quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

The Abominable Bride




Detectives carismáticos são uma das minhas fraquezas narrativas. Atirem-me um Sherlock Holmes ou um Hercule Poirot, uma Miss Marple ou outra personagem qualquer do mesmo género, e convencem-me. Até pode ser um Dr. House, manifestação médica da criação de Conan Doyle.

Portanto também não é de espantar que as adaptações ao pequeno e grande ecrã não me passem ao lado. As histórias de Poirot, interpretado pelo excepcional e super adequado David Suchet (a personagem parece ter sido criada à sua imagem), prendem-me sempre, mesmo que apenas por alguns minutos antes de sair de casa.

Por outro lado, e como Sherlock e Poirot em particular me acompanham desde que me lembro, enfureço-me com facilidade quando alguém decide abusar da sorte e fazer algo ridículo em seu nome. É o caso dos filmes com o Robert Downey Jr. e Jude Law nos papéis principais, que são apenas filmes de acção passados em Londres e centrados num detectiva, e não filmes do Sherlock Holmes, assim como é o caso da série Elementary, que embora pareça ter mais respeito pelo trabalho original, me faz mais do que um pouco de comichão

Felizmente existem pessoas como Steven Moffat e Mark Gatiss, meus conhecidos de Doctor Who. Quando Sherlock apareceu, estranhei. Tratava-se de uma modernização, o que me soa sempre estranho. Mas vindo de quem vinha, não havia de ser demasiado mau. Decidi experimentar.

Abençoado o dia.

Devorei o que havia disponível como se não houvesse amanhã. Depois desesperei por as temporadas serem só de três episódios (ainda que de hora e meia cada) e o intervale entre elas ser de pelo menos dois anos. Convenci a minha namorada a ver, deixei-a igualmente viciada, e pelo menos passei a ter alguém com quem desesperar.

Há dias vimos o semi-especial de Natal The Abominable Bride, que furou todas as minhas expectativas, depois triturou-as, atirou-as ao chão e dançou a polka em cima delas. Da melhor maneira possível.

O episódio há muito que andava a ser anunciado como uma aventurada Vitoriana, numa realidade alternativa, para que o programa tivesse oportunidade de ter uma adaptação fiel das histórias de Conan Doyle sem que isso interferisse com a série.

E quando começou, parecia ser exactamente isso. Um recontar da história que já conhecemos, com momentos de outros episódios vistos através de uma lente vitoriana, com direito a um Sherlock ainda mais irritante, por algum motivo.

Só que havia qualquer coisa estranha. Esses momentos decalcados de episódios anteriores podiam ser só peculiaridades do argumento, graças a dois argumentistas que gostam mesmo daquilo que fazem, ou podiam ser algo mais. Para mim houve um momento ainda relativamente perto do início que me deixou com a proverbial pulga atrás da orelha.

Com o avançar do episódio, iam aparecendo mais pistas que comprovavam a minha teoria, e como consequência ia aumentando a minha admiração pelo episódio, os actores, os argumentistas, o programa em si e tudo e todos os que com ele estão relacionados.

Afinal, e agora é o momento ideal para as pessoas que não gostam de spoilers começarem a fugir o mais depressa possível deste blog, tudo aquilo estava a acontecer na mente de Sherlock, refugiado no seu palácio mental, com a ajudinha de um cocktail de droga dos agressivos. O objectivo era explorar um caso centenário na esperança de perceber como é que Moriarty podia estar de regresso!

Genial! Tudo funciona de uma forma estupenda, desde o sempre excepcional Martin Freeman, que não se deixa ficar na sombra de um tremendo Cumberbatch, até à forma como as histórias interagem, mais dignas de um episódio de Doctor Who (ah!) do que de Sherlock.

Por falar nisso, não posso deixar de notar numa coisa. A longa história vitoriana a que assistimos não demora mais do que dez minutos em tempo real, como se o tempo dentro da cabeça de Sherlock andasse mais devagar do que na realidade - bem, para isto fazer sentido o tempo anda mais depressa dentro da cabeça dele, para que vários dias correspondam apenas a dez minutos, mas pronto, vocês percebem. O que interessa é que o Sherlock usa este truque para ganhar tempo.

Sabem onde é que isso também aconteceu recentemente? Em Heaven Sent, o penúltimo episódio da mais recente temporada de Doctor Who. Sim, Sherlock já tinha usado o conceito em quase todos os episódios, mas nunca, que me lembre, como uma forma de ganhar tempo.

Enfim, excepcional a vários níveis, e termina com um cheirinho para a próxima temporada. A beleza da construção do episódio é que foi um pedaço de entretenimento de qualidade, não revelou quase nada de concreto para a próxima temporada, mas não foi apenas uma versão alternativa dos acontecimentos. Foi interessante, mais do que cativante, e relevante. Até contou com o regresso de um extraordinário Andrew Scott como Moriarty-alucinação.

Um excelente episódio, que já vi dividir ligeiramente as opiniões entre os fãs. Eu cá fiquei fascinando, este é o tipo de televisão inteligente e bem feita que gosto de ver. Experimentem também, acreditem que vale bem a pena!

2 comentários:

Unknown disse...

Eu gostei muito das 3 primeiras temporadas! Vi sempre todos os episódios mal acabavam de sair e nunca me desiludiram até esta 4º temporada.
Sinceramente não gostei muito deste episódio, acho que o episódio teve um ritmo horrível e a enredo em si foi bastante fraco e previsível.
A única coisa boa de se ver são mesmo as atuações dos atores, vamos lá a ver se vou gostar mais do 2ºepisódio.

Rui Bastos disse...

Disclaimer: este episódio funciona sozinho e é mais um interlúdio entre temporadas, já que a próxima só chega no início de 2017!

Eu gostei bastante da história! Está inovador e está interessante, a forma como os pormenores se conjugam numa e noutra linha narrativa :)