segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O Feiticeiro e a Sombra (Ciclo de Terramar #1)


Autora: Ursula K. Le Guin
Tradutor: Carlos Grifo Babo


Opinião: Depois de ter lido o Lavínia, não tem sido difícil escolher Le Guin como leitura. A sua escrita naquele livro deixou-me maravilhado, mais do que a história. Le Guin é claramente uma autora com o dom da escrita literária que os críticos tanto gostam, uma escrita bonita, trabalhada, mas não complexa.

Essa escrita é o veículo perfeito para transmitir as ideias e as mensagens da autora, o que se nota claramente em O Dia do Perdão, um livro que não é bem político, mas claramente politizado.

A minha namorada fez-me o favor de me emprestar os quatro livros do Ciclo Terramar, e não hesitei, comecei a lê-los seguidinhos, para os acabar de rajada! Esperava eu. Não se tem revelado uma leitura assim tão fácil, e são livros considerados como autênticos clássicos e jóias-da-coroa da Fantasia.

Este O Feiticeiro e a Sombra, por exemplo, comete logo um pecado enorme na primeira página, que é fazer-me um resumo de todos os acontecimentos importantes na vida do protagonista. Duas ou três linhas, apenas, mas me dizem logo que toda a luta do protagonista vai compensar, que ele não vai morrer e que no fim vai ser o herói que já todos esperamos (infelizmente) que um protagonista seja.

Logo aí comecei a perder o interesse. Mas a escrita de Le Guin, embora muito longe da que demonstra em Lavínia, não deixa de ser cativante, e a história que vai sendo contada, por muito que tenha perdido alguma da tensão que algumas situações poderiam transmitir, continua a ser interessante. O que é fascinante, se querem que vos diga. Aqui está um livro que logo na primeira página faz algo que para mim é mais do que um pecado capital, e que depois, durante toda a leitura, me mantém cativado. É preciso ser um bom livro!

E é exactamente isso que isto é. Um bom livro por si só, e como começo de um ciclo, pois o mundo que a autora cria é complexo e relativamente vasto, com muitas coisas mencionadas, mas não vistas, quanto mais explicadas. A personagem principal, Gued, começa como uma criança e acaba como um homem, tendo um crescimento recheado de altos e baixos que valem a pena acompanhar.

Foi bom ter lido um livro de Le Guin que é um meio termo entre Lavínia e O Dia do Perdão. Não é uma obra explicitamente concentrada na história e na escrita, nem uma completamente devotada a passar uma mensagem política e moral. Faz um bocadinho de ambas, tem uma boa história e passa boas mensagens sobre crescimento, adversidades, ambições, medos e coragem.

Não me deixou tão fascinado quanto eu estava à espera, mas foi um bom esforço. Valeu definitivamente a pena, e talvez eu tivesse as expectativas demasiado altas... Tudo depende dos outros livros, mas chegado a este ponto, parece-me que há muito potencial.

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