quarta-feira, 14 de outubro de 2015

The Day of the Triffids


Autor: John Wyndham


Opinião: Um livro excepcional e tremendamente britânico. O ritmo é praticamente o oposto de frenético e funciona muito bem, como só poderia acontecer num livro britânico. Lida-se, basicamente, com um apocalipse, mas só nos apercebemos do horror do que está a acontecer quando pensamos nisso, porque o tom da narrativa é extremamente cuidadoso e aparentemente calmo.

Em termos de história pensem em Ensaio sobre a Cegueira, de Saramago, mas com menos fezes nas paredes e mais plantas carnívoras que andam.

Essas plantas são as Triffids, que em muitos aspectos da sua história me fizeram lembrar um episódio de Doctor Who, The Power of Three, em que acontece uma invasão lenta do planeta Terra. É exactamente isso o que se passa, ainda que os três principais acontecimentos deste livro (a cegueira, as Triffids, e uma misteriosa epidemia) não tenham qualquer tipo de explicação para a relação entre eles.

Talvez não haja nenhuma, e o Mundo tenha colapsado sobre si próprio numa metáfora da instabilidade e falsa confiança em que vivemos hoje em dia. Ou talvez não seja preciso sermos tão picuinhas e intelectuais, e possamos apenas ver isto como uma série de coincidências dickensianas. Não sei bem o que pensar, mas o resultado é surpreendentemente bom.

De forma muito simples, há um evento cósmico que cega quase toda a gente no planeta, a sociedade vai por água baixo de forma bastante activa, e as Triffids, usadas há uns anos para extrair combustível, conseguem soltar-se e andam pelas ruas e campos fora atrás de pessoas para chacinar e digerir.

O protagonista é um homem que não cega, graças a ter os olhos tapados por ter sido submetido a um tratamento qualquer à visão, o que significa que não viu o evento cósmico. O banal começo de homem-sozinho-num-mundo-apocalíptico-sem-saber-o-que-aconteceu é intercalado com o extenso contexto que a personagem nos dá enquanto narra a história, e portanto não perde o sentido nem o interesse.

Depois acontece tudo de forma relativamente expectável, com a formação de tribos, as tentativas de criar novos sistemas governativos e comunitários, os inevitáveis confrontos, enfim, o costume. Mas a escrita de Wyndham consegue que nada se torne aborrecido, inclusivamente quando alguma personagem, ou o próprio narrador, começa a discorrer sobre alguma coisa.

No fim, a mensagem é curiosamente optimista e a única parte verdadeiramente inesperada de todo o livro. O ambiente durante toda a história é algo negro (disfarçado, graças a britanismo) e pessimista, com desgraça atrás de desgraça, e falhanço atrás de falhanço. E depois o final é o que é, e funciona estranhamente bem.

Não achei uma autêntica obra-prima, mas é um óptimo livro, e uma fantástica comparação com o já mencionado Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, que ainda por cima já foi bem explorada pelo David Soares, leitura que aconselho vivamente, assim como a deste livro.

2 comentários:

Luiz Santos-Roza disse...

Este é um óptimo romance; li-o na faculdade e nunca mais o esqueci.

Obrigado pelo link do artigo de David Soares, vou lê-lo com interesse.

Rui Bastos disse...

E eu que nunca tinha associado John Wyndham, autor deste livro, com John Wyndham, autor de Chocky? Agora tenho que ler esse também!

O artigo do David Soares vale bem a pena.