

Como já disse, o enredo é complexo. Nada linear. O protagonista recebe uns filmes vindos do futuro, encontra um projector vindo do futuro, descobre uma forma de ir ao futuro, vai ao passado, depois outra forma de ir ao futuro, depois volta ao passado, e depois é o caos total, no final.

Porquê? Bem, como é que o autor resolveu o problema dos paradoxos que as viagens no tempo causam? Criando uma série infinita de mundos paralelos, chamados mundos de probabilidades, que seguem um bocado a ideia de "se pode acontecer, aconteceu nalgum mundo". Mas depois a mesma pessoa em diferentes mundos de probabilidades e em diferentes tempo pode-se confundir com outra versão sua, e isso causa... coisas.

Não, não tenho bem a certeza. Confuso até ao fim, Em Busca do Futuro tem uma premissa bastante interessante mas, pelo menos nesta edição, não é fácil (possível!) de acompanhar. As personagens principais são interessantes, como o protagonista Peter Caxton, um professor de física com um temperamento peculiar, Claudan Johns e Selanie, pai e filha viajantes no tempo profissionais. No entanto nenhuma é suficientemente desenvolvida para ser propriamente marcante, já para não falar que os diferentes mundos de probabilidade levam a que a mesma personagem pareça ter comportamentos diferentes e até contraditórios, quando na realidade são duas personagens diferentes.

Por fim tenho que mencionar a minha parte favorita deste livro: Caxton e mais três pessoas partem numa viagem de quinhentos anos até Alfa Centauro, recorrendo a uma droga inventada por um deles para ficarem em animação suspensa e sobreviveram à viagem. Uma boa ideia, não é? Afinal, como sobreviver a uma viagem que a luz demora não sei quantos a percorrer? Só assim, certo? Parece tudo muito bem. Mas quando lá chegam, já lá está uma colónia humana!

O que raio se passou, afinal?! Pois bem, toda a gente se esqueceu do desenvolvimento humano. A nave partiu na sua viagem de quinhentos anos, e no entretanto a civilização humana desenvolveu-se de tal forma que começou a ser capaz de fazer essa mesma viagem em três anos e começar a estabelecer colónias noutros planetas e sistemas estelares. Genial!

Só é pena que esse aspecto não tenha sido capaz de salvar o livro, que nunca passou de mediano. Reconheço, no entanto, que foi uma leitura agradável que me despertou a curiosidade para mais clássicos de FC desta era.