quarta-feira, 17 de junho de 2015

The Curious Case of Benjamin Button (2008)



O livro está lido. Ou melhor dizendo, o conto, que este filme com mais de duas horas é adaptado de um conto de F. Scott Fitzgerald, e um que nem achei nada de especial. Foi porreiro, sim, mas nada muito grandioso.

Ao contrário deste filme, que ultrapassa o material original e de que maneira. Ainda há pouco tempo falei de adaptações de livros e de como era possível que ultrapassem o texto, e este filme é um exemplo perfeito disso mesmo.

E nem sequer é pela intensidade da actuação de Brad Pitt, que parece que a única coisa que sabe fazer é debitar frases que sejam citáveis, nem do bom papel que Cate Blanchett faz, também ela a fazer um esforço consciente e visível para ser intensa, mas o próprio filme é excelente. A construção da narrativa, os jogos visuais e todos aqueles detalhes técnicos ligados à imagem dos quais eu não percebo nada.


Parece estar tudo afinadinho ao máximo para proporcionar a melhor experiência possível a contar esta história em específico. E consegue fazê-lo mesmo, mesmo bem.

Já toda a gente conhece o enredo, e a premissa é realmente muito, muito simples: Benjamin Button nasce velho e vai ficando mais novo com o passar dos anos. Não há mais do que isto. Espanta-me como normalmente são as ideias mais simples as que dão origem às melhores obras, seja em que meio for.

O que o filme faz é levar esta ideia ao extremo e acompanhar a vida de Benjamin Button desde que nasce velho até que morre bebé. Sim, morre bebé, numa cena que é, obviamente, triste, muito triste, mas que também consegue ser feliz. Isto porque é duro ver Benjamin a crescer. Abandonado pelo pai às portas de um lar, educado num lar de idosos, que sempre foram os seus amigos e foram morrendo um a um, enquanto ele crescia e rejuvenescia.


A sua entrada na adolescência é invertida, pois toda a gente acha que ele é um velho de setenta anos, quando na realidade nem perto dos vinte anda. É óbvio que depois é enternecedor, e também chocante, vê-lo a reverter ao estado de criança, uma criança velha, a ficar demente. Uma mente de oitenta anos num corpo de oito meses. A parte enternecedora é ver alguém que sempre o amou a cuidar dele, porque não podia fazer outra coisa.

Aquilo que mais me fascinou foi a personalidade de Benjamin. Uma verdadeira alma inocente quando é novo e parece velho, torna-se em alguém muito sábio e decidido, mas com cara de puto. As decisões que toma nem sempre são fáceis, e não tem pudor em viver a vida, assim que a descobre a sério, mas vive quase sempre isolado e afastado de todos, de forma natural. Só perto da meia-idade é que se sente bem, pois a mente que tem corresponde ao corpo que tem, mas tirando isso é fácil de perceber que tenha tido uma vida conturbada.


As personagens secundárias brilham todas à sua vez, desde o pai de Benjamin, que o abandona, ao casal de negros que cuida dele, a cada um dos velhos do lar, ao velho lobo-do-mar que se torna um dos seus melhores amigos e todos os outros que vão aparecendo.

O filme acaba por se tornar num conjunto de histórias de amor, algumas com mais sucesso do que outras, mas nunca se esquece da viagem pessoal de Benjamin, esse sim o ponto importante e que torna todos os outros quase irrelevantes, apesar de os usar como afluentes do seu fluxo narrativo.

("Afluentes do seu fluxo narrativo", tão adulto)

No fim o que vos posso dizer é que este filme vale bem a pena, e se ainda não o viram, já o deviam estar a ver. Há poucas formas de ilustrar tão bem os conceitos de ternura e de tristeza como este filme.


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