segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Doctor Who [T9]


Esta temporada está exactamente a meio da era Pertwee enquanto Doctor. Com duas temporadas já feitas e duas por chegar, estas talvez sejam as histórias mais neutras em termos da posição do actor no universo de Doctor Who. Não acabou de chegar, nem está prestes a sair. É apenas mais uma temporada rotina, com a personagem já bem explorada e background suficiente para que as interacções e as reacções pareçam mais genuínas.

Por isso não é de estranhar que a qualidade seja acima da média para praticamente todas as histórias. Jon Pertwee é um excelente Doctor, completamente diferente dos seus antecessores, com a coragem de se diferenciar ainda mais do que a transição Hartnell-Troughton, mas a habilidade de ainda assim se manter fiel à personagem.

Fala-se muito de como o Second Doctor foi essencial (mais ainda do que o First) para estabelecer a personagem do Doctor. A forma como Troughton pegou na personagem e lhe deu uma direcção nova, com uma personalidade completamente diferente, é normalmente vista como o momento mais importante da série clássica, ou pelo menos um dos mais importantes.


Mas acho que o Third Doctor ainda foi mais importante. Bem vistas as coisas, o Second foi uma versão mais jovem e amigável do First, enquanto o Third passa bem por ser uma pessoa completamente diferente. A encarnação de Pertwee retém a moral e o mistério sobre a sua pessoa, mas de velho rezingão e manipulador, e de jovem hiperactivo e manipulador, o Doctor evoluiu para um herói de acção com instintos diplomatas, e muito mais capaz de inspirar confiança com o seu carisma natural do que os dois Doctor anteriores.

Os argumentos também ajudam, e isso é algo que se nota muito claramente nesta temporada. Com a equipa criativa já muita segura dos conceitos base da série, usam e abusam deles, introduzindo cada vez mais noções e costumes da ficção científica.

É por isso que a primeira história, The Day of the Daleks, apesar de recheada de gerigonças palermas e confusões temporais igualmente palermas, tem uma narrativa relativamente consistente que podia ter funcionado muito bem. Aliás, não tenho dúvidas de que este é uma daquelas histórias que o actual argumentista-chefe, Steven Moffat, já viu e reviu.



Infelizmente esse enredo não é sólido o suficiente, apesar de repetir contexto da conferência internacional e alguém em perigo, e de usar os Daleks, uma aposta segura. A certa altura ambas as facções em jogo queriam chacinar a mesma pessoa, basicamente da mesma forma, por motivos completamente diferentes, o que não faz qualquer sentido. Mas pronto.

A vantagem é que a partir daqui é sempre a subir! A história seguinte, The Curse of Peladon não só é um bom conjunto de episódios, como adiciona mais um tijolo importante às fundações da série: o regresso dos Ice Warriors... Como seres pacíficos! É verdade, e deve ter sido preciso uma dose massiva de coragem para incluir isso neste argumento, porque não é, de todo, algo expectável, ainda para mais quando a evolução da raça se faz completamente off-screen.

O único ponto fortemente negativo é o facto do rei de Peladon ser um completo idiota: basta imaginarem que um dos pontos importantes é a existência de uns túneis secretos por baixo de todo o castelo, e nunca uma vez o rei diz "mostrem-me!". Tudo se tinha resolvido em dois ou três episódios.


Mas depois vem The Sea Devils, uma história competente a todos os níveis, com um argumento forte, um excelente regresso do Master e uma óptima evolução dos acontecimentos. Os primos dos Silurians são vistos alternadamente de forma negativa e positiva, e são de facto ambíguos para o espectador, e pelo meio há duras críticas às forças governamentais e militares, sempre mais amigas do "explodir primeiro, perguntar depois".

A história seguinte, The Mutants, é peculiar no sentido em que a ideia é fabulosa, mas a execução de algumas coisas deixo algo a desejar. O Doctor é novamente enviado pelos Time Lords para servir de pau mandado junto de mais uma situação perigosa, sem qualquer indicação do que está a acontecer, para onde está a ser enviado, nem do que é suposto fazer. Apenas tem uma encomenda que só se abre para a pessoa a quem é destinada, uma boa ideia só por si.

O ritmo é bom e tudo culmina num clímax alargado em que nos apercebemos, juntamente com as personagens, que nada do que pensávamos saber está certo. Os mutantes do título têm mais do que se lhe diga, e isso é um desenvolvimento deveras interessante. O final mantém a qualidade, e só falha na estranhíssima evolução de uma das personagens que... bem... é idiótica. Mas tirando isso, uma história de qualidade.


Por fim, The Time Monster, com o Master de volta com um dos seus pseudóminos mais famosos, Professor Thascalos, com muita conversa inconsequente sobre fluxos temporais e Atlântida (já começa a ser um fetiche, esta civilização ser retratada na série). Felizmente a história tem qualidade, e as brincadeiras temporais estão bem feitas, incluindo a Tardis do Doctor a aterrar dentro da Tardis do Master, enquanto a Tardis do Master aterra dentro da Tardis do Doctor, e todas as consequências disso. Muito interessante e inovador para a época, de certeza.

Acho que já deu para perceber que esta é realmente uma temporada de qualidade, com um Doctor e uma companion no seu melhor, a UNIT a ter um papel relevante e bem integrado, e todos os conceitos de FC a serem misturados e usados de forma bastante eficaz. Fica a excitação para a próxima temporada, que começa com o especial dos 10 anos da série, The Three Doctors, a primeira história com vários Doctors e que marca o regresso de William Hartnell e Patrick Troughton ao papel.

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