segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Death Parade


Esta anime foi-me muito bem recomendada. E após o primeiro episódio, não fiquei inteiramente convencido. Mas pareceu-me bem feito. Todo o mistério por detrás da coisa, a situação impossível em que as personagens se encontram, a conclusão do episódio... Competente, no mínimo.

Em termos simples, o que a série acompanha é a rotina em Quindecim, o bar onde chegam as almas de pessoas que morrem ao mesmo tempo, e onde vão ter que jogar uma contra a outra, para decidir quem é que vai para o Céu (reencarnação) e quem é que vai para o Inferno (esquecimento). Ao início perdem praticamente todas as suas memórias, em especial a de que morreram, e só as vão ganhando lentamente.

Mas logo ao segundo episódio a série revela-se muito inteligente, ao apresentar, uma autêntica desconstrução do primeiro episódio! Golpe de génio. Se o episódio anterior foi contido e bastante directo, este apresenta mais personagens, dá pistas de um universo complexo, origina bastantes mistérios e permite uma segunda perspectiva dos acontecimentos anteriores. A nova personagem, Nona, é fantasticamente malévola, de certa forma, e a rapariga sem nome é misteriosa, mas o episódio não quer saber disso. O objectivo é mostrar que aquilo que as conclusões que tirámos do caso do episódio anterior estão erradas, e que Decim se enganou. Muito esperto, e muito bem feito, impecável!

Os episódios decorrem de forma aparentemente banal, embora nunca se repitam. É preciso dar pontos a Death Parade por ter uma estrutura tão obviamente formulaica, e conseguir não se tornar numa sequência irritante e desinteressante de episódios todos iguais uns aos outros.

Além de que cada episódio é mais intenso do que o anterior. A emoção está muito bem trabalhada, e de forma muito óbvia (mas não aborrecida) quando Decim, o bartender aparentemente sem emoções, revela um gingarelho que permite interferir com os jogos, que já são brutais por si só, para conseguir extrair a parte mais negra de cada pessoa. O dilema moral que se cria é fascinante, e nunca é verdadeiramente respondido: essa faceta mais negra já lá estava, ou é criada pelas situações em que Decim põe as pessoas?

Há também o facto de que a lenta, mas eficaz, introdução de novas personagens recorrentes e de detalhes sobre o mundo em que se movimentam está muito bem feita, e é impossível não ficar interessado numa ou noutra coisa.

As personagens também se revelam cada vez mais complexas do que pareciam à primeira vista, e embora não haja propriamente uma história no sentido comum da palavra, há uma série de ligações e de dicas que vão sendo dadas que ficam meio no ar e precisam de ser respondidas - o que me deixa sempre agarrado à espera de saber mais!

Os mistérios adensam-se em redor de todas as personagens, e ao fim dos primeiros sete episódios percebe-se que foram quase uma introdução longa que já incluiu algum desenvolvimento. Tudo indica que a partir daí, e nos cinco episódios que restantes, é que tudo vai acontecer, e provavelmente a um ritmo estupidamente alucinante.

É então que em vez de uma simples história, fazem um two-parter, com as personagens mais dramáticas e bem construídas da série até agora. A conclusão da história é fascinante, e agradou-me bastante, com Decim a tentar quebrá-los ao máximo. Tudo se torna mais impressionante quando Decim fica apático, com um surge de emoções que claramente não compreende e que não deita cá para fora, e o episódio acaba sem revelar qual dos dois julgados vai para onde, mas apenas com a imagem da cara demoníaca por cima do elevador do Inferno, e mais nada. Brilhante!

Começam a surgir as dúvidas e as dicas que foram sendo dadas ao longo dos episódios juntam-se e encaixam de forma perfeita. Nona, a chefe de Decim e subordinada de Oculus, um velhote que afirma ser o mais parecido que ali existe com Deus, tem claramente um qualquer plano desde o início, que só é revelado no final e aponta directamente ao foco emocional da série: a ausência não tão completa quanto isso de emoções de Decim.

O final, sem ser perfeito, desapontou-me, mas foi algo que fez sentido em termos narrativos. A série no geral agradou-me, e ficou definitivamente marcada como uma das melhores que já vi. Original, corajosa, intensa, com histórias bem contadas e personagens perfeitamente caracterizadas. Os temas abordados são explorados até à exaustão de formas normalmente pouco óbvias e não cansativas nem intrusivas durante os episódios. Há momentos menos bons, mas também há momentos absolutamente brilhantes, especialmente quando se trata de explorar o lado negro da Humanidade de cada um.

Sem comentários: