segunda-feira, 4 de maio de 2015

Walking Dead [T5]



Por muito que eu diga a seguir, uma série de zombies é uma série de zombies. Tem sangue, tripas, zombies nojentos e perturbadores, mortes nojentas e perturbadoras, violência para todos e muitas decisões idiotas de muitas personagens.

Walking Dead tem brilhado porque além disso tem personagens. E bem trabalhadas. Não são simplesmente heróis ou heroínas de acção, nem palermas ou donzelas em apuros, são pessoas reais a viver em situações extremas e a revelarem o que de melhor (e pior) existe nos seus carácteres.


E se os fãs de Game of Thrones se queixam da forma como George R.R. Martin trata as suas personagens, chacinando-as a uma velocidade impensável, Robert Kirkman e o resto da equipa criativa não lhe ficam nada atrás.

Sem esquecer que há momentos de comédia, compaixão, romance, terror, mistério, sequências de acção bem feitas e momentos bem, mas bem intensos. Nesta série há um bocadinho de tudo para toda a gente, menos para os de estômago fraco. Esses é melhor terem cuidado.

Nesta quinta temporada, a qualidade mantém-se de uma forma geral. A série tem sido relativamente consistente ao longo do tempo, apesar dos ritmos completamente diferentes de uma temporada para a outra (segunda temporada, estou a olhar para ti) e de alguns conjuntos de episódios de qualidade mais fraca. Mas é preciso ver que as situações em que as personagens se encontram vão mudando radicalmente, e estão agora num ponto completamente diferente, em que encaram as coisas com muito mais cautela. E bastante esperteza, como no caso da Carol.


Mas a Carol é a rainha do apocalipse zombie. Sim, não se deixem enganar no início pela mulher com ar fraco e abatido que apanha porrada do marido enquanto a filha vê. Carol evolui imenso enquanto personagem e já há muito tempo que é uma favorita dos fãs. Já salvou o grupo em várias situações, muitas vezes completamente sozinha, e já tomou decisões que pareciam impensáveis, no início, e que muitas das outras personagens ainda acham demasiado duras e radicais.

Essa é uma das forças desta série, os desentendimentos e entendimentos entre as várias personagens, que reagem de forma minimamente realista àquilo que uns e outros fazem, em vez de fazerem simplesmente aquilo que o enredo precisa que façam. As acções de cada personagem pesam sobre essa personagem para o resto da série, e vemos várias vezes o grupo a lidar com consequências de coisas que aconteceram há duas ou três temporadas.

Tudo isso vai afectar a forma como as personagens agem e os acontecimentos se desenrolam. Basta ver que depois de term visto a quinta de Hershel a ser invadida por zombies na segunda temporada, assistirem à desgraça de Woodbury na terceira, perderem a prisão no início da quarta e verem-se enganados quanto a Terminus no final dessa mesma quarta temporada, encaram a descoberta do cenário principal desta temporada, a zona segura de Alexandria, com bastante relutância.


Como é óbvio, isto dá para o torto. E como é óbvio, a culpa não é propriamente dos nossos protagonistas, que parecem autênticos selvagens no meio da "civilização" que é Alexandria. Mas eles é que estão bem, selvagens para um mundo selvagem, prontos a matar e sem medo de morrer. Alexandria, percebe-se rapidamente, vive num mundo de ilusão: tiveram sorte. Mas essa sorte acaba.

No entanto vou evitar ir por aí, para não revelar pormenores do enredo. Basta terem ideia que esta normalidade gritante de Alexandria vai entrar em conflito com o grupo de protagonistas, especialmente com Rick, que já passou por tanto e já fez tanto que se recusa a aceitar essa nova vida como se nada fosse.

Foi esse o grande trunfo desta temporada. Depois de várias temporadas a deitar abaixo os sonhos de Rick e companhia, mostra-nos um grupo enrijecido à força, uma máquina bem-oleada capaz de tudo, especialmente de sobreviver. E logo a seguir atira esse mesmo grupo para o meio de uma pequena vila em que tudo parece normal. O contraste é brutal. É como pôr uma peça quadrada numa ranhura circular. Simplesmente não encaixa. O que vale ao grupo é a sua mistura de personalidades fortes, não propriamente dominantes, mas cooperantes. Têm intensas e verdadeiras relações de amizade, mas nenhum deles perdeu a noção do que é a vida no mundo lá fora.


O que é interessante é ver as diferentes reacções. Michonne, por exemplo, e contra o que diriam os meus instintos, fica intrigada e rapidamente se esforça bastante para que aquilo funcione; Rick, como seria de esperar, recusa tudo; Carol, por sua vez, é cautelosa, mas não parva, faz-se passar por uma dona de casa completamente inofensiva ao mesmo tempo que vai conhecendo os cantos à casa e roubando armas.

E quem fala destas personagens fala de muitas outras, quase todas com desenvolvimentos (ou mortes, porque enfim) interessantes. No final, e para uma temporada que podia ter sido bem morna, esta quinta temporada revelou-se uma surpresa e um retomar do ritmo intenso a que a sério nos tinha habituado no início. O final, sem ser propriamente inesperado nem espectacular, deixa muito em aberto para a próxima temporada, que infelizmente só chega em Outubro.

Entretanto vamos ter oportunidade de assistir ao spinoff Fear the Walking Dead, com um nome muito pouco original, e que não me parece que seja boa ideia (fica para outra conversa), mas que promete contar os primeiros dias do apocalipse zombie. A ver vamos!

Só para terminar, e para quem andar a ver a série, fica um pequeno spoiler...


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