segunda-feira, 27 de abril de 2015

The Theory of Everything



Baseado em Travelling to Infinity, o livro de memórias de Jane Hawking sobre o tempo em que esteve casada com o físico Stephen Hawking, The Theory of Everything é um bom filme. Está bem feito, tem boas representações, é visualmente bonito e tem uma história cativante que, apesar de tudo, consegue não cair na lamechice pegada e gratuita.

Não que fosse difícil. Sem querer menosprezar o trabalho das pessoas envolvidas neste filme, o facto deste estar relacionado com Stephen Hawking, uma das pessoas mais conhecidas do planeta, e certamente um dos físicos com um dos maiores impactos de sempre na História e na Ciência, já é mais do que meio caminho andado para o sucesso.


Mas é preciso pôr as coisas em perspectiva e ver que poucas coisas falham. As que falham são importantes, mas compreensíveis, por muito que não tenha gostado delas. Além de que Eddie Redmayne e Felicity Jones estão completamente irrepreensíveis como Stephen Hawking e Jane Hawking, ambos a revelarem-se actores de peso.

Ao grande sucesso do filme, e à sua qualidade, muito contribuiu a história genuinamente cativante que é a de Hawking. Sem dúvida uma das mentes mais brilhantes que alguma vez passou pelo mundo da Ciência, a sua luta contra a Esclerose Lateral Amiotrófica que o atingiu muito cedo é realmente exasperante e inspiradora: ultrapassou largamente os poucos anos de vida que lhe prometeram, sem perder o sentido de humor e continua hoje em dia, com setenta e três anos, a fazer Ciência.


O filme retrata principalmente a parte da sua vida que mais foi afectada por esta doença, a altura em que a descobriu, ao mesmo tempo que começava a fazer verdadeiros desenvolvimentos no campo da astrofísica e dava início à sua relação com Jane. Foi uma altura conturbada, como é fácil de imaginar, durante a qual teve de enfrentar desafios sérios e complicados ligados com a sucessiva perda de autonomia física.

E é aqui que o filme falha. Já vi em vários sítios que o livro retrata um Hawking um bocadinho mais, digamos, idiota, do que o do filme, e não duvido. Não que tenha algo a dizer sobre o carácter do físico, que me parece ser uma pessoa excepcional, mas todo o filme tem uma ligeira sensação artificial, como se a história apresentada só o tenha sido depois de ter sido bastante polida.


É que Hawking é retratado como alguém que pouco vacilou frente à doença, Jane como alguém completamente incansável que nunca teve dúvidas até à altura do divórcio, e o próprio divórcio parece ter sido algo muito simples. O filme tem uma história quase demasiado bonita. Soa a conto de fadas. Há uma vertente mais dramática, completamente impossível de evitar devido à doença de Hawking, mas falta qualquer coisa.

As personagens parecem constantemente iludidas, como se fossem versões ultra-inocentes das pessoas que representam. E embora seja possível compreender que, apesar de tudo, Hawking nunca terá sido uma pessoa fácil, de tão teimoso e impetuoso que era, não me parece que esse aspecto tenha sido suficientemente realçado.

Qual a relevância disso? É uma questão de coerência. Sim, ninguém precisa de saber, e não, o filme não tem de dar igual importância a tudo e mais alguma coisa, mas era importante que a história retratada fosse o mais verdadeira possível, mesmo que isso signifique mostrar um lado menos simpático de Hawking. Como é óbvio, isso talvez afastasse algumas pessoas, incapazes de conciliar essa figura com a imagem que têm de Hawking, mas faria deste filme algo ainda melhor.


Os actores seriam certamente capazes de lidar com isso. Tanto Redmayne, como Jones, como qualquer outro actor ou actriz, estão impecáveis durante o tempo todo, conseguindo captar e mostrar os vários e complicados estados emotivos de cada personagem. Uma tarefa especialmente ingrata para Redmayne, que teve que conseguir manter a expressividade quando a personagem já mal se conseguia mexer.


Mesmo com esta falha, o filme é extraordinário. Não acho que seja nenhum portento cinematográfico que vá ficar para a História do Cinema, mas é certamente um filme bem feito, que faz aquilo que é preciso, entreter, cativar e contar uma história que não só nos consegue tocar a todos, como nos permite perceber melhor como é a vida de Stephen Hawking.

The Theory of Everything (A Teoria de Tudo) é assim um filme que vale a pena ver, e que gostei muito de ter apanhado no cinema. Fiquem com o trailer e ganhem curiosidade suficiente!


2 comentários:

SMP disse...

Hum. Deixei passar o filme no cinema, e agora deixaste-me com curiosidade de o ver.

By the way: fui no sábado ver o Ex Machina. Não deixem passar. Subtil, sério, provando que a FC não tem de ser só space operas. Vale bem a pena.

Rui Bastos disse...

Epah, vale a pena... Tem as suas falhas, mas pronto.

Esse "Ex Machina" é que passou muito discreto! Tenho que investigar...