sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

O mundo já é um sítio dividido o suficiente

Guerras e guerrinhas. O meu pais é melhor que o teu. Preciso mais desse petróleo do que tu. Sou mais branco que tu, portanto sou mais fixe. Isso de não seres heterossexual faz de ti menos fixe. Como sou homem, tens que fazer o que eu digo, ouviste mulher?

Um sítio fantástico, este mundo em que vivemos, não é? Até as notícias que valem a pena se perdem no meio de tanta inutilidade e futilidade. Avanços na Ciência, importantes conquistas políticas, valentes feitos humanitários, extraordinárias vitórias sociais, livros que se publicam, filmes que se lançam, música que vai e vem.

Nada interessa, porque algures nos Estados Unidos da América um grupo armado tomou conta de um edifício federal. E porque em quase todas as indústrias, os homens são mais bem pagos do que as mulheres. E porque isto e porque aquilo e acoloutro e sei lá mais o quê. As grandes notícias e os grandes acontecimentos são estas coisas, pessoas de dois (ou mais) lados de uma muralha, física ou ideológica, a chamarem nomes uns aos outros, ou outra coisa parecida.

Enquanto isso, acontecem muitas coisas boas, excepcionais até, mas que mal são notícia. Vivemos num mundo tão dividido que é impossível prestar a devida atenção às coisas boas, quando existem tantas coisas más para resolver. É injusto e desagradável, mas é assim que as coisas são.

E o pior de tudo? Livros e séries divididos ao meio. O que foi, achavam que ia falar de coisas sérias? É que até vou. Isto de dividir as coisas que leio e que vejo ao meio tem muito que se lhe diga.

Primeiro, e isto é óbvio nos livros, existem argumentos bastante racionais relativamente aos livros grandes que são traduzidos. Podemos espernear o que quisermos, mas livro de mil e tal páginas não são objectos fáceis de produzir a um preço razoável. O mercado em língua inglesa consegue aguentar esses mastodontes graças a um público exponencialmente maior e a uma tradição de publicação muito diferente da nossa, em que não há tanto apreço pelo objecto, e portanto aparecem mais edições em formatos mais pequenos, ou com papel de qualidade mais duvidosa, mas ainda mais do que suficiente.

Mas é irritante que para ler algo que posso comprar em inglês por nem dez euros, às vezes tenha de desembolsar mais de trinta para ter a versão completa em português. E digo isto falando como pessoa que gosta muito do livro-objecto… Apenas sou picuinhas em termos de edição com os livros mais espectaculares e especiais. A maior parte das obras podia vir impressa em papel de jornal ou em papiro antigo (o que era brutal, caso alguma editora esteja a ler), que eu não queria saber.

Já as séries são mais difíceis de compreender. Compreende-se que saltem semanas com alguma coisa importante, ou que façam uma pausa durante a altura do Natal e Ano Novo, por exemplo, mas existem muitas séries que fazem uma pausa no final de um ano e que depois só recomeçam praticamente a meio do ano seguinte.

É uma das coisas mais irritantes em que consigo pensar. E nem sequer consigo encontrar argumentos que o justifiquem. Talvez aquela conversa de os espectadores não ficarem tanto tempo à espera de novos episódios? Tretas.

Imaginem que vos começo a contar a uma história. Vocês interessam-se, querem saber mais, provavelmente até estou a caminhar a passos largos para algum tipo de cliffhanger. Agora imaginem que quando lá chego…

Bem, daqui a três meses conto-vos. Não faz sentido, pois não? Sinto-me sempre irritado. Uma coisa é esperar por um livro, ou por mais uma temporada, mas ambas as coisas são feitas de forma a serem relativamente independentes. Têm que ter valor sozinhas, e não só como parte de um todo, algo que não costuma acontecer se forem divididas ao meio. Portanto vão-se todos lixar, pessoas que decidem dividir livros e séries e tudo o que não devesse estar dividido!

Precisava de deitar isto cá para fora. Já estou melhor.

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