quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

A breve história de como o impensável aconteceu


Eu podia ser o rapaz naquela foto. Só que este ano até nem estou tão a morrer como é costume, por esta altura. Já sou mais velho, tenho mais paciência e preocupo-me menos com o que não merece preocupação. Mas o indício fulcral de que eu não sou de facto aquele rapaz, é que é claramente de dia, e ele está a dormir. Ora aí está um desporto que eu já não pratico há anos.

Idealmente, esse coisa de ser noite é um conceito abstracto para mim, uma daquelas coisas improváveis que só acontece aos outros. Quando acordo, já está sol, quando volto a casa, ainda está sol, e a única diferença é mesmo o silêncio que alastra o suficiente para se conseguir ouvir as prendas intestinais dos vizinhos a afogarem-se.

Mas tirando isso, noite? Quê?

Infelizmente, com essas coisas aborrecidas das mudanças de estação e tal, eu agora acordo de noite e chego a casa com noite cerrada por cima de mim. Ou seja, os meus dias, em vez de parecerem infinitamente grandes, parecem infinitesimalmente curtos. Ainda para mais quando tenho de, literalmente, perder tanto tempo com coisas que não me interessam.

Sim, já estou no quinto ano, segundo do mestrado. O último. Já comecei a trabalhar na tese (ainda que lentamente) e estou envolvido numa série de coisas relevantes que me interessam realmente para o meu futuro. Mas sabem o que é que eu passo a maior parte do tempo a fazer?

Coisas aborrecidíssimas de cadeiras que, ou não deviam existir, ou estão ao nível do primeiro ano. É que ainda dão trabalho! Juntem isso às coisas que eu faço porque realmente as quero fazer e, enfim, não tenho tempo para nada. Nem para ler.

...

Pronto, eu confesso, era isto. No meio dos meus afazeres e obrigações, alguma coisa teve que ceder ligeiramente, e foi a leitura. Não me sinto orgulhoso disso, mas já que o ser humano (ainda) não vive tempo suficiente para ler tudo o que quer, também não faz diferença se em vez de ler só 0.5% do que quero, ler só 0.49%. Mais vale despachar as outras coisas, para ficar finalmente livre, do que andar depois a arrastar-me ainda mais.

Foi assim que o impensável aconteceu. Os textos aqui no blog já estão a sair mais depressa do que aquilo que eu consigo ler. Também ajuda que dos últimos livros em que peguei, um tenha sido uma grandessíssima bosta (estou a olhar para ti, Gonçalo M. Tavares) e outro esteja a ser aborrecido, especialmente depois de presenciar o pretensiosismo e ignorância do autor ao vivo. Uma história que fica para depois.

Mas já repararam que na Segunda não saiu opinião de nenhum livro/filme/série? E que hoje se repete essa brincadeira? Pois, não é que eu tenha muita coisa para dizer, tenho é pouca coisa para opinar, já. Bem, para dizer a verdade tenho muita coisa para opinar, mas poucos livros/filmes/séries. Um problema que também será resolvido de várias maneiras no próximo ano, se tudo correr bem...

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